Life Or Death escrita por Hyori


Capítulo 1
Capitulo Único


Notas iniciais do capítulo

Espero que se divirtam lendo essa one-shot ! É minha primeira fic, a qual a criei com o propósito de competir em um determinado concurso (ao qual venci por W.O. #Cry )

Well, boa leitura pequenos cogumelos *-*



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Mais uma vez, como uma espécie de “ritual” noturno, acordei desesperada. O sonho, ou pior, a tortura. Era turvo, mas eu sentia aquela dor como se fosse real. Era tão intenso que chegava a tirar os lençóis e brigar com os cobertores e a cabeceira da cama de tanta agonia. Quando finalmente desacelerei minha respiração, olhei para os meus pulsos, recentemente doloridos pelos cortes que ousei fazer nele. Pensei: “ah, morte, se você não me quer então não me tente”.

Desfoquei-me de tais pensamentos, fitando meus olhos para o relógio no meu criado mudo, que estava lá, buzinando a minutos. Eram seis horas. Graças ao meu despertador, me levantei com certo esforço. Claro que aquele “bér” todo estava me irritando, mas estava grata por aquele barulho, pois sem ele me atrasaria justamente no primeiro dia de aula depois das férias de verão.

Bom, lá vou eu. Primeiro, o espelho. Cheguei à conclusão que estava com olheiras dignas de um panda. Lindos, acho pandas lindos, mas confesso que tais traços escuros não caem bem em mim. Sorri, mas era um sorriso falso. Lágrimas, de dores que ninguém é capaz de entender são os causadores dessas marcas em meus olhos. Bom, apenas respiro fundo, fazendo bom uso desses pulmões. Até que eles servem para algo.

Fui ao banheiro. Hora da ducha. Enquanto a água caía sobre meu corpo, pensei em muitas coisas. Senti que estava ansiosa por algo, mas não sei como dizer. Pulei esta parte e comecei a pensar em mim e em toda minha vida. Senti que precisava mudar, e que estava precisando de amigos, mas o problema não está nas pessoas, e sim em mim. Seguindo tais pensamentos, pensei na escola. Confesso que estava com saudades. Quer dizer, de algumas pessoas. Depois de uma maré de dores e depressão, tive meus olhos um pouco mais abertos para pessoas que fazem parte... Da minha vida? Esse pensamento é estranho, mas não é ruim. Refleti sobre a linda e rouca voz do Castiel (e nas nossas discussões claro); nos olhos bicolores do Lysandre (que por acaso cantava tão bem ao ponto de me tirar o fôlego); até na vaca da Ambre e suas amigas ousei refletir, mas logo mudei de pensamento; lembrei-me do sorriso do Armin, daquele lindo mar azulado em seus olhos e de toda sua gentileza e bom humor; no descarado do Dake, que vive dando em cima de mim e me forçando a rir de suas piadas incrivelmente bobas; na simpatia e bom gosto do Alexy, que sempre me dava dicas de moda mesmo sem ter pedido sua opinião... Em falar em bom gosto, lembrei-me do Leigh. Aquele jeitão desengonçado dele de pedir algo realmente me fazia rir. Sua pele era bronzeada e seus olhos negros. Era perigoso olhar diretamente em seus olhos. Lembro-me da vez que ele disse que eu era forte. Leigh lia muito bem o meu olhar.

Ainda com estes pensamentos, saí do banheiro enrolada em uma toalha gigantesca, que chegava dar duas voltas em meu corpo. Olhei-me no espelho novamente e senti que precisava mudar algo. Toquei em meus cabelos medianos, um tanto longos. Fitei meus olhos na segunda gaveta da pia onde havia uma tesoura. Ah, tentador, tentador demais. Com rapidez, abri a gaveta e peguei o objeto. Segurei firme como um troféu e me direcionei novamente ao espelho. Olhei bem para os meus cabelos. Eu queria mudar, então vou começar a partir de agora. Tirei todo aquele comprimento mediano e o transformei em um repicado curto, com a parte frontal um pouco mais longa. Meu cabelo era liso, mas algumas pontas teimaram em ficarem onduladas, umas mais longas, outras mais tímidas. Fiquei feliz com o resultado, modéstia a parte, aquele corte me caiu bem. Logo, me direcionei ao meu guarda-roupa e formei um look com as primeiras coisas que vi, mas não me esqueci do meu moleton nerd e de meus óculos de aros largos. Tudo pronto. Agora, café da manhã e pé na estrada.

