(DES)EDUCANDO Uma Princesa escrita por Vamp Writer


Capítulo 8
Capítulo 07: IMPERADOR BLACK


Notas iniciais do capítulo

Heeey meninas, muuuuito obrigada MESMO por todos esses comentários maravilhosos! Vcs me deixam muuuuito feliz, de verdade.
Espero que gostem do capítulo de hoje :)



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Bella



O tempo às vezes passa mais rápido do que se é capaz de perceber.

Eu estava começando o meu décimo dia neste lugar. Sim, lugar, porque eu ainda não conseguia chamar aqui de casa, ou pior ainda, de lar.

Deitada na cama nesta manhã, eu apenas olhava para fora sem nada ver. Não via o céu acinzentado lá fora, nem os prédios mais altos e distantes. Todos os meus pensamentos me levavam a um único lugar, aonde eu realmente queria estar.

– Eu queria estar em casa – murmurei para Preciosa deitada ao meu lado, acariciando seu pêlo macio. – O que será que está acontecendo por lá?

Preciosa miou baixinho para mim, prendendo seus grandes olhos azuis de gata aos meus. Eu sabia que ela também sentia falta de nossa Bharsóvia, tanto ou mais do que eu. Talvez não fosse tanto do lugar que eu sentia falta, mas com certeza era de quem tornava aquele lugar o meu lar. Papai e Tom estavam lá, presos ou... ou... Não. Eu afugentei um pensamento pior.

– Será que eles estão sofrendo muito? – perguntei a ela distraidamente, tentando imaginar que tipo de crueldades o General Trenttini estaria fazendo. – Não, é claro que estão. O General não é o tipo de homem que tem compaixão. Papai sempre me disse que ele fora criado para ser forte, não um tolo fraco e sentimental. E tudo o que está acontecendo é minha culpa, sabia? Se eu não existisse...

Preciosa naquele momento começou a sibilar alto, me lançando um olhar feroz.

– Tudo bem, tudo bem, me perdoe – eu falei, tentando acalmá-la. – Não é nenhum pouco saudável da minha parte ficar pensando esse tipo de coisa. Eu devo estar perdendo o meu controle, porque eu nunca fui tão dramática.

Respirei fundo. Ela espirrou, me fazendo rir.

– O que quer fazer então? – perguntei a ela.

Preciosa saltou com graciosidade da cama e foi para o chão, caminhando elegantemente até a porta da varanda. Ela sentou-se sobre suas patinhas traseiras e ficou ali, brincando com o tecido leve da cortina lilás e me olhando.

– Você quer ir lá fora? – eu levantei da cama e ainda meio sonolenta, fui até a varanda e abri a porta um pouquinho. – Pronto, pode ir, menina.

Preciosa passou e ficou ali, do lado de fora, miando e olhando para mim. Uma pequena brisa passou pela pequena abertura da porta, me fazendo ficar arrepiada.

Girei a cabeça para trás e avistei o casaco que eu usei ontem, ainda jogado sobre a poltrona do outro lado do quarto. Vesti-o sem a menor pressa por cima da camisola lilás – eu ainda não tinha a ousadia para usar algumas peças que Alice e Chad compraram para mim, as que eram constrangedoras só de olhar no guarda roupas – e enquanto passava a mão por meu cabelo desalinhado, saí preguiçosamente para a varanda onde minha gata agora brincava com uma borboleta branca.

– Olha só, você arrumou uma amiguinha, foi? – perguntei a ela sorrindo, me agachando e deixando que a borboleta pousasse em minha mão. – Veja como ela é linda, Preciosa... Pequena, frágil e extremamente graciosa.

Preciosa se aproximou e no instante em que a borboleta bateu suavemente suas delicadas asas, ela espirrou e deu um salto para trás, miando desconfiada. Eu ri e observei a borboleta levantar voo, desaparecendo no céu nublado.

– Grande corajosa você – eu disse a ela, levantando e sorrindo.

Preciosa miou e ficou ali, apenas entrelaçando-se em minhas pernas, seu pêlo macio e quente acariciando a pele nua de meus tornozelos. E ainda estava sorrindo quando eu o vi.

Hoje ele estava encostado despreocupadamente à parede do prédio em frente ao nosso, como se me aguardasse ali há algum tempo, olhando exatamente para o ponto onde nós estávamos. Pelo sorriso em seu rosto, eu concluí que ele assistiu a toda a nossa pequena cena. Eu senti o sangue chegando ao meu rosto.

