A Luz Das Trevas escrita por Filha de Apolo


Capítulo 13
Décimo dia


Notas iniciais do capítulo

OI, GENTE! Como ficaram nesses dois meses? Eu fiquei com saudade de vocês, hein!
Faz um tempo que eu não me enrolo aqui e imploro por comentários mas é porque vocês são maravilhosos e comentam sempre! Obrigadão por isso >
Aproveitem :)

AH AH AH e um beijão pra Rafaela M. que não deixa eu esquecer nunca o dia de postar e que até contagem regressiva fez no meio do mês cinadoinf



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Perséfone havia perdido tanto a noção de tempo, que seu coração quase parou quando ela percebeu que dia era aquele. Como podia ter esquecido?

Acordara um pouco mais cedo que o normal e conseguira tomar um banho longo e relaxante, cheio de espumas. Se sentia uma criança naquela banheira enorme, mas era tão bom. Ela quase podia nadar lá dentro, rolando de um lado para o outro, sentindo a água beijar o seu corpo. Somente uma hora depois ela sairia de lá, para se colocar dentro de um leve vestido que continuasse a acalmar sua pele.

Ela não era a mais vaidosa das deusas, mas certamente gostava de cuidar de si mesma. Não pintava muito o rosto, porém. Aprendera com Afrodite que havia outros meios de realçar seus pontos fortes, sem esconder seu rosto atrás de tintas. As cores no vestido, por exemplo, os acessórios, ou o modo de ajeitar o cabelo.

O que ela mais fazia era tratar sua pele. Tinha extratos transformados em cremes em casa, que usava para se cuidar. Se bronzeava levemente no sol, de tempos em tempos, para não ficar tão branca quanto as outras deusas. E o bom é que ela não se cuidava para os outros, para os homens, para sua mãe. O que ela fazia ela fazia para si mesma, para tentar se agradar.

Quando desceu para tomar o café da manhã, estranhou o fato do castelo parecer tão vazio. Mesmo com a quietude do local, quando chegou na Sala, já encontrou Hades sentado. Se cumprimentaram e ela começou a comer. A mesa parecia mais farta naquele dia. Possuía uma maior variedade de frutas e doces, tudo parecia delicioso. Talvez ela apenas tivesse acordado de bom humor.

Ela aproveitou o humor e perguntou para ele como andava o trabalho. Ele hesitou primeiro, dando uma resposta vaga, mas depois de algumas perguntas a mais, ele começou a contar a ela algumas peculiaridades que ele tivera de enfrentar no dia anterior e outros mais. Acabaram conversando até ambos terminarem as refeições, e então cada um fez menção de começar suas tarefas, mas Hades a impediu por um momento.

–Eu conversei com Caronte sobre seus pedidos, e ele disse que talvez chegassem somente amanhã. - Não era uma mentira que ele contara, por isso sua voz continuara normal como sempre.

–Mas, mas... só amanhã?

–Sim, sinto muito. - Ela pensou um pouco antes de responder, dando de ombros.

–Tudo bem, vou explorar mais a sua biblioteca.

–Você não se cansa, não é?

–Não mesmo. - E saiu, sorridente, deixando Hades para trás.

Ele suspirou. Tinha trabalho com os juízes para fazer e, independente de qualquer esforço, a biblioteca a manteria ocupada para os planos que ele tinha para mais tarde.

Hades caminhou lentamente para o amontoado de papelada que o aguardava. Depois de tantos e tantos anos, tinha se acostumado com o trabalho, mas ainda não gostava dele. E nunca gostaria.

XxxxX

A manhã passara voando. Hipnos andara de um lado para o outro ajeitando as coisas que Hades pedira. “Não podia ser na janta, tinha de ser no almoço?”.

Se o rei tivesse lhe escutado, ele não teria acordado tão cedo para mover as coisas de um lugar para o outro. Estava pronto para reclamar em voz alta quando ouviu a bufada de seu irmão. Ele estava caprichando nas coisas que ele fazia, mas não estava nem um pouco feliz. Ainda ressentido que ela havia escolhido se casar com Hades. Hipnos balançou a cabeça em desaprovação. Tânatos nunca ia aprender.

Estavam no cômodo que há muito tempo não era usado, mas que agora fora limpo e arrumado: a sala de estar. Parecia que Hades nunca tinha um motivo verdadeiro para usar aquela sala, pois não recebia visitar amigáveis, mas agora decidira utilizá-lo novamente. O que uma mulher não faz com a cabeça de um homem.