Durante o trajeto em rumo a escola, não pude deixar de passar naquele lugar. Fui ver meus pais, no local onde eles estavam descansando perpetuamente. Como de costume, levei rosas lilases; minha mãe amava tais rosas, dizia que elas eram semelhantes aos meus olhos. Mas isto não importa mais, pelo menos não muito. Chegando no local, deixei o buquê próximo à eles, e neste momento muitas coisas passaram pela minha cabeça. O passado, o presente, o que eu nunca gostaria que tivesse acontecido e o que eu gostaria. As lágrimas iriam novamente tomar conta dos meus olhos e rosto, mas não tive tempo para deixar meus sentimentos fluírem pela minha face. Escutei um barulho vindo da floresta que ficava logo detrás do cemitério, e é claro que minha curiosidade me levou até lá. Segui quietamente até o local, e entrei numa parte que dava acesso à floresta. Assim que atravessei tal caminho, me deparei com um vários túmulos, todos estavam mal cuidados, gastados, em alguns dava para ler algo, mas a única coisa que consegui foi a data de falecimento das pessoas, que ficavam entre a década de 50 à 60. Prossegui, até que encontrei outra entrada, e logicamente fui até lá. Havia um túmulo, escrito Mary Magdalene, falecida em 1960. Era completamente diferente dos demais, estava como se houvesse sido colocado recentemente. Me aproximei do mesmo, e por algum motivo me lembrei do meu sonho. Minha respiração pesou, e minha mente ficou confusa, mas não tive tempo para isto. O som interrompeu meus pensamentos, mais forte e mais fluente. Estava próximo, então caminhei sem fazer nenhum tipo de som, maneirando até no meu respirar. Até que então, me deparei com uma cena chocante: Um garoto, com vestes dignas de um príncipe dos anos 60, cabelos longos e negros, forte e aparentemente alto, com íris sufocantes e avermelhadas; estava com seus dentes cravados em um animal, o mesmo em uma situação que mal pude identificar que tipo de bicho era aquele. O cheiro de sangue tomava conta do lugar devido à ventania, e o garoto fez uma expressão de surpresa ao me ver, mas não tanto quanto eu, que fugi às pressas daquele lugar devido ao medo. Oh meu Deus, o que era aquilo, o que ele era!? As imagens do momento tomaram conta da minha mente, e me fizeram cair ao chão, devolvendo meu café. De repente, senti como se tudo ficasse escuro. Não senti mais nada, não vi nada, a não ser alguém se aproximando, mas adormeci antes de reconhecê-la.

Quando acordei, me deparei com um cenário digno da época de realeza. Móveis antigos, tapetes, cama, paredes, cortinas, tudo. Era digno de um castelo, mas com ar de abandonado. Lembrei-me do ocorrido, e pensei no que poderia ter acontecido para ter feito com que eu chegasse naquele local, mas não tive tempo para pensar nisto, pulei da cama e caí no chão, surpresa e assustada ao ouvir uma voz fina de um ser que estava bem na minha frente:

— Até que enfim você acordou!

Me preparei para jogar a primeira coisa que vi pela frente em um ponto cego, porém quando estava pronta para lançar fogo, avistei apenas um morcego pedindo interseção:

— Calma donzela, não precisa fazer esta cara! –Eu olhei ao redor, contando mentalmente até 10, dizendo:

— Eu não estou louca, não há nenhum morcego falando comigo, eu não estou em um lugar que parece um castelo antigo, eu não vi um cara “comendo” um animal, isto Hoshina, você está sonhando, é só um pesadelo...

— Você não está em um sonho – disse o morcego, fazendo com que eu explodisse e jogasse o travesseiro em sua direção.

— Como eu não estou sonhando! Cara, você é um mamífero, um animal! A lógica é você não falar! Como você tem capacidade de me dizer que não estou em um sonho! Pode até ser. Se eu não estou sonhando, no mínimo devo estar louca – disse alterada.

— Então, como você justifica seus sonhos? – Disse ele, mas senti em sua expressão um ar de arrependimento. É claro que vocês já devem imaginar o que perguntei:

— Como sabe sobre os meus sonhos? O que é você? O que você sabe sobre mim? - Vi que ele deu um longo de um suspiro, em seguida, me fitou com um olhar penoso e disse:

— Pode me chamar de Noir, cordeirinha.

Assim que ele disse isto, senti um arrepio me subir à espinha, e o medo tomou conta de todo meu ser. Cordeirinha? Antes que eu pudesse fazer mais interrogações, ouvi a porta se abrir. Era ele. Mas desta vez, estava com um olhar mais abatido, tristonho, perturbador, assustador. Estava preparada, mas confesso que minha vontade era de permanecer no chão, o que me fez continuar nele. Ele olhou nos meus olhos, e senti como se estivesse enfeitiçada. Meu coração palpitou, mas não era medo, não desta vez. Logo, ouvi sua voz, era suave, como um calmante para meus nervos que estavam à flor da pele. Ele disse:

— Me desculpe, não queria lhe causar estes problemas. Noir, o que foi que você disse a ela?

