(DES)EDUCANDO Uma Princesa escrita por Vamp Writer


Capítulo 3
Capítulo 2: UM NOVO LAR


Notas iniciais do capítulo

obrigada pelos reviews meninas!
Vcs não sabem o quanto eu fiquei feliz aqui com eles! *----*
Espero que gostem desse capítulo ;)



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Aeroporto Internacional de Rabat, Marrocos.




Agente McCarthy




Edward pousou no Aeroporto de Rabat e enquanto ele terminava de desligar todos aqueles botões do painel – eu agradeci mentalmente durante toda a missão por ele ter seguido em frente naquele curso nerd de pilotos, que começamos anos atrás – eu abri a minha porta e desci, pronto para ajudar a Princesa a desembarcar.

Abri a porta de trás do helicóptero e a ajudei com as fivelas do cinto – a coitadinha estava mais enrolada e presa do que gato em novelo de lã.

– Alteza – falei baixinho respeitosamente, ao oferecer minha mão para ajudá-la a descer.

Ela desceu com a gata no colo, que me lançou um olhar feio e muito esnobe.

Ah, qual é, ela é só uma gata! Tudo bem que ela foi superpaparicada a vida toda e deveria comer coisas mais caras do que eu já comi – mas ainda assim, nada justificava essa pose toda dela. Nem mesmo quando eu a chamei, arriscando A MINHA PELE e levando um tiro pelo seu pêlo branco e de raça pura, para salvar a vida dela, ela engoliu aquele rei que ela carrega naquela barriga felina.

– Obrigada, agente – agradeceu a Princesa, toda educada, calando a minha tagarelice mental.

Passei então a olhá-la com mais atenção, pela primeira vez desde que colocamos os pés naquele fim de mundo. A Princesa realmente era a maior gata – e eu estaria assinando a minha sentença de morte se eu falasse aquilo em voz alta –, diferente de todas as mulheres que eu já vi. Sei lá, talvez pertencer à realeza deixasse os outros estonteantes... Seu cabelo era negro como a noite, alguns fios já se rebelando contra o coque perfeitamente elaborado em sua cabeça. Ela era tão branca, tão frágil e delicada que quase parecia ser uma boneca feita de neve. Seus grandes olhos verdes-esmeralda prenderam-se aos meus por um breve segundo, mas depois ela os baixou para sua gata. Mas toda a sua beleza não chamou minha atenção mais do que sua expressão.

Ela tinha passado a maior parte do voo chorando, silenciosamente derramando lágrima atrás de lágrima no banco de trás. Eu cheguei até a comentar aos sussurros com Edward, perguntando se ela não poderia ficar desidratada, murchar ou algo assim – sei lá, a garota chorou pra cacete... Ele disse que não deveríamos nos meter, então deixei quieto. Mas agora seu rosto era muito calmo e tranquilo, como se ela nem tivesse chorado aquilo tudo e só estivesse fazendo um adorável passeio.

– Você está bem?

Eu realmente fiquei surpreso com a pergunta dela, sua voz estava entre um tom que misturava preocupação e cautela, que até cheguei a parar de andar na mesma hora. Edward estava alguns passos à nossa frente, estranhamente bizarro com aquela farda branca enquanto discutia no celular, que nem percebeu nada.

– Eu? – repeti, olhando para ela com cara de tacho.

– Sim – ela deu um pequeno sorriso, muito tímido. Ela tocou gentilmente em meu ombro direito, onde estava o buraco na farda branca. – Eu realmente fiquei preocupada com você, Agente McCarthy. Você levou dois tiros por minha causa.

Eu sorri torto para ela, enquanto fazia uma pequena reverência.

– É o meu trabalho, Princesa – eu disse, e em seguida abri alguns botões da farda para que ela visse o que eu vestia por baixo. – Está vendo isso? É um colete à prova de balas. Aqueles tiros não fizeram nem cócegas na minha armadura.

– Fico mais aliviada ao saber disso – ela disse, dando um sorrisinho gentil para mim.

Entramos no jatinho que nos aguardava poucos passos à nossa frente e eu finalmente descobri com quem Edward discutia. Era com o piloto, que se recusava a partir dali ainda hoje, dizendo algo sobre só poder voar amanhã. Depois que Edward discutiu mais com ele, ameaçando seu emprego a serviço do país – eu fiquei mais atrás, sem me meter e assistindo a tudo com a Princesa, vendo o cara perder cada vez mais a cor do rosto e Edward ficar cada vez mais furioso. Então, talvez com medo de ficar desempregado ou de levar uma senhora surra do Ed, o piloto finalmente concordou em voar.

