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Kaline Bogard

Parte 02 de 02

Wes moveu-se na cama, procurando uma posição mais confortável e ronronou de satisfação. Por um segundo Travis pensou que ele podia ter despertado, porém o loirinho continuou adormecido.

Foi a vez de o moreno ajeitar-se sobre o colchão: deitou-se de lado e apoiou o cotovelo na cama, descansando o queixo sobre a palma aberta. Os olhos profundos admiraram o rosto do parceiro.

Daquele jeito Wes mais parecia um anjo, com o rosto tranqüilo e pacífico. Tão diferente de quando estava acordado e mais lembrava um pequeno e determinado demônio. Não por sua aparência; claro, mas pelo jeito obcecado com tudo certo, a mania irritante de sempre debater cada coisa que Travis dizia; e, o pior: o loirinho sempre tinha que dar a última palavra, qualquer que fosse a questão.

Tão irritante... irritante e adorável.

Provavelmente era por isso que Travis adorava provocá-lo, tirá-lo dos eixos apenas para ver a face pálida tingir-se de vermelho pela raiva, mesmo nas raras situações em que o deixava envergonhado.

Era impressionante: por mais embaraçado que estivesse Wes ainda tentava manter a “pokerface”, usualmente o advogado falando mais alto dentro do rapaz. Ele nunca conseguiria abrir mão dessa parte de seu ser.

Talvez essa fosse uma das características que atraiam Travis e...

Então o moreno percebeu o que fazia: inconscientemente movera a mão livre e estava prestes a acariciar os cabelos curtos e loiros.

Nunca, nunca antes Marks sentira tamanho carinho por uma de suas amantes ou seus amantes. Claro, ele sabia que era bi desde a adolescência, quando não tivera pudor em aceitar qualquer forma de prazer.

Prazer, simplesmente.

Mas com aquele loiro dos infernos não era apenas isso. Não mais...

Travis estava perdido. Reconhecia todos os sinais que indicavam que sua vida estava prestes a virar um daqueles filmes de romance que tanto esnobava.

Pensou se deveria falar sobre aquilo com a Dra. Ryan...

Balançou a cabeça mudando de idéia. Melhor não.

Nesse instante o celular vibrou caído no chão ao lado da cama. Travis virou-se, puxando a coberta junto, e esticou-se para pegar o pequeno aparelho.

– Alô, Travis falan... – sentou-se sobre a cama e perdeu um pouco o foco, pois ao puxar a coberta acabara expondo uma parte do tórax de Wes, e a pele tão pálida estava marcada pelos seus chupões, mordidas e arranhões.

Marcara como se o loiro fosse sua propriedade...

– Detetive Marks? Está na linha, senhor? – a voz urgente da telefonista da delegacia trouxe Travis de volta a realidade.

– Estou sim, oficial, pode falar.

– Temos uma urgência. “O Dentista” fez uma nova vitima e o capitão quer vocês dois a frente desse caso.

– Entendido. Já estamos... hum... já estou indo. Eu entro em contato com Wes.

E desligou o celular. Quis vibrar de alegria, só não o fez para não despertar o parceiro ainda. Aquele caso era dos grandes, só os melhores detetives da central podiam assumir, é claro.

Pena que a “dica quente” de Wes tivesse que esperar um pouco mais. Conversa pra boi dormir... como se o loiro precisasse dessas desculpas para acabar na cama de Travis. Enfim, era assim que o companheiro funcionava e Marks adorava entrar nos joguinhos.

Com cuidado saiu da cama e desfilou nu pelo trailer pegando uma roupa menos amassada. Vestiu-se e voltou a sentar na cama. Só então despertou Wes.

– Ei, Bela Adormecida... – tocou-lhe no ombro com cuidado. O loirinho apertou os olhos a contra gosto acordando devagar – São oito horas, Wes. Cadê aquela sua pressa de caçar pistas?

– Oito horas?! – ele sentou-se na cama rapidamente, totalmente consciente – Por que não me chamou antes?

– Owwww – Travis sorriu sacana e apontou a coberta que escorregara por completo revelando quase completamente o baixo-ventre do loirinho, além de umas partes mais sensíveis – Se eu soubesse que teria essa visão teria chamado mais cedo!

Wes apressou-se em puxar a manta até o queixo.

– Muito engraçadinho. E estou sendo irônico caso não tenha percebido. Agora dê o fora que eu vou me vestir.

Ao ouvir a ordem o moreno riu pra valer.

– “De o fora”?! Da minha casa?! Não mesmo, Wes. Quero ver o show...

Debochou ajeitando-se na cama e querendo dizer com isso que o loirinho se vestindo era um show para ele.

– TRAVIS! – Mitchel zangou-se. Sua face tingiu-se de vermelho e o moreno sabia que era a mistura de raiva e pudor.

– Como se eu não tivesse visto e provado tudo isso antes – Travis levantou-se resmungando com um bico – A vontade senhor “Timidez”.

Wes pegou um dos travesseiros e arremessou contra a nuca do mais alto, acertando com sua mira impecável.

– Anda logo!

Travis riu novamente, aqueles momentos eram cada vez mais preciosos aos seus olhos.

– Ande logo você – foi para a área da cozinha tendo que falar mais alto – Temos um chamado. “O Dentista” parece ter atacado de novo e... merda, onde eu enfiei o café instantâneo...?

– Esquece isso, – Wes ordenou terminado de fechar a calça – A gente toma algo pelo caminho.

O moreno concordou. Acabou de pegar suas coisas e voltou para o quarto, onde o outro detetive fechava o último botão da camisa branca, suspeitamente amarrotada para alguém sempre arrumado com esmero.

– No seu carro ou na minha moto?

– No meu carro, claro – o ex-advogado respondeu de má vontade – Mas faça o favor de não amassá-lo outra vez!

– Pode deixar – Travis riu enquanto Wes passava por ele para sair do quarto. Então acertou um tapa no traseiro do loirinho – Depois eu vou amassar outra coisa.

– Travis!

O moreno cruzou as mãos atrás da cabeça e saiu rindo despreocupado. O dia tinha tudo para ser maravilhoso. Alias, todos os últimos tinham sido assim, independente do que acontecesse, apenas por ambos poderem passar a maior parte do tempo juntos. Às vezes algumas noites também.

Por enquanto era o suficiente.

Fim