— Apenas a chamei de...

— Cordeirinha! – o interrompi, com ira. Vi aquele garoto novamente olhar para mim. Ele roubava as minhas palavras.

— Noir... – Ele olhou para o coitado do morcego, que o mesmo estava com cara de “Game Over”. Eu interrompi e soltei a interrogação:

— O que ele quis dizer com “cordeirinha”? Tudo que está acontecendo aqui é culpa sua. Eu não pedi para você me trazer até aqui. Ele disse sobre meus sonhos... Como ele pode saber isto? Eu nunca falei nada disto com ninguém, como alguém que eu nunca vi na vida pode saber tanto sobre mim? E você, o que você é? Estava com seus dentes cravados em um animal que mal pude discerni-lo! Você não é humano, e mesmo que fosse, deveria estar morto. No mínimo, você é uma aberração – Pronto, a bomba estourou. Por algum motivo, me arrependi de ter dito aquilo. Senti que o feri, mas não me importava. Era ele ou eu, e no meu caso seria mortal. Pera ai, quando foi que passei a me preocupar com minha sobrevivência? Isto não interessa mais, só queria sair daquele lugar. Mas antes, o senti segurar em meu braço com suas mãos frias, me levantando do chão e me colocando próximo ao seu rosto, o suficiente para que eu pudesse sentir sua respiração. Logo, novamente ouvi sua voz tão pacífica soar em meus ouvidos, mas com um olhar completamente diferente:

— Me perdoe, mas eu não posso deixá-la ir. Não agora, pois estão caçando você. Novamente lhe peço perdão. Pode me chamar de Dimitry. Serei seu protetor.

Eu não entendi bolinhas, mas sentia meu rosto corar com sua aproximação repentina. Ele me soltou, mas colocou uma de suas mãos sobre o rosto com uma expressão não muito agradável:

— Venha comigo, não lhe farei nenhum mal. É uma promessa, querida Hoshina.

Eu já sabia que era inútil perguntar como ele sabia meu nome. Aliás, seria uma pergunta tola, para quem sabe até o que sonho. O segui obedientemente. Ele permaneceu com sua mão direita sobre o rosto, a esquerda deixou que ficasse sobre suas costas na direção da cintura. Não havia notado, mas por algum motivo ele à apertava com muita força. Parecia que estava mantendo o controle sobre algo, ou sobre si. Ele direcionou seu olhar para mim, dizendo:

— Me desculpe, não posso aguentar mais. Entre nesta sala, e aguarde por minha chegada. Virei logo, não demorarei.

Continuei sem entender, o que será que ele quis dizer com “não aguento mais”? Mas fui. Peguei na maçaneta da porta mais próxima que vi. A porta era enorme, deveria ter uns 5 metros! Quando entrei, me maravilhei com a paisagem: Livros e mais livros! Era uma maré de sonhos, para uma amante de tais obras de arte. Ah, nem me importava mais com o que poderia acontecer, aquele lugar era o céu. Fui andando por aquela sala, como uma criança correndo atrás de uma borboleta. Havia uma cadeira, semelhante a trono, e eu me sentei, me sentindo uma rainha. Dei um leve sorriso, mas parei para pensar em minha situação. Um morcego que fala... Um garoto, com vestes de um galã do século XX que estava “comendo” um animal... Comendo? Ou ele estava... Bebendo! Corri pela sala, em busca de livros ou qualquer outra coisa que falasse à respeito do século XX. Encontrei muitos artigos e coisas que relatavam sobre tal época, então sentei na mesa e procurei alguns fatores deste século. Veio sobre mim a imagem do túmulo de Mary Magdalene, e me lembrei de que estava registrado seu falecimento em 1960. Procurei algo relacionado a esta época e encontrei um fator que houve numa determinada região. Uma epidemia, que a cada dia alcançava um número maior de mortos. Mas isto ainda não justificava nada sobre Dimitry. Por que ele estava com aquele animal? Ahr, já estava ficando brava, quando Noir novamente apareceu do nada.

— Vejo que está muito ocupada, Hoshi.

— Eu não te dei liberdade para me chamar assim. – Disse, irritada.

— Calma, posso lhe dar todas as respostas que você quer. – Nem é preciso dizer que me interessei na hora. Mas minha preocupação veio à tona, e perguntei:

— E Dimitry, ele não me pareceu muito feliz por você ter me chamado de “cordeirinha”...

— É sobre isto que vim falar com você. Mais cedo ou mais tarde você vai descobrir. Contarei a você aquilo que me convém. Algumas coisas deixarei para Dimitry; mas fique tranquila, você saberá por que está aqui. –fechei todos os livros que estavam à mesa e me foquei em Noir. Ele começou:

— Como você pôde ter lido, houve uma epidemia que aconteceu em meados do século XX, especificamente nos anos 60. Muitas pessoas faleceram em consequência desta doença, inclusive Mary Magdalene.

