(DES)EDUCANDO Uma Princesa escrita por Vamp Writer


Capítulo 5
Capítulo 04: COMPRAS, COMPRAS, COMPRAS, COMPRAS!


Notas iniciais do capítulo

Olá meninas!
Depois desses comentários perfeitos, é óbvio que eu tinha que postar mais pra vcs!
Sério, fiquei mtmtmtmt feliz aqui! Que bom que estão gostando da fic, isso é realmente ótimo *----*
Obrigada pelos reviews! Espero que curtam o capítulo :)



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Bella



Acordei na manhã seguinte bem menos cansada. Senti que estava em meu estado normal, quando algo me fez atravessar o quarto e ir até a varanda. O céu continuava nublado e bem feio, e a temperatura estava mais baixa do que a do dia anterior – o que me causou um arrepio de frio.

Ao olhar para baixo, na direção da rua, lá estava... ele.

Hoje ele usava uma camisa branca com alguns botões desabotoados – que expunham um pequeno pedaço da linda pele castanha, uma calça escura e um paletó preto aberto. E lá estava ele novamente sorrindo para mim, daquele jeito como ninguém nunca sorriu antes.

Eu fiquei me perguntando o que ele tinha visto em mim, porque eu não estava apresentável de maneira alguma – e deveria estar dentro do quarto! Uma Princesa jamais poderia ser vista neste estado no qual eu me encontrava... mas aqui estava eu.

E ele não parecia notar nada disso, apenas eu.

Eu o observei erguer uma das mãos e acenar para mim. Senti um pequeno sorriso crescer em meu rosto e, da mesma forma que ele havia aparecido, quando dei por mim ele não estava mais lá.

Preciosa exigia a minha atenção, enroscando-se em minhas pernas com aquele seu miado impaciente.

– Bom dia, minha linda Preciosa – eu disse, abrindo os braços para pegá-la no colo.

A porta do quarto foi escancarada naquele instante e eu vi Alice aparecer com os braços carregados de roupas, mal se tornando visível. Ela despejou tudo sobre a cama e surpreendeu-se ao me ver ali, parada.

– Ah, que bom que está acordada. O que está fazendo aí nessa janela? – ela veio até mim e começou a me empurrar de volta para dentro do quarto enquanto fechava a porta atrás de si. – Como está se sentindo hoje?

Preciosa resmungou em meus braços, olhando feio para Alice.

– Bom dia, Alice – eu falei, enquanto procurava acalmar minha gata. Olhei então para a pilha de tecidos em cima da cama. – Estou bem. Mas o que é isso?

Preciosa pulou do meu colo direto para a cama, onde começou a remexer no alto da pilha de roupas. Vi Alice fazendo uma careta enquanto se aproximava.

– Enquanto você joga uma água no rosto, diga para a sua gata ficar bem longe das minhas roupas! – ela lançou um olhar feio para Preciosa, que fingiu nem percebê-la. – Sabia que não é nenhum pouco elegante andar por aí com pêlos de gato na roupa?

Preciosa sibilou para ela, lançou-lhe um olhar superior e voltou a enroscar-se com uma echarpe tão branca quanto seu pêlo.

– Preciosa não precisa que eu lhe diga o que fazer, Alice – eu falei, mas não tive chance de dizer mais nada.

Alice já havia me arrastado até o banheiro e batido a porta atrás de si, enquanto eu a ouvia resmungar algo com minha gata no caminho de volta para o quarto. Fiz então o que ela me pediu e quando voltei ao quarto, reparei que ela estava parada em frente à cômoda, olhando-se no grande espelho. E com a minha coroa de Princesa em mãos, a qual eu havia me esquecido completamente.

– Como é... ser uma princesa? – perguntou ela, baixinho.

Fui até onde ela estava e peguei a coroa de suas mãos gentilmente, olhando-a com cuidado. Respirei fundo e me virei para ela.

– Bom... Talvez eu não seja a melhor pessoa do mundo para lhe explicar isso, porque eu nunca fui outro tipo de coisa. Já fui criada desde o berço para ser Princesa de Bharsóvia. Há todo o lado do luxo, do glamour, requinte e essas coisas, mas também tem o lado da responsabilidade. O mundo não é só diversão e um grande baile. Também tenho deveres para com os meus súditos, Alice.

– Não vejo como isso pode ser ruim – falou ela, sorrindo largamente. Ela pegou a coroa de minhas mãos e a experimentou na própria cabeça. Ainda sorrindo pelo reflexo do espelho, seu olhar encontrou o meu. – O que tem aqui nessa belezinha? Brilhantes?

Eu sorri de volta para ela.

– A estrutura é feita de ouro branco, cravejada com alguns quilates de diamantes e brilhantes. Está na Família Real há várias gerações, desde o início do Reino de Bharsóvia. Papai até mandou gravar minhas iniciais na parte de trás.

Quilates de diamantes e brilhantes? – Alice arregalou os olhos e engasgou, o que me deixou um pouco apreensiva.

Ela tirou cuidadosamente a coroa da cabeça – reparei que suas mãos estavam trêmulas enquanto seguravam a minha coroa – e eu lhe apontei o que eu acabara de citar, o I.S.B. gravado na parte posterior da coroa.

– Poxa, deve ser superdifícil ser tão bilionária desse jeito – comentou ela, tocando delicadamente os diamantes na coroa. – Imagine só, crescer em um megapalácio, com criadas para respirar por você, ter seu próprio estilista e um guarda roupa superfantástico... Bailes, joias, caras lindos de morrer e tudo mais.... Você teve uma vida muito difícil, não é mesmo, Bella? Como conseguiu sobreviver esse tempo todo?

Seu tom de deboche me fez baixar os olhos, envergonhada.

Alice soltou um longo suspiro e veio para trás de mim, colocando a coroa em minha cabeça formalmente. Ela ergueu meu rosto e me forçou a olhar para a garota no espelho. A garota que me olhava no espelho agora não tinha o mesmo brilho de felicidade da Princesa Baudellaire que eu era até dois dias atrás.

Parecia mais uma estranha. Uma estranha vagamente familiar.

Uma vez majestade, sempre majestade – citou Alice, sorrindo para mim pelo espelho. Eu retribuí com um tímido sorriso. – Mas por enquanto, vamos guardar a Princesa Baudellaire junto com a sua coroa nesta gaveta aqui.

Ela tirou a coroa do alto de minha cabeça e a colocou em uma caixa pouco maior que a coroa, a qual ela aninhou na primeira gaveta da cômoda branca.

– E agora, seremos só eu e a Bella, a prima do Emm que caiu de paraquedas na minha vida – ela sorriu para mim, enquanto apertava gentilmente meu ombro.

– Mas eu não me lembro de ter saltado de paraquedas – lembrei a ela.

