A luz do meu celular apagou e tudo ficou completamente escuro novamente.

– H-harry? Você está bem? - Uma voz que não foi a minha perguntou.

– Ah... SIm, eu acho. Quem está aí?

– Quem você acha, seu babaca? Sou eu!

– Não estou falando de você, Alex. Eu quero saber quem acertou a minha cabeça! - Depois de alguns segundos de silêncio, decidi me pronunciar.

– Fui eu.

Um minuto e vinte e sete segundos. Ficamos exatamente um minuto e vinte e sete segundos sem falar absolutamente nada. A tensão no ar era tão grande, que eu podia tocá-la, abraçá-la e até beijá-la.

– Você quem? - A menina perguntou.

– Ninguém. - Harry disse antes que eu pudesse responder.

– Ok, Harry, quando a ninguém for embora, me liga. - ouvi o som dos sapatos da menina pelo corredor, e o som da porta da frente bater.

Fechei os olhos. Isso não pode estar acontecendo...

Silêncio.

Não conseguia falar absolutamente nada. Todo o sangue havia sumido do meu rosto e eu podia apostar minha coleção completa de livros que eu estava pálida.

Eu não podia vê-lo, mas sabia que estava no quarto, e que estava me encarando. Depois de muito, muito tempo sem falar, decidi dizer algo.

– Desculpe. Não sabia que era você. Pensei que fosse um...

– Um ladrão. - Ele disse junto comigo e riu. Um riso duro e sem humor.

Voltamos ao silêncio, e aquilo estava começando a me irritar profundamente. Decidi ir procurar algumas velas, porque aquela escuridão não estava ajudando.

Levei meu celular para iluminar o caminho, e ao sair do quarto, passei pelo ser que estava quieto e imóvel. Se eu achei que Zack tinha mudado muito, era porque eu não tinha visto Harry anda.

A diferença de altura entre nós era menor, mas ele ainda era mais alto que eu. Seu cabelo estava cortado, embora ainda com o mesmo estilo. Não consegui ver seu rosto, mas sabia que alguma coisas haviam mudado também.

Não deixei que ele percebesse que eu o estava encarando e fui em direção à cozinha, tentando normalizar minha respiração. Mas que merda estava acontecendo comigo? Fechei meus olhos por alguns segundos e tentei pôr um pouco de ordem e controle em meus sentimentos completamente bagunçados.

Comecei a procurar pelas malditas velas, que pareciam não estar em lugar nenhum.

– Segunda gaveta à esquerda. - ouvi a voz vinda da porta da cozinha e fui até onde Harry indicou, achando três velas e uma caixa de fósforos.

Acendi uma vela e apontei na direção onde Harry estava. Santa merda. Ele estava tão perto...

– Sua cabeça está sangrando! - Ele pôs a mão no canto da testa e percebeu o que eu estava falando.

Fui até o banheiro com a minha vela e peguei o kit de primeiros socorros.

Voltei à cozinha e as outras duas velas haviam sido acesas.

– Vem aqui. - pedi e fui para o quarto com ele atrás de mim.

Coloquei a vela na mesinha de cabeceira e pedi à ele que sentasse para que eu pudesse cuidar do machucado.

Enquanto eu limpava o sangue na testa de Harry, nenhuma palavra era dita entre nós. Ficamos em silêncio, com ele me encarando, enquanto eu me forçava a não encará-lo. O silêncio entre nós só me deixava mais nervosa. Mas eu não queria ser a primeira a quebrá-lo.

– Por que está tão quieto? - a pergunta pareceu pegá-lo de surpresa (e à mim também), pois seus olhos se arregalaram quase imperceptivelmente.

– O que quer que eu fale? - Ele perguntou com cautela. Dei de ombros.

– Por que não viajou?

– As ruas foram interditadas por causa da neve. - a voz dele estava diferente. Mais grossa, até. E voltamos ao silêncio tenso. EU queria ouvir mais aquela voz. Ele podia falar sobre qualquer coisa, desde que me mantivesse ouvindo...