Ele ergueu a mão e acenou brevemente para mim, como fez da primeira vez em que eu o vi – e como costumava fazer sempre que nos víamos. Eu retribuí ao aceno, ganhando em reposta uma reverência e um grande e luminoso sorriso.

Ele me olhava de uma forma que fazia com que eu me sentisse estranha. Era... como se... como se eu fosse uma espécie de pequeno milagre em seu dia. Como se eu fosse um prêmio, que ele nunca se cansava de receber repetidamente.

– Uh, vejo que alguém já conheceu o Imperador.

A voz sarcástica de Alice atrás de mim acompanhada de um risinho denunciador me fizeram sobressaltar, deixando a Preciosa também alerta. Ela sibilou e olhou feio para Alice, enquanto eu levava minha mão ao coração e tentava mantê-lo batendo dentro, e não fora do meu peito.

– Alice, você quase me matou de susto! – eu sussurrei, respirando com cuidado.

– Que nada, você é que é uma distraída e não percebe nada à sua volta quando está obcecada pelo Imperador – ela falou, passando por mim e olhando lá para baixo. – Mas eu também não a condeno, porque ele é uma distração e tanto.

– Eu não estou obcecada por ninguém. E do que você está falando?

Ela encontrou o meu olhar, sorrindo torto.

– Ah, não venha com essa para cima de mim... Não finja que você não reparou na delícia que estava sorrindo para você lá embaixo. O dono do Império Black.

Eu não respondi, apenas desviei meu olhar do dela.

– Bella, há quanto tempo vocês estão se paquerando? – perguntou ela.

– Eu não estou flertando com ninguém – respondi, sentindo meu rosto esquentar.

Ela revirou os olhos para mim e me puxou novamente para mais perto da sacada.

– Você pode não estar flertando, mas o Imperador ali com toda a certeza está – ela sussurrou perto do meu ouvido, apontando discretamente para onde ele ainda estava.

Imperador? – eu repeti em choque, ainda sem coragem para olhá-lo.

– Você como da Alta Realeza me decepciona desse jeito – acusou ela, impaciente. – O dono de um Império, é o quê? Imperador, certo?! Muito bem, agora me conte essa história toda e direitinho. E não ouse me esconder nada.

Eu desviei meu olhar do dela para olhar para ele, surpresa.

Aquele jovem era um Imperador?

– Eu ainda estou esperando, Bella – insistiu Alice.

– Eu não o conheço, Alice – eu disse a ela sinceramente. – Ele apenas me vê de manhã, acena para mim e não nos vemos mais. É só isso, nada além.

Ela fez uma careta de desgosto.

– Credo, mas que história mais sem graça – murmurou ela.

– Alice, não existe uma história – eu a corrigi.

Ela abriu um sorriso enorme para mim, de repente muito interessada.

Ainda não existe uma história, Bella – corrigiu ela. – Veja e aprenda comigo, honey.

Eu não entendi o que ela estava dizendo, mas minha intuição me dizia que ela estava planejando algo grande – e ao que parecia, eu estava invariavelmente presa a isso.

Eu a vi acenar para o jovem Imperador, sorrir torto, apontar para mim e depois de volta para ele. Ele pareceu surpreso, mas assentiu e retribuiu o sorriso.

– O que você está fazendo, Alice? – perguntei a ela, sem entender nada.

– Apenas começando a escrever o seu Era uma vez – ela piscou para mim e me puxou para dentro do quarto novamente. – Agora você vai colocar uma roupa divina, arrasar no make e descer para falar com ele.

– Eu... vou fazer o quê?! – repeti, quase gaguejando.

Ela revirou os olhos, já indo para o guarda roupa e começando a pegar uma pilha de roupas. Completamente alheia a mim e a Preciosa, ela murmurava sozinha algo sobre eu ser lerda demais.

– Princesinha, acompanhe o meu lindo e brilhante raciocínio – falou ela, estendendo um vestido estampado para mim e fazendo uma careta antes de descartá-lo. – Você acabou de me dizer que não havia uma história entre vocês dois, certo?

– Sim, mas...

– Acontece que eu estou sendo a sua fada madrinha – continuou ela, me estendendo outro vestido, dessa vez um vinho. – Mesmo que a gente não esteja em um conto de fadas, você como princesa, tem que ter uma fada madrinha. E advinha só quem é a pessoa perfeita para isso? A inteligente e insubstituível Alice. Palmas para mim!

