Reticências De Uma Semideusa escrita por Bruna Jackson


Capítulo 5
Surpresas à parte


Notas iniciais do capítulo

ok, os próximos vão demorar kkkk não pude aguentar e postei de uma vez ;) esse é, particularmente, meu capítulo preferido até agora *-*



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Andamos por cerca de dez minutos, até que minha raiva abrandasse e eu desse o braço a torcer e pedisse ajuda a Annabeth.

– Ah, finalmente! – disse ela – Achei que ia ser orgulhosa demais para vir me pedir ajuda, mas vejo que não. Então, no que posso ajudar?

Eu a encarei. E fiquei encarando. Até que ela percebesse que eu queria ajuda com o grupo, com a jornada. Enfim ela suspirou, derrotada, e disse:

– Ok. Acho que sei no que ajudar. – Ela tirou seu escudo do braço e começou a estuda-lo atentamente. O escudo refletia a luz do luar de um modo que eu tinha uma visão de tudo o que estava ao meu redor, cada árvore, cada pedra, estava tudo lá. Ela o inclinava, de modo que pudéssemos ver mais à frente. De repente parou, e prendeu a respiração. Chequei o escudo para ver o que Annabeth havia visto e tive a mesma reação. Os dois monstros que havíamos matado não eram nada comparados aos quatro que teríamos que enfrentar. Eram pelo menos três vezes maiores e mais assustadores. Os campistas se agruparam em torno de nós, e começamos a discutir a estratégia de ataque. Mantemos a mesma estratégia, com os arqueiros nas árvores, e os sátiros também, pois são melhores de pular de galho em galho e se equilibrar.

– Stef – chamou Percy – você poderia subir na árvore de novo? Só para ver o grupo ao lado, nos prepararmos melhor.

Assenti. Escalei rapidamente a árvore e olhei por cima dos arbustos. O segundo grupo estava enfrentando três monstros de bronze – os autômatos do chalé 9 – e um monstro que mais parecia um urso enorme. Devia ter uns três metros e meio de altura, e um espesso pelo preto. Desci da árvore e relatei o que vi para Percy, que ouvia atentamente. Ao fim, arqueou uma sobrancelha e disse aos campistas que tomassem seus lugares; Annabeth confirmou que os monstros estavam vindo pelo seu escudo. Todos pegaram suas armas e começamos a avançar pelo espaço, atentos a tudo. Finalmente um autômato apareceu de forma nada discreta, batendo suas patas de bronze contra o chão, fazendo um enorme barulho. Charlie estava boquiaberto, incrédulo.

– Oh – disse Charlie – pai do céu, foi o senhor que fez isso? O protótipo estava muito malfeito comparado a esta belezinha.

– Charlie? – perguntei – belezinha, um monstro desses? Você sabe que teremos que destruir essa coisa se quisermos continuar certo?

– Ah, é verdade.