Alice revirou os olhos e antes de voltar para a cama, piscou para mim pelo reflexo.

– É só uma forma de falar, sua bobinha – ela riu e estendeu dois vestidos na frente do corpo, de repente ficando entusiasmada. – Hora de se vestir para as compras! Agora... pretinho básico ou nude de renda?

Eu me virei e olhei rapidamente para cada vestido, ambos lindos.

– Eu prefiro o...

– Você não prefere nada, Bella – interrompeu ela, em um tom ríspido. Eu arregalei meus olhos, chocada. Alice bufou e revirou os olhos, bastante impaciente. – Ah, não me olhe desse jeito... Eu nem te bati, então pode ir parando com essa coisa melodramática de sou-um-bibelô-e-sou-sensível-demais... Aqui, quem dá as ordens sou eu. Depois que eu vi você ontem com aquilo que você chama de lingerie ou sei lá o quê, honey, você não opina mais nada. Só veste e diz um “sim, Alice!”.

Eu estava chocada e boquiaberta. Até Preciosa tinha parado de brincar com uma peça de roupa e passado a olhar Alice com uma expressão bem desconfiada.

– Vejamos... onde é que eu estava mesmo? – ela pensou por um segundo, esquecendo-se completamente de nós duas ali. – Claro! O vestido. Eu adoro esse nude, porque é supertendência, mas... acho que você vai ficar bem neste aqui.

Ela atirou o vestido preto em cima de mim, sem nem me olhar.

– Vista isso, Bella. Vou te deixar a própria Bonequinha de Luxo.

– Você não vai me vestir, Alice? – perguntei, enquanto pegava o vestido que tinha escorregado para o chão.

– O quê?! – ela quase gritou, escancarando a boca em choque. Depois estreitou os olhos e fez uma cara feia para mim. – Sinto muito, ou melhor, não sinto nada, mas você já é grandinha o bastante para fazer isso! Agora, coloque suas Mãozinhas Reais para trabalhar enquanto eu procuro um sapato divino pra você.

Sem que eu pudesse dizer mais alguma coisa, ela saiu do quarto murmurando algo consigo mesma, me deixando novamente a sós com Preciosa.

– Acho que é melhor eu não contrariá-la – falei para Preciosa, que soltou seu “miaau”.

Coloquei o vestido e ainda estava um pouco atrapalhada com o zíper nas costas, quando Alice voltou ao quarto com mais coisas nas mãos. Ela balançou a cabeça em desaprovação e veio até mim, puxando o zíper com facilidade. Quando dei por mim, eu já estava com um cinto branco preso na minha cintura.

Olhei para ela com bastante insegurança, me sentindo deslocada.

– Alice, tem certeza de que este traje é... – hesitei, tentando encontrar uma palavra certa enquanto me sentia extremamente desconfortável naquele vestido sem mangas, com decote quadrado e curtíssimo, na altura dos joelhos.

Tom jamais permitiria que eu usasse algo tão revelador.

– Este traje é perfeito, Bella – ela me censurou, fazendo careta para a minha cara de dúvida. – O vestido de alfaiataria é sério e formal, mas eu consigo quebrar esse visual de conservadora com o cinto branco de laço preso em sua cintura. Agora, calce estes sapatos... Ah e, por favor, me diga que você sabe andar de salto alto.

– Sei sim, Alice – respondi, enquanto pegava os sapatos que ela me estendia.

– Não sei quanto você calça, mas pela sua altura, deve ser alguma coisa próxima do meu número... Aliás, quanto é que você calça?

– Quanto eu calço? – repeti, sem entender.

– É, de sapatos, sandálias, botas e coisas assim... – ela revirou os olhos. – Falando nisso, aquele seu sapato que você veio do seu país é fa-bu-lo-so! Nunca vi nada parecido em nenhuma grife do planeta, sabe? Você precisa me passar o telefone do estilista depois. Mas voltando... qual é mesmo o seu número?

– Eu não sei – respondi sinceramente.

– Como assim? Não me diga que você não sabe o tamanho do seu próprio pé? – ela quase gritou, mas pareceu recuperar o fôlego e voltou a me encarar.

– Não, espere aí... Não me diga que é mais uma daquelas coisas exclusivas de Princesa? Você tem pessoas que fazem sapatos só para você? – perguntou ela, e quando eu assenti confirmando, ela desabou sobre a cama fazendo Preciosa chiar atrás dela. – Deus, por quê é que eu não nasci Princesa? Sou tão desprezível assim para ser somente uma reles e insignificante mortal?

Alice estava me dando dor de cabeça de tanto que ela falava.

Antes que eu pudesse dizer algo, ela já estava apontando imperiosamente para os sapatos em minhas mãos. Com um suspiro, eu sentei na poltrona perto de mim e coloquei o par de sapatos de salto alto preto – o primeiro que eu colocava na vida. Mas algo me disse que não seria bom comentar aquilo com ela. Então, eu sorri ao ver que cabia perfeitamente em meus pés e Alice também fez o mesmo.

– Agora, que tal você dar um jeito no seu cabelo enquanto eu vou trocar de roupa? – ela sorriu e em um salto ficou de pé, indo até a porta do quarto. – Ah, e antes que eu esqueça, tenho que te lembrar que a sua gata vai ficar aqui. Afinal, todo mundo sabe que animais não são bem vindos em shoppings.

– Mas Preciosa...

– São as regras daqui, Bella. Lembre-se disso: vida nova, lugar novo, regras novas.

Não, eu não ia ter coragem de dizer aquilo à Preciosa. E também, eu sabia que ela era inteligente o suficiente para entender o recado de Alice, de modo que quando eu pensei nisso, ouvi seu miado de insatisfação.

Procurando não olhar para ela, porque com certeza eu iria acabar ficando com peso na consciência, me virei para o espelho e passei a me concentrar no meu cabelo. Tom era mil vezes melhor naquilo do que eu, mas em caso de necessidade, como agora, eu conseguia me virar sozinha. Achei uma escova e alguns grampos sobre a penteadeira e juntei meu cabelo todo para cima, prendendo-o em um coque que eu costumava usar bastante.

Saí do quarto, bem satisfeita com meu desempenho, seguida de perto por minha gata. Encontrei Alice pronta, parada em pé ao lado da porta.

Ela usava um vestido azul escuro com um decote bem incomum, de um único ombro, que descia ajustado em seu corpo até a cintura e caía solto por seu corpo. Se eu já estava horrorizada e morta de vergonha com o meu atrevimento, no caso de Alice, era bem pior. Seu vestido chegava até a metade das coxas, deixando à mostra muita pele de seu corpo. Em Bharsóvia, damas jamais deixavam seus tornozelos – quanto mais joelhos! – à mostra, como ela (e inacreditavelmente eu também) estava fazendo.