– Estaremos em casa na madrugada de segunda para terça – comunicou Ed, vindo até nós.

– Aquilo tudo era realmente necessário? – perguntei, rindo.

– Ele não entendia o significado da palavra emergência – argumentou Edward, revirando os olhos. – Quanto mais rápido desaparecermos daqui, menores as chances de sermos seguidos ou encontrados por alguém.

A aeromoça nos encontrou na porta da aeronave, no alto da escada.

– Eu lamento, mas a gata não pode voar aqui – disse ela, de cara feia enquanto olhava para o animal. – Ela deve viajar com os demais animais, em outra aeronave.

Pra quê facilitar as coisas, não é mesmo?

– Preciosa ficará comigo – impôs a Princesa, séria e determinada. E bem teimosa.

– Eu sinto muito, mas não...

Sem ela eu não vou – acrescentou a Princesa, olhando diretamente para mim e Edward.

Merda. A bendita gata.

– A gata vai conosco – disse Edward.

– A menos que a senhorita queira explicar diretamente ao Presidente dos Estados Unidos que impediu dois agentes do FBI de realizarem seu trabalho por causa de uma norma idiota – eu acrescentei, num tom gentil, mas bem ameaçador enquanto a encarava desafiadoramente.

Ela arregalou os olhos e ainda com uma expressão de medo, se afastou imediatamente da porta sem dizer mais nenhuma palavra.

Decolamos em seguida e algumas horas depois, ela nos trouxe o jantar. Eu sei que comida de avião é bem ruim, tipo grude nojento ou micro-mini refeição, mas aquela estava pra lá de gostosa. A Princesa Baudellaire e a gata olharam desconfiadas para a bandeja na frente delas, o que me fez querer rir muito naquela hora. Porém, com um suspiro, e eu imaginei que deveriam estar muito esfomeadas, comeram tudo.

– Estou tentando fazer conexão com o Sr. Johnson – disse Edward, franzindo a testa enquanto encarava o notebook. Depois eu vi aquele sorriso metido aparecer no rosto dele. – Acho que consegui... Funcionou!

– Sr. Johnson? – eu chamei, quando fui para mais perto dele.

– Agente Johnson na escuta. Olá, Agentes – respondeu ele, aparecendo na tela enquanto assentia brevemente com a cabeça. – E a Princesa de Bharsóvia?

– Em perfeita segurança – eu garanti, virando o notebook para que ele pudesse ver por si mesmo a Princesa à nossa frente, nos observando curiosa.

– Alteza – nós o ouvimos falar e depois que ela acenou levemente com a cabeça, virei a tela novamente para nós. – Estão a caminho de Nova York?

– Perfeitamente, senhor – respondeu Ed. – O piloto nos informou que a aterrissagem está prevista para a próxima madrugada, por volta das duas da manhã. Quais são as novas orientações?

– Que bom que tocou no assunto, Agente Cullen – ele sorriu torto para nós. Aquilo não me enganou. Aí vem chumbo. – A missão de vocês ainda não acabou, muito pelo contrário.

– Como assim? – perguntamos Edward e eu ao mesmo tempo.

– A Princesa Baudellaire será responsabilidade do FBI, e como superior de vocês, eu estou lhes repassando essa responsabilidade. Quero vocês dois com ela trinta horas por dia, não importa onde ou quando. Estão dispensados de suas atividades no escritório, para que possam se dedicar à segurança dela em tempo integral. Os dois deverão cuidar e protegê-la com suas vidas, como se fosse até uma filha.

Eu estava boquiaberto, Edward mais ainda.

– Tempo integral? – eu repeti, incrédulo.

– Correto, Agente McCarthy – nós pudemos ver a veia de irritação em seu pescoço saltando, louca para gritar conosco, mas ele não o fez. Provavelmente para parecer um cara bom na frente da Princesa (mas Ed e eu sabíamos o duas caras que ele era). – O futuro de Bharsóvia está na Princesa, que agora eu coloco nas mãos dos dois. Ainda não se sabe por quanto tempo essa situação irá permanecer, mas até lá, eu continuarei mantendo contato com vocês. Entenderam bem a missão?

– Sim, senhor – Edward disse, e eu assenti confirmando.