Ele estava visivelmente triste, mas concordou em ajudar. Começamos o combate, os arqueiros atirando flechas, os sátiros tocando sua flauta, e com a ajuda dos filhos de Deméter estavam fazendo plantas trepadeiras brotarem do chão e se agarrarem aos pés do autômato. Charlie e suas irmãs atingiam o monstro em pontos estratégicos, onde as ligações eram mais frágeis e o monstro começava a ruir. Finalmente, um golpe rápido de Percy derrubou o monstro, dando um fim a mais um de nossos problemas. Mas não havia tempo para comemorações. O outro autômato e o monstro feioso estavam vindo juntos. Annabeth gritou para que nos dividíssemos e atacássemos um monstro cada grupo. Percy e Annabeth foram para o grupo da direita atacar o monstro, enquanto eu fiquei no grupo de Charlie para destruir o autômato. Olhei de relance para o grupo do meu irmão e vi que Annabeth colocou seu boné. Segui o exemplo dela e rapidamente coloquei meu gorro, desaparecendo. Dei a volta no autômato e me preparei para atacar. Uma parte do meu cérebro percebeu que eu iria fazer uma grande burrada atacando o monstro sozinha por trás, mas ignorei isso e ataquei. Quer saber? Foi a pior idiotice que já cometi em toda a minha vida. Uma dica aos semideuses que estão lendo isso: nunca ataquem um mostro por trás se vocês estiverem sozinhos e sem treinamento. Enfim, fiz a idiotice de desferir um golpe contra a perna do autômato, que tinha pelo menos um metro e meio a mais que eu. O golpe o derrubou, mas não fiquei feliz com isso. Infelizmente, o mostro caiu em cima de mim. Me joguei no chão no instante em que percebi que ele ia cair, tentando sair do alcance dele, mas não preciso dizer que não adiantou muito. Minhas pernas ficaram presas sob o tronco do autômato, que não era nada leve. Uma dor imensa partia de minhas pernas e se espalhava pelo corpo, e eu gritava. Lágrimas de desespero escorriam pelo meu rosto, marcavam minhas bochechas, molhavam minha camiseta. Lembrei que estava com o gorro, e forcei minha mão a se mover para retirá-lo da cabeça, para que pudessem vir me ajudar. Mas ninguém vinha. Todos estavam ocupados, matando monstros e destruindo autômatos. Forcei-me a parar de chorar e respirar fundo, assim poderia clarear os pensamentos e me ajudar sozinha. Comecei a cantarolar uma musiquinha alegre (http://www.youtube.com/watch?v=z0kpjjvXHMM), que não sabia de onde conhecia, mas que me acalmava pouco a pouco. Fiquei sentada, na medida do possível e retirei minha mochila dos ombros, analisando seu conteúdo. Achei um pouco de ambrosia e uma garrafinha com néctar. Tomei um gole de néctar e comecei a mastigar a ambrosia, e em pouco tempo mal sentia a dor na minha perna. Ainda cantarolando a musiquinha, peguei minha espada e comecei a atacar o autômato, fazendo um belo estrago, cortando-o e despedaçando-o, como se fosse uma criança cortando pão sozinha pela primeira vez. Finalmente consegui abrir um buraco na sua carcaça de bronze celestial para retirar minhas pernas. Finquei Ômega na terra e quando olhei para minhas pernas tive que me esforçar para manter a calma, continuar cantarolando a musiquinha e não vomitar. Meu pé esquerdo estava torto. Ao invés de apontar para o lado direito como o outro pé, concordando com a posição em que caí, ele apontava para o lado esquerdo. Me arrastei para trás, deixando um rastro de sangue por onde meu pé esquerdo passava, até a árvore mais próxima, onde podia me encostar. Arranquei meus tênis e dobrei uma parte da calça, para analisar melhor meu pé torto. Dois dedos do pé estavam com fratura exposta, daí a origem do sangue. Os outros estavam encolhidos, como se eu estivesse com cãibra. Comecei a cantar mais alto, para aliviar o nervosismo que eu sentia sabendo o que eu teria que fazer comigo mesma. Cortei alguns pedaços de madeira da árvore que estava atrás de mim para fazer uma tala para o meu pé, e cortei as pernas da minha calça de modo que eu pudesse ter algum tecido para prender a tala, já que não dispunha de faixas. Acabei ficando de bermuda. Deixei todos os materiais que usaria ao lado de minha perna: néctar, tecido, madeira e um pouco de ambrosia. Resgatei algumas lembranças antigas, de uma aula de primeiros socorros que havia feito muito tempo atrás, quando era escoteira. Comecei pelos dedos com fratura exposta. Joguei um pequeno pedaço de ambrosia na boca e tentei colocar os dedos no lugar certo. Quando me dei conta, estava gritando a bendita musiquinha. Quando consegui colocar os dois dedos no lugar, embebi um pedaço de tecido em néctar e passei no local, para aliviar a dor. Fiz uma tala com madeira, prendi com tecido e parti para os dedos tortos. Menos sofrimento dessa vez, fiz um trabalho rápido. Repeti o procedimento que havia feito nos dedos quebrados e analisei meu tornozelo. Ele não deveria pender para baixo, certo? Dessa vez eu não fazia a mínima ideia de o que fazer. Passei néctar e fiz uma tala, o melhor que poderia fazer sozinha. Achei melhor ficar fora de combate para não forçar meu tornozelo, e fique sentada assistindo meus amigos lutarem. Eles eram incrivelmente bons em combate. Fiquei atenta analisando o estilo de combate de cada campista, analisando erros, acertos... e cantarolando a musiquinha. Até que percebi que eu nunca tinha ouvido aquela droga de música e a letra não era em português ou em inglês. Prestei mais atenção no que estava cantando e descobri que era uma canção grega. Eu estivera entoando um hino a Apolo até agora, em perfeito grego antigo. Quando me dei conta disso, parei de cantar, assustada. A letra não me vinha mais à mente. Coloquei minha mão sobre meu tornozelo, que não doía mais tanto, e percebi que não estava inchado. Me apoiando na árvore, levantei e fiquei de pé, inicialmente sem apoiar no pé esquerdo, mas depois criei coragem e me apoiei no pé machucado. Não doía. Era como se eu tivesse levado uma injeção de anestésico. Dei alguns passos, incerta da cura repentina, e percebi que eu podia ficar apoiada no pé esquerdo sem sentir dor. Calcei o tênis no pé direito, peguei Alfa e Ômega e fui ajudar meus amigos. O autômato que eu havia derrubado já estava estraçalhado, então parti para o grupo de Charlie para ajudar a combater o monstro da vez. Só havia um monstro e um autômato agora. O monstro era feio, tinha a cara achatada escamosa vermelha e verde. Tinha uma cauda bizarra e pernas curtas, que o deixavam com um aspecto engraçado. Os campistas estavam em formação de falange, que consiste em fazer o formato de um acento circunflexo encaixando os escudos ombro a ombro. Notei que havia um espaço vazio ao lado de um campista. Fui até lá e me posicionei, preparando-me para o ataque. Atacamos. Usei a raiva que ainda me restava da bênção de Ares e usei-a para despedaçar aquele monstro. Olhei para o lado procurando o autômato e percebi que ele já era. Todos os campistas estavam se reunindo. Eu me aproximei do grupo e Percy percebeu que algo estava errado com meu pé:

– Stef, o que aconteceu? -perguntou

– Ah, eu fiz a burrada de derrubar um autômato em cima das minhas pernas. Consegui uma fratura exposta em dois dedos do pé, tirar outros três do lugar e fazer alguma coisa no tornozelo que não sei o nome. Mas eu tive uma aula de primeiros socorros, então soube me virar sozinha.

Todos me encaravam.

– Que foi? É verdade!

– Ninguém está duvidando de você, Stefanie – disse Danny, um filho de Apolo – só estamos presenciando um caso raro. Você manteve a calma, o que é difícil numa situação dessas; colocou seus dedos no lugar, coisa que ninguém gostaria de fazer para evitar sentir mais dor; e fez um ótimo trabalho com essa tala, embora tenha estraçalhado uma parte do tronco de uma árvore e acabado de bermuda para usar o tecido para prender. Só estamos admirando seu bom trabalho. Agora, me deixa ver esse pé.

Danny pediu a Percy que desatasse os nós de marinheiro que eu havia dado no tecido, e após, abriu a minha tala improvisada. Todos ficaram em silêncio, e, já que eu estava de olhos fechados para evitar sofrer mais, perguntei:

– Meu pé está muito feio? Por que dor eu não sinto, mas talvez...

– Stefanie – disse Danny – você tem certeza que fez isso sozinha?

– Sim – respondi. – Por que? Está muito errado?

– Não – disse ele – exatamente ao contrário. Está perfeito. Ninguém poderia ter feito melhor.

Abri os olhos e vi que era verdade mesmo. Meu pé estava em perfeitas condições. Pus-me de pé e dei alguns pulos, para ver se Danny não havia se enganado. Mas eu não sentia dor, não ouvia nenhum estalo de osso quebrado nem nada. Franzi a testa.

– Mas como você fez isso? – perguntou Danny. – Nenhum curso de primeiros socorros ensina a fazer milagres. Como você...

Ele não completou a frase. Todos me encaravam boquiabertos. Isso estava ficando chato. Porque eles me encaravam o tempo todo? Levantei Alfa e vi o porque de tantas exclamações mudas. Eu estava reluzindo em dourado. Eu tinha recebido a bênção de outro deus grego.

Eu era abençoada de Apolo.



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