Ela fez uma cara de puro desgosto para mim, batendo suas botas no chão.

– Eu arraso na sua produção e você me faz um coque de madame no cabelo? Você tem o que, uns setenta anos?

– Eu não sabia que...

– Tudo bem, tudo bem... – ela respirou fundo e pegou dois casacos sobre o sofá, que eu nem havia reparado. Ela sorriu e fez um gesto para que eu me aproximasse. – Vamos dar um jeito nessa sua ignorância fashion logo mais, porque você terá tempo para aprender tudo isso. Agora vista esse casaco porque lá fora está bem frio... Veja como eu sou generosa, estou te emprestando um dos meus Burberry favoritos – ela me ajudou com as fivelas e botões, vendo que eu estava tendo certa dificuldade. Depois, ela deu um sorrisinho para mim. – Ficou perfeito, assim como quando eu uso. Agora vamos, a gente come algo no caminho.

Tive tempo somente de jogar um beijo para Preciosa antes de Alice fechar a porta e me puxar para um pequeno corredor. Andamos apenas alguns passos, quando ela parou em uma porta idêntica à sua, ao lado.

– Alice, o que estamos fazendo aqui? – perguntei, enquanto a via procurar por uma chave em um chaveiro enorme.

– Shhh! – ela fez um gesto de silêncio para mim, enquanto girava a chave na porta. Ouvi um clique e ela virou-se para mim com um sorriso travesso no rosto, antes de voltar a sussurrar. – Estamos invadindo o apartamento do Edward e do Emmett.

– E por quê estamos fazendo isso? – sussurrei de volta.

Ela abriu a porta silenciosamente e antes de entrar, puxou o zíper das botas e tirou um pé de cada vez, entregando-as rapidamente para mim.

– Segure isto para mim, tire os sapatos, não encoste em nada, não faça barulho e venha comigo – mandou ela em um único fôlego, entrando no cômodo escuro.

– Mas isso não é errado? – sussurrei, enquanto tirava os sapatos.

Ela sorriu largamente para mim.

– O que os olhos não veem, o bolso não sente.

Eu a segui para dentro do apartamento, que estava escuro pelas grossas cortinas fechadas e em um silêncio mortal. Não havia sinal de nenhum dos dois.

– Agora você me avisa se algum dos dois aparecer – sussurrou ela, apontando um corredor à minha esquerda. – Vou procurar pela carteira do Edward. Ele é quem sonha se acha que vai sair um centavo do meu lindo bolsinho de grife.

Ela andou na ponta dos pés até contornar um sofá, inclinando-se sobre a mesa de centro e começou a procurar algo por ali. Eu fiquei olhando furtivamente para o lugar que ela apontou, onde eu reconheci serem os quartos, como no apartamento dela. Então eu a vi pegar algo preto, abrir e procurar até encontrar algo. Ela piscou para mim, sorriu e agitou algo pequeno nas mãos enquanto voltava para a porta.

Alice estava...

– Você estava roubando o seu irmão? – perguntei surpresa, quando ela me puxava para fora.

– Shhh! – ela falou de novo, agitada. Puxou a porta rapidamente e a bateu fazendo o menor ruído, depois a trancou e voltou-se para mim. – Quase que você acordou todo mundo!

Ignorei sua bronca enquanto ela pegava suas botas de volta e as calçava.

– Você estava roubando o seu irmão? – repeti, em um tom acusadoramente sério.

Ela olhou bem dentro de meus olhos e deu de ombros.

– Como eu já disse, o que os olhos não veem o bolso não sente... Bella, não seja tão certinha. Não foi tão roubo assim...

Eu a olhei severamente.

– Roubo é roubo, Alice – eu a repreendi, com meu tom de autoridade.

Ela revirou os olhos e riu.

– Edward é o responsável por você, então nada mais justo do que ele arcar com suas necessidades vitais. E além do mais, eu estou sendo caridosa, porque nem estou cobrando meus honorários de personal stylist. Agora calce estes sapatos, porque o elevador já está aqui no nosso andar.

Eu não aceitei aquilo de imediato, mas deixei para uma discussão posterior. Calcei os meus sapatos rapidamente e a segui até onde estavam duas portas metálicas, que se abriram quando ela apertou um pequeno botão. Ela me puxou para dentro e apertou outro botão, enquanto eu olhava admirada para o enorme espelho de perfil atrás de nós e as paredes laterais forradas por um tecido nobre e caro, bege com filigranas em dourado.

– Deixa eu te mostrar meu lado de vidente – sussurrou ela perto do meu ouvido, olhando para mim com um sorriso torto pelo espelho. – Você também nunca andou de elevador, adivinhei?

Eu a olhei boquiaberta.

– Você é realmente boa nisso! – elogiei, admirada.

– Você ainda nem imagina o que eu sou capaz de fazer, honey – ela falou, sorrindo largamente para mim.



Alice



O percurso de carro até o shopping foi tranquilo... exceto pela Princesa Caipirona, que cada hora ficava mais boquiaberta e apontava para coisas banais como se fosse uma garotinha enfeitiçada dentro de uma loja de brinquedos.

Primeiro, foi com o meu lindo bebê – meu fantástico Porsche 911 Turbo amarelo canário. Eu sei que ele é mesmo lindo e tudo mais, mas a garota pareceu nunca ter visto, ou pior, nunca ter chegado perto de um carro na vida. Depois, foi quando paramos na minha cafeteria preferida e eu desci para pegar algo para comermos. Mesmo dentro do carro e camuflada pelos vidros escuros, eu a peguei olhando para cada pessoa que passava na calçada com uma visível curiosidade.

Assim que chegamos ao shopping, eu já tinha todo o plano da Operação Batismo Fashion – sim, eu sei que era um nome muito bom, porque eu literalmente ia mergulhá-la de cabeça em um novo mundo – arquitetado cuidadosamente em minha mente. Cada coisa que precisava ser comprada, cada loja que tinha que ser visitada...

Mas antes de qualquer coisa, eu já tinha uma prioridade.

Acabar com aquele vergonhoso fio reto que ela ousava usar era uma questão de honra para mim. E olha que Alice Cullen nunca foge de um bom desafio, por mais impossível que ele possa parecer. Sou capaz de escalar o Everest com meus Loubotin de 15 cm confortavelmente, como se subisse apenas a um lance de escadas.

– Aonde vamos? – ela perguntou baixinho, caminhando bem pertinho de mim. Sim, estava na cara que ela morria de medo de se perder no shopping.

– Dar início a OBF – eu respondi, virando no corredor certo. Ao ver sua já familiar cara de interrogação, eu apressei em me explicar. – OBF é a sigla legal que eu inventei para Operação Batismo Fashion, que é o que eu vou fazer com você. Ah, ali está!

