(DES)EDUCANDO Uma Princesa escrita por Vamp Writer


Capítulo 6
Capítulo 05: PAPAI EMMETT


Notas iniciais do capítulo

Heeeey minhas sweethearts! *------*
Quero primeiro agradecer à vcs que estão comentando aqui, pq isso é mtmtmt importante pra mim. Mesmo. Eu não estaria postando se ninguém estivesse dizendo nada.
E segundo, vcs são umas fofas comigo, pelo amor de Deus! Eu morro desse jeito ♥
Espero que gostem do capítulo de hoje. Está engraçado, mas tbm tem um pouco de seriedade...
Mais do Emmett pra vcs, pq afinal de contas, ninguém se compara à ele :)
ps.: AA = reunião dos Alcoólicos Anônimos



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Bella



– Miaaau!

O que aquele miado estava fazendo no meu sonho?

Eu estava nos jardins do meu palácio em Bharsóvia, encostada em meu carvalho favorito. O céu estava impecavelmente azul, o sol brilhava intensamente aquecendo a tudo à minha volta. O delicioso aroma da grama bem tratada preenchia meus sentidos, enquanto uma brisa leve brincava comigo, levantando meus cabelos.

Eu estava distraída acariciando meu vestido favorito, o branco com bordados em lilás que Tom havia feito para mim há pouco tempo. Sentada no chão e com a ampla saia rodada espalhada graciosamente ao meu redor, parecia que eu estava sentada sobre uma grande e delicada nuvem.

Até que eu ouvi o barulho de cascos.

Cascos?

Quando olhei para a minha esquerda, eu o vi. Um lindo e imponente cavalo branco se aproximava de onde eu estava, em um galope veloz e muito elegante. Sobre ele, eu consegui identificar um cavaleiro coberto por um longo e pesado manto negro. Não consegui ver seu rosto, pois o capuz o escondia de mim.

Ele estava se aproximando cada vez mais. E aquilo começou a me deixar ao mesmo tempo nervosa e apreensiva.

O cavalo parou a poucos passos de onde eu estava sentada e, com um movimento ágil e extremamente habilidoso, o cavaleiro desceu para o chão. Enquanto ele vinha na minha direção, pude ver que ele era bem alto, forte e emanava tanta autoconfiança e segurança de si mesmo enquanto caminhava, que naturalmente seria mais do que o suficiente para intimidar a qualquer um. Mas eu não me senti intimidada por ele.

Havia algo nele que, por baixo de todo aquele mistério, inexplicavelmente me atraía.

Ele parou bem na minha frente e me estendeu a mão, para que eu me levantasse. Hesitei por um momento, olhando para sua mão em vez de seu rosto. Não consegui ver a sua pele, pois ele usava uma luva de couro negro que ia até seu antebraço. O manto negro de veludo tremulava ao seu redor, como se tivesse vida própria.

Ergui meus olhos então, para ver seu rosto. Encoberto pelo grande capuz, eu não vi nada. Até que surgiu um brilho branco. Chocada, eu percebi que ele sorria para mim.

– Miaaaau!

Então eu fui atingida por um pequeno corpo quente, que acabava de pular sobre o meu peito. Ela miou novamente, claramente exigindo minha atenção e espirrou bem em cima de mim.

Franzi a testa e abri um dos olhos.

– Ah, Preciosa! Você me acordou na parte mais importante do sonho! – eu a repreendi, enquanto a tirava de cima de mim e me sentava com ela na cama.

Preciosa miou mais uma vez, resmungando comigo, e saiu dos meus braços para se aninhar no meu travesseiro.

– Foi para isso que você me acordou, sua pequena traidora? – eu perguntei a ela, enquanto acariciava seu pêlo macio. Ela olhou entediada para mim, como fazia quando queria dizer “eu sei que tenho razão!”, e depois voltou seu olhar para o criado mudo ao lado da minha cama.

Ainda sonolenta, eu levei mais tempo do que o necessário para entender que horas o relógio marcava.

Santa Bharsóvia! – exclamei, dando um salto bastante desajeitado da cama. Preciosa ficou agitada também, olhando para todos os cantos do quarto como se de repente ela esperasse encontrar por ali o General Trenttini. – Eu me esqueci completamente do agente McCarthy!

