Back To The Start escrita por Jones


Capítulo 1
Coming back as we are.




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/248949/chapter/1

I had to find you, tell you I need you and tell you I set you apart.

Existem vários problemas em ser Ronald Weasley.

Eu tenho a coluna envergada devido a minha altura exagerada, meu cabelo ruivo ou está muito liso ou está sempre desgrenhado, meu nariz é também muito grande. Eu tenho problemas para concordar verbos, acertar vírgulas e saber a diferença entre direita e esquerda - sempre tenho que escrever meu nome no ar para saber para qual lado virar - e isso sem contar os probleminhas mentais que são muitos. Eu não sei falar com as pessoas, aparentemente não tenho tato ou senso de oportunidade, sem contar a sensibilidade que, se medida, não encheria nem uma colher rasa de chá.

Mas existem mais problemas ainda em ser Ronald Weasley, o namorado de Hermione Granger.

Eu poderia enganá-los e dizer que eu a acho um anjo caído na Terra. Mentira, não acho que anjos gritem daquela maneira, resultado de uma raiva contida por anos de irritação. Mas eu acho que se existe perfeição, ela está bem próxima disso, mesmo quando briga comigo - o que ela faz até dormindo - ou qualquer coisa que me irrite da mesma maneira.

O maior problema em namorar Hermione Granger, é que eu não sei o que ela viu em mim.

Não há muito para se ver.

Eu tenho certeza que que você já viu um daqueles casais na rua: uma mulher muito bonita de mãos dadas a um cara no mínimo ridículo.
E se o problema fosse só o fato de ela ser mil vezes mais bonita que eu, com as feições delicadas e o cabelo castanho armado, eu talvez ficasse mais tranquilo. Não, mas ela tinha que ser mais bonita, mais inteligente e mais incrível de todas as maneiras possíveis. E cara, o problema de deixá-la ir, é porque meu lado egoísta sabe que eu nunca - e por nunca eu enfatizo jamais - amaria outra da mesma maneira que a amo. Acho que nunca chegaria nem perto de sentir por alguém o que eu sinto por ela, o que também é um problema.

Por isso estou aqui, tentando encontrá-la, para evitar que ela se despeça de mim para sempre, porque eu preciso dela e porque se estamos assim, é obviamente minha culpa.

Eu apertei a campainha e ela não me respondeu.

Sabia, pelo horário, que os pais dela estavam no consultório mexendo com aquelas maquinazinhas de barulho irritante, tentando consertar os dentes alheios. Nunca mais voltarei a um dentista.

Se eu fechasse os olhos e prestasse bastante atenção, podia ouvir os pensamentos de Hermione, que oscilavam entre me responder ou não. Entre ficar quietinha fingindo não estar em casa ou não; entre me aceitar de volta ou não.

– Eu já disse que eu preciso de pelo menos vinte e quatro horas antes de falar com você novamente. – Mione me falou, via um aparelho que eu descobri se chamar interfone, na casa de seus pais trouxas.

– Eu não posso esperar vinte e quatro horas. - Tentei não soar nervoso e pareci impaciente, ótimo para minha cara. - Eu gostaria de falar com você agora.

– Por favor, Ronald, me poupe de lamentos e crises de inferioridade pelo menos hoje, ok? Eu te amo, mas não quero falar com você hoje. - Ela disse, naquele tom irritado de sempre.

– Eu juro que... – Eu não podia jurar mais, eu sempre prometia que ia mudar ou que não ia esquecer alguma coisa, mas nunca cumpria. Vivia sempre aos círculos: promete e não cumpre, promete cumprir na próxima vez, não cumpre e promete nunca mais prometer e depois não cumpre. – Eu só quero conversar.

– Conversar? - Sabia que Hermione mordia o lábio inferior, duvidando. - Eu conheço sua conversa, Ronald. Há no mínimo três términos.

– Nós não vamos terminar dessa vez. - Eu disse quase para mim mesmo. - Vamos, nós já estamos praticamente conversando, mas eu gostaria de fazer isso te olhando nos olhos. Por favor.

– Entra. - Ela disse, liberando o acesso, o que qualquer garoto do primeiro ano poderia fazer com ajuda de uma varinha.

No primeiro ano a vida era mais fácil.

Eu lembro que eu mesmo aprendi o feitiço simples de abrir fechaduras com ela, que era terrivelmente arrogante e esnobe no primeiro ano.

