(DES)EDUCANDO Uma Princesa escrita por Vamp Writer


Capítulo 4
Capítulo 3: DEIXANDO DE SER PRINCESA


Notas iniciais do capítulo

Heeey suas lindas, obrigaada pelos reviews!
Fiquei mtmtmt feliz aqui, de vdd *O*
Espero que gostem desse capítulo, e não esqueçam de deixar reviews no final ♥



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Nova York





Agente McCarthy




Edward e eu tocamos a campainha do apartamento de Alice na manhã seguinte, por volta das onze da manhã. Estávamos com os braços cheios de compras – passamos por uma briga na fila do supermercado, culpa daquela velhinha egoísta que não queria largar o último vidro de geleia de framboesa importada –, tudo para o café da manhã à altura da Princesa.

– Para que tudo isso? – perguntou ela para nós, de olhos arregalados, quando abriu a porta.

– Para o café da manhã da Princesa Baudellaire – respondeu Edward, passando por ela. Alice ainda estava boquiaberta e com um baita cara de sono. – Ela já acordou?

– Bom dia, Alice – cumprimentei-a quando passei por ela, quase derrubando um dos vidros de geleia que me escapava pelo canto do braço. Ela o pegou no último instante e eu pisquei para ela. – Ei, boa pegada.

– Obrigada – ela sorriu torto. – Eu sou boa pra caramba em pegadas.

Eu ri baixinho enquanto ela fechava a porta. A garota tem senso de humor.

– E então? – perguntou Ed, depois de descarregar tudo sobre a mesa.

– E então o quê, Edward? – repetiu Alice, estranhamente distraída.

– A Princesa – ele revirou os olhos. – Já acordou?

– Não, ela ainda está dormindo feito pedra. Eu verifiquei antes de vir para a cozinha – respondeu Alice.

Eu estremeci. Tomara que ela acorde logo.

Fui para o lado de Edward e coloquei minhas coisas sobre a mesa também. Alice estava logo atrás de mim, mas parou de repente quando reparou melhor no vidro que ela girava em suas mãos.

Geleia importada de tâmaras? – guinchou ela, com uma sobrancelha erguida enquanto nos encarava. – Para mim, nunca trouxeram nem uma única torrada... Já para a princesinha, é geleia de tâmaras importada!

– Alice, não começa – interrompeu Ed, sem dar a menor importância.

– Não começa?! – repetiu ela, sua voz subindo uma oitava enquanto ela marchava até nós. – Fui eu quem trouxe uma fugitiva para cá? Não. Sou eu quem está responsável por cada maldita respiração dela? Também não. Sou eu quem não está nem aí pra ela? Adivinhem só? Sim!

– Alice, nós... – eu tentei interceder.

– Ahh, você também vai me mandar calar a boca, Emmett? – acusou ela, estreitando os olhos para mim.

– Não, você não entende...

– Não entendo? – ela bufou, respirou fundo e virou-se para a direção da cozinha. – Vou fazer café. Preciso de muito café!

– Alice, eu acho que você não deveria beber café – Edward aconselhou baixo, quase rindo.

Ela apareceu na porta da cozinha com uma expressão assassina.

– Ninguém pediu a sua opinião, Edward, então a guarde pra você. Se eu quiser beber um caminhão de café, eu vou beber – vociferou ela, depois nos deu as costas e desapareceu na cozinha.

Edward e eu rimos silenciosamente.

– Você arruma as coisas por aqui que eu vou acordar a nossa alteza – falou ele, enquanto seguia para o pequeno corredor.




Princesa Baudellaire




Aos poucos eu comecei a sentir novamente meu corpo. Os pés, as pontas dos dedos, meu coração batendo tranquilamente sob o meu peito. Um barulho baixinho perto do meu ouvido, o tão familiar ressonado de Preciosa. Sentia-me muito relaxada, um pouco até letárgica. Abri devagar meus olhos.

Mas aquele teto cor de lavanda não era o meu.

Eu não estava mais em meu quarto. Não estava mais em meu palácio, em minha tão adorada Bharsóvia. Não ter mais a minha vida de antes fez meu peito se contorcer.

Levantei devagar da cama grande e me deparei com um quarto com a decoração toda em tons de lilás e branco. Não era grande, amplo e luxuoso como o meu antigo quarto, mas era de bom gosto e estranhamente acolhedor.