Disparei até o banheiro, para lavar o rosto e terminar de acordar. Como eu pude dormir tanto?

Ontem, enquanto Alice e Edward discutiam energicamente na sala após a nossa chegada, Emmett se aproximou de mim discretamente e me puxou para o pequeno corredor. Ele me disse que hoje nós dois iríamos sair cedo, mas que Alice, muito menos Edward, poderiam saber aonde iríamos. Nem a mim ele quis contar. Era segredo e, antes de voltarmos à confusão de irmãos que acontecia na sala, ele me fez prometer que eu não contaria absolutamente nada. Ele tinha me dito que estaria me esperando às nove horas do lado de fora da porta do apartamento de Alice, mas não tocaria a campainha.

Eram nove e dez da manhã e eu tinha acabado de acordar.

– Preciosa, por quê você não me acordou antes? – resmunguei com ela quando voltei ao quarto, indo direto para o guarda roupa que Alice abasteceu para mim. Preciosa miou de volta comigo, obviamente discordando, enquanto eu pegava a primeira coisa que via pela frente. – Eu sei, eu sei que você tentou... Desculpe. Mas da próxima vez, tente me acordar mais cedo, tudo bem?

Enquanto eu me vestia rapidamente, Preciosa saltou da cama e ficou me seguindo de um lado para o outro do quarto. Não sabia se Alice aprovaria o vestido azul marinho que eu escolhi, mas eu não tinha tempo para consultá-la. E também nem podia.

Calcei um dos pares de botas pretas que ela comprou para mim, peguei um casaco marfim que vinha até quase os joelhos – como era mesmo o nome que ela tinha me ensinado? Trench-alguma-coisa... Enfim, saí do quarto com grampos nos lábios enquanto juntava meus cabelos para o alto para prendê-los no meu coque.

Preciosa continuou me seguindo, miando enquanto se entrelaçava alegremente nas minhas pernas.

– Shhh! Não faça barulho, menina! – eu sussurrei para ela, olhando para todos os lados enquanto me aproximava da porta.

Dei uma última olhada em mim mesma, procurando por peças faltando ou vestidas pelo avesso, mas eu estava perfeita. Não, perfeita não. Sem maquiagem, eu estava vagamente apresentável. No hall que levava à porta, sobre uma pequena mesa de vidro alta encostada na parede, eu reparei que Alice costumava deixar algumas coisas. Entre elas, eu achei um rímel e um lápis de olho. Passei-os rapidamente, usando o espelho em frente para me certificar de que estava bom o bastante – nada menos que o perfeito é aceitável quando se trata da aparência de uma Princesa.

Antes de pegar na maçaneta, olhei para o relógio na parede. Nove e meia. Com um pesado suspiro, eu abri a porta tentando fazer o mínimo de barulho.

Encontrei o agente McCarthy no corredor, encostado na parede oposta com os braços firmemente cruzados sobre o peito. Com aquela expressão séria, ele parecia ainda mais intimidador do que já era com todo o seu tamanho. Engoli em seco.

– Agente, me desculpe pelo...

– Emmett – corrigiu ele, a voz irredutível enquanto me observava.

Eu corei por um momento. Respirei fundo e então recomecei.

– Emmett – eu me corrigi, com um pequeno sorriso enquanto o olhava de volta. – Desculpe-me de verdade pelo meu atraso. Eu perdi completamente a hora e se não fosse por Preciosa eu...

– Alice está acordada? Ela viu você?

– Não, acho que ela ainda está dormindo. Mas, como eu ia dizendo...

– Então vamos logo, Bella – ele relaxou sua expressão séria, o que me deixou mais aliviada, e se virou para ir.

– Tudo bem – eu concordei, me virando para fechar a porta. E então vi Preciosa, parada bem ao meu lado. Será que eu teria que deixá-la novamente? – Emmett?

Ele apertou o botão do elevador e se virou para mim.

– Sim?

– Será que eu poderia levar Preciosa comigo?

Eu vi uma expressão de surpresa e algo mais que eu não identifiquei aparecer em seu rosto, antes dele desviar seu olhar do meu para a minha gata.

