Afrodite olhava horrorizada para a cena. Piper estava largada no chão, com o rosto vermelho de tanto chorar e a voz rouca de tanto repetir a mesma coisa.

- Leo. Leo. Leo, volta pra mim. Por favor. – ela murmurava com a voz fraca.

Frank Zhang, o filho de Marte, tentava acalmá-la a todo custo.

- Pipes, vai ficar tudo bem. Tudo vai se resolver.

Mas a garota parecia nem escutá-lo. Nada estava funcionando. A filha da deusa estava daquele jeito havia, pelo menos, 10 minutos.

- Como aquela desgraçada pode fazer isso?

Afrodite sentou-se ao lado da garota chorosa.

- Piper, pare de chorar. Por favor. Detesto vê-la desse jeito.

Ela levantou o rosto molhado.

- Traga-o de volta para mim, mãe. Você é uma deusa, tem poder suficiente para fazer qualquer coisa. Por favor.  É só o que eu peço: traga o Garoto de Reparos de volta para mim.

A deusa esfregou as têmporas e se levantou. Começou a andar de um lado para o outro.

- Aquela idiota! Como ela ousa separar um dos casais que eu mais levei tempo para juntar?! Eu tive que passar uma noite inteira com Hefesto para que ele mudasse a configuração daquele robô que Nyssa estava construindo. Só assim eu ia conseguir que aquele autônomo capturasse você e tirasse sua memória! – ela apenas jogou as palavras para fora sem pensar.

Assim que terminou de falar, se tocou da besteira que havia feito. Piper a olhava, incrédula.

- O QUE?! VOCÊ CAUSOU AQUELA MALDITA PERDA DE MEMÓRIA? O QUE VOCÊ TEM NA CABEÇA?

- Aquela noite que passamos juntos...você só estava me usando? – o rosto de Hefesto assumiu uma expressão triste.

- Amor...

- Pff, como se ela fosse querer realmente passar algum tempo com você enquanto podia estar comigo. Que desperdício! – Ares bufou.

O deus das forjas avançou contra Ares. Ele lançou fogo, que atingiu as calças do deus da guerra. Enfurecido, ele avançou para cima de seu oponente. Ele pegou-o pelo pescoço e começou a estrangulá-lo. O rosto de Hefesto ficou vermelho, e estava assumindo uma cor arroxeada. Um trovão alto fez com que todos se assustassem. Ares largou Hefesto no chão. Este começou a tossir enquanto tentava desesperadamente recuperar o fôlego.

- AGORA JÁ CHEGA! SEMIDEUSES, VOLTEM PARA O ACAMPAMENTO! ISSO É UMA ORDEM! – Zeus gritou.

Quíron começou a reunir os campistas para tirá-los da sala de tronos. Ele tentou levantar Piper, mas ela afastou sua mão bruscamente.

- Não! Eu não vou sair daqui até que eu tenha Leo de volta em segurança. Se Hera resolver trancafiá-lo naquela gaiola por mil anos, esse será o tempo que vou ficar aqui. – ela cruzou os braços para enfatizar sua decisão.

Todos olharam para Quíron.

- Vamos, Piper. Precisamos ir embora.

- Não!

A tensão no ar era quase palpável. Frank deu um passo à frente e se sentou ao lado de Piper.

- Se Pipes não vai embora, eu também não vou.

Hazel juntou-se a eles.

- Nem eu. Não vou deixá-la sozinha.

A garota olhou para Hazel. Ela sorriu como se dissesse “estamos juntas nessa.”

Zeus estava com uma cara de reprovação e fúria desde o início. Antes que ele pudesse dizer alguma coisa, Afrodite se meteu no meio da confusão.

- Eu vou acolhê-los. Não se preocupe, não causaremos mais nenhum incômodo. – ela estendeu sua bela mão – Venham, levarei vocês para meus aposentos.

Os semideuses se entreolharam, mas a seguiram mesmo assim.

Afrodite os guiou para fora da sala dos tronos e eles começaram a caminhar por entre as ruas do Olimpo. Enquanto passavam, todos paravam para olhar. A deusa sorria e acenava com a cabeça.  Ninguém reagia. Ela não sabia com o que estavam mais surpresos: com a beleza dela ou com o fato de ela estar levando três semideuses para seus aposentos. Afrodite nunca permitia que ninguém entrasse lá, a não ser Ares algumas vezes.

Eles caminharam em silêncio até o grande castelo. Quando se aproximaram, as imponentes portas douradas se abriram, revelando uma sala enorme. Candelabros enormes, escadas imponentes. Espelhos. Muitos espelhos. Grandes poltronas cor de rosa. Os três semideuses ficaram de queixo caído. Afrodite riu para si mesma. Imagine se eles vissem os closets...

- Olha, quando você disse que nos levaria para seus aposentos, eu imaginei um quarto ou alguma coisa assim. Não imaginava que era um castelo. – Frank disse.

- Eu acredito que os aposentos de uma pessoa devem refletir quem ela realmente é. Que melhor jeito de refletir uma deusa se não um castelo?

- Aqui é lindo... – Hazel sussurrou.

Ela os levou até uma sala onde estava servido um enorme banquete na maior mesa que eles já haviam visto. Todas as coisas mais gostosas estavam ali.

- Hazel, Frank. Podem se servir. Comam o que quiserem. Eu vou levar a Piper ali para conversar a sós com ela, está bem?

O casal estava tão maravilhado que meio que automaticamente assentiram com a cabeça. Logo em seguida, começaram a atacar o banquete.

Piper e Afrodite seguiram pelo enorme e largo corredor. Elas entraram na primeira porta à esquerda, que dava para um jardim. Era exatamente o mesmo jardim que a deusa havia estado em sua Mensagem de Íris quando falara com sua filha. Dessa vez, havia uma mesa com duas cadeiras. Estava servida comida vegetariana para a semideusa e ambrosia e néctar para a deusa.