Terminei de limpar o ferimento e passei o remédio.

– Pronto, terminei. - peguei as gazes sujas e as joguei na lixeira do quarto de Harry. Sentei na sua cama olhando para o chão. - Desculpe por isso. - apontei para sua testa.

– Sem problemas. - Ah, olá silêncio. Você por aqui novamente?

Meu estômago roncou e fui à cozinha caçar algo para comer.

Achei biscoito no armário, e Coca-Colca na geladeira (que não estava mais gelando).

Sentei no sofá e comecei a comer educadamente - leia: devorar como um animal - minha comida.

Harry apareceu na sala.

Agradeci aos céus por isso, afinal, eu havia percebido que não estava nos melhores trajes para vê-lo.

Minha camisola ia até a coxa, tinha um decote avantajado e para melhorar era semitransparente, com alguns babados de renda preta nas pontas. Suspirei dando graças aos céus por ter colocado sutiã.

Terminei de comer meu biscoito e fui ao quarto de Harry e bati na porta.

– Está aberta. - Entrei com cautela.

Ele estava sem camisa. Oh Deus, por quê fazer isso comigo?

Sem perceber, deixei que um risinho nervoso escapasse pelos meus lábios, mas assim que me dei conta, tapei minha boca e fui em direção à minha mala. Um calafrio percorreu meu corpo, e meus dentes começaram a bater.

– Que m-m-merda. - Procurei (mesmo que inutilmente) por alguma blusa de frio confortável,, mas tudo o que eu encontrei ali eram jaquetas de couro o vestidos com mangas longas, nenhuma blusa comum ou confortável o suficiente para usar.

Suspirei e peguei minha nécessaire indo em direção ao banheiro. Escovei meus dentes e voltei ao quarto, onde encontrei Harry deitado de olhos fechados. Me permiti olhar para ele enquanto estava assim. Mesmo à luz de velas, (ou talvez principalmente à luz de velas) ele estava irremediavelmente. Sua expressão estava séria e concentrada, como se estivesse tentando resolver um problema de matemática muito difícil. E ele estava quase fazendo uma careta emburrada, o que me fazia querer rir. Mordi minha bochecha para não rir, e fui em direção à minha mala, guardando minha nécessaire.

Em silêncio, abri a porta do seu armário e peguei duas cobertas e um travesseiro.Tinha decidido dormir no sofá.

– Taylor?

– O que é? - me virei e senti um bolo escuro ir de encontro com o meu rosto.

– Ah... Obrigada. - vesti o moletom enorme e grosso que me aqueceu quase instantaneamente.

Fui para a sala com as cobertas e forrei o sofá. Por eu ter dormido a tarde inteira, não estava com sono, mas não tinha muito o que fazer, já que a luz havia acabado e o único ser humano que estava na casa aparentemente preferia dormir a falar comigo.

Fiquei deitada ali brincando com as chamas da vela (é, eu gostava de pôr minha mão no fogo, literalmente) até ouvir o barulho da porta ser aberta.

Ouvi o som dos passos de Harry pelo corredor. Ele não percebeu que eu não estava dormindo e eu não o fiz notar isso. Apenas fiquei mais imóvel, com a respiração mais lenta e os olhos semi fechados.

O garoto andou pelo corredor, indo até a cozinha (ou eui achava que tinha ido, já que não dava para ver nada naquele escuro), pegou algo na geladeira e veio até a sala.

Nesse momento meu celular tocou.

Que merda. E agora? Valia a pena abrir os olhos e atender o celular?

Decidi continuar com minha farsa. O problema era que eu não esperava que Harry fosse até onde eu estava, pegasse meu celular e o atendesse.

– Alô? - meu corpo ficou tenso, reprimi a vontade de correr e arrancar meu celular da sua mão.

Mais tarde eu te ligo para saber se está tudo bem.