– Preciosa não... – então de repente ele fez uma pausa, ao olhar para o meu rosto. Não sei direito o que ele viu, mas aquilo pareceu mudar o que ele ia dizer. – Se ela não se importar em ficar dentro do carro... E não destruir o meu carro também...

– Preciosa não vai se importar! – eu disse rapidamente, mesmo que não tivesse a menor certeza sobre isso. – E eu prometo que ela vai se comportar, como a perfeita dama que é. Não é verdade, minha linda?

Preciosa ronronou, roçando sua cabeça em meus tornozelos. Emmett hesitou por um longo momento, olhando de mim para Preciosa e de volta dela para mim.

– Tá bem, ela pode ir – com um suspiro, ele cedeu.

Com um sorriso enorme, eu me abaixei para pegar minha gata, tranquei a porta e fui rapidamente para o lado dele.



Agente McCarthy



Avistei o Starbucks com o serviço de drive-thru que eu queria e dirigi para lá, para pegar o nosso café da manhã. Enquanto entrava na fila de carros, voltei-me para a Princesa.

– O que você vai querer, Bella? – perguntei a ela.

– Eu? – eu vi um olhar de pânico atingir o rosto dela. – Eu não sei...

É claro que eu a entendia. A garota estava aqui somente há três dias, então é óbvio que ela não conhecia nada. Eu teria que pedir por nós dois e, eu sinceramente esperei que ela fosse do tipo de garota que come qualquer coisa.

Fiz o pedido, contornei o caminho com o carro e segui até o caixa, onde eu peguei o pedido e repassei-o a ela. Ouvi a Princesa murmurando algo com a gata enquanto eu pagava pela comida. A garota do caixa me deu o maior mole, nem ligando para a garota que estava no banco do meu lado. E olha que eu nem me insinuei para ela!

– Aonde nós vamos? – Bella perguntou, enquanto me devolvia um dos copos de cappuccino.

– Primeiro nós vamos passar no shopping – eu vi quando ela ergueu uma sobrancelha para mim, surpresa. – Sim, shopping. E não me olhe desse jeito. Não para compras, porque isso é com Alice. Se você fosse um cara, claro que eu é quem faria isso, mas isso não vem ao caso agora... Nós vamos lá porque eu preciso de fotos suas.

– Fotos minhas? – repetiu ela, parando a mão que estendia um pedaço do muffin gigante para a gata em seu colo.

– Sim, eu preciso de fotos 3x4 suas. No shopping tem umas daquelas cabines de foto instantânea.

– Como as dos filmes? – perguntou ela, sorrindo.

Eu sorri de volta para ela. Pelo menos isso ela conhecia.

– Sim, é uma daquelas mesmo – desviei um pouco da minha atenção para abrir a janela e pegar o ticket do estacionamento do shopping. – Eu imagino que você nunca viu uma de verdade, então eu acho que você vai gostar.

Estacionei o carro na vaga mais próxima da porta principal, bastante surpreso por ver o estacionamento do shopping já com uma boa parte das vagas ocupadas. Cara, fala sério! O que as pessoas fazem no shopping há essa hora com as lojas fechadas? Montam acampamento no estacionamento? Ou será que se reúnem em uma daquelas seitas supersecretas embaixo do shopping, com fogueira e tudo mais, tipo um AA dos Compradores Compulsivos?

Esperei do lado de fora da sua porta Bella resolver seu drama com a Malgata. A gata miava sem parar, eu poderia dizer que estava praticamente chorando. Será que gatos também sofriam de claustrofobia? Eu observei a Princesa tentar acalmá-la, dizendo que não ia demorar, que a amava e que ela tinha que se comportar como a dama que ela era. Ah, tá. Revirei os olhos.

Por mim, essa criatura diabolicamente felina teria ficado em casa – não que eu desejasse mal a Alice, ou que ela teria ficado feliz com isso... Mas quando eu vi aquele olhar de cachorrinho-que-caiu-da-mudança-Real da Princesa, eu fiquei mais mole do que geleia. Não consegui dizer o não que estava saindo.