Passei por Preciosa, ainda adormecida sobre o travesseiro ao lado do meu. Ela parecia tranquila, e eu cheguei a pensar que talvez ela se adaptasse a esta nova vida melhor do que eu. Caminhei até uma porta de correr grande de vidro, que parecia dar para uma espécie de varanda. Afastei com cuidado a cortina de cetim lilás, apertando um pouco os olhos por causa da luminosidade do sol.

O céu estava encoberto por nuvens, típico de um dia de inverno. O sol brilhava fracamente quase no meio do céu, então eu imaginei que deveria estar perto do meio dia. Mas não havia o canto nem o voo dos pássaros, o verde dos jardins e o azul do Oceano Atlântico como em Bharsóvia. Tudo o que eu via eram prédios, de diferentes alturas e cores para todos os lados. Pessoas, algumas apressadas, passavam na calçada da rua alguns metros abaixo de mim. Fiquei surpresa ao ver tantos veículos circulando em um único lugar e ao mesmo tempo, criando um barulho infernal de buzinas, o que era totalmente inexistente em meu reino – todo o trabalho era realizado por animais e, o transporte por carruagens.

Curiosa, destranquei a porta e saí para a pequena varanda, como se estar ali do lado de fora tornasse tudo aquilo mais real. A brisa leve que soprou em meu rosto não era úmida e carregava o cheiro de mar, mas era quase glacial. O sol era praticamente inexistente por trás da camada de nuvens, ao contrário do caloroso e receptivo sol de Bharsóvia. Fechei meus olhos e ergui um pouco a cabeça, tentando resgatar um pouco da familiaridade esquecida.

Quando abri novamente os olhos, eles pousaram sobre um prédio à minha frente. Era um prédio mais baixo, em relação aos outros do lugar, a fachada pintada de branco e com um estilo majestoso. E foi ali no térreo daquele lugar quem meus olhos se fixaram, naquilo que me roubara à atenção.

Um jovem rapaz de pele castanha avermelhada, cabelo preto e curto, alto e musculoso estava na calçada. Ele usava uma camiseta mais justa e branca, com uma calça escura e segurava algo pequeno em uma de suas mãos, como se estivesse falando com alguém antes de me notar ali. Mas agora, ele estava tão imóvel e hipnotizado quanto eu.

Seus olhos não deixaram os meus por um instante que fosse. Eu não entendia o porque, mas algo se agitou dentro de meu estômago e me impossibilitou de desviar o olhar também. E no instante seguinte, eu comecei a sentir o sangue esquentar meu rosto. O rapaz sorriu para mim, um sorriso que revelou dentes brilhantes e encheu-o de uma luz própria. Eu o vi erguer uma das mãos e, discretamente, acenar para mim. Automaticamente, eu estava com um pequeno sorriso nos lábios e estava acenando para ele de volta – o que eu como Princesa, fiz a minha vida toda para os súditos. Mas o que me deixou realmente surpresa foi vê-lo fazer uma longa reverência para mim, sorrir novamente e entrar em uma das enormes entradas do edifício.

O miado baixo de Preciosa me fez entrar novamente no quarto. Encontrei-a sobre a cama, esticando-se sobre o meu travesseiro.

– Bom dia, minha linda – eu disse, indo até ela para lhe fazer carinho.

Desejei poder estar em casa. A esta altura, Tom já estaria me estendendo três ou quatro opções de vestido para que eu escolhesse um antes mesmo de poder pensar em acordar. Esse pensamento me fez olhar para meu vestido, pensando na lembrança ruim que ele carregava.

Houve uma leve batida na porta do quarto e, no instante seguinte, o agente Cullen estava surgindo atrás da porta.

– Bom dia, majestade – ele disse, fazendo uma breve reverência. – Que bom que já está acordada. Como está se sentindo?

Preciosa virou-se para ele, bufou e pulou em meu colo.

– Bom dia, agente – eu o cumprimentei de volta. – Estou bem, eu acho... Só um pouco sonolenta.

– Isso deve ser algum efeito colateral, ou um jet lag da viagem... – comentou ele, distraído. Depois voltou a sorrir e me estendeu o braço. – Preparamos o seu café da manhã, venha comigo por gentileza.