Puxei-a pela mão até as magníficas portas douradas do meu Paraíso – The Space P, o salão de beleza e estética mais badalado de Nova York – cumprimentando de volta a todos que sorriam para mim. Bella vinha atrás de mim, bastante deslumbrada. Acho que ela nunca vira tantos espelhos juntos na vida – e confesso também que até eu me surpreendi quando entrei aqui pela primeira vez.

E daí que ela estava bancando a retardada? Pelo menos no visual, ela estava arrasando. Onde estavam as minhas palmas?

– Alice, sugar!

Aquela voz escandalosamente animada automaticamente me fez parar de atravessar o mar de manicures e me virar para a direita. Pierre – para os megaíntimos como eu, apenas Pi – abriu seu sorriso de cem mil dólares quando me viu, largando na mesma hora a tesoura e a mecha de cabelos que segurava em mãos. Outra funcionária assumiu seu lugar enquanto ele vinha até onde estávamos.

– Pi, meu divo! – eu o abracei, como sempre.

– Que felicidade vê-la irradiar sua beleza por aqui, minha deusa – ele sorriu quando me soltou e segurou minhas mãos. – Faço questão de atendê-la pessoalmente.

Pi me levou até a cadeira livre mais próxima, onde me virou de frente para o espelho e já foi passando a mão com habilidade por meu cabelo.

– Está fabulosa hoje, sugar. Arrasou no visu! – elogiou ele, piscando para mim pelo espelho enquanto afofava meu cabelo para frente.

Claro que o meu ego a essa altura, já não cabia mais naquele shopping.

– Obrigada, meu querido. Mas hoje a estrela por aqui não serei eu.

Ele me olhou confuso, enquanto eu indicava na direção de Bella levemente com a cabeça, parada alguns passos atrás de nós nos observando.

– Pi, essa é Bella McCarthy – eu apresentei, me levantando da cadeira e me virando na direção dela. – Bella, venha até aqui por favor. Ela é uma amiga que a partir de agora vai começar a andar bastante comigo.

Bella aproximou-se devagar, andando com toda aquela classe dela de realeza – tá, eu tenho que admitir que era até de dar uma invejinha das boas. Ela parecia deslizar e carregava a atenção de todos a cada passo que dava.

Eu torci silenciosamente para que ela não estivesse esperando que todos se curvassem diante dela, quando parou na minha frente. Seus olhos estavam atentos aos meus, em busca do que fazer, enquanto Pi dava uma volta ao seu redor, avaliando-a criteriosamente em silêncio dos pés à cabeça.

– Bella, este é Pierre Legrand, personal hair e dono do The Space P. Ele é o melhor profissional desta área em toda Nova York.

– Ela é o seu novo bibelô? – perguntou ele seriamente, mas ainda com os olhos nela.

– Praticamente isso – eu sorri para ele, assentindo. – Pi, temos aqui um diamante bruto. E você, como o mais extraordinário do país, creio que conseguirá lapidá-la. Bella é virgem em todos os sentidos que você possa imaginar, nos bons e ruins – eu acrescentei baixinho, sorrindo torto para ele.

Bella ficou vermelha. Ele apontou na direção da cadeira para que ela se sentasse, e suas mãos rapidamente começaram a trabalhar. Ele tirou todos os grampos do cabelo dela, desmanchando o coque, e quando a longa cascata de cabelos negros caiu sobre suas costas, ele deixou escapar um gritinho de horror.

– Minha Nossa Senhora das Tesouras Milagrosas! – ofegou ele, com a mão no coração, olhando horrorizado do cabelo dela para mim. – É fio reto, Alice!

Bella olhava para nós através do espelho com cautela.

– Eu te disse que ela era virgem pra caramba, tipo a Deusa das Virgens – lembrei a ele, rindo. – Posso jurar para você de pés juntos e diante de toda a nova coleção Dior que este cabelo é tão puro e intocado quanto o próprio sol. E agora, ele é todo seu.

Pi sorriu largamente, quase quicando ao meu lado.

– Há tantos anos que eu não via uma calamidade dessas – comentou ele baixinho, só para nós. – Queridinha, você está fazendo um gay muito feliz hoje.

Bella sorriu para ele através do espelho.

– O que vai fazer no meu cabelo?

– O que eu posso fazer com ela? – ele perguntou para mim.

– Você é livre para fazer tudo o que quiser, Bella precisa de tudo o que você puder oferecer – eu respondi, me sentando na cadeira desocupada ao lado. – O céu é o seu limite, honey.

Pi deu sua famosa risadinha, exibindo o seu lado mais gay.

– Bella, vou transformá-la em uma deusa... Na verdade, você vai ser digna do seu título de Deusa das Virgens – ele sorriu torto, piscando para mim. – Megan Fox vai ter inveja de seu sex appeal e nenhum homem vai continuar pensando por muito tempo com a cabeça de cima ao seu lado.

Estava na cara que ela não entendeu nada, mas nós dois estávamos às gargalhadas.

– Vou te deixar primeiro na depilação, para a incrível Katty tirar todos os pêlos do seu corpo – ele olhou para mim, como se pedisse autorização. Eu assenti, encorajando-o. – Você vai voltar incrível e mais lisinha do que uma estátua de porcelana. Mas não se preocupe, não vai doer... Tá, nem tanto assim.

Bella deixou-se levar para o andar superior, onde era o andar estético. Pi passou-a na frente de todas as clientes, pedindo desculpas e dizendo que quem tivesse algo para reclamar, que falasse com ele. Certo, ninguém ia fazer isso nem morta! Ganhar a inimizade de Pierre Legrand era o mesmo que ser vista como leprosa.

Ele a deixou lá, na sala a sós com a Katty, enquanto vinha se sentar ao meu lado do lado de fora. Ficamos trocando informações de alto nível cultural – hello!, eu jamais faço fofoca! De início, estava tudo quieto e tranquilo, então imaginei que Bella deveria estar aguentando numa boa a depilação. Afinal, ela era uma Princesa, e eu tenho certeza que é totalmente contra o regulamento princesas saírem berrando aos quatro ventos. Mas então começaram os gritos.

– Pobrezinha, a primeira vez a gente nunca esquece – Pi disse, solidário.

– Tem razão – então, eu lancei-lhe meu melhor sorriso malicioso. – Você também se lembra de tudo da sua primeira vez, não é?

– Lógico, bitch – ele piscou para mim, dando um tapa em minha coxa.

Lembrei-me então de um detalhe e peguei meu celular do bolso. Pedi um segundo a ele, enquanto escrevia a mensagem de texto. Digitei rapidamente e selecionei enviar.



