A Luz Das Trevas escrita por Filha de Apolo


Capítulo 26
Confirmado


Notas iniciais do capítulo

Ai tava postando só quando tinha um capítulo a mais pronto, mas foda-se, é fim de ano
Espero que tenham tido um feliz natal (eu claramente tive que deu até inspiração pra fazer uma ficzinha de nada de natal)
E que tenham uma excelente virada e um próspero ano novo



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—Posso saber que traz vossa ilustre majestade aos meus aposentos? - A deusa não tirou os olhos da sua tarefa para ver o deus. Estavam dentro da oficina de trabalho da deusa. No centro uma projeção tridimensional do céu à noite. Nix estava em seu centro rearranjando estrelas. 

—É sempre estonteante te ver mexer nisso aqui, sabia?

—Se você deixasse eu usar meus poderes nas paredes dessa caverna infinita, você teria esse lindo céu estrelado aqui dentro.

—É uma ideia, mas nós já discutimos isso e você queria uma fortuna por isso.

—Queria? Nem me lembro. Bobagem, lhe dou de presente de casamento. 

—Falando em casamento… - Nix se virou, já sabendo que ele falaria da jovem deusa. 

—Sim?

—Ela me ligou ontem.

—Ligou? Tipo? 

—Com uma pedra preciosa. Fez uma ligação interreinos. 

—Uau. - Nix parecia genuinamente surpresa, mais pela iniciativa do que pela habilidade da deusa. Quando a viu já sabia que ela estava destinada a grandes poderes. - E aí?

—Ela queria conversar. Sem assunto específico, só conversar.

—Céus. Viu, eu falei que ia dar tudo certo. Ela sente sua falta.

—Ela não disse isso.

—E precisa? Quando foi a última vez que alguém foi conversar com você “só para conversar”. - Hades abriu e fechou a boca, sem ter o que responder. “Nunca”, sua consciência respondeu. - Você estava se martelando ai. 

—Tudo bem, entretanto isso não necessariamente encerra o dilema, não? Ela ainda está lá. Eu ainda estou aqui.

—Paciência, homem. Credo. Vou matar Afrodite por te deixar assim, parecendo um adolescente mortal. 

—Ela me chamou de marido.

—Você é marido dela. E o único que achou que ela estava em negação sobre isso. - Hades bufou, mesmo que Nix estivesse certa.

—Não é só isso. Vão dar uma festa no Olimpo. - O deus entregou o convite para que ela o lesse. - Eu devo ir.

—Deve. E está se perguntando se deve convidá-la para ir contigo?

—Sim. Não sei se ela foi convidada. 

—Hera é bem grandinha e muito mais rápida que nós dois nessas coisas, além de que Afrodite está metida junto. Certeza que ela ganhou um convite. Se Deméter deixará que ela entre é outra história.

—Pensei nisso, porém pensei que se eu a convidar ela pode se sentir pressionada a aceitar. Se eu a avisar que vou, ela pode decidir sozinha.

—Não entre em surto de novo. Fale com Hera. Descubra se Perséfone foi convidada, se acha que Deméter a impediria, e é isto. Se você não for levar ela como acompanhante, leve a mim. Amo as bebidas deles. - Hades sorriu e assentiu. Nix devolveu o convite para ele e virou de volta para seu trabalho. - Lembre-se de se preparar. Se ela for, Deméter irá junto. Melhor ir com uma armadura. Vai ser uma briga feia.

—Não me importo. Preciso vê-la.

—___

A deusa ficou em silêncio, sorrindo. Perséfone não aguentou e sorriu de volta.

—Bom, não posso dizer que estou surpresa. Vi o jeito que se olharam na cerimônia. Imaginei que alguma coisa já estivesse surgindo entre os dois. Tenho uma boa notícia para você, criança.

—Vai me ajudar?

—É óbvio, nem vou precisar de muito esforço. Haverá uma festa aqui no Olimpo em comemoração ao fim da guerra. Hades foi convidado. - Hera ergueu uma mão ao lado do corpo. - Você também foi convidada. - Ergueu a outra mão e juntou as duas dramaticamente. Sorriu. Perséfone retribuiu o sorriso por por poucos segundos, passando a exibir uma face transtornada. 