— Por que você a priorizou nisto tudo? Perguntei curiosa.

— Bom, isto porque Mary Magdalene era a prometida de Dimitry. –Logo, tudo ficou confuso.

— Prometida de Dimitry? Mas isto foi a cerca de 50 anos, e Dimitry não aparenta ter esta idade...

— Exatamente onde eu quero chegar-Disse ele me interrompendo. – Dimitry a amava muito. Quando soube que ela estava enferma, saiu numa jornada em busca de remédios ou qualquer outra coisa que pudesse salva-la. Mas voltou de mãos vazias, e Mary estava cada vez mais doente. E pior, não havia mais ninguém desta região que pudesse cuidar dela, já que todos haviam falecido. Dimitry não se conformava com isto, e novamente saiu em busca de solução. Mary disse para ele desistir, mas ele não queria perde-la por uma doença qualquer. Ele encontrou uma solução, mas quando voltou, já era tarde. Um dia antes de seu retorno, Mary não aguentou mais e faleceu. Ela “durou” mais que qualquer outra pessoa que estava sofrendo da mesma enfermidade. Ficamos surpresos com tamanha resistência, mas não foi o suficiente para que Dimitry pudesse chegar à tempo e resgatá-la.

— Mais ainda assim, qual foi a solução que ele encontrou para salvá-la? – Disse com muita ansiedade.

–Ele... Bom, ele... Ele se tornou um vampiro.

Ok, novamente voltei a contar até 10. Como a contagem não me ajudou em muita coisa, ia partir para os carneirinhos, mas meu sangue estava fervendo e novamente estourei:

— Você quer que eu acredite que Dimitry é um vampiro? Eles definitivamente não existem, igual Papai Noel e Coelhinho da Páscoa! Se ele realmente é um vampiro... – Acabei parando para pensar. Na cena que vi Dimitry pela primeira vez com aquele animal. Já havia lido muitos livros sobre vampiros antes, e havia alguns que eram apelidados como “vegetarianos”, pois não se alimentavam de sangue humano. Agora tudo fazia sentido.

— Viu? – Disse Noir, com ar de missão cumprida. – Agora deixarei tudo com o Dimitry. A parte mais importante da história começa agor...

Noir foi interrompido. Na verdade, nossa conversa acabou perdendo o foco, quando ouvimos barulhos vindos de todo o castelo, como portas sendo quebradas, fazendo barulhos estrondosos. Noir estava com uma expressão preocupada, e logo disse:

— Pronto, eles sabem que você está aqui.

— Eles quem? – Perguntei preocupada.

— Venha, tenho que esconder você.

— Mas e Dimitry?! – Perguntei, sem saber o que fazer.

— Ele é seu protetor esqueceu? Ele ficará bem, tenha certeza disto. Dimitry estava preocupado com esta situação, então me disse o que fazer caso isto acontecesse. Venha. Logo ele virá atrás de nós.

Não tive mais tempo para perguntar nada. Noir me fez correr para uma das prateleiras que ficava nos fundos da biblioteca. Puxei um livro fino, de capa esverdeada, e avistei a prateleira subir. Fiquei surpresa, mas não parei para admirar a situação. Entrei correndo e rapidamente a prateleira se fechou. Segui Noir, mas sabia da gravidade do problema, então preferi me estressar assim que estivermos em um lugar seguro, se é que tem um lugar seguro por aqui. Os corredores escondidos eram escuros, mas havia alguns buracos para ventilação que permitiam que visualizássemos para onde estávamos indo. Não demorou muito tempo, para que chegássemos a um jardim, não tão bonito como os que costumo ver. Na verdade, era um lugar que dava acesso à um pico, que logo caminhei em direção do mesmo. Atravessei algumas árvores e avistei uma pedra gigantesca centralizada no meio daquele lugar. Me aproximei da mesma e toquei. No mesmo instante, as lembranças do meu sonho se tornaram mais claras e nítidas, e finalmente pude ver o que realmente acontecia. Era Dimitry e eu. Eu estava sobre esta pedra, deitada, me debatendo com Dimitry que estava sobre meu corpo. Via meu próprio sangue sendo sugado por ele, e aparentemente eu estava com muita dor, mas confesso que ele... Não sei explicar sua expressão, era completamente diferente de quando eu o vi com aquele animal, e do Dimitry que fala calmamente. Se eu tentasse explicar, diria que era uma mistura dos dois. Com rapidez, desloquei minha mão daquela pedra, pasmada com a situação. Noir veio em seguida, dizendo que Dimitry estava chegando. Quando ele finalmente nos alcançou, me virei querendo saber tudo que estava acontecendo, e por que ele estava sugando meu sangue, justamente naquele lugar. Assim que ele chegou, notei suas roupas... Estavam intactas! Estranhei, mas pulei esta parte. Não disse uma palavra, ele entendeu o que eu queria unicamente pelo meu olhar. Ele começou:

— Hoshina... Eu não esperava por você. Foi o destino que te colocou no meu caminho, quando você foi visitar seus pais e me encontrou... Naquela situação - Disse ele com ar de suspense-. Não iria atrás de você, mas naquele momento, fui obrigado a te socorrer, pois certos vampiros que vivem nesta região também sentiu o aroma do seu sangue e logo veio até você, para te matar. Diferentes de mim, eles não possuem controle sobre seus instintos, então...

Eu fiquei preocupada, mas por algum motivo não me apavorei. Eu senti que podia confiar em Dimitry, mas não sei de onde vinha este... Sentimento. Mas meus pensamentos ainda não faziam me sentir totalmente segura. Aquele flash que me deu me deixou abalada. Por algum motivo, fiquei com a pulga atrás da orelha. Na verdade, era um elefante que eu carregava:

— Dimitry, eu...

Não tive tempo de falar nada. Apenas vi Dimitry com uma aparência não muito agradável, como se estivesse passando mal. Por causa disto, vi Dimitry se afastando aos poucos, levando uma de suas mãos novamente ao seu rosto, com a mesma expressão que fez enquanto estávamos no castelo. Ele virou, com rapidez, e disse a Noir:

— Acompanhe-a até a saída. Eles não ousarão ataca-la. Agora está tudo bem.

Claro que fiz uma expressão facial como de um ponto de interrogação, mas depois de um tempo pensei bem. Dimitry também fez a mesma coisa quando estávamos caminhando pelos corredores do castelo, como se estivesse se contendo... É isso! Mesmo ele sendo um "vampiro do bem", sentir o cheio de sangue humano, o meu sangue, pode o fazer perder o controle, assim como as outras pessoas, ou melhor, os demais vampiros. Se ele disse que agora está tudo bem, talvez seja porque os outros também sejam como Dimitry, “vegetarianos”. Entendo, mesmo ele querendo me “proteger”, ele também deve se conter para não me ferir.

— Fico feliz que você entenda. – Disse com um leve sorriso no rosto. Ele prosseguiu: - Agora vá; se você entendeu a situação, apenas vá. Não quero machucá-la.

Não levei muito tempo e comecei a seguir o morcego falante. Fomos caminhando por estradas um tanto estreitas e conversando, quando ele novamente iniciou um novo assunto, e pela sua expressão era sobre ele, claro.

— Ei Hoshi – ele insiste em me chamar assim. — Não tenha medo de Dimitry. Ele não irá atacar você. Além do mais, ele prometeu a Mary que não beberia nenhuma gota de sangue humano, embora isto não seja muito bom, pois ele fica enfraquecido ao ponto de ficar “doente”, se é que você me entende.

Olhei para Noir e movimentei minha cabeça como de compreensão, mas me perdi em meus pensamentos. O que explica então aquela cena? Eu queria fugir deste pensamento, então pensei nele. Ele me protegeu. Acho que deveria fazer algo por ele, já que ele me salvou mesmo eu achando toda esta história confusa e estranha. Nem percebi, e avistei que e Noir havia me levado ao cemitério novamente, mas era uma parte próxima ao castelo, ainda um tanto distante dos túmulos, mas não tão do de Mary. Fitei meus olhos em algo que parecia um gato. Pensei em dar ao Dimitry, para ver se ele melhorava, mas lembrei que não é disto que ele necessita. Mesmo ele se alimentando com o sangue de animais, nada me adiantaria nada dar um gatinho para ele como banquete. Me aproximei do bichano, que não recuou e veio na minha direção. Era realmente muito fofo, ao ponto de me distrair com o animal e esquecer meu destino. Noir apenas visualizou a situação, mas não interferiu. Acabei me dando o luxo de nomear o felino: Sebastian. Depois de um tempo amassando as partes fofinhas de suas patas, o soltei, e indiquei o caminho que ele deveria seguir, em rumo à sua liberdade. O mesmo olhou para trás, mas não custou muito tempo até ele correr alegremente. Me senti feliz por um momento, mas ainda assim não havia ajudado Dimitry em coisa alguma.

Voltei a caminhar com Noir, e finalmente chegamos na parte dos túmulos. Eles eram realmente tristes, em pensar que esta região foi totalmente devastada por uma enfermidade que levou todos, sem mais nem menos, deixando apenas o vampiro e o morcego. Queria alegrar um pouco aquele lugar, então olhei ao redor e avistei algumas flores que cresciam em volta. Estavam em arbustos, algumas da mesma espécie localizada um pouco mais ao chão bem próximo às sepulturas. Pensei em fazer alguns buquês e colocar à frente dos mesmos.