Estou no Paraíso e preciso ver vc URGENTE, daqui há umas 3 horas.

Missão bombástica para resolvermos, então.. NÃO ouse me dar o bolo.


[...]



– Oh, estou tão orgulhoso de você, Bella! – Pi cantarolou, fungando e quase chorando de verdade.

E ele tinha a razão. Nem parecia mais aquela virgem imaculada de três horas atrás.

Além de estar decentemente depilada, como uma garota de verdade e não como uma loba, unhas e sobrancelhas muito bem feitas, o corte de cabelo tinha ficado incrível. Pi deixara a cor original do cabelo, afinal, aquele preto é poder de sedução, mas abusou no corte. Tirou vários centímetros do seu cabelo, que antes batia na cintura e agora estava dois palmos abaixo dos ombros. E completamente repicado, o que combinava bem com seu cabelo liso e a deixava com um ar “acordei sexy e posso te seduzir a qualquer hora do dia ou da noite”. Ah, tá. Para isso, faltava A atitude.

– Você está sexy mesmo, Bella – eu elogiei, também sorrindo para ela. – Nem parece aquela bobinha que entrou aqui algumas horas atrás.

– Eu ainda sou a mesma, mesmo depois de toda aquela dor – ela disse, fazendo uma leve careta. – Não sabia que teria que passar por tortura nesse lugar.

Sugar, ela pode continuar sexy... – Pi virou-se para mim, falando seriamente. – Mas só se mantiver a boca amordaçada. Se ela falar alguma coisa, acaba com todo o clima de pantera “rawnr” e volta a ser uma gatinha domesticada.

Nós trocamos um sorriso, enquanto Bella olhava admirada para seu novo eu. Sério, ela ficou hiperchocada com toda a mudança. Mas não reclamou nadinha. Ainda.

– Tudo bem, vou mantê-la de boca calada – eu assegurei a ele, colocando-a de pé. – Mas tenho a esperança de que um dia ela consiga liberar sua pantera interior.

– Que os deuses te ouçam, porque isso eu quero ver. E na primeira fila – ele veio até nós, deu um beijo em cada uma e nos abraçou.

Despedimos de todos e saímos pelas portas do salão, que agora começava a ter mais movimento. O shopping também começava a ficar mais cheio, mas não lotado, porque eu não frequento shoppings lotados. Até parece, né?

– Psiu! – eu ouvi chamarem atrás de nós.

Virei-me devagar e lá estava ele, impecavelmente pontual como sempre.

– Ei, eu pensei que você me daria o bolo – Chad disse acusatório, enquanto se aproximava de nós com seu sorrisinho metido.

– Você é insuportavelmente chato com toda essa sua pontualidade britânica às vezes, sabia? – eu disse rispidamente, mas estava com um sorriso no rosto. – Ah, belos óculos de sol. Chanel ou Dior?

– Armani, obviamente – respondeu ele, presunçoso. – Bem, já estou aqui... Qual é o motivo de tanto estresse?

Sem dizer nada, apenas dei um passo para o lado, revelando Bella, que eu sabia que estava parada bem atrás de mim.

Chad levantou os óculos de sol, revelando seus lindos e brilhantes olhos azuis, e estreitou os olhos enquanto a encarava de cima a baixo. Bella olhou de volta para ele, desviando o olhar para mim de vez em quando.

– Bella, este é Chad Rey. Chad, esta é Bella McCarthy – tratei logo de apresentá-los. – Bella é prima do Emm, veio do Reino Unido e vai passar uns tempos com a gente. E eu meio que estou ajudando os rapazes a cuidarem dela.

– Prazer em conhecê-lo, Sr. Rey – Bella disse toda formal, estendendo a mão.

Droga! Sr. Rey? Eu quis dar um tapa nela por tanta formalidade.

– Tenho uma única palavra para ela, três letras – ele disse friamente, enquanto estreitava os olhos e olhava para mim por um breve momento. – Oca.

Bella deixou a mão cair e recuou um passo, surpresa. Ela piscou os olhos fortemente, mas não derramou uma única lágrima ou demonstrou qualquer emoção descontrolada. Apenas empertigou-se e o encarou de volta com uma severidade fria.

– Alice – ela me chamou baixinho, mas não encontrou meu olhar.

– Chad, não seja tão ruim – eu o repreendi e fui para o lado dela, colocando a mão em seu ombro, mas ela se afastou.

Ele voltou-se para mim, ignorando-a por completo.

– Você sabe que eu sou sincero, Alice – ele disse, revirando os olhos. – E eu enxergo muito além dessa casca bonitinha que você construiu para essa garota. Ela pode estar bem vestida, com um cabelo lindo, mas está mais claro do que minha água dinamarquesa que ela não tem nada por dentro. Ela não passa de uma concha vazia.

– Saiba que eu tenho conteúdo sim, Chad Rey – ela disse friamente.

– É mesmo? – ele arqueou uma sobrancelha perfeita para ela. – Pois eu não vejo o seu conteúdo. Vejo só uma garotinha assustada que se esconde em um disfarce, não a mulher que deveria ostentar a sua aparência.

– Ei, vamos com calma, ok? – eu refreei ele, fazendo cara feia. – Bella está aqui somente há dois dias, então ela não tem nada. E quando eu digo nada, quero dizer nada mesmo! Eu estou aqui hoje, não, nós estamos aqui hoje para começar a construir uma nova garota. Então você deveria controlar esse seu piti, honey.

– Ela não tem nada? – repetiu ele, distraído.

– Não, nadinha – eu respondi, começando a me sentir aliviada. – Não reconhece o que ela está vestindo? É meu. Eu tive que dar roupas para ela vestir, porque estamos aqui hoje para comprar um guarda roupas decente.

– Você era uma sem teto, por acaso? – Chad virou-se para Bella, quase rindo.

– Não. Apenas perdi toda a minha bagagem quando vim para este país, culpa da companhia aérea – ela respondeu seguramente, direitinho como os rapazes tinham lhe ensinado.

Sorri para ela com orgulho, e ela me devolveu um pequeno e discreto sorriso.

– Chad, acho que alguém está devendo um pedido de desculpas por aqui – eu disse para ele, enquanto forçava Bella a dar um passo para frente comigo.

Chad me encarou por um longo minuto, com aquele olhar de “você não está falando sério, né?!”. Mas eu mantive meu olhar fixo ao dele. Ele suspirou e completou a distância até nós, estendendo a mão para Bella.

– Desculpe-me, Bella. Eu não tive a intenção de te ofender – ele disse, e eu sabia que estava se esforçando. – Não imaginava que fosse ficar ofendida, afinal, você não é feita de açúcar. Apenas tenho esse jeito diferente de ver as coisas, o jeito real.