Eu o acompanhei para fora do quarto, Preciosa aninhada em meu colo. A estranha casa era meio pequena e, em momento algum, eu vi escadarias ou algum criado. No final do corredor estava uma pequena sala, com sofás, poltronas e um móvel baixo com uma grande tela de televisão. O agente McCarthy estava em pé ao lado de uma pequena mesa redonda, cheia de frutas, sucos, torradas e algumas coisas que eu nem conseguia imaginar o que eram.

– Bom dia, alteza – cumprimentou ele no mesmo tom de respeito do agente Cullen, também fazendo uma reverência para mim. Ele puxou uma das cadeiras para que eu me sentasse. – Como está hoje?

– Bom dia, agente McCarthy – eu agradeci, sentando na cadeira que ele me oferecia. – Estou bem, só me sentindo um pouco sonolenta.

Ele respirou fundo, parecendo extremamente aliviado. Nós olhamos para ele.

– Você ia dizer algo, Emmett? – perguntou o agente Cullen, estreitando os olhos.

Eu? – ele pareceu surpreso. – Não, imagina... Só ia dizer pra gente sentar e tomar o café.

Eles ocuparam duas cadeiras próximas à minha, enquanto Preciosa erguia a cabeça e tentava farejar a farta mesa de café da manhã.




Agente Cullen




– Olha só, a Princesa Adormecida acordou!

Alice tinha acabado de aparecer na sala, segurando uma garrafa de café em uma das mãos e uma enorme e fumegante xícara de café na outra. Sua voz escorria sarcasmo, enquanto ela estreitava os olhos para a Princesa e se sentava entre mim e Emmett – e bem de frente para ela.

A Princesa manteve os olhos arregalados, surpresa com tanta antipatia vinda de minha irmã. Emm e eu a encaramos de cara feia.

– O que foi? – perguntou ela cinicamente, após eu a ter cotovelado por baixo da mesa. Ela revirou os olhos e voltou a olhar para a nossa convidada com desdém. – Sou Alice Cullen, irmã do Edward e a dona da casa – enfatizou ela, me matando de vergonha. – E aí, beleza?

A gata chiou alto, olhando para Alice de uma forma esnobe e superior. Nem mesmo a gata tinha gostado dela – não que isso também tivesse acontecido comigo e com Emmett. A Princesa fez carinho nela, tentando acalmá-la enquanto ainda piscava atônita tentando absorver o que Alice tinha acabado de dizer.

– Sou Isabella Swan Baudellaire, Princesa de Bharsóvia – respondeu ela, de forma educada e segura. – Obrigada por me receber em sua casa, Srta. Cullen.

– Mas eu não deixei que...

– Pode chamá-la de Alice, majestade – pedi, interrompendo o veneno de Alice que eu sabia que estava por vir.

Ela me encarou por um longo momento, depois deu de ombros e concentrou-se no seu café da manhã. Emmett pegou o prato de panquecas e se serviu enquanto eu pegava uma porção de ovos mexidos. Todos estávamos comendo exceto...

Exceto a Princesa, que ainda estava imóvel observando a cada um de nós.

– Algum problema, alteza? – perguntou Emm, parando seu garfo no ar a meio caminho da boca.

Ela observou a nós três com curiosidade.

– Vocês não têm criados para servir as refeições? – perguntou ela ingenuamente, olhando à nossa volta como se estivesse procurando por algo.

Um longo minuto de silêncio.

E então Alice explodiu em uma gargalhada estrondosa, enquanto eu olhava para o meu melhor amigo com um pedido de ajuda.

– Olha só, alteza – falou Alice, se recuperando do ataque de riso. – Aqui nós não temos criados, só uma diarista que dá as caras três vezes por semana. Então, se não quiser morrer de fome ou bancar a retardada, é bom começar a usar as suas delicadas mãos reais de agora em diante.

A Princesa baixou os olhos e corou, constrangida.

– Alice! – eu a repreendi, meu olhar exigindo que ela pedisse desculpas. Ela fingiu nem perceber.

Que diabos estava acontecendo com ela? Alice só era desagradável comigo, o que eu já estava acostumado desde que ela nasceu. Mas com os outros... ela sempre foi muito legal. Até ontem.

– Suco de laranja, Princesa? – ofereceu Emm, tranquilo, erguendo a jarra de suco ao seu lado. Eu sorri para ele com aprovação.

