– Harry! Quanto tempo querido! - ela abraçou Harry com tanta força que eu jurei que os olhos dele saltaram um pouco. - Oi tia Mary.

– Então, o que eu posso fazer por você... e pela menininha fofinha? - fofinha? FOFINHA? Desde quando eu parecia fofinha? Antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, Harry começou a falar.
– Então tia Mary, eu estava precisando dar uma saída... A menininha fofinha aqui me pediu um favor... e você sabe o quão cavalheiro eu sou... não posso ignorar o pedido de uma menininha indefesa.
– Ah, se a Gigi tivesse mais uns quatro anos eu juro que te apresentaria a ela. Espero que ela encontre um rapaz tão bonito e bonzinho quanto você, querido! E você - ela disse apontando um dedo enrugado no meu rosto - Tem muita sorte por ter o Harry. Cuide bem dele.
– O QUE? - senti Harry me beliscar e diminui meu tom de voz - Ok Tia Mary, vou fazer de tudo para ser uma boa menina para ele. - senti vontade de me bater por falar uma coisa daquelas.
– Eu peço a um dos motoristas para disponibilizar um carro pra vocês agora mesmo.
– Não tia... quer dizer... eu preferia... você sabe... dirigir o carro. Não precisa de um motorista. - e expressão da velha mudou de bondosa para safada.
– Hm... entendo... - O que ela entendia? Mulher louca. - Espere um minuto querido. Ela entrou e alguns minutos depois voltou. - Tem um carro no quintal de trás da casa esperando por vocês. Divirtam-se! - ela disse a última parte com ironia ou foi impressão minha?

Harry começou a andar para os fundos da casa. Entramos no carro e fomos em direção ao centro.
– Então... de onde você conhece a velha? - tentei puxar assunto. Bem, ele estava me levando pra comprar M&M quando podia estar tomando sorvete. Ele merecia pelo menos um pouco de simpatia da minha parte.
– A tia Mary? Ah, ela é a governanta dos Fosters. Na verdade, ela é mais que uma governanta, ela praticamente faz aquela casa ser uma casa. Os Fosters são ocupados demais pra isso, então deixam a casa nas mãos dela.
– E como você ficou tão amigo dela? - agora eu estava realmente curiosa.
– Quando eu era criança e vinha passar as férias aqui, eu sempre fugia e vinha para a casa da tia Mary - ele disse com um ar de menino levado de quatro anos e de repente sua expressão mudou. Estava distante, como se se lembrasse daquele tempo. - eu não suportava brincar de chá com a Sophie, e a Tia Mary sempre fazia bolo pra mim. Eu passava a tarde aprendendo a cozinhar com ela. Mas sinceramente? Era mil vezes mais divertido do que ser o príncipe da Sophie.
– E por que você parou de ir na casa dela? - me assustei com o meu tom irritado ao perguntar aquilo. Qual era o meu problema? Foda-se ele e a Sophie.
– Porque a Sophie aprendeu a usar a boca pra outra coisa além de tomar chá. - ele disse de forma safada e me lançou um olhar do tipo "você sabe do que eu to falando". Revirei os olhos.
Fomos a uma duas, três, quinze lojas. Nenhuma tinha M&M.
– Taylor, nós já fomos em umas mil lojas, por que você não compra o confete de outra marca? É TUDO A MESMA MERDA!
– NÃO! Não pode ser confete de outra marca se não não vai ser M&M! O cara da última loja falou que tem uma loja SÓ de M&M's a uns 30 quilômetros daqui! A gente já ta quase chegando! - ele me lançou um olhar como se eu estivesse louca.
– Taylor, daqui 30 quilômetros nós SAÍMOS da cidade!
– E dai? Você não queria se livrar da Sophie? Pronto.
– Eu queria me livrar da Sophie pra ficar sozinho! E não com você!
– Aham. Se escondendo no meu quarto você com certeza não ia me encontrar. - ele ficou em silêncio. Liguei o rádio e voltamos a ficar em silêncio só com o som das músicas. Ok, talvez fosse loucura o que eu estivesse fazendo. Fazer Harry dirigir até outra cidade pra comprar M&M... Eu não dirigia, quer dizer, eu dirigia só em vídeo-games, então ele teria que ir e voltar dirigindo sozinho.
– O que você ta pensando? - a pergunta dele me assustou.
– Por que você quer saber?
– Por que eu não consigo ler mentes... - ele disse olhando pra mim e dando um sorriso. Sem pensar sorri de volta.
– Sinceramente? - olhei as minhas mãos que estavam no meu colo. O sorvete já tinha virado água na quarta loja que a gente tinha ido, então joguei fora e fiz Harry jurar que compraria outra pra mim. - To me sentindo meio culpada por fazer você vir até aqui. Se quiser pode fazer a volta e a gente pode ir pra casa. Eu consigo ficar sem M&M...
– Não Tay... eu aceitei vir pra cá. - fiquei em silêncio refletindo sobre aquilo. - A gente já ta quase chegando, olha. - ele apontou pra frente onde tinha uma placa que dava boas vindas a cidade.
A cidade não tinha nada. Na verdade, era uma daquelas típicas cidades do interior, que só tinha uma pracinha que era o ponto de encontro de todos os moradores. Era até bonitinha. As ruas eram de pedras e tinham muitas árvores. Mas era entendiante. Uma placa grande do lado esquerdo dizia:

"O Lugar Mais Romântico de Golden City 3km"

Ignorei a placa e olhei para frente.

– Haha, e chegamos à terra prometida. - Ele apontou para frente e eu pude ver uma loja não muito grande, toda de madeira com uma placa enorme com o símbolo de M&M. Eu comecei a quicar no banco igual a uma criança que está chegando no parque de diversão. - Eita, calma. - Harry disse rindo.

Mal ele desligou o carro e eu já estava abrindo a porta. Quando dei o primeiro passo pra fora do carro, esqueci que o chão era de pedra e tropecei. Só não caí porque Harry chegou a tempo e segurou o meu braço. Ele escorregou a mão do meu braço para a minha mão e as entrelaçou. Olhei para as nossas mãos entrelaçadas e estranhamente o primeiro pensamento que eu tive foi "se encaixam perfeitamente". Balancei minha cabeça negativamente ficando corada e olhei pros seus olhos. Ele estava olhando pra mim.

– Só pra garantir que você não vá ficar caindo por aí. - ele piscou e me puxou para dentro da loja. Assim que entrei na loja perdi o ar. Eu morri e fui para o paraíso. Literalmente. Olhei em volta e vi que por toda a loja estavam espalhados tubulações cheias de M&M's. A loja estava cheia. Eu mal conseguia dar um passo. Puxei Harry para um canto onde tinha um tubo enorme só com M&M's azuis. Peguei uma sacolinha e girei a manivela. Começaram a cair vários M&M's azuis dentro da sacolinha. Eu podia sentir os olhos de Harry em mim, me analisando...

– Se diverte aí que eu já volto. - Harry falou no meu ouvido pra que eu conseguisse ouvir. Quando virei para responder ele já tinha saído de perto de mim e se misturado na multidão. Dei de ombros e continuei a encher a minha sacolinha de M&M's azuis até que não coubesse mais nenhum. Comecei a procurar por Harry pra irmos embora e de repente senti um peso sendo arremessado em cima de mim e eu cai com tudo no chão. Só consegui salvar o saco de M&M's. O ser desprezível saiu de cima de mim e estendeu a mão para que eu pegasse.

– Mas que mer... - subi do seu braço para seu rosto e perdi a fala, o ar, o rim, o fígado e tudo o que é possível perder.