– Vai ser difícil ganhar o próximo jogo, meu joelho ainda não está cem por cento, mas se eu reclamar, Zabini, o capitão do time, nunca me deixará jogar esta partida. Por isso falo para todo mundo que ele está ótimo – explicou Albus andando de frente para mim, o que consequentemente o fazia andar de costas pelo corredor, mas ele não tropeçava entre os vãos que havia no piso, e saltava como se soubesse onde estavam as rachaduras e elevações do chão.

– Não sei não Al, acho mais prudente que você não esforce seu joelho ainda, porque se um balaço o acertar ou coisa pior você vai sentir muito mais do que um simples incomodo – argumentei enquanto Albus levantava os pés para não escorregar num liquido espesso que havia nochão, o qual eu não tinha ideia do que era. Admito que senti inveja da coordenação de Albus, que o permitia andar de costas melhor do que eu conseguia andar de frente.

– Eu pensei nisso – respondeu ele revirando os olhos – Mas eu e Scor combinamos que ele ficará na minha retaguarda, mesmo ele sendo atacante, para garantir que eu pegue o pomo e que nenhum inconveniente me atrapalhe – Albus me lançou uma piscadela.

Não pude deixar de fazer uma careta a menção de Scorpius Hyperion Malfoy.

Se um dia já senti aversão a doninha albina, agora o que eu sentia não chegava ao menos perto disso. Desde nossa “discussão”, se é que posso chamar aquilo de discussão, Scorpius vinha me evitando de todas as maneiras possíveis e impossíveis.

Havia semanas em que não comparecia em uma única aula de Runas Antigas, a única aula que tínhamos separados de todo o restante de nossos amigos. Nas demais aulas, ele fazia questão de sentar o mais longe possivel de mim, e montava uma enorme pilha a sua frente para não ver-me fuzilando-o. As patrulhas era um inconveniente do qual eu sabia que ele não podia se livrar, por isso teria que lidar comigo. O quão errada eu estava. Scorpius convenceu Albus a assumir suas responsabilidades de monitor apenas umas poucas semanas até o recesso de natal, onde conseguiria se livrar de mim de uma vez por todas.

Eu não fazia ideia de como ele convencera Albus, mas assim que meu primo recuperou seu joelho perdido, ele começou a patrulhar os corredores ao meu lado, um tanto animado de mais.

– Qual é Rose! – exclamou Albus jogando as mãos para o alto quando viu minha careta – Vocês não aguentam nem ouvir o nome um do outro sem que façam essa cara, pelos cravos de Merlin!

– Não, e falar dos cravos de Merlin foi realmente nojento.

– Não desvia do assunto Rosinha – Albus parou, e esperou que eu o alcançasse para se virar e se colocar do meu lado. Passou um dos braços por meu ombro, e continuou seguindo outro corredor grudado a mim – O que rolou entre vocês? Como terminou? Tenho de dar um soco nele? Bom eu realmente não queria fazer isso, pois ele é meu melhor amigo, mas você é da família, e eu prometi ao tio Rony que protegeria você, se for necessário eu posso mesmo dar um soco nele, mesmo sabendo que vou apanhar depois... Mas como eu disse, família em primeiro lugar.

– Isso é realmente tentador Al – falei rindo, deixando de fora o quão fofo isso soava, Albus já tinha um ego grande de mais por si só, e eu não queria ser a responsável por aumentá-lo – Mas você sabe bem que nunca houve nada entre nós, apenas nos suportamos – dei de ombros.

Albus tirou seu braço de cima de mim, e apertou sua mão em meu ombro me forçando a ficar no lugar.

– Rosinha, você não me engana – eu realmente odiava ser chamada de Rosinha – Desde o começo do ano letivo vocês não se desgrudavam, e mais rápido do que uma aparatação vocês não conseguem nem pensar na existência um do outro, e sempre que tento tocar no assunto para entender o que raios aconteceu com meus dois melhores amigos, vocês fogem do assunto!

– Do mesmo modo como você sempre foge do assunto quanto tento falar sobre o que está acontecendo entre você e a Nina, que por um acaso namora Frank Longbottom? – Albus semicerrou os olhos para mim, e me fitou por um momento.

– Tudo bem, é justo – murmurou ele tirando a mão de meus ombros e satisfeito por não tocarmos no assunto, mas estava na minha lista de prioridades tirar o caso a limpo sobre o triângulo que estava se formando entre Albus, Nina e Frank, porém essa prioridade era a de número dois, a de número um se tratava em ter uma boa conversa com Scorpius Malfoy e recuperar o diário de Hermione.

–

Lorcan Scamander se agarrava ao microfone rústico que usava para narrar o jogo, como se estivesse agarrando o próprio pomo de ouro, tamanha era sua força. Eu tive a infelicidade de sentar ao seu lado, uma vez que Dominique escolhera nossos lugares, e por coincidência era bem ao lado do palanque dos professores, e quando eu digo professores quero dizer Teddy Remus Lupin.

Eu via que Teddy, nosso professor de transfiguração, olhava de soslaio para Dominique um tanto desconcertado por ela encará-lo com mais intensidade do que se estivesse encarando o espelho de Ojesed. Mas Teddy só não estava mais desconcertado do que eu, que sentia meus tímpanos sendo perfurados cada vez mais com os gritos de Lorcan.