Eu ri do seu fluxo de palavras sem sentido. Ela tomou o vestido vinho de minha mão, substituindo-o por outras peças de roupa.

– Agora, nós vamos começar a construir a sua história, o seu Era uma vez. E você já tem até um Imperador, que é melhor do que um principezinho encantado de merda. Vou te passar a ficha completa do Jacob Black, que, particularmente, é o cara.

– Ficha? – repeti, confusa.

Ela revirou os olhos para mim, apontando impaciente para as roupas em minha mão.

– Passar a ficha de alguém é contar tudo o que se sabe sobre essa pessoa – explicou ela, não tão impaciente dessa vez. – Você precisa começar logo aquelas suas aulas com o Emmett, porque está passando da hora. Agora... O super gostoso que você viu lá e que está te esperando se chama Jacob Black, ele é o dono do Império Black. Comercialmente, é a oficina para carros de alto padrão de luxo mais cara de Nova York, ou seja, só gente que interessa é que frequenta ali. Agora, fora do ponto de vista comercial...

Ela fez uma pausa para se abanar, como se estivesse passando mal.

– O que tem lá? – perguntei, fechando os botões da calça que eu vestia.

– Só a maior concentração de caras gostosos por centímetro quadrado da cidade inteira. Bella, ali dentro daquelas paredes ficam os mecânicos de macacão mais sarados de todo o universo. Eu sempre lamento por meu bebê nunca ter me deixado na mão, porque seria uma lástima eu ter que frequentar aquele lugar um dia...

Ela riu alto, e eu ri também. Mesmo não fazendo a menor ideia do que.

– Muito bem, hora da sua chamada oral – disse ela, me encarando seriamente. – Vamos lá, me diga o que você está usando. Quero ver como está o seu progresso.

Eu suspirei, enquanto terminava de puxar o zíper das botas que ela me jogara.

– Calça jeans skinny Calvin Klein, suéter gola V de cashmere champanhe, botas stiletto de oito centímetros Channel – fiz uma pequena pausa para olhar para o meu traje, para ter certeza de que não estava esquecendo de nada que a desapontaria. – E... será que eu posso usar aquele cachecol branco da Dior?

Alice imediatamente procurou pelo cachecol em meu guarda roupa, atirando-o para mim com um sorriso enorme no rosto.

– Boa sugestão, B – aprovou ela, me puxando para a penteadeira. – Estou começando a ver potencial em você. Você já consegue pelo menos diferenciar uma skinny de uma calça jeans normal. E também está fazendo um bom trabalho com as grifes.

Eu sorri de volta para ela pelo espelho, enquanto ela ajeitava meu cabelo.

– O que mais eu preciso saber, além do nome dele e... – hesitei, totalmente sem jeito para usar aquele termo – do que tem lá?

– Isso mesmo, eu estou gostando de ver o seu interesse – incentivou ela, entendendo tudo errado. – Mas não precisa ficar com medo de usar a palavra gostoso para uma pessoa, porque ninguém vai te crucificar por isso, bobinha... Eu sei que ele é famoso no mundo do automobilismo, porque ao que parece ele era um corredor da Nascar ou coisa assim. E também sei que o Imperador pega umas vadias por aí, tipo supermodelos sem cérebro, mas não tem rolos sérios. E você vai mudar essa rotina.

– Vou?

– Claro que vai – ela sorriu para mim. – Se ele for esperto o bastante, tenho certeza de que ele vai ficar encantado pelos seus dotes reais – ela fez uma pausa, rindo de algo que achou engraçado. – Não, mas sério, se ele te merecer, vocês vão ser felizes para sempre. E aí, a sua fada madrinha vai ter cumprido sua missão.

Alice mesmo fazendo piada, parecia tão convicta daquilo que eu também não pude deixar de sorrir. Deixei que ela me maquiasse e, assim que eu terminei de escovar os dentes, ela me puxou correndo para fora do apartamento.

– Depois você me conta se o Imperador tem boa pegada e se ele é bom de beijo – disse ela tranquilamente, enquanto descíamos pelo elevador.

Eu automaticamente senti todo o meu corpo ficar tenso.

– Como? Be-beijo? – eu gaguejei, olhando-a de olhos arregalados.