Bella hesitou, mas depois de alguns instantes, apertou-lhe a mão.

– Tudo bem, Chad. Está perdoado.

– Ótimo – sorri para eles, puxando-os comigo. – Agora que estamos todos amiguinhos de novo e somos um trio de ternura e felicidade, vamos à nossa missão. Compras!

– Ele vai conosco, Alice? – perguntou Bella baixinho, olhando-o desconfiada.

Claro que Chad e eu rimos alto.

– Bella, não tem problema algum Chad vir conosco – eu respondi, mas ao ver aquele olhar de “mas ele é homem!”, tratei logo de completar. – E não precisa se sentir ameaçada. Chad pode vê-la até nua em pêlo que ele não vai lhe fazer nada.

– Exceto correr. Eca, que deprimente! – corrigiu ele, fazendo uma careta.

– Chad é tão menina quanto eu ou você, Bella. Por favor, me diga que você não tem preconceito quanto a gays – eu olhei para ela.

Chad também parou de andar para fitá-la.

– Não, claro que não! – disse ela depressa, com medo de estar dando a impressão errada. – É apenas que eu nunca conheci um gay antes.

Chad arregalou os olhos para mim enquanto nos puxava para uma loja, que tinha uns vestidos lindos na vitrine.

– De que planeta você disse que ela era mesmo? – perguntou ele, sério.

– De Rochester, uma cidade-ovo-de-codorna no sul do Reino Unido – respondi, pegando algumas peças nas araras de roupas.

– Acho bom você me contar absolutamente tudo – disse ele, olhando seriamente dela para mim – dessa garota. Preciso saber com o que eu estou lidando.

E foi assim que nós começamos nossa OBF naquele dia. Claro que eu não tive que explicar muito para Chad, pois ele adivinhou o significado da minha sigla na terceira tentativa – hello! Chad não era só um corpinho bonito, dono de incríveis olhos azuis, sorriso branco brilhante com charmosas covinhas e um cabelo loiro descolado, tudo muito bem distribuído ao longo de seu 1,75m de altura. O garoto tinha uma inteligência incrível, uma sensibilidade adorável e era um verdadeiro encanto.

Enfim, era um verdadeiro desperdício, eu sei. Mas era o gay mais lindo de Nova York.

Nós já havíamos visitado todas as lojas da minha listinha mental, e as de Chad também, fazendo Bella provar milhões de roupas diferentes. Já tínhamos dado duas viagens ao Porsche só para guardar as sacolas e estávamos indo para a última loja, a Victoria’s Secret. Fala sério, Bella precisava de lingerie. E lingerie de verdade.

– Senhora, sinto muito, mas o seu cartão de crédito não foi autorizado – disse a funcionária do caixa, quando eu estava pagando por umas peças que eu havia pego para mim.

Ah, eu merecia, e Edward nem poderia discutir.

– Não foi autorizado? Como assim? – perguntei, grudando-me no balcão para espiar.

– Aqui diz que o limite de crédito foi extrapolado – ela explicou, falando baixo.

– Algum problema, Alice? – perguntou Chad, perto do provador com Bella.

– Não, deixa que eu resolvo isso por aqui – voltei-me então para a funcionária. – Segura essa compra pra mim, que eu vou dar um telefonema.

Afastei-me do caixa então e voltei para perto deles, com Bella ainda experimentando alguma das milhares de peças que empurramos para ela provar.

– O limite do crédito estourou – falei para Chad, fazendo biquinho.

Ele riu, descarado.

– Bem, acho que o irmão delícia vai te matar – zombou ele, piscando para mim.

– Vou ligar para ele agora mesmo e pedir uma ajudinha – falei e respirei fundo, enquanto procurava por meu celular dentro da bolsa.

Encontrei-o e disquei o tão familiar número. Um, dois, três toques.

– Fala, Alice – atendeu ele, com aquela voz impaciente dele.

– Oi maninho querido! – eu disse, usando minha voz mais doce e adorável. – Como você está?

– O que você fez? – ele foi direto ao ponto, nem acreditando na minha boa vontade. – Aliás, onde é que vocês estão? Não tente me enrolar, porque Emmett e eu fomos à sua casa agora a pouco e nada das duas.

– Hummm, verdade? Você ficou preocupado comigo, é? – eu disse toda animadinha, fazendo charme. – Saiba que isso é muito fofo, especialmente vindo da pedra fria e sem coração que tragicamente é o meu irmão... Ah, é você, Ed!

– Pára de me enrolar, Alice – ele me cortou.

– Quanta doçura, Edward – eu disse sarcasticamente, revirando os olhos. – Tá, tudo bem. Eu peguei a Bella hoje e a trouxe pro shopping, pra fazer umas comprinhas. Você sabe que a garota precisava de roupas e tudo mais, né?

Eu o ouvi soltar um longo suspiro do outro lado da linha.

– Claro, você tem razão... – ele concordou, rápido demais. Bobinho! – Vocês vão demorar? Quer que eu vá te encontrar aí? Sabe, eu não acho muito prudente ficar expondo a Bella tanto assim em um único dia, ainda mais em um shopping...

– Foi por isso que eu te liguei – eu disse baixinho, já começando a fazer careta.

– Ahn?

– Bella e eu precisamos de você aqui. E de preferência com sua carteira, e outro cartão de crédito... Eu já estourei o seu – terminei de falar e esperei sua reação.

– O QUÊ?! – ele berrou do outro lado, me fazendo afastar o aparelho do ouvido. Até Chad se encolheu com o berro de Edward.

– Edward, fica calmo, maninho – eu disse suavemente, enquanto fazia cara feia para Chad dando uma risadinha ao meu lado.

Fica calmo o cacete, Alice! – bradou ele, furioso. – Inferno, cadê a merda da minha carteira? – eu o ouvi perguntar, provavelmente deveria estar procurando pelo cartão prateado que agora eu girava em minha mão. – Alice, como é que você pegou o meu cartão de crédito?

Eu respirei fundo e coloquei uma mão sobre as têmporas, já com dor de cabeça por causa do seu chilique.

– Eu peguei hoje de manhã, antes de vir para cá, quando entrei na sua casa.

– Você invadiu a minha casa?! – gritou ele de novo.

– Invadi nada, Edward – eu o censurei. – Você não me ouviu? Eu entrei. Não tem o menor sinal de arrombamento na sua porta, pode procurar. Não sou ladra, muito menos baixo nível desse jeito. Eu entrei na sua casa pela porta, com a minha chave.

– Você tem uma chave da minha casa? Desde quando?

– Você vem ou não?

– Como você conseguiu estourar meu limite? Como conseguiu torrar vinte mil dólares de crédito? – rosnou ele, quase gritando nas últimas palavras.