– Muito bem – ele acenou com a cabeça, visivelmente satisfeito. – Preciso desligar, tenho outras pendências para resolver por aqui. Cuidem dela. É uma ordem não só minha, mas do Presidente dos Estados Unidos. Agente Johnson desliga.

A tela do notebook ficou preta. Edward e eu trocamos um longo olhar em silêncio.

– Quer dizer... que eu vou ficar com vocês? – perguntou a Princesa timidamente, olhando de Edward para mim.

– Parece que sim – confirmou Edward.

– Eu até acho que vai ser moleza – comentei, relaxando enquanto me recostava na poltrona. Edward olhou para mim como se eu fosse louco. – Ed, estas vão ser as férias que pedimos a Deus. Sem acordar cedo, sem horário para nada, sem trânsito, sem terno e gravata o dia todo, sem estresse com o Sr. Johnson... Tudo o que temos a fazer é ficar de olho na majestade. E na boa, ela não parece de ser o tipo de garota que cria problemas...

– Emmett! – Ed me repreendeu bruscamente.

– Sem ofensas, alteza – tratei de me desculpar, olhando envergonhado para ela.

– Sem problemas – ela sorriu.

– Você ouviu o Sr. Johnson? Nós devemos cuidar dela como se fosse a nossa filha – eu argumentei, expondo minhas ideias sobre um detalhe que me chamou a atenção. – Não que eu tenha idade para ser pai e tudo mais, mas já que a situação me obriga...

– Lá vem besteira – murmurou Ed, feito uma velhinha como sempre, pegando seu notebook e indo se sentar na fileira de poltronas mais atrás.

– Ed, eu estou apenas sendo prático – continuei, sem me deixar abalar. – Como eu sou o mais bonito, o mais alto, o mais forte, o mais rápido, o que atira melhor, o mais legal e o que arrasa com o sexo oposto, eu serei o pai – esclareci, colocando o preto no branco. – Como você é sempre o do contra, o nerd auto suficiente, o chato que corta o meu barato e resmunga como uma velhinha, você será a mamãe.

Eu terminei de falar a última palavra e caí na gargalhada. Até a Princesa sorriu – ela tentou disfarçar, mas estava rindo. A Gata real também pareceu bem satisfeita.

– Emmett – falou Ed, naquele tom baixo mas extremamente sério dele –, se ao abrir a porta do avião eu não corresse o risco de matar a todos nós pela despressurização, eu te jogava desse jatinho lá embaixo agora e sem paraquedas. Sem o mínimo de remorso.

– Eu disse que ele é um chato – sussurrei para a Princesa, sorrindo.

Eu ouvi isso – intrometeu-se ele.

Revirei os olhos e voltei a falar com ela.

– Majestade... a sua gata... Preciosa – eu disse com cuidado, tentando não ganhar o ódio das duas. – Ela... hummm... sempre teve personalidade forte?

A Princesa riu, pela primeira vez.

– Preciosa nunca gostou muito de ninguém, a não ser eu ou papai – contou ela, mais à vontade, enquanto começava a tirar uma cascata de grampos da cabeça, liberando seu longo cabelo negro. – Na verdade, eu acredito que eu seja a humana dela e não ela a minha gata... Mas por debaixo de tudo isso, ela é uma menina adorável.

Aham. Sei. Adorável.

Eu sorri por educação e ouvi Edward se remexer atrás de mim, acreditando tanto naquilo quanto eu. Peguei minha mala, largada no chão ao meu lado e remexi nela até achar o que eu precisava. Fui até a pequena cabine onde a aeromoça estava e lhe pedi algo para beber. Voltei então para onde os outros estavam.

– Alteza, eu lhe trouxe um copo de suco – falei, estendendo o copo para ela.

– Ah, obrigada, Agente. É muita gentileza de sua parte – agradeceu ela, aceitando e começando a beber o suco.

– Emm, pode pegar algo para mim também? – pediu Ed, depois de um bocejo enorme.

– Sem chances. Não sou o seu empregado, muito menos seu escravo. Se vira, cara.

Eu ainda estava rindo quando Edward passou por mim pisando firme e bufando, seguindo em direção à cabine aeromoça.




Aeroporto de Nova York, EUA.




– Emmett, por quê a Princesa não está acordando? – perguntou Edward, quando o avião já tinha pousado em Nova York. Ele estava tentando acordá-la.

– E eu vou lá saber? Vai que a garota tem sono pesado?

Puta merda! Certo, talvez eu tenha exagerado um pouquinho na dose do calmante...