– Ah, qual é, Bella! – ela revirou os olhos. – O que você acha que vão fazer? Conversar sobre o tempo, aquecimento global e a crise financeira do país? Ou trocar figurinhas sobre grifes ou sapatos?

– Eu não sabia que era para esse tipo de coisa que você queria que eu descesse – eu disse a ela em tom de censura, estendendo a mão para apertar o botão do nosso andar de novo. – Alice, eu não estou indo atrás de um cortejo e um casamento.

– É claro que não está, sua... sua... – ela hesitou por um instante, enquanto segurava minha mão estendida, como se procurasse pela palavra certa. – Inocente. Claro, você é totalmente pura, eu havia me esquecido. Deusa das Virgens, Alice! Escute, ninguém está falando de casamento Bella, só de pegação.

Eu continuei olhando para ela severamente. Ela arregalou os olhos.

– Ah, não! – ela quase gritou, enquanto sacudia a cabeça negativamente. – Não, por favor não me diga o que eu estou pensando... Você... nunca beijou ninguém?

- Alice, eu ainda não tenho permissão para ser cortejada – respondi, vendo sua boca se escancarar. – Como Princesa, eu só posso ser cortejada e conhecer meu noivo após a cerimônia oficial de coroação e casar-me só depois dos 21 anos.

– Tradução: você só tem permissão para beijar um cara, mesmo que ele seja o seu noivo, após os vinte e um anos? – supôs ela, cada vez mais horrorizada.

Eu assenti, desviando o meu olhar do seu acusatório.

– Muito bem, agora é oficial – disse ela, me puxando para fora quando chegamos ao térreo. – Não estamos mais em Bharsóvia, de forma que essas regras conservadoras não valem por aqui. Você está com o seu celular, então me ligue quando acabar. E não ouse voltar para casa sem pelo menos um encontro marcado, porque agora mesmo é que você precisa agarrar o bofe!

– Você só pode estar brincando comigo, Alice – eu disse seriamente, enquanto ela me empurrava para fora do hall de entrada do prédio.

Eu respirei fundo uma vez e, me sentindo a pessoa mais imbecil do mundo por ter ouvido Alice e seu conselho maluco, saí pelo portão do prédio e segui pela calçada.



Jacob



– Ei, Jake, quando é que você vai parar de bancar o retardado e sair daí? – ouvi a voz irritante de Paul me chamando, seguida por risadinhas. – Oh, eu estou esperando pela gata do sexto andar... Oh, eu preciso vê-la esta manhã!

Eu entrei novamente, dando as costas à rua, só para poder encará-lo pessoalmente.

– Paul, você quer a resposta como seu amigo ou como seu patrão?

– Acho que alguém se ferrou – eu ouvi Quil murmurar, rindo junto com Seth.

– Acho que eu prefiro como amigo – respondeu ele, segurando uma chave inglesa.

Como se eu tivesse medo dele. Ah, tá.

– Como seu amigo, eu te digo: não te interessa – falei baixo, mas bem sério. – E como seu patrão, eu digo que se me chamar de retardado mais uma vez você vai ser um ex-mecânico dentro de dois minutos. É só o tempo de eu chegar até meu escritório.

Ouch – disse ele se encolhendo, mas ainda rindo. – Quanta delicadeza.

– Alguém pode me dizer por quê mesmo eu preciso do Paul, hein?

– Paul é o melhor mecânico de motores da cidade – lembrou Seth, sempre prestativo. O garoto chegava a ser irritante às vezes de tanta empolgação comigo. – Você já procurou outros, mas nenhum aguenta o tranco.

– E também ele é um ótimo alvo para os seus dias de ira – acrescentou Quil.

Seth assentiu, concordando. Paul fechou a cara e lhe atirou um pedaço de estopa.

– Você tem razão, Quil – eu cedi, sorrindo só um pouco. – Eu preciso ter alguém com quem gritar e descontar a minha fúria. Agradeça a eles pelo seu emprego, Paul. Ser irritante salvou a sua pele.

– Não vou fazer isso – respondeu ele, murmurando mais alguma coisa enquanto seguia para a Ferrari em que estava trabalhando antes de me torrar a paciência.

– Jacob? – chamou Leah, descendo as escadas em espiral do fundo da oficina. – O Sr. Stonny está no telefone, nenhum pouco amigável, e quer falar com você. É sobre as peças que você encomendou de San Diego.