- Sente-se. Não precisa ter medo.

Piper sentou-se devagar e olhou para a comida.

- Pode comer, querida.

- Não estou com fome.

Afrodite suspirou.

- Por favor. Coma alguma coisa. Você gastou muita energia hoje, com tudo o que aconteceu. – ela tocou na mão da garota – Acima de deusa, eu sou sua mãe. Me preocupo com você. Por favor, coma pelo menos um pouco.

A garota olhou-a profundamente. Elas ficaram daquele jeito por um tempo. Sim, Afrodite se preocupava com ela. Não queria que sua filha parasse de comer ou coisa do tipo. Sabe-se lá que outras coisas piores podiam acontecer. Hesitante, Piper pegou uma maçã e mordeu-a. A deusa do amor suspirou aliviada e começou a bebericar de seu néctar em um cálice dourado.

- Então, sobre o que quer falar, mãe? – ela pronunciou essa última palavra como se estivesse experimentando aquilo pela primeira vez.

- Sobre o que aconteceu mais cedo. Olhe, sinto muito pelo que fiz com sua memória. Foi a melhor maneira que pensei de juntar você e o Leo. Sinto muito mesmo, acho que fui até egoísta.

Piper suspirou e segurou firmemente sua mão.

- Está tudo bem. No fim das contas, eu fiquei com ele, não foi? E já recuperei a memória. Aliás, consegui me lembrar de muito mais coisas, como o que realmente aconteceu na Escola da Vida Selvagem.

- Lembrou?

- Sim. – ela sorriu genuinamente desde que haviam chegado ali – Me lembrei de tudo o que aconteceu lá. Queria nunca ter me esquecido. O Leo é tão especial...Não consigo imaginar minha vida sem ele.

Afrodite se levantou subitamente, assustando sua filha.

- E não vai precisar.  – ela saiu andando decididamente.

- Aonde você vai?!

- Vou atrás do seu namorado! Você vai tê-lo de volta, nem que essa seja a última coisa que eu faça.

Ela passou pela porta e caminhou pelo corredor. O barulho de seus saltos ecoava no piso de mármore. Não fazia ideia de onde procurar por Hera. De repente, ela se tocou de onde devia ir para descobrir. Saiu do castelo e andou em direção ao templo de Apolo.

~algum tempo depois~

Afrodite abre de uma vez as grandes portas do templo, fazendo com que elas batam nas paredes com força. Apolo estava se agarrando com uma ninfa.

- Sai daqui, ninfa. Preciso falar a sós com Apolo.

- Mas...

- Sem “mas”. Retire-se!

A ninfa baixou a cabeça e saiu do tempo rapidamente. Apolo passou a mão pelos cabelos loiros bagunçados.

- Precisava disso? Eu estava em uma coisa muito boa aqui.

- Percebi. – Afrodite o olhou com desprezo – Preciso de um favor.

Um sorriso brotou no rosto dele.

- Que tipo de favor?

- Preciso saber onde Hera está. Quero falar com ela.

- E quem disse que eu sei?

- Apolo, você é o deus do oráculo! É óbvio que você sabe!

Ele caminhou até ficar bem em frente a ela e cruzou os braços.

- O que eu ganho se disser a você?

- Argh, o que você quer?

Novamente, aquele sorriso zombeteiro.

- Quero terminar aquele encontro que nós não tivemos. Quer dizer, foi interrompido na metade.

- Isso foi a éons atrás! Como você ainda lembra?

- Porque eu ainda tenho esperanças! Essa é a minha condição. Topa?

Ela se aproximou lentamente, como se fosse beijá-lo. Colocou-o contra a parede. Ele já ia passar mão em sua nuca quando ela sacou uma adaga e colocou-a bem em seu pescoço.

- EI, EI! O QUE É ISSO?!

- Eu não vou sair com você coisa nenhuma! Agora me diga: onde Hera está?

- Sabe que não pode me matar, não é?

- Sei, mas eu posso fazer um lindo estrago nesse seu rosto de surfista. Vou repetir: Onde. Hera. Está?

Ela apertou mais fortemente a adaga contra o pescoço dele.

- Ok! Ok! Eu digo! Ela está no templo de Zeus! Agora tira essa coisa de perto do meu rosto!

Afrodite tirou a arma e saiu andando. Quando estava na porta do templo, virou mais uma vez.

- Obrigada, sua ajuda é sempre útil, Apolinho.

~no templo de Zeus~

Apolo estava certo. Hera estava realmente no templo de seu marido. Leo estava na mesma gaiola, adormecido. Hera estava sentada em um trono. Afrodite se aproximou furiosamente.

- SOLTE-O!

- Quem disse que você manda em mim? – a deusa do casamento riu com desprezo.

- AFRODITE! POR FAVOR, ME TIRA DAQUI! – Leo gritou desesperadamente.

- Ah, mas você não vai sair daí mesmo!

Hera estalou os dedos e, novamente, Leo sumiu.

- Traga-o de volta! Isso não é nem um pouco justo!

- É sim! Ele desonrou meu nome e agora vai pagar! Não me importo com o que sua filha ou ele vão sentir, eu honrarei meu nome!

Afrodite riu.

- Nossos nomes são desonrados todos os dias, e nem por isso saímos punindo todos por aí.

- Não vou mudar de opinião.

- Estamos em um impasse. Acho que devemos resolver isso de uma maneira justa.

Hera começou a tamborilar as unhas no braço do trono.

- E o que sugere?

A deusa do amor sorriu com a pergunta.

- Um julgamento.