Ela assentiu timidamente, ainda sem dizer nada, e ele lhe passou um copo. Peguei algumas panquecas sobre a travessa na minha frente e coloquei-as em um prato, regando com a calda de chocolate e repassei a ela também. Ela aceitou tudo, agradecida, e começou a comer. Com toda aquela etiqueta real e aquele seu vestido de baile, ela não se parecia em nada com uma garota daqui. Ela parecia frágil e delicada, como um bibelô que cambaleava perigosamente da ponta de uma prateleira e pudesse cair no chão e espatifar-se em mil cacos a qualquer momento. Emmett providenciou até uma tigela com leite e um prato com torrada e geléia para a gata, que agora estava no chão ao lado de sua dona.

– Hmmm... Este suco é feito com laranjas do Mediterrâneo? – perguntou a Princesa algum tempo depois, distraída.

Emmett e eu seguramos o riso e quando eu abri a boca para responder, fui interrompido.

– Não. É da caixinha mesmo, produzido em alguma fábrica da Coca-Cola. Já ouviu falar? – falou Alice, rispidamente.

– Ahh... – a expressão cuidadosamente montada da Princesa desmoronou outra vez. – Eu não sabia, porque o gosto é muito semelhante... Está tudo delicioso, agentes. Eu não sei nem como lhes agradecer, por tudo o que estão fazendo por mim e pelo meu Reino.

Alice revirou os olhos ao meu lado, mordendo sua torrada.

– Não precisa nos agradecer, alteza. Ainda não fizemos nada – respondeu Emm, em um tom bem gentil.

– Na verdade, estamos aqui para discutirmos alguns detalhes importantes sobre a sua estadia aqui em Nova York – eu expliquei.

– Como assim? – ela baixou seu copo de suco, prestando total atenção. Até mesmo Preciosa abandonou seu brioche de frutas secas para nos ouvir também.

– Edward e eu passamos boa parte da noite passada pensando e discutindo sobre vários aspectos, arranjando respostas para qualquer tipo de pergunta que possam lhe fazer – explicou Emm, girando uma maçã nas mãos. – E precisamos repassá-las para vossa alteza, para que saiba o que responder quando alguém lhe perguntar algo sem denunciar seu disfarce. Não há como isolá-la do mundo todo, então temos que prepará-la da melhor forma possível.

– E isso se estende a você também, Alice – eu acrescentei, olhando-a com firmeza quando ela me olhou incrédula. – Você agora faz parte deste segredo tanto quanto eu ou o Emmett, e estamos dispostos a sermos os únicos guardiões desta informação. Todos nós temos que manter as mesmas respostas, para nunca levantarmos qualquer tipo de suspeita.

– Mas que ótimo – resmungou ela.

– Vamos começar então – eu a ignorei, olhando novamente para a Princesa. – Vou mandar uma fácil. Quem é você e de onde você veio?

Ela franziu levemente a testa, confusa.

– Quem eu sou? – repetiu ela, nos olhando de uma forma estranha. – Sou Isabella Swan Baudellaire, a Princesa de Bharsóvia. Uma pequena ilha do Oceano Atlântico à oeste da costa africana – respondeu ela, sem hesitar.

– Errado – discordou Emmett, com um sorrisinho nos lábios. Nós dois já havíamos pensado em tudo aquilo durante a madrugada, então era moleza.

Errado? – repetiu ela, olhando para nós como se fossemos loucos.

– Você é Bella McCarthy, minha única prima – corrigiu Emm, explicando tudo. – Vamos aproveitar que o seu sotaque é bem diferente do nosso, mais britânico para falar a verdade, e vamos dizer que você veio de Rochester, uma minúscula cidade do sul do Reino Unido. Você tem dezoito anos e veio pra cá para passar uma temporada comigo, já que meus tios querem te proporcionar um intercâmbio ou algo do tipo. Sabe, experiência cultural e coisas assim.

– Mas eu não sou essa – destacou ela, nos olhando decididamente.

– Você será, a partir de agora – eu a corrigi, tentando não ser rude, apoiado pelo olhar de Emm. – Entenda por favor, majestade, que é tudo para a sua total segurança.