– Diga a ele que eu falo com ele depois.

– Mas ele está impaciente e...

– Leah, eu disse que falo com ele depois – repeti, quase perdendo a paciência. – Você não é a minha secretária? Então, invente alguma desculpa boa o bastante para ele.

Ela estreitou os olhos para mim e empinou o queixo.

– Olhe só, não é porque o Paul te tirou do sério com alguma idiotice que você precisa vir com quatro pedras na mão para cima de mim, patrãozinho – disse ela ironicamente, antes de se virar e me dar às costas.

Raaaawnr – rugiu Quil baixinho, quando ela passou de volta ao escritório.

– Eu ouvi isso, babaca – rosnou ela, parando e atirando uma chave de fenda precisamente nele antes de subir a escada novamente.

A sorte de Quil é que ele tem bons reflexos, porque poderia facilmente ter perdido um olho. Ele se desviou e nós ouvimos a chave colidir contra a parede atrás dele com força, ao mesmo tempo em que os saltos altos tiquetaqueavam no andar de cima e a porta era fechada com violência.

Dois segundos depois, estávamos os quatro rindo.

– Gostosa, mas super selvagem – observou Paul, quase rindo.

– Não fale assim da minha irmã, cara – repreendeu Seth, fuzilando-o com os olhos.

Houve outra crise de riso, até que Quil, mais próximo a mim, pigarreou alto e apontou com o queixo para o outro lado da rua.

– Pelo visto, a gatinha de alguém está nos assistindo do outro lado da rua – brincou ele, chamando a atenção de todos ao mesmo tempo.

Eu me virei na mesma hora para onde ele apontava.

Em pé, na calçada do outro lado da rua, ela estava olhando para nós com o que eu achei ser curiosidade e timidez ao mesmo tempo. Estava tão linda, mas tão linda, que eu cheguei até a perder a reação.

Ela tinha mesmo descido?

– Jacob, quer um babador? – ouvi Paul rir, junto com os outros, atrás de mim.

– Se precisarem de alguma coisa, falem com o Embry – eu recomendei a eles, ignorando a gracinha do Paul de propósito. – Estou com o celular, mas só me liguem em caso de extrema emergência... Tipo Terceira Guerra Mundial ou algo do gênero.

– Vai nessa, Jake! – incentivou Seth, piscando para mim e batendo seu ombro contra o meu. – Ei, eu queria ter só um pouco da sorte que você tem com as mulheres, cara.

Eu abri meu melhor sorriso presunçoso para ele.

- Quem sabe na próxima vida, garoto – eu dei as costas para eles e ainda estava ouvindo as risadinhas de fundo enquanto ia para a entrada da oficina.

Incapaz de olhar em outra direção que não fosse a sua, eu fui para a calçada e parei por um pequeno momento só para me certificar de que não estava vindo nenhum carro – afinal, morrer atropelado não me ajudaria em nada; pelo contrário, só me atrasaria. Quando finalmente cheguei até onde ela estava, me esperando com um pequeno sorriso nos lábios, meu sorriso não parecia caber em meu rosto.

– Você desceu – eu sussurrei, parando bem perto dela.

Um lindo rubor chegou em seu rosto.

– Eu posso dizer que não tive muita alternativa – confessou ela, parecendo sem graça.

Sua voz era ainda mais linda do que eu imaginara. Ela parecia tão frágil e delicada, como se uma mínima brisa fosse o suficiente para quebrá-la ou fazê-la evaporar no ar, como uma lembrança há muito tempo esquecida.

Mas nem por isso deixava de ser real – uma garota de verdade, com incríveis olhos verdes cheios de vida e um brilho que a tornavam única, às vezes ocultos sob a cortina negra e lustrosa que lhe caía teimosamente sobre o rosto. Eu nunca vira nada parecido em toda a minha vida – e olha que eu era bastante experiente no quesito beleza feminina.

De perto, era ainda mais linda do que eu pensava. Incrível.

– Permita-me me apresentar – eu disse, me curvando por um instante para pegar sua mão e beijá-la gentilmente. – Jacob Black, seu servo.

Que diabos estava acontecendo comigo?

Sim, eu sabia que aquilo era terrivelmente brega. Eu nunca fiz aquilo. Mas não importa. Queria tratá-la como eu achava que ela merecia – uma verdadeira princesa.

Ela sorriu um pouquinho e ficou vermelha, sua mão tremendo sob o meu toque.