— Noir, você poderia esperar um pouco?

— Tudo bem Hoshi, eu te entendo.

Noir apenas observou cada movimento meu. Peguei algumas flores, e formei três buquês. Os deixei sobre tais lugares, que devido ao tempo e o mal estado mal podia ler o que estava escrito. Apresentei algumas preces, mas, por favor, não me perguntem por que disto tudo.

— Você tem um bom coração, Hoshi – Disse Dimitry, chegando do nada e do além.

— Você me assustou, parece até o Noir – Disse eu, olhando diretamente nos olhos dele. Realmente seus olhos me atraiam. Aquela íris avermelhada e seu jeito de olhar me tiravam o ar, como se em um segundo eu me sentisse como se não respirasse à minutos. Sua pele era tão linda, e seus fios negros como a noite dava mais ênfase à seus olhos e sua pele, numa única e harmoniosa sinfonia. Confesso que quando ele apareceu, meu coração não palpitou de susto. Foi outra coisa. Eu posso ser fria em relação à sentimentos, mas sou sincera. Dimitry me fitou mais uma vez e me disse com sua amável e suave voz:

— Quero lhe dar um presente.

— Mas você disse que eu...

— Sim, mas quero lhe dar algo pela sua ação. -o vi olhar para o lado, e colocar a mão na cabeça, meio sem jeito, e depois falou: - Eu não queria admitir, mas você realmente...

— Eu o que? – disse eu ansiosa para saber o que ele queria dizer. Vi novamente seu lindo sorriso tímido, dizendo:

— Você me lembra muito a Mary. Quer dizer, o seu jeito.

Me surpreendi com isto. Eu pareço a Mary, mesmo eu sendo uma garota que tem uma lata no lugar do coração. Sim queridos leitores, aquilo me deixou feliz. Senti algo frio tocar a minha mão. Era Dimitry, segurando-a com delicadeza.

— Tudo bem se eu te levar até onde você estava, naquela colina? Lá é mais adequado para você usar seu presente.

Estava tão intimidada com a situação que nem discordei. Dimitry me pegou em seus braços como se fôssemos recém-casados. Com uma rapidez imensa, eu já estava no solo da colina. Dimitry era tão rápido quanto o Sonic.

— Não demoro – Disse ele, claro com uma ponta de ironia, o me me fez elevar um leve sorriso, totalmente tímido. Me sentei no chão, olhando para aquela pedra. Senti minha respiração pesar um pouco, mas nada melhor para tirar toda esta tensão do que uma respiração bem profunda. Nem percebi, e o dia havia se convertido em noite. O tempo passou muito rápido, assim como Dimitry, que não levou muito tempo até ele reaparecer pelas minhas costas.

— Aqui está. Era de Mary, espero que goste.

Era um vestido. Nem preciso descrever o quão lindo ele era. Era carregado por um ar e estilo da época vitoriana, com direito a ondas e babados. Havia também luvas e um sobretudo avermelhado, que lembravam os olhos de Dimitry. Os sapatos pareciam de que estavam em chamas. E o colar? Ah, era tão lindo que nem tenho palavras para descrevê-lo. Poupei agradecimentos e corri para vesti-lo. Ficou uma perfeição em mim. Dimitry me viu, e ficou realmente satisfeito com o resultado, e ao mesmo tempo sem jeito, intimidado. Mas sua feição se desfez com rapidez. Logo, ele estava fraco, e isto era muito aparente, o que fez com que ele perdesse a força e quase viesse a desmaiar na minha frente. Corri para socorrê-lo, mas não era forte como ele, portanto, caímos no chão, mas pude amortecer a queda e deixar com que ele caísse sobre minhas pernas.

— Dimitry, você está bem?

Ele sorriu e falsamente disse:

— Sim, estou bem. Foi apenas uma tontura, logo isto irá passar.

— Não foi simplesmente uma tontura que eu sei – disse eu, preocupada. Muitas coisas se passaram pela minha cabeça, então eu cheguei em uma louca conclusão:

— Dimitry, você fez muito por mim, me ajudou, me protegeu... Agora é a minha vez de te ajudar. Beba, pelo menos um pouco do meu sangue. Sei que isto parece uma oferta pequena, mas fará com que você melhore.

— Eu me recuso! – Disse ele em exclamação. – Eu prometi para Mary que não faria nenhum mal a ninguém...