Eles terminaram de colocar as plantas que Hades havia selecionado no lugar. Uns dois vasos de arecas no lado da porta da sala, duas begônias em mesas de canto no lado do sofá bordô. Vasos de jiboias estavam pendurados em cima das três janelas do cômodo, duas que davam para o lado do Castelo e uma para as costas dele.

Na mesa de centro, em frente a lareia e no meio do sofá e das duas poltronas, estava um grande bolo de baunilha de dois andares. Certamente daria para sobremesa.

XxxxX

Quando ela não apareceu para almoçar, depois de esperar uma hora inteira, Hades resolveu ir buscá-la. Ele caminhou pelos longos corredores e subiu as escadas até a biblioteca. Bateu duas vezes na porta. Quando não houve resposta, entrou e a encontrou em uma das mesas. Haviam meia dúzia de livros abertos na mesa, quase todos sobre tecidos e cores, e um sobre casamentos. Ele não conseguiu não sorrir.

Deu a volta na mesa para ficar do lado dela, que estava deitada por cima da mesa, dormindo. Sua respiração calma enchia o ar para Hades como uma formidável brisa de verão. O deus nem lembrava mais há quantos anos ele não subia para a superfície apenas para passear. Talvez eles juntos pudessem fazer isso.

Ele se sentou na cadeira ao lado dela e afastou os cabelos de seu rosto delicadamente. Ela se moveu ao toque dele e abriu os olhos preguiçosamente.

–Bom dia. - Ele disse, recolhendo sua mão e ajeitando suas costas na cadeira.

–Hu-humm. - Ela murmurou e deixou a cabeça cair novamente em cima dos braços. Um minuto depois, ela se ergueu e se espreguiçou. - Eu perdi o almoço? - Ela disse, um pouco envergonhada e com o rosto cheio de marcas do cochilo.

–Não, ele está lá esperando por nós.

–Você não almoçou ainda? Que horas são?

–Não faz mal. Vamos? - Ele se ergueu e estendeu a mão para ela se segurar nele para se levantar. O que ele realmente queria era apenas ficar com as mãos nas delas até chegarem até a mesa, mas sabia que estava muito cedo para isso.

Caminharam em silêncio até a sala. Hades puxou a cadeira para ela sentar e ela sussurrou um obrigada, sorrindo para ele. Quando estavam na metade da refeição é que o silêncio acabou.

–Dormiu mal de noite ou fora somente preguiça?

–Sou preguiçosa mesmo. - A risada dela enchia os ouvidos de Hades como uma canção. Ele sorriu e baixou os olhos, dando um gole em seu suco e tentando entender o que estava crescendo dentro dele. E dela. - A culpa não é minha, na verdade! Aquele cheiro de livro e aquelas cadeiras confortáveis acabam comigo.

–Entendo, acontecia comigo também.

–Ué, porque não acontece mais?

–Ah, não tenho muito mais tempo para ficar lendo. E quando tenho, leio em meu quarto, que então já durmo na cama mesmo.

–Pois é, isso é a melhor ideia não é? Ler deitado acaba com o desconforto de ser achada pelas pessoas em cima de mesas... - Ambos riram dessa vez. Ela começava naquele momento a notar como a risada dele era bonita quando era assim, espontânea. Dava um outro ar às suas feições, como se ele não fosse mais tão sombrio e sério. Nem parecia tão mais velho que ela.

Quando terminou o prato principal – cordeiro – Perséfone ergueu uma sobrancelha ao notar as servas recolhendo os pratos e retirando todo o resto da mesa.

–Sem sobremesa hoje? - Hades se levantou e se ofereceu para puxar a cadeira para ela, e a respondeu enquanto a deusa se levantava.

–Vamos comer em outro lugar hoje.

Eles caminharam em silêncio até pararem na frente de duas portas enormes de madeira. Ela tentava recobrar o que havia ali do seu tour. Lembrava de ouvir algo como Sala de Estar, mas que nunca era utilizada. Hades foi para trás de Perséfone no momento em que as portas se abriram sozinhas, revelando um grupo pequeno de pessoas – já conhecidas – e um grande e majestoso bolo em cima de uma mesa.

Ela ergueu ambas as mãos em realização. Tinha realmente perdido a noção do tempo, e não conseguiu conter o sorriso e algumas lágrimas enquanto os gêmeos, Nix, Caronte, Hécate, Delta e Hades cantavam parabéns para ela.

Havia esquecido seu próprio aniversário.