– Vamos, Emmett? – eu nem a ouvi bater a porta do carro, mas percebi que ela estava se esforçando para não olhar para trás enquanto andávamos.

Mas eu olhei. E vi a gata lá, patinhas na janela, vendo nós nos afastarmos.

Balancei a cabeça para aquela emoção que espreitava me pegar, afinal eu sou um poço viril de testosterona e não uma garotinha hipersensível. Nós entramos no shopping e não demorou muito para que eu avistasse uma das cabines. Enfiei a Princesa lá dentro e coloquei uma nota de dez dólares na máquina, selecionando a opção de oito fotos com um único disparo.

– Diga xis, Bella – eu falei, pouco antes que o cronômetro zerasse e o flash fosse disparado.

Um minuto depois, a fileira de fotos saiu pelo buraco de impressão. Ela não tinha saído de boca aberta, porque não falou o xis que eu pedi – talvez ela nem tivesse entendido...

Eu franzi o rosto enquanto olhava para as fotos, fazendo uma careta.

– E então? – perguntou ela, espiando por uma fenda da cortina vinho.

– Séria demais – eu disse balançando a cabeça, entregando as fotos para ela.

Bella estava parecendo uma mulher de meia idade naquelas fotos. Na boa, eu dava uns quarenta anos e não dezoito para aquela coisa nas fotos. Ela precisava de...

– Já sei do que você precisa, Bella – eu sorri torto para ela, me espremendo para entrar na cabine com ela.

– O que eu preciso? – perguntou ela, encostando-se à parede para me dar um pouco mais de espaço. Cara, essas cabines são minúsculas demais para um cara grande e forte como eu e uma garota...

Foco, Emmett.

– Você precisa de uma dose das extragrandes de sex appeal – eu disse, aumentando meu sorriso torto. – E adivinhe só? Ninguém melhor do que o papai Emmett aqui pode te ensinar isso! Para começar, vamos tirar esse coque de vovózinha de bingo da sua cabeça. E tire esse casaco também. Não ficou nada sexy na foto.

Ela me olhou desconfiada, as mãos segurando o casaco contra o corpo.

– Eu por um acaso tenho que ser sexy?

Ela sexy? Eu tive que segurar a crise de gargalhada que ameaçou me consumir.

– Não. Você tem que parecer uma garota de verdade, não uma velhinha broxante.

– O que é broxante? – repetiu ela.

Eu dei um tapa em minha própria testa.

– Deus, eu me esqueci de como você é totalmente pura. Broxante é... como eu posso dizer... hummm... é... algo que te faz broxar.

Mas que grande gênio eu sou, hein?!

– Ahn... – ela disse, de modo nada convencido.

– Tá, você pede para a Alice te explicar isso melhor depois – eu desconversei, tirando o meu da reta e começando a tirar os grampos da sua cabeça. – Broxar não é um assunto muito legal para um cara ficar falando com você. Aliás, eu espero que você nunca tenha que passar por isso, porque é traumatizante... Não. Você não vai passar nem perto desse tipo de experiência, definitivamente não mesmo! Sem chance!

Ok, eu realmente estava parecendo um pai falando de sexo com sua filha adolescente. Tragédia total.

– Hummm, Emmett, eu acho que você já tirou todos os meus grampos – ela falou segurando o riso, atraindo para si minha atenção novamente. Ela permanecia quieta sob minhas mãos, inclusive já tinha até tirado o casaco.

Mas ainda faltava algo.

Olhei-a atentamente por um segundo. E então eu soube o que estava faltando.

Com um movimento rápido, e até que bem profissional – preciso me gabar sobre isso – eu baguncei um pouco o seu cabelo impecavelmente alinhado. Era certinho demais pro meu gosto. Bella fez uma careta e ameaçou falar alguma coisa, mas eu nem dei ibope. A franja recém cortada lhe caiu sobre os olhos e, no instante que ela levantou uma das mãos e a jogou para trás, eu soube que ela estava pronta.

– É isso! Você está perfeita! – eu disse, saindo rápido de dentro da cabine e a deixando com cara de ponto de interrogação. Antes de colocar o dinheiro na máquina novamente, eu gritei para ela: – Não se mexa!