—Mas, e minha mãe? Eu teria de ir com ela, duvido que ela deixe.

—Afrodite me consultou para os convites. Ela enviou um para você e um para ela, separados. Inclusive, acredito que já foram entregues ontem. Você é grandinha, sua mãe não deve poder proibí-la de ir a uma festa.

—Hum.. - Murmurou a jovem deusa. - E ele irá?

—Bom, nunca se sabe. Ele odeia as nossas festas. Você vai ter que perguntar a ele. - A deusa sorriu e se ergueu, saltitante. Abraçou e agradeceu a madrasta e se pôs a ir embora. Foi interrompida por um chamado da rainha. - Querida, não vá com ele. Não o mencione para sua mãe, não vá como acompanhante dele. Pode dizer a ela que eu lhe convidei para ir comigo. Ela vai saber que você vai encontrá-lo, vai achar que eu orquestrei. Deixe achar. Ela já está me odiando, eu vou sobreviver. Certo?

—Certo. Combinado. - Perséfone respondeu, o sorriso ainda maior do que antes.

Depois que a enteada sumiu pela porta, Hera suspirou. Ia se preparar para a visita raivosa que ela certamente receberia da irmã mais tarde.

—_____

Elas comiam em silêncio. Deméter notou que a filha estava quase pulando para fora da cadeira com o que ela julgou ser empolgação, o que não a deixou contente. Uma das ninfas que trabalhavam com elas avistara Perséfone entrando no Palácio Real cedo da manhã.  A deusa tentou ao máximo não se enfurecer precocemente. Sentia em seu âmago vinha pela frente algum problema e, quando a filha terminou de comer e o silêncio entre elas finalmente foi quebrado, teve certeza.

—Mãe, estive falando com Hera mais cedo. – “Estou ciente”, a consciência da deusa ressoou em resposta. – Ela me contou que fomos convidadas para a festa que eles darão daqui a alguns dias. – Deméter largou os talheres mais bruscamente do que planejava e afastou seu prato para o lado, deixando metade de sua comida. 

“Não há motivos para se enrolar, certo? ”. Bufou, fazendo as fácies de Perséfone se endurecerem levemente.

—E você quer saber se pode ir. 

—Não. – A filha respondeu. Deméter não conseguiu conter a surpresa. Segurou um sorriso e ergueu a sobrancelha.

—Você não quer permissão para ir? – Uma fagulha de esperança de que talvez a menina estivesse procurando como escapar da reunião social foi brutalmente apagada momentos após as palavras saírem dos lábios da deusa. Perséfone se ergueu enquanto respondia.

—Não. Quero lhe comunicar que irei. Hera me convidou pessoalmente, quer que eu lhe acompanhe. – A filha esboçou seu melhor sorriso bondoso, quase encobrindo seu olhar desafiador. Deméter teria rido, fosse qualquer outra situação, qualquer outro assunto, de identificar na filha a mesma expressão de rebeldia que ela tinha quando criança. Ali, entretanto, Deméter não tinha motivo para sorrir ou comemorar. Perséfone murmurou agradecimentos às servas que vieram recolher a louça e saiu para o jardim. Passados alguns minutos do choque, a deusa se ergueu e a seguiu.

Parou no topo da pequena escada que separava seu lar de sua extensão, o imenso campo que abastecia a todos do Olimpo e ainda sobrava para distribuição externa. Perséfone o fitava, os cabelos balançando com a brisa de ar abafado da tarde quente, suor escorrendo de suas têmporas.

A menina se virou e fitou a mãe nos olhos. Ambas tinham relativa baixa estatura, porém ainda assim Deméter era mais alta e o contato visual forçava Perséfone a olhá-la de baixo, impondo o pouco de respeito que a deusa ainda conseguia impor. 