XxxxX

Depois de abraçar quase todos, menos Hécate, que havia se sentado em uma poltrona e apenas acenou-lhe a cabeça, e Hades, quem ela ia abraçar por último, porém fora carregada por Delta para cortar o bolo e distribuir os pedaços.

–Para quem vai o primeiro pedaço, querida? - Nix perguntou, sorridente e inocentemente. Perséfone mordeu seu lábio inferior, tímida, e olhou para o bolo em suas mãos. Durante suas outras celebrações de aniversário, que com o tempo haviam ficado mais escassas, mais discretas, se limitando a jantares com a sua mãe e festas mesmo apenas de meio em meio século, o primeiro pedaço era sempre para ela mesma, pois era a aniversariante, ou para sua mãe, por organizar a festa. Sentiu uma pontada de saudade, mas suspirou e deixou passar. Sorriu para anunciar sua escolha.

–Que coisa mais boba, Nix. - Hécate reclamou, rolando os olhos. Podia ser coisa de criança mesmo, mas era simbolicamente importante. Perséfone girou 360 graus no lugar antes de parar virada de frente para Delta. Ela sorriu, mas não para a serva, que logo entendeu e deu um passo para o lado, e sim para seu mestre.

–Para o meu futuro marido. - As palavras saíram sem rédeas da sua boca, e ela jurou que viu as bochechas dele rosarem levemente. Ela, pelo contrário, não estava apenas levemente corada, mas sentia seu rosto explodindo. Ele sorriu de volta para ela e foi receber o prato. Quando suas mãos se tocaram, ele se inclinou e beijou-lhe a testa com os lábios gelados.

O momento ficou no ar por um tempo, até Hécate resmungar algo, Hipnos xingá-la e Hades acenar para Perséfone continuar com o bolo. Ele voltou para sua posição inicial, encostado nas portas, agora fechadas, olhando-a atentamente.

Alguns pedaços desengonçados de bolo depois, todos estavam comendo e, não muito após, Perséfone estava sentada no sofá trocando lembranças e palavras animadas com Nix e Hipnos, enquanto Hécate conversava tediosamente com Caronte e Delta. Tânatos estava na roda com a aniversariante, mas apenas fitava-a, sem conversar. Hades esperara até um momento em que as conversas parecessem estar chegando a um fim, se desencostou da porta e pigarreou, chamando a atenção de todos.

–Acredito que pulamos os presentes. - Todos se reuniram em volta da mesa novamente e Perséfone sorriu largamente novamente. Não estava esperando presentes. - Não é muita coisa mas, Caronte...

O barqueiro tirou de trás de uma poltrona uma caixa grande, aberta, cheia de coisas. Suas coisas. Perséfone se sentou na frente da caixa e ficou remexendo-a por um momento. Alguns de suas pelúcias preferidas estavam lá, as que ela guardava desde criança, seu cobertor favorito, seus vestidos, suas túnicas, uma caixinha com suas joias e mais algumas coisas de valor. Ela pulou logo nos braços de Caronte, agradecendo-o sem parar.

Depois de ela voltar para a caixa e mostrar para Nix e Delta suas coisas, contando suas histórias, a tarde começou a ficar mais curta, e os deuses começaram a se retirar. Os gêmeos foram os primeiros, partindo para os seus deveres. A beijaram o rosto e abraçaram-na, parabenizando-a novamente. Depois fora a vez de Hécate.

Perséfone estranhou quando a deusa a puxou para o lado para conversar com ela. Parecia que havia colocado uma máscara por cima do rosto. Exibia um sorriso convincente para os outros, por mais que Perséfone no fundo soubesse que falso, e parabenizara a deusa mais jovem calorosamente. Antes de sair, ela se virou para suas últimas palavras.

–E, Perséfone? Obrigada por relevar o que aconteceu entre Hades e eu. Sabia que você entenderia que a culpa não fora minha. - Depois de um olhar muito confuso de Perséfone e um igualmente confuso “o quê?, Hécate continuou. - Ora, o beijo, é claro! Tenha um bom dia.

Então, com isso, ela virou as costas e saiu. Com um sorriso de orelha a orelha. Desta vez verdadeiro.

A deusa da primavera sentia um calor subir-lhe até as bochechas e suas pupilas dilatarem. Fora pega tão de surpresa que apenas acenara e sorrira mecanicamente quando Delta, Nix e Caronte foram embora. Hades, que aparentemente não havia visto as duas deusas conversando um pouco antes, estava caminhando até ela, uma expressão amorosa no rosto.