– Vinte mil dólares? – repeti, incrédula. – Eu nem percebi que tinha gastado isso... E vou te falar uma coisa, Ed, você tem um limite muito baixo. É um absurdo.

Ele grunhiu qualquer coisa masculina não identificável.

– EMMETT! Estamos saindo em um minuto, anda logo com a porcaria desse banho! – eu o ouvi berrar com alguém, enquanto ouvia o barulho de seus próprios passos.

A imagem de Emm só de toalha no banheiro, ou melhor, no chuveiro e todo ensaboado preencheu a minha mente e eu precisei me abanar para não hiperventilar.

– Alice, está me ouvindo? – perguntou Ed, rompendo a minha bolha de felicidade.

– Ahn?

– Eu perguntei em que shopping e que loja vocês estão, sua toupeira – respondeu ele.

– Não me chame de toupeira! – eu o repreendi. Odiava muito quando ele fazia aquilo. – Estou no Upper High, sentadinha dentro da Victoria’s Secret.

– Ótimo, não saia daí. Estamos chegando em dez minutos – disse ele severamente.

– Tá, tá. E não esquece do cartão! – lembrei a ele.

Ele grunhiu novamente e antes que eu pudesse falar mais alguma coisa, ele já tinha desligado na minha cara. Fala sério, os homens são muito escrotos às vezes com essas coisas de grunhir, rosnar e coisas assim. Não estamos mais na pré-história, para ficar nos comunicando com sons primitivos e batendo no peito e tudo mais!

– E aí, ele está vindo? – perguntou Chad, divertido.

– Está. E ficou furioso, você precisava ver – eu sorri para ele, me gabando.

– Eu vou ficar com as suas bolsas da Victor Hugo e as da Prada, quando ele te matar – Chad acrescentou. – Elas são lindas demais para serem atiradas na fogueira que ele vai fazer para queimar seu corpo esquartejado e suas coisas.

– Você é tão adorável, Chad – eu disse a ele.

– Eu sei, bi – ele piscou docemente de volta para mim.

Bi? – eu ouvi a voz de Bella perguntar, atrás da cortina à nossa frente

– É, Bella. Chad e eu nos chamamos de bi, é carinhosamente uma abreviação de bitch – eu expliquei para ela, rindo junto com Chad. – Bitch quer dizer vadia, Bellinha.

Chad me olhou incrédulo, e eu lhe expliquei que ela não ia entender se eu não explicasse.

– Vamos, me deixe ver isso aí que você está escondendo da gente, B – pediu Chad, ficando de pé e puxando a cortina do provador.

Bella tentou esconder o corpo na mesma hora com as mãos, mas estava tão vermelha quanto a cortina que a escondia antes. Ela não estava usando nada demais, só uma camisola linda de renda lilás que Chad havia escolhido um pouco antes.

– É muito reveladora, essa... essa... essa... coisa – murmurou ela.

– Não é não, é sensual e feminina – eu disse para ela, pegando seus braços e forçando-a a dar uma volta. Sorri para ela e voltei-me para meu best. – O que acha?

– Eu acho que ela está começando a ficar apresentável – disse ele em seu melhor tom crítico, olhando-a com atenção. – Está na hora de mandar essa santinha para cama. Vamos provar umas cores mais quentes e despertar sua pantera interior.

Nós sorrimos um para o outro e voltamos a escondê-la no provador, pegando mais peças para ela provar. Lingerie nunca era demais e, Bella precisava muito do poder e da autoconfiança que só a Victoria’s Secret poderia lhe proporcionar.



Agente Cullen



– Ei, por quê nós estamos com essa pressa toda? – perguntou Emm, correndo para me acompanhar quando eu saí do carro ao mesmo tempo em que terminava de vestir sua camisa.

– Você ainda não está pronto? – me irritei com ele, fazendo cara feia quando chegamos ao elevador do estacionamento no subsolo.

Ele fechou a cara.

– Olha só, eu estava de boa no meio do meu banho, quando você resolve dar esse seu pití aí e me obriga a sair de casa sem tempo direito nem para pegar algo pra vestir. Eu me arrumei rápido, contando com os sete minutos em que você voou pela cidade. Então, se você ganhou alguma multa, eu estou com a minha consciência limpa.

– Tá, tá – revirei os olhos pra ele e o puxei para fora do elevador. Não fazia a mínima ideia de onde ficava a maldita Victoria’s Secret, mas eu ia achá-la. – Alice trouxe a Bella pra cá para fazer compras. E antes que você me pergunte qualquer coisa idiota, eu já vou me adiantando: ela veio com o meu cartão, porque invadiu a nossa casa e roubou a minha carteira. E torrou toda a droga do meu limite, de modo que eu não estou nem um pouco a fim de pagar vinte mil dólares de fatura no próximo mês.

Ele arregalou os olhos e soltou um longo assovio.

– Caramba, Ed, você tá na roça! – debochou ele, rindo. Imbecil!

– Depois que eu matar a Alice, me lembre de quebrar essa sua cara – eu pedi.

Ele deu aquela sua risadinha idiota.

– Aonde é que elas estão?

– Victoria’s Secret – eu respondi e olhei para ele. – Você sabe onde fica?

– Claro que eu sei, ora essa – ele respondeu e tratou de logo pegar o caminho oposto para onde eu seguia.

– Como assim você sabe? – eu o interroguei, surpreso. Então eu dei um sorriso bem acusatório para ele. – Você é cliente fiel de lá, é? É onde você compra sua lingerie?

– Rá-rá, como você é engraçado, Ed. Tanto que as cinzas da minha bisavó me fazem rir mais do que você – ele respondeu, balançando a cabeça desapontado. – Eu sei onde fica porque eu já dei uns amassos em uma gata que trabalhava lá, a Beckie. Cara, aquela me deu a maior dor de cabeça...

Finalmente encontramos a loja. Eu segui na frente e Emm veio logo atrás, como se procurasse por alguém. Mas eu não estava nem aí, tinha um pescoço para torcer.

Alice estava no fundo da loja, ao lado dos provadores, sentada ao lado daquele seu amigo gay, dando risadinhas e fofocando sobre sabe-se Deus lá que amenidades. Eu parei bem na sua frente e a agarrei pelo braço, colocando-a de pé rapidamente.

– Ai, Edward! Você está me machucando! – resmungou ela, fazendo escândalo.

– Eu vou te matar, sua toupeira! – eu sibilei para ela, que me fitava com os olhos arregalados.

– Me larga, seu brutamontes! – exigiu ela, tentando inutilmente se soltar.

Acho que ela finalmente percebeu a fúria em que eu me encontrava, pois eu a senti tremer sob meu aperto.

– Larga ela, seu covarde! – Chad ficou de pé, me encarando desafiadoramente.