– Vocês dois a tratando desse jeito não será nenhum pouco discreto – comentou Alice, a voz pela primeira vez sem aquele mau humor súbito. – As pessoas vão reparar.

– Isso é verdade – concordou Emm, passando a olhar pensativo para a Princesa. – Alice tem razão. Pelo menos na frente dos outros, nós devemos começar a nos tratar pelo nome, majestade... Quero dizer, Bella. Temos que treinar isso desde já. Nós não podemos ser tão formais, entenda por favor que não é uma forma de desrespeitá-la. Você pode chamar a mim e a Ed pelos nossos primeiros nomes, para não dar bandeira.

– Entregar uma bandeira a quem? – perguntou ela, toda perdida.

Alice riu alto. Emmett tentou, sem muito sucesso, segurar o riso.

– É só uma forma de expressão, alte... Bella – eu me corrigi, me apressando em explicar para não ter tempo de cair no riso também. – Dar bandeira é atrair a atenção de todos, coisa que nenhum de nós quer fazer.

– Com o tempo, você aprende as gírias – garantiu Emm, piscando para ela.

Ela arregalou os olhos, parecendo bem surpresa com aquele gesto. Emmett e eu trocamos um rápido olhar. Será que ninguém nunca havia feito aquilo para ela?

– Eu mesmo posso te ensinar algumas depois... – disse ele, ainda um pouco tenso. – E ah, Alice, nada de palavrões perto dela. Edward e eu vamos nos controlar também, porque não queremos vê-la com a boca suja.

Bella imediatamente pegou o guardanapo em seu colo e limpou o canto da boca discretamente. Pobrezinha, levou tudo ao pé da letra. Vi Alice revirar os olhos e Emm reprimir o riso.

– Se isso te faz se sentir melhor, Bella, todos aqui nos conhecem de outro jeito também – eu disse, atraindo a atenção dela novamente. – Eu sou conhecido como o Dr. Cullen, um neurologista recém formado. E o Emmett é um engenheiro civil recém formado, que trabalha à distância para um escritório em Detroit. Obviamente nós não somos nada disso, mas faz parte de nosso emprego que tenhamos disfarces, para que as pessoas não imaginem que trabalhamos para o FBI.

– Vocês também mentem sobre vocês? – perguntou ela, chocada.

– Não é bem uma mentira, eu prefiro o termo distorção da verdade – argumentou Emmett. – O segredo é essencial na vida de um agente secreto, até mesmo para a sua família.

A Princesa encontrou o olhar de Alice.

– Ao contrário deles, eu não tenho nada a esconder – explicou ela. – Eu descobri o segredo de Edward na primeira semana, porque ele nunca conseguiu esconder nada de mim por muito tempo...

– Talvez porque você seja a maior intrometida de todos os tempos – falei despreocupadamente, trocando um sorrisinho com Emm.

– ... porque eu o conheço melhor do que qualquer um e sei quando há algo de podre dentro dessa cabecinha de bronze – terminou ela, me dando um tapa no braço. – Não tenho um desses trabalhos chatos e fixos, mas de vez em quando eu descolo algo como personal stylist de alguma dessas madames cafonas e podres de ricas... Você deveria ver cada caso que eu pego, são piores que aquelas garotas esquisitas de escola...

– Como assim? – perguntou Bella, de repente interessada.

– Ah, você sabe... – Alice olhou-a com desconfiança, como se ela fosse algum tipo de alienada. – Aquelas garotas excluídas socialmente, que nunca são chamadas para as festas legais, que ninguém sabe quem é... Tipo fantasmas, que se vestem todas de preto, usam óculos enormes, tênis megacafonas e andam com o cabelo tipo vassoura. As garotas que saem do Ensino Médio sem saber o que é um encontro.

– Eu nunca frequentei uma escola de verdade... – comentou ela, baixinho.

Nós três passamos a encará-la boquiabertos. Bella era mesmo uma alienada.

– Você nunca foi à escola? – perguntou Emm, em seu usual tom de anta. – Então você não sabe...

– Sim, eu sei ler e escrever, agente McCarthy – respondeu ela, com um pequeno sorriso. Emmett merecia um tiro agora, na boa. – Perdoem-me. Quero dizer, Emmett. Eu nunca fui a uma escola porque eu fui educada no Palácio, desde pequena. Mas isso não quer dizer que eu seja uma ignorante, pois falo oito idiomas, pratico esgrima desde os nove anos, equitação e recentemente estava aprendendo arco e flecha.