– Bella McCarthy – sussurrou ela, a voz bastante trêmula. – É um prazer conhecê-lo, Sr. Black. Mas não precisa me tratar com tanta formalidade.

– Eu digo o mesmo, Bella – eu disse a ela, olhando em seus olhos. – Pode me chamar de Jacob, ou Jake como os mais íntimos.

– Jacob – repetiu ela, testando a palavra nova. Adorei ouvir meu nome em sua voz.

– Gostaria de dar uma volta comigo? Conheço um lugar ótimo, não muito longe daqui.

Eu pude ver sua hesitação em aceitar o meu convite.

– Bella, eu sei o que você deve estar pensando – procurei transmitir com os olhos também o que minha boca estava dizendo. – Nós mal nos conhecemos, e um estranho te convida para ir a um lugar desconhecido. Quero que saiba que pode confiar em mim, eu prometo que não vou fazer nada que você não queira.

Bella respirou fundo por um momento, depois olhou para meu braço estendido.

– Tudo bem, vou confiar em sua palavra – disse ela, passando seu braço pelo meu.

Meu sorriso de resposta foi luminoso. Começamos a andar pela calçada, em direção à cafeteria que eu imaginava levá-la duas quadras à frente. Bella era uma companhia extremamente agradável, inteligente e engraçada à sua maneira, ao contrário das mulheres descerebradas que costumavam me cercar.

– De qual lugar do Reino Unido você é? – perguntei a ela, quando entramos na cafeteria e procurei pela minha mesa preferida para nos sentarmos.

Ela me olhou surpresa por um momento.

– Rochester, uma pequena cidade no sul do país. Como sabe que eu não sou daqui?

– Fácil – eu sorri torto para ela. – Além do óbvio, seu sotaque britânico é encantador.

Ela corou, quando eu puxei sua cadeira para que se sentasse.

– E qual é o motivo óbvio?

– Eu já suspeitava que você era diferente desde a primeira vez em que eu a vi, naquela manhã há dez dias atrás. E agora, enquanto vínhamos para cá, eu tive absoluta certeza. Não pelo seu jeito de falar, mas pelo o que você demonstrou ser. Você não é como as garotas daqui, nem um pouco.

– E isso é bom ou ruim?

– É excelente – eu garanti a ela, estendendo minha mão devagar para pegar a sua sobre a mesa. Afinal, ela podia me rejeitar ou me achar atirado demais. – Bella, você tem conteúdo, não só um corpo bonito. É diferente de todas as que eu já conheci.

Ela ficou olhando para a minha mão sobre a sua, mas não a puxou.

– Isso é uma coisa que eu não entendo, Jacob. Por quê?

– Por que o quê?

– Por quê esse seu interesse todo em mim? – ela desviou o olhar de nossas mãos para meus olhos, com uma expressão que eu não consegui identificar. – Quero dizer, alguém como você, com o seu... hummm, prestígio, eu acho que é o que se encaixa melhor, dono de um Império, pode ter a dama que quiser. Eu não sou nada aqui, além de uma garota como outra qualquer. Não faz sentido você ficar me esperando todos os dias de manhã, só para me ver. É isso que eu não entendo.

Eu fiquei quieto, observando-a sem dizer nada, apenas tentando entender sua lógica. Ela deve ter interpretado meu silêncio de forma errada, pois desviou o rosto para o outro lado e começou a recolher sua mão da minha.

– Não, Bella – eu segurei sua mão firme, antes que ela pudesse pensar mais coisas erradas a meu respeito. – Não é nada disso do que você pensa.

– Então o que é?

– Esse prestígio que você falou... – respirei fundo, e tratei de usar meu melhor tom de indiferença. – Ele não existe para mim, são os outros que me colocam em um pedestal de ouro. E daí que eu tenho fama, bens e sucesso? A vida não se resume a dinheiro, pelo menos não para mim. Eu acredito no algo a mais. E esse algo a mais eu acredito estar nas coisas que a gente não tem, que o dinheiro não pode comprar.

– Mesmo? – perguntou ela, parecendo aprovar meu discurso. – Pode parecer clichê o que eu vou te dizer agora, mas eu sempre pensei da mesma forma.

Se esta fosse outra ocasião, outro tempo e outra mulher, teria sido a mentira mais fácil de se inventar para ganhar a admiração e o interesse de uma mulher. Mas eu não estava mentindo, eu não precisava fingir nada com Bella. Eu não tinha que inventar uma cena, criar o Jacob-perfeito-para-ela.