O flash disparou novamente e quando a foto saiu, não deu pra conter o fiu-fiu que me escapou dos lábios. Puta merda! Ela tinha ficado muito gostosa, mas muito mesmo! Não de um jeito artificial e pornô, mas natural e impressionantemente sedutor.

A garota tinha futuro. E eu comecei a sentir uma dor de cabeça paterna assombrando a minha cabeça.

– Deu certo, Emmett?

Olhei para ela com um sorriso enorme.

– Ficou excelente, melhor do que eu imaginava – entreguei as duas cartelas de foto para ela, a nova e a antiga. Vi Bella arfar de surpresa ao fazer a comparação.

– Não parece a mesma pessoa! – comentou ela, olhando bestificada de uma cartela para a outra. – Tem certeza de que sou eu mesma nessas fotos?

– Absoluta – eu sorri para ela, colocando outra nota na máquina e selecionando a opção de múltiplos disparos. – Agora chega pra lá, que o mestre aqui vai te ensinar como se tiram verdadeiras fotos.

Voltei a dividir a cabine com ela, e enquanto a máquina fazia os múltiplos disparos, eu fazia uma careta diferente. Bella riu o tempo todo – riu de verdade, como eu nunca a tinha visto fazer desde a primeira vez que coloquei os olhos nela. Saímos da cabine e um casal jovem que passava por ali olhou curioso para nós dois. Rindo daquele jeito, até parecia mesmo que Bella e eu éramos namorados.

Ótima piada, né?

Peguei a terceira cartela de fotos e a mão da Princesa, levando-a de volta para o estacionamento. Eu tinha ficado ótimo mesmo nas fotos, e a Bella saiu na maioria delas rindo de mim. Somente em umas duas é que ela tentou imitar o meu olhar, aquele olhar matador e de pura sedução, mas o dela nem chegava perto da intensidade do meu. Mas estava até que bom, devo acrescentar. Se ela praticasse...

– Vou ficar com uma dessas aqui – eu disse, destacando uma das nossas fotos de “pura sedução”. – Você pode ficar com as outras.

– Eu acho que Alice e Edward vão gostar de ver essas fotos, principalmente as que você fez careta – ela sorriu, olhando-as pela última vez antes de guardá-las junto com as outras em um dos milhares bolsos do seu casaco.

– Ahh, eles vão é pagar um pau, isso sim – eu me gabei, quando saímos para o estacionamento.

– Pagar um pau?

– É, é uma gíria que quer dizer ficar morrendo de inveja – eu expliquei, segurando o riso. – Me lembre de começar a te ensinar umas gírias depois, Bella.

Ela assentiu e no instante em que alcançamos o carro e eu abri a porta para ela, a gata disparou como um míssel direto para o colo da dona, miando o que eu interpretei como feliz e irritada ao mesmo tempo. Deixei-as entrar e no meio daquela seção ternura, eu saí do shopping e segui para o sul da cidade.

Algum tempo depois o cenário dos edifícios grandes e luxuosos começou a ficar para trás, dando lugar a uma paisagem mais real. Prédios em variados tons de marrom, não arranha-céus, como era comum ver em Nova York, mas conjuntos habitacionais começaram a preencher a visão à nossa volta, enquanto eu seguia para o familiar caminho do Brooklyn.

– Onde estamos? – perguntou Bella, olhando com curiosidade pela janela.

– Brooklyn – eu respondi. – A periferia do condado de Nova York.

Eu percebi que ela ficou quieta, apenas olhando para as pessoas e crianças nas calçadas que paravam tudo o que estavam fazendo para olhar para o incomum Land Rover negro de luxo e vidros escuros que passava nas ruas do bairro humilde.

– Aposto que isso a deixa desconfortável, não é mesmo? – eu disse, com um pouco de sarcasmo misturado à tristeza na voz. – Uma Princesa de verdade não deve conhecer de perto o que é ser humilde e pobre. Você cresceu em um ambiente cercada de luxo, com tudo do bom e do melhor, coisa que a maioria dessas pessoas nem pode imaginar o que é.

Bella desviou o olhar da rua pela primeira vez, para me olhar seriamente.

