– TAYLOR DÁ PRA VOCÊ ANDAR LOGO? - ouvi o grito de Harry, seguido por vários socos na porta.

– NÃO É VOCÊ QUE ESTÁ TENDO QUE TOMAR BANHO COM O BRAÇO ENGESSADO! - gritei de volta com raiva. Eu estava no banheiro não tinham nem quinze minutos!

– NÃO FUI EU QUEM ESCORREGOU NO BANHEIRO E QUEBROU O BRAÇO PORQUE ESTAVA DE RESSACA! – uma pausa curta.

– Então foi por isso que ela caiu no banheiro? - ouvi uma voz mais distante, provavelmente vinda do final do corredor. Mas. Que. Merda.

Desliguei o chuveiro e me enrolei na toalha. Sussurrei através da porta tentado controlar toda a minha raiva.

– Seu. Filho. Da. Puta. Não esteja atrás dessa porta quando eu a abrir, se não eu desconfiguro essa merda que você chama de rosto.

– Ah, então voltamos às provocações. - achei ter ouvido um sorriso em sua voz, mas não pude ter certeza. - Legal. Senti falta disso.

Abri a porta do banheiro com violência, mas não era ele quem estava ali. Na minha frente se encontrava uma Dora muito vermelha e com a respiração irregular.

– Taylor - ela disse como se estivesse xingando - eu assumi a responsabilidade de cuidar de você. Isso inclui não te deixar fazer loucuras, como ficar bêbada, ser internada em hospitais, desmaiar por falta de alimento ou coisas do gênero.

– Legal, em que parágrafo do contrato que você assinou estava escrito isso? - arqueei uma sobrancelha involuntariamente. - Qual é, vai me dizer que você não está ganhando uma grana preta para me aturar? - revirei os olhos e cruzei os braços. Ou melhor, tentei. O gesso não permitia.

Eu tinha certeza que o que ela ia dizer não era muito educado, porque lá no fundo, por mais que eu não quisesse admitir, eu sabia que eu tinha passado dos limites. Então para a minha sorte, a campainha tocou.

Dora recompôs sua postura, ajeitou seu coque insuportavelmente apertado, e respirou fundo várias vezes. Antes de se virar e ir atender a porta, ela disse em tom baixo e ameaçador:

– Nós ainda não terminamos de conversar, mocinha.

Fui andando em passos lentos de volta para o meu quarto, mas no meio do corredor Harry passou por mim.

– Só para a sua informação, - eu disse parando de andar, e ele parou também, mas não se virou para mim. - Nós nunca passamos das provocações. - ouvi sua risada, e mesmo estando de costas, eu sabia que nesse exato momento ele estava revirando os olhos.

– Se você diz, loirinha. - entrei no meu quarto e bati a porta com força.

Peguei minha mala que ainda estava intocada desde que eu cheguei da casa de Sophie, e comecei a espalhar as roupas pela cama. Achei um vestido qualquer que a Dora com certeza aprovaria para o jantar dessa noite. Já que eu tinha ultrapassado os limites, achei melhor agradá-la um pouco.

Eu estava terminando de colocar meu vestido, quando ouço três batidas na porta.

– Posso entrar?

– Ah... pode. - falei temendo que o dono da voz fosse quem eu estava imaginando. E era. - O que você está fazendo aqui, Ben?

– Quer que eu saia? - SIM!

– Não! Quer dizer, pode ficar se quiser. - corei - O que você está fazendo aqui no apartamento? - tentei uma nova abordagem.

– Ah... Na verdade eu vim aqui para saber se você está a fim de sair ou algo do tipo... Mas vi que você está ocupada... - ele revirou os olhos. - Quer ajuda? - apontou para o zíper do vestido que eu lutava para puxar, mas ele começava na base das minhas costas, mesmo com a mão boa, eu precisaria de ajuda.

Nota mental: comprar roupas de freira. Nota mental dois: nunca mais comprar roupas com Matt.

– Ok. - deixei que Ben puxasse o zíper, e eu estava prestes a me afastar dele e murmurar um "obrigada", quando suas mãos se fecharam em volta dos meus ombros e ele me virou.

Eu realmente não tinha reação para aquilo. Não era possível desviar dos seus olhos castanhos. Senti sua mão em meu queixo delicadamente me puxando para cima. Ele desviou seus olhos para a minha boca e se aproximou mais.

O modo "lerdeza fora do comum" e "falta de reação" foram ativados no meu cérebro, e eu não conseguia mover um músculo do meu corpo para evitar aquilo.

– Loirinha, a Dora está te cha... - ah, legal. Hora perfeita e clichê pro idiota entrar sem bater na porta. – Pode deixar que eu digo que você está ocupada. – uma batida forte na porta e eu estava novamente a sós com Ben no quarto.

– Mas que merda foi essa? – Hm, ótima escolha de palavras. Bem apropriada para o momento Taylor. Palmas para o meu vasto vocabulário.

Me afastei de Ben e fui até o corredor, aonde Harry estava socando a parede. Puxei sua camisa e entrei no seu quarto, fechando a porta. Encostei-me à porta e cruzei os braços. Estava escuro, mas eu não acendi a luz. Ficamos em silêncio tentando nos encarar (eu pelo menos não conseguia ver nada) por vários minutos.

Não, eu não iria quebrar o silêncio. Não dessa vez. Continuei parada para ver qual seria a reação dele. Mas nada. Nem a sua respiração eu ouvia. Parecia que eu estava no quarto sozinha, e depois de um tempo, eu comecei a pensar que realmente estava.

Cansei de ficar encostada à porta, então tranquei a porta e peguei a chave. Fui até a sua cama e deitei. Ainda em silêncio. Eu estava louca para perguntar o que ele estava achando que aconteceu no quarto pouco antes dele chegar, gritar com ele sobre outras coisas acumuladas há muito tempo, xingá-lo um pouco talvez, e até me desculpar... mas eu não falaria uma palavra sequer até que ele falasse algo.

Mais alguns minutos se passaram, e quando eu estava quase cochilando, senti um peso de cada lado da minha cintura e dois braços apoiados à minha cabeça. Notei que Harry estava de quatro em cima de mim.

Passei meus dedos pela extensão de seu braço sentindo seus músculos, e notei que os pelos daquela região se arrepiaram. Deixei um sorriso escapar pelos meus lábios.

– Ok, o que você q... – Não cheguei a terminar minha frase, e minha boca se ocupou com lábios macios e urgentes.

Não importava se eu queria discutir, brigar, acusar ou xingar Harry naquele momento. Minha vontade virou pó assim que nossos lábios se tocaram. É, eu sei. Ridícula e fraca eram as duas palavras que mais me definiam ultimamente.

Minhas mãos (por vontade própria, vamos deixar bem claro) entraram na camisa de Harry e eu pude sentir todos os músculos definidos que suas costas tinham. Minhas unhas começaram a fazer pequenos arranhões ali. As mãos de Harry também já tinham saído da minha cabeça e ido passear no interior da minha blusa.

Agarrei as barras da sua camisa com a intenção de tirá-la, mas automaticamente Harry segurou as minhas mãos e as afastou dali.

Ele parou de me beijar e eu pude perceber que estava me encarando.

– Eu vou embora, Taylor.