–Perséfone, eu na verdade tenho outro presente... - Ele ia se interromper ao encontrar as lágrimas nos olhos dela, mas o tapa que ela o dera o interrompera por ele.

–Você... e Hécate? - A amargura na voz dela cortava o ar entre eles. Hades ergueu o rosto novamente, sentindo a marca da mão dela se cravando em sua pele. Que força. “Ah, isso.” Ele teria bufado e esbravejado mil e uma ofensas sobre a deusa da magia se estivesse sozinho, mas não era a hora. Ele cobriu a distância entre ele e Perséfone com dois passos, enquanto ela dava outro em vão se encostando na porta.

–Sim, nós nos beijamos, mas não fora nada, ela..

–Mas que diabos, Hades! Não me venha com essas desculpas, já vi bastante disso em casa! Só o que eu não entendo é o porquê de você ter me sequestrado para se casar comigo para ficar com uma mulher que você conhece há éons e tem em casa há sabe-se lá quanto tempo! É algum tipo de brincadeira?! Meu pai lhe fez algo e você achou que a melhor vingança era isso.

–Se acalme! - As sobrancelhas dele se franziram com a seriedade em sua voz. - Não é nada disso. Ela me seduziu. Não tem nada a ver com seu pai.

–Seduziu, Hades? Seduziu? Você? Um homem com a sua experiência de vida? Por favor. - Ela ergueu os braços, e contornou-o, fazendo-o se virar e afastar-se da porta. - E pensar que eu estou passando pelo quê minha madrasta passa todos os dias sem nem tem me casado ainda! - Ela continuou, mais para ela do que para ele. Hades apenas suspirou e fechou os olhos.

“Merda.”

Ele tentou encostar nela, mas ela fugiu de seu toque e foi para a porta, agora com seu caminho livre, e saiu por ela, deixando as lágrimas caírem pelos seus olhos quando ele já não podia mais vê-la.

Hades apenas se sentou em uma das poltronas e levou as mãos a cabeça. Seus batimentos estavam acelerados, e ele tentou se acalmar. De olhos fechados, ele repassou as últimas horas em sua cabeça. Sorriu ao lembrar de vê-la mexendo nas flores em cima da mesa. Parecia ter gostado. “Mas que merda”.

Levantara e fora trabalhar para deixar sua mente se acalmar sozinha. Se ele tivesse de fazer alguma coisa naquele momento, seria quebrar o pescoço de Hécate, e isso não o ajudaria em nada.

XxxxX

Quando conseguiu parar de chorar pelo que ela vira como traição, começou a chorar por não entender porque estar se importando tanto com isso. Primeiro, bem no começo, havia decidido fazer da vida dele um inferno por mantê-la ali, mas não conseguira. Ele era muito doce com ela para ela conseguir. Porém, agora isso.

Talvez houvesse sido ingenuidade da parte dela acreditar que ele seria diferente de qualquer outro deus que ela conhecera ou ouvira histórias sobre. Ele não era especial. Ela não era especial. Seu erro fora acreditar que se casar com um louco sequestrador acabaria em boa coisa, mas ia ser pior do que acabar mal, ia acabar igual todos os outros casamentos que ela vira.

Porém, ela não era tão ingênua. E não conseguia mentir tanto para si mesmo. Não fora somente a ideia do casamento e suas expectativas que a fizera perder o controle. Ela conhecia aquela sensação, aquele sentimento de ira que subira do seu âmago até suas cordas vocais. Nunca havia sentido, mas já ouvira muito suas amigas e tias conversando sobre ele.

Os ciúmes.

Eram ciúmes, sim. Puro. Por que não era como se, mesmo noivos, eles estivessem juntos. Iam se casar, sim, mas não estavam juntos. Não haviam combinado exclusividade. Era besteira pensar nisso, uma vez que trancada ali ela nunca o trairia e, mesmo que ela repetisse várias vezes para si mesmo que, estando noivos, era como se já ficasse claro que ele não devia sair sendo “seduzido”, alguma coisa dentro de Perséfone ficara com pena de gritar com ele sem deixá-lo explicar-se. E outra coisa que ficara com pena dele fora a mão dela, que ainda latejava onde havia atingido com velocidade o rosto dele. Talvez o tapa tivesse sido um pouquinho demais.

Deu de ombros. Não importava mais. Ela era a vítima ali, e não ele.