“Oh meu Merlin, Oh meu Merlin, Oh meu Merlin!” – berrou ele ao meu lado –“Scorpius Malfoy marcou mais um ponto para Sonserina, e nosso placar está empatado! Eu quero ver o leão rugir!” – os alunos da Sonserina visivelmente se seguravam para não amaldiçoar Lorcan que não era nada imparcial ao narrar o jogo, e que embora aluno da Corvinal, torcia fervorosamente para Grifinória, quando a mesma estava em campo contra outro time que não fosse o da sua casa.

Scorpius passou tão perto do palanque onde eu estava sentada, e numa velocidade tão escandalosa, que minha toca e cachecol abadonaram-me. Scorpius subiu ainda mais alto com sua vassoura, e se posicionou ao lado de Albus, que flutuava acima dos outros jogadores a procura do pomo de ouro.

Zabini e Nott, ambos batedores da Sonserina redirecionavam o balaço sem dó direto para Hugo, meu irmão e goleiro da Grifinória, apenas para atrapalhá-lo a defender o gol, enquanto Candace Parkinson avançava em alta velocidade com a goles e marcava mais um ponto para Sonserina.

– Que droga – estremeceu Lily Luna ao meu lado, se encolhendo no banco – Vamos perder.

– Não vamos não – murmurei incerta – Estão apenas dez pontos à frente – disse estralando meu dedos nas mãos, temendo que algum dos balaços mandados pelos brutamontes da Sonserina acertasse o pobre do meu irmãozinho.

– Claro que vamos, Albus é o apanhador da Sonserina, desde que James saiu de Hogwarts não ganhamos uma, e ainda contra Albus!

– Você deveria fazer teste para apanhadora – comentei vendo Scorpius saindo da lateral de Albus apenas para marcar outro gol, e subindo rapidamente para o lado do amigo. Maldito Malfoy – Você e seus irmãos são os melhores apanhadores que conheço.

– Acho que vou tentar só para diminuir a vergonha da Grifinória – meus primos Potter herdaram os genes dos seus pais no quesito quadribol, com uma mãe profissional e um pai que fora o melhor apanhador da história de Hogwarts era difícil esperar o contrário dos três.

“Sonserina está na frente por trinta pontos! Mas sem estresse, podemos recuperar Grifinória! Olha, olha! Louis Weasley consegue arrancar a Goles das mãos de Parkinson, e oh meu Merlin! Ele está tentando a Pancada de Fingbourg, um dos movimentos mais perigosos de todos os tempos senhoras e senhores! E agora Louis... Oh meu Merlin!” – Lorcan que berrava com fervor ao meu lado prendeu a respiração. Todo o estádio de quadribol prendeu a respiração. Dominique arregalou os olhos e se levantou, Teddy apertou sua mão, afinal se tratava do irmão de Dominique e cunhado de Teddy. O estádio fixou os olhos em Louis, que ao se atrever a manobra mais perigosa do Quadribol se aproximou da área e parou por pouquíssimo com a vassoura a 90º, então arremessou a goles para o alto e deixou ela atingir o ponto mais alto na sua trajetória de subida neste nanosegundo em que a goles parou no ar ele desmontou de sua vassoura e a segurou como um bastão de beisebol e então acertou com força a goles realizando um tiro quase indefensável para o goleiro da Sonserina.

A goles atravessava o aro marcando um gol para Grifinória enquanto Louis montava em sua vassoura que descia em queda livre pelo campo e voltava com ela para o ar. O estádio explodiu numa exclamação e Lorcan voltou a berrar ao meu lado.

Todos prestavam atenção em Louis que se alto vangloriava no ar, e ninguém notou Albus, que acima de todos avistou o pomo de ouro do outro lado do campo e agora voava com toda velocidade atrás dele, com Scorpius em sua dianteira para garantir que nada o atrapalhasse, principalmente por causa do joelho recém colocado no lugar de Albus.

Lorcan comentava sobre a manobra de Louis, e sobre os dois gols seguidos que a Grifinória marcou após este, mas como quase todo estádio, ele também não viu quando Jason Thomas, batedor da Grifinória, acertou o balaço com toda sua força na direção de Albus, na intenção de atrapalhá-lo a capturar o pomo de ouro e ganhar o jogo para Sonserina.

Lily fincou suas unhas em meu braço e soltou uma exclamação quando viu o balaço em direção ao irmão. Ela poderia ser uma Grifinória nata e querer ver seu time ganhar, mas assim como eu, não queria que um balaço acertasse Albus. Só Merlin sabia o que seria do seu joelho recém colocado no lugar se o balaço o acertasse.

“E o que é aquilo minha gente? Potter viu o pomo? Mas... Mas há um balaço indo a sua direção, e ele vai acertá-lo! Potter parece não vê o balaço senhoras e senhores, e ele vem numa velocidade que nem Merlin segura!” Quando eu vi o que aconteceu não acreditei. Lorcan também se engasgou, tive de coçar meus olhos e forçar minha visão, por um momento imaginei que estivesse sonhando, mas Lily fincou suas unhas com mais força em meu braço e eu tive a certeza de que não era um sonho. Com a voz um tanto abafada, Lorcan finalizou sua narração:

“Senhoras e senhores, Sonserina ganhou o jogo”

Ninguém olhava para Albus que pegara o pomo de ouro entre as mãos. Todos estavam com os olhos colocados ao chão, onde a vassoura de Scorpius estava caída, com seu corpo inconsciente ao lado. Scorpius ficara entre Albus e o balaço, que acertara sua vassoura, estilhaçando seu cabo e o jogando no chão. Ele não voava alto o suficiente para que alguém percebesse o que estava acontecendo e correr em seu auxilio.