— Você não está me fazendo mal! Você é quem está mal Dimitry. Você me ajudou tanto, eu quero lhe agradecer. Queria lhe dar um gato para que você pudesse se alimentar, mas pensei que poderia ser muita crueldade com ele e o libertei, além do mais, você precisa de sangue humano, pois o de animal não está conseguindo dar conta do recado. Eu não aceito não como resposta.

— Mas Hoshina...

— Mais nada! – disse com tom de irritação.

Dimitry me olhou, e só pôde dizer uma coisa:

— Muito obrigada.

Levantamos do chão, e com delicadeza e sem nenhum propósito me deitei sobre a pedra que estava ali. Lembrei do meu sonho, mas busquei esquecer os fatos do mesmo. Dimitry ficou sobre meu corpo. Seus longos cabelos tocaram meu rosto e eu sentia sua respiração, que por vista estava um tanto acelerada. Ele aparentava estar nervoso, e pelo que percebi aquilo era contagioso. Eu estava tão trêmula... Um vampiro, bebendo o meu sangue! Mas acredito que não era exatamente isto que me deixava nervosa... Era o Dimitry. Ele que me deixava mais ofegante ainda. Sua presença é marcante, mesmo com sua aparência calma. Ah, meus pensamentos se colidiram e senti meu coração entalar na garganta e em um piscar de olhos senti meu rosto corar.

— Você está bem? - Disse ele com toda sua gentileza.

— Sim, estou.

— Não se sinta obrigada a fazer nada.

— Eu não me sinto obrigada. – Disse, fitando meus olhos para o lado. Ele tocou meu rosto, fazendo com que eu olhasse somente para ele. Se meu coração havia disparado e entalado na garganta, agora estava prestes a sair pela boca.

— Você está com medo?

— Não, eu estou bem. Sei que isto irá te ajudar. – Assim que encerrei esta frase, Dimitry se aproximou do meu rosto e encostou a ponta gelada de seu nariz ao meu. Logo, respondeu:

— Sim, irá muito.

Ele se distanciou um pouco, se aproximou do meu ouvido e disse uma última frase:

— Obrigada, cordeirinha. Você foi de grande ajuda.

Senti um arrepio, desta vez completamente diferente do que havia sentido. Era medo. Antes que eu pudesse interferir em alguma coisa, ele já estava com sua boca próxima ao meu pescoço. Já era tarde. Ele já havia cravado seus dentes afiados em minhas veias. A princípio não doeu, parecia algo semelhante à injeção. Mesmo com Dimitry ali, naquela situação, parei para pensar em algo que realmente estava me incomodando. Dimitry disse que “vampiros” estavam atrás de mim. Ele havia lutado, com o propósito de me proteger. Mas durante a batalha, não ouvi exatamente o barulho de duas pessoas lutando. Noir disse “eles”, mas estranhei por não ouvir nenhuma outra voz durante aqueles estrondos no castelo. Quando Dimitry voltou, estava sem sinal de lutas, e agora que ele está tão próximo não sinto cheiro de nada. Não há marcas em suas roupas e seus punhos não estavam tão feridos. Estava com aparência semelhante aos murros que eu dava na parede do meu quarto para descontar a raiva que tinha pelos meus problemas. Eu fazia isto, pois perdia o controle dos meus sentimentos... Descontrole? Espera, ele sempre estava segurando sua mão com força e a outra sobre seu rosto, como se estivesse me escondendo algo... E sobre a história de Mary, ela foi a última da região a sobreviver da epidemia, como pode haver outro vampiro aqui na região sendo que ele encontrou a "solução" para Mary fora daqui? Cordeirinha? Eles não me explicaram nada sobre isto. Eu fui de grande ajuda? Como assim eu fui...? Fui!

Minha ficha finalmente caiu. Nunca houve outro vampiro, nunca houve lutas, nunca houve nada. Era teatro. Tudo aquilo era obra de Dimitry e Noir. Um cenário perfeito, e eu caí que nem uma jaca. Dimitry ficou pasmado com o fato de Noir ter me chamado de cordeirinha, pois poderia perder a chance de poder beber meu sangue. As demais coisas foram improvisadas. Aqueles barulhos foram feitos pelo próprio Dimitry, em pró de me fazer acreditar na presença de outro vampiro que desejava meu sangue. Não tem como haver outro vampiro nesta região, senão teria feito contato comigo enquanto ia embora com Noir. Aquela cena de estar passando mal... Tudo era mentira. Ele me chamou de cordeirinha pois me ofereci em sacrifício. Cavei minha própria cova, e ele, que pensei ser o um cordeiro, não passava de um lobo faminto.

Quando fugi de tais pensamentos, percebi que Dimitry havia ficado muito tempo sugando meu sangue, e eu estava zonza. Era para ser apenas um pouco. Coloquei minhas mãos sobre seus ombros e o impulsionei para trás, dizendo:

— Então é isso que você quis dizer com cordeirinha? Seu teatro acaba aqui.