– Emmett – ela disse em um tom muito sério e seguro, o que naquele momento a fez soar muito mais velha e sábia. – Sim, eu sou uma Princesa e cresci no meio do luxo, mas isso necessariamente não quer dizer que eu não sei o que é ser humilde e menos favorecido. Em Bharsóvia, eu também tinha súditos humildes. Eles podem não ser como essas pessoas, mas não possuíam a mesma riqueza que muitos tinham. E uma das coisas que o meu pai me ensinou, o Rei, foi que todos são pessoas. Não importa que tenham dinheiro, posses, bens, três braços ou uma única perna, mas tenho que enxergá-las da mesma forma. Apenas pessoas.

Eu fiquei sem saber o que dizer. Pela primeira vez na vida, alguém me deixou totalmente sem uma resposta.

– Lá em Bharsóvia de vez em quando eu fazia visitas sociais – continuou ela, sorrindo ao ver crianças deixarem as calçadas para começarem a correr perto do carro. – Algumas vezes por ano, como Princesa, eu tinha eventos de caridade com os meus súditos. As crianças me adoravam, ficavam encantadas com coisas materiais como meus vestidos, joias e glamour. Até Preciosa ia, reclamando um pouco, mas ia.

Eu ri, porque não consegui imaginar de jeito nenhum a Princesa, toda delicada e intocável, brincando no meio de um bando de crianças encapetadas. Principalmente com a Malgata junto.

– Eu nasci e passei a minha vida toda neste lugar – falei, mil imagens da minha infância na mesma hora surgindo em minha mente. – Meus pais não tinham grana, de modo que eu era o maior sucesso do Brooklyn.

– Você era muito famoso? – perguntou ela, sorrindo sem acreditar.

Eu sorri torto de volta para ela.

– Bella, olha bem para mim – eu disse, olhando-a sem dizer nada por um longo momento. – O que um garotinho loiro, branquelo e de olhos azuis estaria fazendo por aqui? Eu tenho o perfil de gente que não frequenta esse lugar. Aqui, mais de 95% da população é negra. Claro que eu iria me destacar, como o ET do Brooklyn.

– Esse é um pensamento extremamente obtuso – discordou ela.

– Eu sei, e por isso eu era o obtuso do grupo – brinquei. – Todos me conhecem por aqui como Alemão. E eu praticamente conheço todo mundo que mora por aqui, assim como tem vários lugares do Brooklyn carimbados pelo meu DNA.

Ela riu.

– Sério – eu confirmei, rindo também. – Eu era terrível quando era garoto, vivia arrebentado por todos os cantos. Minha mãe até estranhava quando eu voltava para casa limpo, com a roupa inteira ou sem nenhum roxo ou arranhão pelo corpo.

– Eu estou conseguindo te imaginar mais novo, agente – ela sorriu.

– Pois é, eu te falei que eu sempre fui celebridade nesse lugar... Até que um dia, quando eu estava perto de fazer dezoito anos, eu choquei a minha família. Joguei neles a bomba de que eu queria ser policial, ou melhor, agente do FBI. Coisa bem incomum para qualquer um daqui.

– E eles aceitaram bem a ideia?

– Meu pai foi contra no começo, pois nós sabemos o que pode acontecer a qualquer momento com um tira. Principalmente um que frequente bairros de periferia, cheio de máfia, marginalidade e violência – eu sorri brincalhão para ela, como se não fosse nada demais o que eu estava contando. – Sabe como é, não ter como saber que a sua hora chegou, levar um tiro no meio da testa e cair duro no chão... Já a minha mãe, chorou muito no começo, mas depois ela disse que qualquer coisa que me proporcionasse um futuro verdadeiramente promissor e longe daqui seria bom.

– Nossa... Eu não imaginava que você tinha passado por esse tipo de coisa – ela disse baixinho, tocando meu antebraço gentilmente.

– Pois é, mas eu não me incomodo – eu dei de ombros, mostrando que aquilo nunca me atingiu de verdade. – Assim que eu completei dezoito anos, me inscrevi na Academia de Polícia e passei no teste. Meus pais continuaram aqui e eu me mudei para o outro lado do país. Fiquei um ano por lá, me formei como policial e fui para Washington. Lá fica o quartel do FBI, e foi onde eu conheci o Edward.