Poxa, eu queria ajudá-la, porque a coitadinha passou pela maior barra ontem e eu achei que ela precisasse dormir bem. Juro que foi na melhor das intenções... Tudo bem, dois comprimidos me deixam sonolento, mas para ela pareceu muito mais um sossega-leão dos extrafortes. Eu gelei ao pensar qual seria o tipo de pena de morte para alguém que dopava uma Princesa.

Edward deu de ombros, e para o meu mais profundo alívio e salvação da minha pele, desistiu de acordá-la pela quinta vez. A garota parecia morta, de verdade.

– Que seja – disse ele, indiferente. – Vamos fazer o seguinte: eu vou na frente, com a minha mala e a sua, e você a carrega. Eu dirijo também.

– Beleza – concordei, já ficando de pé e indo para o lado da Princesa Adormecida/Dopada. Foi então que eu lembrei de outra coisa. – Ei, Ed... e a gata?

Edward e eu gememos quando olhamos para o felino, enroscado em uma bola de pêlo brancos que ressonava ao lado da dona. Com essa eu nem me meti.

– Tá, tudo bem, eu carrego ela também – disse ele por fim, derrotado. Depois, antes de pegar a gata nos braços, ele me lançou um olhar muito sério. – Mas se ela me atacar, eu a largo na primeira lata de lixo e nós diremos à Princesa que a gata surtou e correu, desaparecendo do nosso alcance. E que fizemos de tudo para recuperá-la, mas não conseguimos.

Eu sorri maliciosamente para ele, adorando a ideia.

– Gostei. Mas não podemos fazer isso mesmo sem que ela nos ataque? É muito tentador.

Edward suspirou e riu, depois foi pegar as malas e a gata, que mal acordou. Fui para perto da Princesa e murmurei um “desculpe, alteza” antes de tomá-la nos braços e sairmos do avião.

– Ei, Edward, eu acho que as princesas passam fome – eu disse, enquanto caminhava ao lado dele pelo saguão deserto do aeroporto.

– Por que você acha isso? – perguntou ele, erguendo uma sobrancelha.

– Porque a garota não pesa nada – eu expliquei, aninhando-a mais perto do meu corpo quando saímos no estacionamento e uma brisa fria soprou por nós. – Parece que eu estou carregando uma boneca de tecidos. Esse vestido deve pesar mais do que ela mesma... Precisamos alimentá-la direito a partir de agora, cara.

– Claro, se ela quiser – ele riu enquanto abria o porta malas do carro, jogando nossas malas lá dentro.

Depois ele abriu a porta de trás e eu coloquei a princesa ali, deitada com o maior cuidado. Edward colocou a gata – que começava a acordar – ao lado dela e entramos na frente.

– Muito bem, estamos em Nova York – eu disse, enquanto ele dirigia com tranquilidade pelas ruas desertas da cidade fria. Não duvidei que logo começasse a nevar, já que estávamos em pleno inverno. – Mas ela não pode morar com a gente. Primeiro, porque não pegaria bem para a reputação dela de garota morar com dois caras, e segundo, porque não temos um terceiro quarto. O que faremos com ela?

– Eu já sei o que fazer com as duas – disse ele, sorrindo torto e sem me dizer mais nada.




Alice




– Ah, eu juro que eu vou matar esse desgraçado que se atreve a me acordar às duas e meia da manhã! – jurei furiosa, enquanto marchava em direção à porta.

A campainha não parava de berrar e eu já acordei – fui acordada, lembre-se disso querida – “p” da vida. Enquanto passava pela bancada que separava a cozinha da sala de jantar, peguei uma das facas de dentro do suporte – a maior e mais afiada – e cheguei até a porta.

Fiquei na ponta dos pés e espiei pelo olho mágico. E fiquei mais possessa ainda.

Edward? – eu fechei a cara, meu sangue fervendo.

Abri a porta de uma única vez, a faca em punho.

– Edward, eu vou te matar por me acordar às duas e meia da manhã! – eu vociferei, meus olhos estreitos em fendas, a faca em minha mão direita pronta para esquartejar.

E daí que ele era do FBI? Nunca tive medo de homem algum, sei me defender muito bem. E daí que ele era, lamentavelmente, meu irmão? Foda-se. Eu sempre tive o maior talento pra ser filha única. Ninguém mandou me acordar!

Então eu fiquei boquiaberta, a faca escorregou de minha mão e caiu no chão.

– E aí, Alice? Desde quando você virou açougueira? Ou está brincando de Chuck?