Eu não sabia o por quê estava agindo desta forma.

– Esta é apenas mais uma da lista de coisas que temos em comum – eu sorri para ela.

– Não sabia que nós dois tínhamos uma lista de coisas em comum – ela riu.

Jane, a linda garçonete loira que sempre me servia quando eu ia ali, apareceu em nossa mesa com nossos pedidos em sua bandeja. Ela foi simpática e sorriu o tempo todo para mim, mas hoje eu não estava lhe dando a atenção extra que eu sempre dava – não estando acompanhado de alguém como Bella.

– Não se preocupe, eu estou cuidando dessa parte – eu sorri torto para ela, esbanjando charme. – Aliás, abordando outro comentário seu... Nunca imaginou por que eu fico acampado na frente da minha oficina todos os dias esperando por você?

– Não tenho a menor ideia – ela respondeu, mordiscando seu muffin de chocolate.

– Vou te dar duas opções de resposta. Você quer a real ou a romântica?

– Acho que prefiro começar pela real – escolheu ela, sorrindo.

– Muito bem, eu também escolheria começar com a pior e deixar a melhor para o fim – eu comentei, bebendo um bom gole do meu café. – O motivo real é que eu não tenho nada para fazer de manhã, a não ser vigiar e mandar em meus funcionários. Isso requer muita energia e dá um desgaste danado, caso você queira saber.

Bella riu, deliciando ao meu ego.

– Coitados, eles devem se sentir péssimos sob o seu campo visual – ela brincou.

– Que nada, eles adoram ser mandados por mim – eu disse, sorrindo presunçoso. – Quer saber o meu motivo preferido, o romântico? Acho que você vai gostar.

– Acho que eu sou bastante forte para ouvir isso – brincou ela, mas eu percebi que estava um pouco tensa.

– Meu dia só começa de verdade depois que eu vejo você naquela varanda – eu disse tranquilamente, como se comentasse sobre um modelo de carro. – Eu acordo de manhã e saio de casa, mas para mim ainda é tudo escuro. Nada tem cor, até que você aparece em meu dia. E agora, eu estou ciente de que você não é mais uma miragem criada pela minha cabeça, porque você é real e está aqui comigo.

Eu ouvi três suspiros e um coro baixinho de “own” vindos da mesa atrás de Bella. Até aquele momento, eu não tinha percebido que aquelas garotas estavam ali – ainda mais prestando bastante atenção em nossa conversa particular.

Bella ficou bastante vermelha, incapaz de dizer algo por alguns segundos.

– Jake, eu...

Eu sorri largamente para ela. Bella havia me chamado de Jake, de modo que eu já tinha algum tipo de apreço para ela. Mesmo que fosse mínimo, já era alguma coisa.

– Não precisa dizer nada, Bella – eu a interrompi, esperando que não viesse à negação para o meu pedido seguinte. – Bom, na verdade precisa sim... Gostaria de me presentear mais uma vez com a sua adorável companhia e jantar comigo nesta sexta? Eu posso levá-la aonde quiser, o espaço é o seu limite.

– Jantar? Co-comigo? – ela gaguejou, bastante surpresa.

– Sim, foi o que eu propus – sorri torto para ela, usando o sorriso que eu sabia que era irresistível. – Devo dizer que, se quiser mesmo jantar no espaço, terá de me dar um tempo até que eu consiga entrar em contato com a NASA e reservar uma espaçonave para nós... Isso deve levar algum tempo, porque você sabe como é essa coisa de burocracia e...

Bella riu, interrompendo meus planos.

– O que foi? – perguntei a ela.

– Você não pode estar falando sério, Jake! Espaço? – ela riu novamente.

– Por quê não? – eu discordei, bastante teimoso. – Você nunca ouviu falar desses bilionários podres de ricos que fazem viagens à Lua e essas coisas por diversão? Então, por que eu não posso fazer o mesmo? Ou melhor, a gente não pode fazer?

– Você é maluco – constatou ela, bastante prática.

– Maluco, completamente alienado por você – garanti a ela. – Então, aceita?

– Aceito – ela revirou os olhos para mim, mas seu sorriso era enorme.





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Notas finais do capítulo

Beeem, o que acharam?
Que tal comentar agora? :D