Ficaram em silêncio novamente, a disputa silenciosa o que restava a ambas. De nada adiantava Deméter retomar seu discurso contra Hades, mesmo que agora pudesse combiná-lo com o discurso que dava quando a deusa queria ir para festas com as outras deusas solteiras. Igualmente de nada adiantava à Perséfone qualquer discurso que fizesse, sua mãe nunca ouviria. Queria gritar que era praticamente adulta, já. Quer tinha direito de ir e vir, de ver seu marido, de se divertir com os outros deuses. Engoliu suas palavras recheadas de mágoa. Estava cansada de discutir com a mãe.

—Eu vou ir também, então. – Foi tudo que a deusa disse, fazendo, desta vez, Perséfone não conter sua feição surpresa. Logo, a deusa passou por ela e foi ao campo. Antes de se afastar mais da casa, acenou sua mão e sobre a baixa cerca que contornava a varanda da casa surgiram dois convites e uma caneta. A jovem se pôs a sorrir. Pequenas vitórias ainda eram vitórias. Ia ser estranho ver Hades com os olhos de águia de sua mãe em suas costas? Sim. Mesmo assim, era melhor do que não o ver. Pegou a caneta e assinou a confirmação de presença no convite de ambas, tanto para a janta quanto para o baile. Assim que preenchido, o seu convite se dissolveu em uma pequena bola de luz. O mesmo ocorreu com o deu sua mãe. 

—___

Do outro lado do Olimpo, Hera sorriu ao ver o nome de ambas se materializar na lista de convidados que voava sobre a mesa de sua sala de estar. Ajeitou os lugares de ambas na maquete sobre a mesa, indicando o mapa da festa. Ouviu uma risadinha debochada em suas costas e alargou seu sorriso, se virando.

—Eu estava certa, então. Você está por trás disso, não?

A deusa deu de ombros em resposta. 

—Estou envolvida sempre que há qualquer sentimento ligado a romance. Não necessariamente eu orquestro todos eles. – A deusa sorriu de volta, seu sorriso perfeito literalmente iluminando melhor o ambiente. Hera encenou cruzar os braços e esboçar desaprovação, fazendo a deusa rir novamente. 

—Confesso que neste eu tiro o chapéu para você. Eu nunca teria juntado eles. 

—Por mais que eu ame ser reconhecida, tenho que dar ao Destino o crédito que merece. Tenho certeza de que, eu tendo hipoteticamente me envolvido ou não, eles acabariam juntos. 

Hera não segurou a risada frente ao “hipoteticamente” de Afrodite. Logo, voltaram a organizar a festa. Adicionaram alguns seguranças a mais, só para garantir que qualquer intriga pudesse ser controlada.

—____

  –Perséfone. – Ele sussurrava pela quinta vez. Já estivera em seu escritório, no quarto dela e agora se sentava no mesmo lugar de sua cama onde falara com ela na noite anterior. Planejara esperar que ela mesma o ligasse no fim do dia, porém sua ansiedade o venceu. Até o fim da tarde foi o máximo que seu foco conseguiu ficar no trabalho. Esperava a resposta da deusa com o seu convite ao seu lado, a caneta de tinteiro descansando sobre este. 

—Hades? – A voz ofegante da deusa ecoou no quarto. – Desculpe a demora, vi que você me chamou, mas estava remexendo a terra e não podia pegar a pedra. 

“Óbvio. É dia, ela tem mais o que fazer”. Ele se sentiu um completo idiota por esquecer que ela tinha diversas tarefas a executar nos campos olimpianos. 

—Desculpe, eu devia ter imaginado. – Ele jogou a cabeça sobre as mãos. – Me ligue quando puder, eu...

—Não, não. Pode falar. – A voz da deusa continuava ofegante. 

—Você está bem? Parece cansada.

—Estou sim, obrigada por perguntar. Estou no pomar colhendo. – “A única das minhas tarefas que faço sozinha”. Ela pensou em complementar. Soltava bufadas de ar quando seus pés aterrissavam no chão. Começou pelas plantas mais afastadas que, infelizmente, eram as mais altas. Geralmente usava seus poderes para soltar as frutas que julgava maduras o suficiente, porém não sabia o quanto de sua energia era sugada pela ligação com Hades e preferiu não arriscar. Faria do modo mortal, então. 