– Vocês estão juntos desde lá?

– Sim, eu conheci a mala sem alça e com rodinhas tortas do Ed lá – eu contei, relembrando mentalmente algumas das nossas piores histórias por lá. – Ficamos três anos por lá, que é bem puxado, e no fim do ano passado nos formamos. Fomos designados para trabalhar em Nova York, no escritório local do FBI. Ed ganhou o apartamento dos pais e me chamou para morar com ele.

Eu fiz uma pequena pausa, parando em um dos poucos semáforos que tinham por ali e acenando para algumas crianças que corriam das casas para nos ver passando.

– Sabe, Edward e Alice vêm de uma boa família, cheia da grana e tudo mais. O pai dele, o doutor Carlisle Cullen, é um renomado cirurgião neurologista da cidade e sua mãe, Esme, é a melhor arquiteta deste lado do país. Eles não surtaram muito quando Ed contou da sua escolha, apenas disseram que queriam o melhor para ele. Mas Edward me contou que o sonho deles sempre foi vê-lo formado médico, apesar de não tocarem mais no assunto hoje em dia.

– E os seus pais, Emmett? – ela perguntou, apesar de soar insegura.

A pergunta me pegou desprevenido.

– Meus velhos não moram mais aqui – eu respondi, surpreso com a confiança mútua que começava a aparecer entre nós. – A primeira coisa que eu comprei com o meu dinheiro foi uma boa casa para eles. São Francisco é um lugar bom pra caramba, e eles estão bem felizes por lá.

– Eu tenho certeza de que eles devem ter muito orgulho de você – ela disse gentilmente, sorrindo para mim.

– Eu faço o meu melhor para isso – eu disse mais para mim mesmo, sem coragem para olhá-la nos olhos, apertando mais meus dedos ao redor do volante. – Sabe, você é a primeira pessoa de fora deste lugar para quem eu conto a minha história. Edward já me perguntou várias vezes, mas eu sempre consigo distraí-lo com outras coisas. Não que eu sinta vergonha, mas é que eu não preciso que ele sinta pena de mim.

A Princesa me surpreendeu pela segunda vez naquele dia.

– Obrigada por confiar em mim – ela colocou a sua mão por sobre a minha, forçando-me a olhar para ela. – Sua história não faz de você um merecedor de pena, mas um exemplo a ser seguido. Eu sei que você é muito mais do que aparenta ser, Emmett. Obrigada por compartilhar um pedaço de sua vida comigo. Seu segredo é o meu segredo a partir de hoje.

Eu respirei fundo e parei o carro, me dando conta de que havíamos mesmo chegado e a partir de agora o assunto era sério. Não era mais hora para brincar.

– Eu devo te agradecer, Bella – eu disse a ela, quando consegui encontrar a minha voz novamente. – Você com toda a certeza será uma ótima Rainha para o seu povo. É muito mais sábia, nobre e admirável do que qualquer mulher que eu já conheci em toda a minha vida.

Ela deu um pequeno sorriso para mim.

– Eu faço o meu melhor para isso – ela repetiu as minhas palavras, o que fez a nós dois sorrir novamente. – E você me ensinou muita coisa hoje, agente.

Desliguei o carro e voltei a olhar para fora, agora não mais como o Emmett ou o Alemão, mas como o Agente McCarthy treinado pelo FBI. Examinei a rua deserta com atenção redobrada, procurando por possíveis ameaças ou movimentos nas sombras.

Uma das coisas que eu aprendi no Brooklyn é que, onde há silêncio, inimigos aguardam pacientemente pelos tolos desavisados.





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Notas finais do capítulo

O que acharam do capítulo??
Que tal deixar muuuuitos comentários pra mim?
Gostaria de pedir que, se possível, vcs recomendassem (DES)EDUCANDO uma Princesa, ou indicassem pra alguém que vcs sabem que gosta de ler fanfics. Leitores a mais nunca é pedir demais, e claro, mais comentários sempre trazem mais capítulos ;)
Beeijos! ♥