Covarde.

Aquilo reverberou dentro de mim por um segundo, acalmando um pouco do meu acesso de raiva. Nunca levantei o dedo antes para uma mulher, tampouco perdera tanto o controle como agora. Afrouxei meus dedos, reparando que ela tinha até ficado roxa. Mas não a soltei.

– Não se mete Chad, porque o problema aqui é aqui entre eu e a ladra da minha irmã – eu disse para ele, e depois me voltei para a ladra em questão. – O que você tinha na cabeça para invadir a minha casa e roubar o meu cartão?

Ela me encarou de volta, magoada, mas sem o terror de antes.

– Eu já disse que a Bella precisava de roupas, você sabe disso muito melhor do que ninguém! E eu é que não ia tirar essa despesa do meu bolso, já que nós dois sabemos muito bem que ela é uma responsabilidade sua.

Alice sabia muito bem o que ela estava falando, quando escolheu aquelas palavras.

Puta que pariu, Bella! – nós ouvimos Emm berrar, parando a poucos passos atrás de mim, de olhos arregalados.

Virei-me para ele no mesmo instante, fazendo cara feia.

– Emmett, não fala palavrão, porra! – berrei de volta para ele.

Ele tampou os olhos com as mãos, como se fosse uma garotinha assistindo a um filme de terror, mas eu vi que ele ainda espiava pelos buracos que tinha entre os dedos. Devagar, então girei a cabeça para onde ele apontava, para ver que diabos estava acontecendo. Imaginei, no mínimo, Bella com um dragão de três cabeças.

E também fiquei de olhos arregalados e boquiaberto, como um retardado.

Bella estava a poucos passos à minha esquerda, surpresa e completamente em choque. Eu não sabia que ela estava em um dos provadores, mas ela deve ter saído porque ouviu a nossa discussão. Mas não foi ver ela por ali que deixou a mim e a Emm completamente petrificados, como duas estátuas.

Foi ver no que ela se transformara.

Seu cabelo estava bem mais curto e bastante repicado, o que a deixava com cara de mulher e não mais de garota. Até a maquiagem a deixava diferente, muito diferente, mas não era isso o principal. O surpreendente foi mesmo ver o que ela vestia. Ou melhor, o que revelava demais e escondia de menos.

Bella estava dentro de uma camisola preta curtíssima, do tipo feita para chamar a atenção de qualquer cara, com toda aquela renda, transparência e babados. Era o tipo de camisola que faria até o Papa romper seu voto de castidade, o que não era pouca coisa. E ela estava muito, mas muito mesmo, gostosa.

Pare com isso, Edward seu idiota! Ela é o seu trabalho. T-R-A-B-A-L-H-O. Foco!

Ela pareceu descongelar e voltar a si, pois ficou imediatamente muito vermelha. Mais vermelha do que a cortina do provador atrás dela.

– Agentes! – ela ofegou, tentando cobrir o corpo o máximo que podia, enquanto corria para se esconder atrás de Chad.

– O que você disse? – perguntou ele, girando o pescoço para encará-la confuso.

Emm e eu ainda estávamos em choque, sem a menor condição para responder.

– Ela não disse nada, Chad – respondeu Alice, chamando a atenção dele para si novamente. Chad encarou-a desconfiado, mas ela continuou com o que quer que fosse que estava tramando. – Eu ouvi quando ela disse “minha gente!”. Não foi, Bella?

Sem sair do lugar, Bella trocou um rápido olhar com ela, mas assentiu.

– Não foi o que pareceu – discordou ele, ainda desconfiado.

– Tá, mas foi o que aconteceu. E não importa mais – Alice voltou-se para mim. – Será que você pode me soltar e irmos logo para casa? Não aguento mais essa coisa de barraco em loja e vocês dois babando por ela como dois cachorros vendo um frango assado rodando na padaria.

Emmett se aproximou, já com os olhos descobertos, enquanto eu a soltava.

– O que você fez com ela? – perguntou ele a Alice, impressionado.

– Não me chame de cachorro, eu não estava babando – eu a censurei.

Antes de responder a Emm, Alice sorriu ironicamente para mim, quase dizendo um “eu sei que você estava sim”.

– Eu resolvi ajudar a vocês e proporcionei uma pequena, mas revolucionária mudança no mundinho da sua priminha – ela disse docemente, sorrindo para nós dois. – Bella estava precisando disso. E eu sei que vai ajudá-la enquanto ela estiver por aqui – ela encarou a nós dois por um longo momento.

– Tá, tudo bem. Vamos logo – eu disse, ainda sem olhar para Bella.

– Bella, vá colocar sua roupa de novo – Alice pediu a ela, empurrando a Chad também na direção do provador, provavelmente para escondê-la. – Ei, você trouxe o cartão que eu te pedi?

Fechei a cara na mesma hora.

– Eu vou mesmo te matar, Alice – eu a ameacei, dando um passo na direção dela.

– Ei, tudo bem, Ed – Emm interveio, colocando a mão em meu ombro para me parar. – Deixa que eu pago essa, afinal também é minha responsabilidade.

Eu não disse mais nada enquanto Bella trocava de roupa e Chad passava as pilhas de roupas íntimas que Bella provara para Alice. Com um sorrisinho bem arrogante, ela passou por mim – esbarrando em meu ombro de propósito – seguida por seu amigo e foram direto para o caixa, onde Emm já lhes aguardava.

Então eu fiquei lá, parado, até que Bella finalmente saiu do provador, e dessa vez vestida decentemente. Com um vestido preto na altura dos joelhos e o salto alto nos pés, ela até parecia com uma típica nova iorquina da classe alta, do tipo que eu imaginava ser o tipo que acompanharia Alice para cima e para baixo. Ela mal olhou para mim, apenas passou direto, com os olhos baixos e foi até onde Alice estava.

Três mil novecentos e oitenta e cinco dólares? – eu ouvi Emm arfar, nitidamente surpreso. Ele fuzilou Alice com o olhar antes de olhar para mim.

– Você disse que ia pagar – eu lembrei a ele, prendendo o riso.

– Emmett, pelo amor de Deus, passa logo esse cartão e para de dar chilique por causa de mixaria – Alice sibilou, já olhando para os lados.

Mixaria? – ele repetiu com sarcasmo, mas ela arrancou o cartão da mão dele e o entregou à funcionária.

– Prontinho, problema resolvido querida – Alice sorriu, sem dar a mínima.

E assim saímos nós cinco da Victoria’s Secret. Alice e Chad na frente conversando animadamente sobre algum assunto de mulherzinha, seguidos por Bella em silêncio atrás deles. E mais atrás, bufando e completamente revoltados com a minha irmã, Emm e eu vínhamos feito burros de carga carregando as milhares de sacolas.






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