Chuva

Life is like a rainbow. You need both sun and rain to make it colors appear.

"-A que ponto seu desespero chegou, Sasuke? Você tentou agarrar uma mulher debilitada!"

Aquela manhã de quarta-feira não estava sendo boa... E as pessoas ao seu redor pareciam estar se esforçando para torná-la pior. Ao que parecia as notícias corriam realmente muito mais rápido que a maldita velocidade da luz, porque Kakashi já estava sabendo do incidente em sua casa da noite anterior antes mesmo dele chegar no escritório.

Suspirou de maneira pesarosa, decidindo que ignoraria descaradamente o homem de pé à sua frente que mantinha os braços cruzados e lentamente meneava a cabeça de maneira reprovadora. Era em momentos como aquele que se perguntava o que tinha feito em sua vida anterior e tinha medo da resposta. Talvez jogado pôquer na mesa da Santa Ceia ou algo muito pior...? Esperava que não.

"-Sabe, liguei num psicólogo essa manhã... Ele deve estar chegando a qualquer momento." – Kakashi ergueu a manga da camisa e analisou o relógio, sorrindo de lado.

"-Ninguém vai entrar aqui."

"-Ah, vai sim."

"-Não, não vai."

"-..."

O fato de Kakashi ter ficado os dez minutos que se seguiram após essa pequena discussão calado deveria ter lhe parecido no mínimo duvidoso. Mas estava tão absorto em seus protocolos que não percebeu que aquilo só poderia significar uma coisa...

Que ele não havia dado a mínima pro que havia sido dito. E isso se confirmou quando a porta da sala se abriu e por ela entrou Jiraya, o psicólogo mais lunático que Sasuke já tivera o desprazer de conhecer e conviver.

Onde estava indo parar a sua autoridade? Ao que parecia os encontros casuais com a esquisita de cabelo cor-de-rosa estava debilitando seu poder ditatorial sobre tudo e todos ao seu redor, e aquilo estava longe de ser bom ou agradável. Naruto e Kakashi estavam pensando que podiam mandar em sua vida e agora mais Jiraya... O próximo passo seria uma revolução armada contra sua pessoa ou a terceira guerra mundial.

"-Ah, meu pequeno padawan!" – ele deu um tapa no ombro de Kakashi e riu, voltando-se para Sasuke em seguida. – "Quanto tempo, não?"

"-Não tempo o suficiente."

"-Vejo que continua igual." – deu de ombros. – "Já avisei que o problema dele é tensão sexual."

"-Sim, mas ele não está sabendo resolver." – apontou o outro, suspirando.

As opções do que fazer para Sasuke eram duas: ficar ali e tentar ao máximo ignorá-los ou levantar-se e ir embora para algum lugar – qualquer lugar – suficientemente longe dali. E por algum motivo desconhecido, essa segunda opção lhe soou muito mais atrativa do que a primeira...

"-Demorei pra achar fotos dessa garota." – ergueu os olhos para Jiraya, de repente interessado. O que aquele maníaco em forma de psicólogo estava tramando agora?

"-Fique longe dela."

"-Ah, possessivo."

"-Acredite, é pro seu próprio bem." – e realmente era. Sakura era capaz de matá-lo, tinha certeza absoluta disso.

"-Sasuke, Sasuke..." – ele deu a volta na mesa e ficou atrás de sua cadeira, colocando suavemente uma mão em seu ombro. – "Vamos precisar de um tratamento intensivo."

"-Eu o alertei sobre isso."

E foi com mais um suspiro pesaroso que o Uchiha percebeu que aquela desagradável conversa havia apenas acabado de começar.

ooooo

Sakura girou os olhos pela milésima vez enquanto observava Ino à sua frente, com os braços cruzados e o pé direito batendo contra o chão de maneira ritmada. Entre elas jazia um celular, abandonado descuidadamente sobre a mesinha de centro e do qual a garota de cabelos loiros não tirava os olhos.

"-Porque você é tão teimosa?"

"-Eu não sou teimosa, só acho ridículo ligar pra ele. O que eu vou falar?"

"-Qualquer coisa..." – Ino girou os olhos. – "Fale que está com fome e espere ele te convidar pra jantar."

"-Ele não vai me convidar pra jantar."

"-Então ele é gay!"

"-Ele não é gay!" – Sakura levantou-se de repente, um tanto incomodada. – "Quer por favor mudar de assunto?"

"-Jamais." – ela adiantou-se e pegou o celular de cima da mesinha. – "Se você não vai ligar, ligo eu."

"-Devolva!"

"-Ah, pare com isso... Ele não pode ser assim tão ruim!" – afastou-a com o braço livre. – "Ele já foi bom o suficiente pra te fazer querer agarrá-lo." – completou, rindo quando a amiga tomou uma coloração escarlate.

"-Eu não quis agarrá-lo!"

"-Ah, não?" – Ino sorriu de lado, sacana. – "Existe outro nome pra isso?"

"-INO!"

"-Deixe de ser cabeça dura, ta legal? Já basta a testa grande." – empurrou-a no sofá e suspirou, passando a analisar o celular com a devida atenção.