—Se não for heresia de minha parte, posso lhe questionar porque é você que colhe as frutas? – Ela sorriu. Já respondera essa pergunta tantas vezes que já era praticamente automático. 

—Não é heresia, não. Já testamos treinar as ninfas para julgar as frutas, mas chegamos à conclusão que as safras são sempre mais adequadas quando o fazemos pessoalmente. Acompanhei minha mãe quando pequena e agora o faço sozinha. 

—Interessante. – “Não, não é”. Perséfone pensou. Estava acostumada ás pessoas não darem a mínima para seu ofício. Mesmo que dependessem dele.   – E você está falando comigo como?

—Encaixei a pedra no colar que Hefesto me fez, assim fico com as duas mãos livres. A que devo a honra da ligação? Não foi para pedir dicas de agricultura, foi? – Hades riu. Queria genuinamente entender como era a vida da deusa no Olimpo, mas entendia que ela não quisesse falar sobre isso. Ele também odiava ter de explicar o que ele fazia há tantos séculos. A deusa sorriu ao ouvir a risada do deus. 

—E eu preciso de um motivo para lhe ligar? Você não me deu nenhum concreto ontem. – Ele provocou. Foi a vez da deusa rir em resposta.

Touchè.

—Na verdade, gostaria de saber se... – Sua coragem morreu metade do caminho para o fim da frase. Suspirou e fechou os olhos com força. Perséfone sorriu, se equilibrando no topo de uma macieira e jogando as maçãs no cesto mágico que a acompanhava. 

—Vou facilitar para você, pode ser? – Ela arriscou. Ele franziu o cenho.

—O quê?

—Você quer saber se eu vou à festa? – Ele sorriu.

—Sim. – Ela ouvia a leveza na voz dele.

—Vou. – Ele não conseguiu segurar seu suspiro de alívio e fez a deusa rir novamente. Ficou feliz de ter decidido falar com ela antes de falar com Hera, como Nix sugerira. – Acredito que nem preciso perguntar se você vai ir. 

—Não vou lhe mentir eu estava em dúvida. – Ele deixou escapar. Já se inclinou e assinou o convite, marcando Nix como sua acompanhante. 

—Se eu iria? Ou se você iria?

—Ambos. – O convite do deus se desfez em sua frente. - Pronto, confirmado. 

Perséfone sorriu. Chegou na divisa do pomar com o resto da plantação e avistou sua mãe conversando com duas ninfas logo adiante. Ela retirou a pedra do colar e virou de costas para guardá-la nas vestes.

—Bom, nos vemos lá, então. – Ela provocou.

—Aguardo ansioso. – Ele arriscou, sorrindo. – Adeus.

—Adeus. E Hades?

—Sim? 

—Em minha defesa, eu também tinha um motivo concreto para te ligar ontem.

—Hum, é, é? – Ele arqueou as sobrancelhas e aproximou a pedra do rosto, não querendo perder nenhum sussurro da deusa.

—Sim. Eu lhe conto na festa.

E desligou. Guardou a pedra nas vestes e foi até a mãe, tentando relaxar o sorriso de seus lábios.

Alguns quilômetros sobre a terra, Hades gargalhou sozinho. Mal conseguia acreditar em sua sorte. Foi até sua varanda, a pedra ainda em mãos. Estendeu sua mão e a fez flutuar em sua frente. Posicionou as mãos uma em cada lado da pedra em suas laterais, no ar, sem tocá-la. Abriu as mãos e a pedra se esticou e se estilhaçou em vários pedaços. Deixou uma mão parada e fez movimentos circulares com a outra, os fragmentos girando com velocidade. Descreveu um círculo para baixo e uniu as mãos, as pedras o acompanhando.

Abrindo as mãos fitou orgulhoso seu feito. Em sua palma pairava um anel bem polido. Encaixou-o logo na frente de sua aliança e sorriu. 


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Notas finais do capítulo

vejo vocês nos comentários... ♥



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