Pois é, gostaria de contar a história de quando vi Hermione pela primeira vez e me deu um estalo. Me deu um estalo de ódio. Naquela época, não podia imaginar que seríamos amigos e se o Ron daquela época visse que o Ron atual está namorando - quer dizer, acha que está namorando - uma versão mais adulta da menina do trem, ele me daria um soco. Depois de me parabenizar porque ela é bonita.

A vida era mais fácil no inicio.

Quando eu conseguia ficar mais de doze horas sem falar com ela, quando o meu orgulho era mais importante que qualquer outra coisa. Ele continua sendo mais importante que muitas coisas, mas não que Hermione e isso é uma droga em muitos níveis. Parte de mim adora as brigas tórridas que temos, porque compensamos na reconciliação, acho que nunca vamos mudar nesse aspecto...

Mas a outra parte sempre tem medo de dizer algo errado e desencadear uma separação - a meu ver, inevitável, uma vez que ela realizar que está com o cara mais otário de todo o universo.

Não que eu goste de instigar brigas e confusões, mas Hermione tem uma grande mania de argumentar.

Então ela abriu a portão para mim, mas não tinha um sorriso como nas outras vezes, nem a empolgação que sempre acontecia quando ela me via invadir sua casa, atirando os braços no meu pescoço, me fazendo envergar bastante a coluna e fazendo-a ficar nas pontas dos pés.

O que ela exibia na verdade era um ar cansado de quem passara a noite em claro, um leve traço de irritação e o pé impaciente batia no assoalho de madeira da varanda, fora de qualquer ritmo conhecido. Aquela, meus parceiros, era a postura de poucos amigos característica de Hermione – em relação a mim, já que ela é sempre educada demais para agir assim com outras pessoas.

Pois ficamos olhando um para o outro sem dizer nada por um algum tempo.

Eu ensaiei um sorriso, desfeito pelo olhar duro dela.

– Você disse que queria conversar, mas não está falando. – Hermione disse, se sentando. – Quer conversar? Estou esperando.

– Ok... – Eu respirei fundo, então abri a boca e fechei algumas vezes.

– Eu começo então. – Hermione se levantou, e se sentou mais perto de mim, o que por um lado era assustador por ser inesperado e por outro lado surpreendentemente bom, pois parecia que talvez pudéssemos voltar aos eixos.

– Qual é o seu problema? – Ela me deu um tapa na testa. – Hein?

– Eu estava me perguntando isso hoje, a caminho daqui. – Respondi finalmente. – Então eu acho que a gente pode passar horas respondendo a essa pergunta.

– Sabe qual eu acho que é o seu maior problema? – Hermione levantou e começou a andar de um lado para o outro. – Você não sabe se comprometer. Acho que esse é o problema, você não quer ficar comigo.

– Você acha que eu não quero ficar com você? – Eu tive que rir, o que a deixou ainda mais furiosa.

– Claro, qual seria o outro motivo? – Hermione disse, com o rosto em chamas. – Eu só não entendo..,

– Não há nada para entender, escute... – Eu tentei, mas ela estava chorando.

Eu não compreendo, na verdade as mulheres, são todas loucas, eu acho.

E tem esse lance de sentimento e emoções que me deixa meio pirado.

– Você não me ligou! – Ela me acusou, batendo no meu peito, com uma força admirável. – Eu fiquei acordada, esperando você me ligar e você não me ligou.

– Você disse que precisava de vinte e quatro horas. – Me justifiquei, espalmando as mãos, em sinal de rendição.

– Desde quando você me escuta? – Ela inquiriu, vermelha. Eu tive que segurar os pulsos dela para que ela parasse de me bater. – Me solta.

– Eu não te escutei, certo? Estou aqui, menos de doze horas depois. – Eu falei, encolhendo os ombros. – E quem disse que eu não quero ficar com você? Isso não faz o menor sentido!

Ela cruzou os braços.

Eu teria que convencê-la? Eu achei que eu era o inseguro e imaturo da relação.

Mas eu disse que não sei falar, então as palavras saíram mais ou menos assim:

– Você é burra ou o que? – Perguntei, exasperado e nem notei quando ela se encolheu no canto do sofá. – Você acha que eu passaria a vida brigando com você sobre Vitor Krum, Córmaco se eu não sentisse ciúmes de você?