Mesmo assim, se sentindo frágil, partida, triste, ela levantou e lavou o rosto, se recompondo. Não iria deixá-lo sair bem com isso. Pelo menos não por hoje, não até ele lhe dar uma boa razão. Iria descer para o jantar como a mulher forte que havia em algum lugar dentro dela.

De nada adiantou sua audácia. Entrou nervosa na sala de jantar e se sentou, apenas para encarar um jantar – delicioso, como sempre – solitário. Ela olhava a cadeira vazia dele de cinco em cinco minutos. Não esperava por isso. Ele, o Rei, não iria jantar? Sabia que não era por causa do trabalho, simplesmente sabia.

Quando terminou, sentiu uma vontade primal de ir até o escritório dele, bater na porta, pedir explicações e voltar a brigar com ele, mas um cansaço emocional, talvez da hora que ela passou chorando, a fez voltar para o quarto.

Sem contar que ela tinha suas novas-velhas coisas para colocar no lugar. Fora um bom aniversário. Mesmo com a briga, já havia tido piores. Na hora que vira a caixa de presentes se sentira tão feliz, podendo ter suas coisas de volta. Agora, magoada, a fitando sentada em sua cama, sentia como se um pequeno machucado estivesse se abrindo novamente. Colocar suas coisas pelo quarto significava não voltar mais, aceitar aquela como sua casa. E ela não sabia se estava pronta para isso.

XxxxX

Acordara em um susto, sentando-se na cama. Não conseguia lembrar o quê, mas sabia que havia sonhado com algo ruim. Se ergueu e olhou pela janela, depois para o relógio. Esquecia que sem luz natural não tinha como saber o horário apenas pela paisagem. Era metade da madrugada, podia dormir umas boas quatro horas ainda, então decidira vestir apenas um robe por cima da túnica semi-transparente e sair para pegar um ar.

Caminhara um pouco, se guiando pela luz fraca dos candelabros nos corredores, sem querer acordar ninguém, até que achara a entrada para a sacada onde sentara para conversar com Hades alguns dias antes.

Xingou-se baixinho por pensar nele no momento em que, abrindo a porta lentamente, viu-o de costas em uma das cadeiras, uma mão segurando um copo de uísque enquanto a outra fazia carinho em uma enorme pata de cachorro que saía da escuridão para se postar do lado dele. Sorriu ao lembrar de Cérbero. Pensou em voltar para o quarto, mas voltou a usar aquele pedaço de forte mulher que achara dentro de si mais cedo, e fechou a porta atrás de si.

Sabia que ele havia ouvido ela chegar e que sabia que era ela, então apenas caminhou silenciosamente até a cadeira ao seu lado e se sentou. Assim eles ficaram por quase uma hora. Cérbero sentira o cheiro dela e colocara uma de suas cabeças para perto deles. Ela se inclinou para frente para poder acariciá-lo.

Com os únicos sons sendo as pesadas respirações de Cérbero, seu rabo chicoteando o chão e as próprias respirações deles dois, o tempo passara pesadamente. Quando o copo dele se esvaziou, ele se levantou e conjurou três pedações grandes de carne e lançou-os para as cabeças de Cérbero. Descansou o copo no parapeito da sacada e suspirou fitando o escuro horizonte.

Ela se levantou e ficou ao lado dele, os olhos tentando focar na escuridão, mas fugindo para fitar Hades de tempos em tempos.

–O seu presente era um campo de plantação. Nada melhor para trabalhar com sua paixão do que um local somente para isso. - A voz dele cortara a noite com toda a tristeza que ela estava carregando. Ela não falou nada, e ele se virou para sair mas se parou, virando-se novamente para ela, que agora o olhava nos olhos. - Eu sinto muito.

As palavras dele ainda ecoavam nos ouvidos dela quando ele saiu para voltar para o seu quarto. Ela ficou um tempo sozinha, refletindo se devia ou não perdoá-lo, até o sono se apossar dela e ela também resolver voltar para seus cômodos. Não teria mais pesadelos pelo resto da noite.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado *-*
Ah, e eu sei, eu sei, eu sei (acreditem) que vocês não gostam que eu poste de dois em dois meses mas geeeente eu já expliquei que eu não posso postar antes e se quiser me pergunta que eu explico depois :)
Só o que eu não quero são pessoas largando a fanfic porque eu demoro pra postar, mas aí assim, não tenho muito o que fazer, cada um com a sua paciência né, sinto muito se vocês quiserem largar, vocês são todos muito importantes pra mim só que né... prioridades são prioridades, e a minha agora é o vestibular.
Enfim, é isso. Beijão e até setembro :3