– Nossa – murmuraram Alice e Emm, ainda mais boquiabertos.

– Oito idiomas? – eu repeti, ainda tentando absorver aquilo.

Ela deu um pequeno sorriso, enquanto assentia.

– Sou fluente em inglês, espanhol, francês, alemão, italiano, russo, japonês e português. Mas eu sempre fiquei imaginando como seria uma verdadeira escola americana, de tanto que eu assistia nos filmes.

– Fiquei me sentindo burro agora, com o meu espanhol e um italiano precário – comentei, desapontado comigo mesmo.

– Edward, você acha que existe a possibilidade de alguém reconhecê-la por aí? – perguntou Emm, de repente olhando para Bella. – Será que tem fotos dela espalhadas pela internet?

– Quanto a isso, não há a menor possibilidade – respondeu Bella, tranquilamente. – Como Bharsóvia não é oficialmente um país reconhecido mundialmente, muito pelo contrário, não há fotos minhas espalhadas por aí. Além do mais, não se tiram retratos da Família Real de Bharsóvia. Somente um quadro de tamanho real é pintado quando se completa dezoito anos, após a coroação.

– Você não tem nenhuma foto sua? – repetiu Alice, chocada.

Alice se remexeu em sua cadeira, tirou o celular de dentro do bolso de seu short – aquilo realmente pode ser chamado de short? – e no instante seguinte, o celular já estava sendo apontado para a Bella.

– Diga “xis” – pediu ela e, antes que eu pudesse fazer algo ou Bella se mexer, o flash já havia sido disparado. – Prontinho, questão primeira foto solucionada. E você nem saiu de boca aberta ou com cara de retardada.

– Alice!

– Relaxa, Ed – falou ela, guardando o celular no bolso de novo. – Não vou mostrar isso a ninguém, se te faz feliz.

– Já que ela é uma completa anônima – continuou Emm, retomando o foco da conversa –, não vejo porque isso não dar certo.

Emmett e eu continuamos a contar todo o nosso plano para elas, lembrando de cada coisa que pensamos na noite passada. Elas nos ouviram com atenção, sem nos interromper – exceto Alice, querendo dar palpites, como sempre. Mas ela não seria Alice Cullen se não me interrompesse.

– É muita coisa – comentou Bella por fim, quando terminamos. As horas haviam se passado e nós nem percebemos. – Não sei se vou conseguir me lembrar de tudo isso.

– Você vai conseguir, Bella – incentivou Emm, sorrindo para ela. – Nós estaremos sempre com você, caso você esqueça algo.

– Obrigada novamente, por tudo o que vocês estão fazendo por mim – e o olhar dela caiu sobre sua gata, enroscada em seu colo. – Eu gostaria de tomar um banho, porque ainda me sinto um pouco exausta.

– Ahh, claro... Alice? – eu olhei para minha irmã.

– Venha comigo, Princesinha – ela levantou e sorriu, estendendo a mão para Bella. – Enquanto isso, os garotos podem limpar toda essa bagunça para nós. Hoje eu sou tão visita quanto você, Bella.

Ela estava rindo quando desapareceu pelo corredor com Bella. Emmett e eu trocamos um longo olhar exausto, porém satisfeito, e começamos a recolher aquilo tudo.




Alice




Entramos no quarto e eu indiquei a cama para que Bella se sentasse, enquanto eu ia até o banheiro do quarto de hóspedes, para verificar se tinha tudo o que ela precisava ali. Quando voltei ao quarto, ela ainda estava do mesmo jeito em que eu a deixara.

– Tem tudo o que você precisa no banheiro. Eu vou pegar algo meu para você vestir, acho que devo ter algo que te sirva – eu disse e fui para o meu quarto.

Fui até o closet, peguei algumas peças e voltei em seguida para onde ela estava. E ela ainda não havia se mexido, apenas continuava me olhando.

– O que foi? – perguntei, largando as roupas sobre a cama.

– Estou pronta para o meu banho – respondeu ela.

– Mas é claro que está, eu já disse que tem tudo no banheiro e... – foi então que a ficha caiu. Olhei para ela desconfiada e perguntei, quase rindo. – Ah, não. Você não espera que eu te dê banho, né?