– Você não sente ciúmes! Você me trata como uma propriedade, como se quisesse me prender por ter certeza que não arranja ninguém melhor! – Ela rebateu, no mesmo tom, de braços cruzados – E quer saber? Talvez você não encontre mesmo, não enquanto você for esse poço de ignorância e insensibilidade!

– Hermione, eu... – Eu ia me desculpar, mas fiquei furioso pelas últimas palavras. – Eu vou embora.

Então eu me levantei, saquei minha varinha e aparatei em casa.

Esse lance de relacionamentos?

Ninguém nunca tinha me dito que era tão difícil estar em um relacionamento com alguém, e quando cheguei em casa, já me arrependia de ser tão idiota e deixa-la ir. Porque aquilo era uma separação.

Ninguém também nunca me disse que era fácil.

E eu só queria voltar ao inicio.

Running in circles, chasing tails coming back as we are

E dessa vez eu fui surpreendido.

Talvez ela quisesse uma grave repreensão ou simplesmente uma conversa sobre decência e moralidade com a minha mãe, acompanhado de uma porção de conselhos sobre planejamento familiar e métodos contraceptivos do meu pai. Ou simplesmente ela estava tão ansiosa por me ter de volta que quis garantir um casamento – opção menos provável.

O que interessava é que ela estava no meu quarto quando eu abri os olhos.

E isso era quase um pedido a forca para minha mãe. Mesmo se tratando de Hermione, a pessoa favorita dela na Terra.

– Não acho uma boa ideia gritar aqui. – Disse, evitando olhar para os olhos amendoados dela. – Minha mãe não gostaria de vê-la aqui, nesse horário.

– Ela não vai. – Hermione disse, com um fiapo de voz. – Eu posso ir embora, se você quiser.

– Você quer ir embora? – Eu criei coragem para encarar os olhos chorosos dela. – Porque eu estou terrivelmente confuso com tudo isso aqui, e eu não gosto de ficar confuso, mesmo sendo ligeiramente confuso de nascença.

– Eu te amo. – Ela disse em um sussurro pouco mais alto que as batidas do meu coração.

– E qual é a sua dificuldade em entender que eu te amo também? – Eu perguntei um pouco mais rude do que gostaria. – Foi difícil aceitar que você me amava, que isso tudo não era uma piada de mal gosto, porque você poderia escolher facilmente qualquer um no universo, mas não deveria ser para você!

– Eu acho que nós dois temos algum tipo de problema. – Hermione encolheu os ombros. – Porque eu acho que você poderia escolher quem você quisesse e você preferiu ficar com uma nerd que passa mais tempo lendo que com o namorado.

– Você sempre foi bem segura. – Eu observei, olhando para o teto.

– Em relação a qualquer coisa que eu pudesse encontrar o significado nos livros, ou explicar com a ciência, sim. Em qualquer coisa que fosse concreta, sim– Ela admitiu, corada. – Mas em relação a nós dois não. Porque parte de mim não sabe explicar isso tudo, não sabe explicar o que eu sinto por você e como isso aconteceu e eu gosto de explicar e eu fico nervosa por não ter controle nenhum sobre mim mesma ou sobre o mundo quando estou com você.

Eu fiquei em silêncio, observando os lábios dela se curvarem um sorriso tímido, enquanto os olhos amendoados me olhavam esperançosos.

Eu nem mesmo lembrava porque tínhamos brigado, para início de conversa – tinha algo a ver com eu esquecer algo. – porque eu me perdia admirando cada pedacinho do rosto dela e sorria cada vez que via os dentes branquinhos nos lábios rosados.

– Ninguém no universo, mesmo você esquecendo datas importantes e afins, nunca vai ser mais bonito ou melhor que você em nenhum aspecto. – Ela falou, encolhendo os ombros. – Ninguém nunca vai conseguir ser lindo e incrivelmente charmoso enquanto brada nos meios das nossas intermináveis brigas, ninguém nunca vai conseguir me fazer rastejar e entrar escondida em seu quarto a essa hora da noite... Porque eu nunca vou amar ninguém como eu amo você.

Então eu a beijei.

Como ela me beijou no primeiro dia, como nos beijamos no início de tudo.

E a certeza de que ela me amava é o que me fazia voltar ao início de tudo, porque se o início para mim é quando tudo era mais fácil, tudo era mais fácil quando ela dizia que me amava.

E se ela me amava, o mundo era mais fácil.

Nós éramos nós mesmos novamente.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!