Conhecia bem demais Haruno Sakura... E era exatamente por isso que estava convencida de que esse tal Uchiha Sasuke – apesar de ser aparentemente um idiota – era alguém suficientemente interessante para que a sua tão estóica amiga prestasse um pouco mais de atenção nele a ponto de querer beijá-lo.

Desde seu último relacionamento era raro vê-la prestando atenção em qualquer tipo de homem... Mais como se ela os evitasse pelo mais puro medo de ser decepcionada de novo, e isso estava a tornando uma pessoa distante e solitária demais para que qualquer um pudesse alcançar.

Talvez esse cara fosse uma boa chance, quem sabe? O fato é que não deixaria a amiga fugir desse assunto – e dele – assim tão fácil.

"-Tá chamando."

"-Eu não acredito que você-"

"-Não, eu quis dizer que seu celular ta tocando..." – estendeu-o para a garota, que o pegou prontamente.

"-Haruno." – o tom de voz vindo do outro lado da linha antes mesmo que ela pudesse dizer 'alô' não deixou dúvidas sobre quem poderia ser. A única pergunta que pairava em sua mente agora era porque raios ele de todas as pessoas no mundo estava ligando para ela. – "...Haruno?"

"-Ah, sim, é ela." – ajeitou-se onde estava sentada quase como se ele pudesse vê-la do outro lado.

"-Está ocupada. Vou desligar."

"-É algum problema com Naruto?"

"-..." – pôde ouvir um breve suspiro. – "Poderia vir até meu apartamento essa noite?"

"-Até seu apartamento?" – repetiu, piscando algumas vezes e tentando ignorar o sorriso maldoso que formou-se nos lábios da amiga à sua frente.

"-Qual o seu prob -" – houve uma pequena pausa, seguida por um ruído que ela não soube identificar. – "Sim."

"-Se você falar que não vai terá que ir ao shopping comigo todos os dias que restam dessa semana e mais todos os dias da próxima." – ameaçou a loira em um sussurro, ficando em silêncio em seguida para tentar ouvir o restante da conversa.

"-Às oito está bom pra você?"

"-Perfeito. Até mais."

ooooo

"-Agora façam o enorme favor de dar o fora daqui." – Sasuke colocou o celular sobre a mesa de seu escritório e fitou os dois homens à sua frente de maneira séria.

"-Sabe Sasuke, é sempre bom negociar com você." – Jiraya foi o primeiro a se levantar, sorrindo de lado.

"-Uma pena eu não poder dizer o mesmo." – sinalizou com as mãos para que eles se apressassem enquanto voltava a atenção para seus papéis. Negociar... Como se eles o tivessem deixado outra saída aceitável a não ser convidar aquela garota estúpida para ir até sua casa àquela noite. . Desde quando negócios e chantagens haviam entrado na pauta de psicólogos?

Pelo menos eles tirariam Naruto de lá, o que já era uma grande vantagem... Talvez aquela não tivesse sido uma negociação assim tão unilateral. Suspirou novamente, passando a mão pelo rosto e lembrando-se que em compensação havia arrumado mais um problema: Haruno Sakura.

"-Tem certeza que não quer que eu fique?" – ergueu os olhos para Kakashi, parado ao lado da porta com um sorriso malicioso nos lábios.

"-Absoluta."

Eram poucas as pessoas no mundo que ousavam irritá-lo, e por incrível que pareça na lista das que insistiam em fazê-lo a única mulher que constava era aquela tal Haruno Sakura. Ela parecia não dar a mínima para quem ele era ou deixava de ser, e o via como qualquer outra maldita pessoa que ela conhecia... E aquilo era intrigante, para não dizer irritante.

E também tinha aquele cabelo cor de rosa. Que espécie de cor ridícula era aquela?

Ok, talvez não fosse assim tão ridículo e na realidade fosse também mais um fator que a tornasse... Intrigante.

Intrigante. Essa era a primeira palavra que vinha à sua mente toda santa vez que seus olhos caíam sobre ela, e por algum motivo bizarro ele não estava achando isso ruim... E era exatamente esse o ponto que passara a incomodá-lo ainda mais que todo e qualquer outro.

Tê-la por perto deixou de ser um incômodo e passou a ser um jogo. Ele queria poder entender porque ela não era como as outras mulheres e porque ela não tentava ser artificial.

Aqueles olhos verde-esmeralda transmitiam uma sinceridade sem fronteiras e aquilo era no mínimo estarrecedor... Sem contar o fato dela não ligar pra absolutamente nada do que ele pensava.

Ela simplesmente não se importava e não tinha interesse nenhum em saber sobre nada que dizia respeito à ele... Pelo contrário, ela se baseava apenas nas ações e ignorava completamente a teoria que supostamente deveria existir por trás delas. Motivos pareciam desimportantes para aquela garota petulante que ousava fazê-lo perder tanto tempo tentando desvendá-la.

Meneou a cabeça levemente, desistindo enfim de terminar seu trabalho e concentrando-se nesse seu mais novo problema: a garota do pneu furado.