Mas ela não riu como eu.

– Eu sempre tive pessoas para me banharem – respondeu ela, como se fosse normal.

Pessoas? – eu arregalei os olhos. – Tipo, a maior galera te vendo pelada?

Eu comecei a rir de novo. Certo, a Princesa era bizarramente hilária.

– Qual o problema? São criadas – argumentou ela.

Eu não deixei que ela dissesse mais nada, então simplesmente a peguei pelo braço e a arrastei até o banheiro. Parei com ela em frente ao box e apontei para o chuveiro.

– Bella, lembra-se do que eu te disse sobre você usar suas próprias mãos? – eu perguntei, olhando bem para ela. Ela assentiu e eu voltei a apontar na direção do chuveiro. – Bem, este é o chuveiro. A água cai dali de cima até você, quando você abre aquele registro. É muito mágico e bastante independente tomar banho sozinha.

Ela ainda estava olhando para o chuveiro, como se nunca tivesse visto um na vida... E eu não duvidei disso mesmo. Estava na cara que ela tomava aqueles banhos superrelaxantes, com direito a um Quarto de Banho com aquelas banheiras olímpicas e invejáveis cheia de água quente, muitos sais de banho e tudo mais...

– Acho que eu posso tentar – disse ela por fim, dando um pequeno sorriso para mim. – Pode me ajudar com o vestido?

– Claro! – eu respondi aliviada, porque era melhor isso do que dar banho em uma mulher. Eca!

Fui para trás dela e coloquei o seu longo cabelo para frente. Dei um longo suspiro de reprovação, para o corte fio reto. Senhor, aquilo é tão retrô!

Comecei a soltar o nó no fim do espartilho em suas costas, preso de uma forma muito bem elaborada e complexo. Enquanto ia soltando cordão por cordão, eu comecei a prestar mais atenção no vestido. O tecido era nobre e com caimento perfeito, nada do que eu estava acostumada a ver por aqui. Os bordados eram muito bem elaborados, com arremates impecáveis, e quando eu me aproximei um pouco mais para ver aquela linha dourada e os brilhos das contas pareciam...

– Bella, o que é isso aqui bordado no seu vestido?

– Fios de ouro e cristais Swarovski – respondeu ela, como se não fosse nada demais.

– O-ouro? – gaguejei, soltando o cordão que eu segurava imediatamente. Toquei o bordado com o dedo, como se aquilo fosse uma joia (e na verdade era!). – Quem foi o estilista que fez isso?

– Sim, ouro – confirmou ela, rindo. – Quem fez foi o meu costureiro real e meu melhor amigo, Thomas Bouvié.

– Você tem um estilista só para você? – perguntei, já surtando. AimeuDeus, aquilo era o que eu sempre pedi aos deuses! – Tipo, que desenha coisas megaexclusivas, só para você e nenhum outro mortal no planeta? E que ainda tem acesso a qualquer tipo de material de luxo, como fios de ouro e coisas assim?

– Sim, Alice. Tom é o responsável por todos os meus vestidos e pelo Guarda Roupa Real desde antes que eu nascesse... – sua voz foi baixando, até que ela se calou.

Soltei o último cordão do espartilho e o vestido caiu a seus pés. Imediatamente minha sobrancelha se ergueu.

Ela não usava lingerie.

Aquilo era... bem, pré-histórico. Acho que a minha tatataravó é quem usava esse tipo de coisa, como era mesmo o nome.. Combinação? Sei lá. Só sei que meus olhos infelizmente caíram sobre uma espécie de corpete com uma calça de algodão na altura dos joelhos, cobrindo tudo demais, em um tom melancólico de bege.

Eu fiquei terrivelmente traumatizada só de olhar. Pobre coitada.

– Bella, eu já sei o que faremos amanhã – eu disse cheia de desgosto, enquanto a encarava ainda abalada com aquela visão deprimente.

– O que? – ela se virou para mim, curiosa.

Aquela coisa era realmente horrível. Totalmente broxante.

– Compras, compras, compras, compras! – cantarolei, tentando passar a ela um pouco da sensação libertadora que a palavra carregava. – Tipo, você está em estado de calamidade pública. Precisa de todo o ar que um bom cartão de crédito pode lhe proporcionar.






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