De repente senti suas mãos tocarem as minhas, tirando-as de seus ombros, prendendo meus pulsos naquela pedra com uma força pela qual eu não podia competir. Ele tirou seus dentes do meu pescoço e olhou diretamente em meus olhos. Estava completamente diferente. Seus olhos e ao redor dos mesmos estavam totalmente avermelhados, como se estivessem sangrando. Seu olhar era maldoso, seu sorriso maquiavélico. Um perfeito lobo em pele de cordeiro. Queria lutar contra isto, mas não podia. Ele com sua voz completamente diferente de antes, disse:

— Então você juntou as peças do quebra-cabeça? Mas não acha que está atrasada, cordeirinha? Olha pra você, tentando bancar a garotinha forte. Ah, tão bela e tão lerda. Mas confesso que você foi muito mais rápida que as outras garotas que matei. Protetor? Me poupe. Todas caem nesse papo. Mas calma cordeirinha, você é definitivamente diferente das demais garotas. Você realmente me lembra Mary. Ah claro, não posso esquecer que seu sangue possui um sabor melhor do que esperei. Obrigada pelo banquete. O bom é que pelo menos você irá ao inferno sabendo o porquê foi parar lá. Espero que goste do lugar.

Não demorou para Dimitry cravar novamente seus dentes sobre meu pescoço, mas desta vez totalmente violento. Diferente da primeira, esta estava carregada de dor. Sentia como se minha pele estivesse sendo cortada por uma faca, e que aos poucos minha consciência decaía. Como um flash, vi Noir de longe. Estava escondido numa das árvores do pico, com uma expressão de “missão cumprida”. O medo tomou conta de todo meu ser. Eu não queria perder minha vida assim, não para ele. A dor aumentava cada vez mais, e ele me pressionava conforme o sofrimento. Me desesperei, e comecei a me mover com brutalidade, tentando me soltar. Eu batia e balançava minhas pernas na esperança de que pudesse me libertar, mas a busca de liberdade se converteu em agonia devido ao meu sofrimento e passei a me mover por causa disto. Sentia meu sangue escorrer em meu pescoço, e o cheiro era forte. Comecei a tossir, e por causa desta ação cheguei a cuspir sangue, e não foi pouco. Olhei para o céu, e era tudo cor de guerra, cor de sangue. A lua ainda era alva, mas aos poucos pegou o mesmo ritmo de todo aquele mar avermelhado. Eu fique cada vez mais fraca, e senti que já havia perdido muito sangue. Minha consciência estava se esgotando. Não conseguia mais pensar, nem refletir, nem sentir dor. Aos poucos tudo foi escurecendo, e eu havia perdido completamente minhas forças. Meus olhos perderam as forças, e pouco passei a ver. Apenas me lembro de uma última imagem. Era Dimitry, com satisfação e bem alimentado, passando lentamente seus dedos sobre o canto da boca e tirando o pouco de sangue que estava descendo de sua boca. Ele disse algo que não consegui entender. Depois disto escureceu tudo, definitivamente. Foi isso, foi meu fim.

Uma pequena luz tomou conta do meu olhar. Era fraco, pequeno, alvo. Aos poucos, com muita dificuldade, abri meus olhos. Via tudo totalmente embaçado, mas formulei algo semelhante a um teto, que parecia branco e iluminado com uma lâmpada que estava bem na direção dos meus olhos. Não conseguia falar, nem me mexer, pelo menos não muito, principalmente minha cabeça. Parecia que eu estava numa espécie de cama, quase imóvel. Pisquei algumas vezes, para ver se conseguia visualizar algo melhor, e assim que obtive um bom resultado, escutei uma voz e tentei virar minha cabeça para ver de quem era aquela voz, que parecia eufórica, meio que feliz.

— Enfermeira, enfermeira! Chame a enfermeira urgente!

Pela voz e pelo semblante, aparentava ser Leigh. Lentamente virei meus olhos e avistei uma espécie de vidro, e por detrás dele, vi várias pessoas, mas não tive tempo de reconhecê-las, apenas vi Leigh sendo afastado por algumas pessoas, enquanto outras me tocavam. Ouvi algo relacionado a pulsos e sangue. Lembrei de que os meus em minha casa, e havia sangrado muito pois o corte foi profundo. Depois disto, não me lembro de mais nada. Pela expressão de Leigh, fazia um tempo que eu estava naquela situação. Vozes perguntavam se eu estava bem, o que eu sentia, se eu sentia alguma dor. Não conseguia dizer nada ainda, mas por algum motivo meu pescoço doía muito.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado :D não esqueçam de comentar õ/ Desde já agradeço de todo coração S2



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