Emmett sorria para mim, aquele sorriso lindo dele cheio de covinhas, claramente se divertindo encostado à parede do corredor. Minha Nossa Senhora das Garotas Despertadas, obrigada por me ter feito colocar minha camisola nova da Victoria’s Secret esta noite!

Ele estava lindo, mega sexy e ultragostoso com aquela farda branca e... Peraí!

Aquilo é uma garota nos braços megafortes do meu Emmett? Quem é essa biscate?!

– Emmett? – eu perguntei, olhando dele para a garota apagada em seu colo e sem entender nadinha.

– Ah, finalmente eu consegui acordar a Alice Adormecida! – zombou Edward, aparecendo no corredor. – Bem que eu disse que dava tempo para largar as coisas lá em casa, Emm.

Eu fechei a cara para ele.

– O que você tem na cabeça para me acordar a essa hora? Não responda, porque eu sei que é merda. Virou suicida agora, é? – disparei, mas parei então para olhá-lo com mais atenção. Edward estava vestido com a mesma farda que Emm. Carreguei todo o sarcasmo e veneno em minha voz, enquanto lançava para ele meu olhar de desprezo. – Desde quando vocês dois estão dançando como figurantes em festa de debutantes? Estão ganhando tão mal assim, é? Pensei que vocês fossem dois agentes do FBI, e não sequestradores de debutantes... O pai dela é podre de rico, pelo menos?

– Shhh! – pediu Emm, olhando para os lados.

– Ninguém faz shhh pra...

– Você ia realmente me esfaquear?

Edward me interrompeu, respondendo a minha pergunta com outra. Quando eu me dei conta e fui abaixar para pegar a faca, ele foi mais rápido. Malditos reflexos dele.

– Você não sabe o ódio com que eu acordei – respondi, estreitando os olhos. – Poderia te matar agora mesmo sem a mínima parcela de arrependimento.

Edward estreitou os olhos e me encarou de volta e, quando ele abriu a boca para revidar, Emmett se intrometeu.

– Será que vocês dois podem se comportar como dois adultos e discutirem isso aí dentro? Não estou a fim de chamar a atenção de todos os vizinhos – e tendo dito isso, ele passou por nós dois e entrou no meu apartamento.

Eu respirei fundo e entrei novamente. Fiquei surpresa ao ver que ele não parou na sala, mas seguiu para... o meu quarto de hóspedes? Ahn? Pude ouvir Edward fechando a porta atrás de nós enquanto eu o seguia, pronta para o segundo round.

– Será que vocês dois podem me explicar o que está acontecendo? – eu exigi.

Emmett havia parado ao lado da cama, onde deitou gentilmente a garota capotada sobre a minha cama, do meu quarto de hóspedes, da minha casa. Edward apareceu logo atrás, e eu olhei de um para o outro. E então ouvimos um barulho lá fora.

– E que barulho é esse? Parece um... miado? – questionei.

– Droga, eu esqueci dela – resmungou Edward, saindo do quarto.

Dela? – eu repeti, totalmente perdida.

Ele voltou ao quarto alguns segundos depois, seguido por uma linda gata branca e muito irritada. Ela sibilou para Edward enquanto passava por ele, os pêlos se eriçando enquanto ela miava insatisfeita com algo. Eu olhei boquiaberta, quando ela se acomodou na cama ao lado da garota adormecida, dando duas voltas em torno de si mesma antes de aninhar-se ao lado da estranha.

– Mas que porra é essa? – quase gritei, enquanto apontava para as duas.

– Alice, essa é Preciosa, a gata dela – apresentou Emm, que tinha começado a tirar os sapatos da garota. – Ei, Ed, olha só isso: ela conseguiu fugir de um psicopata, no meio do maior tiroteio, e sem quebrar o pé. Essa é guerreira, cara.

Edward revirou os olhos enquanto ele jogava os sapatos no chão ao lado da cama – lindíssimos peep toes off-white com arabescos em dourado, nada que eu já tivesse visto na vida. Mas eu jamais admitiria aquilo, porque ela era uma estranha e possível biscate (sabe-se lá saída de qual buraco) que estava nos braços do meu homem.

Coloquei as mãos no quadril, muito irritada, e passei a encará-los novamente.

– Muito bem, agora me escutem os dois – comecei, olhando seriamente de um para o outro. – Vocês me acordam, invadem o meu apartamento com uma debutante completamente apagada, parecendo morta, e ainda por cima com uma gata irritada a tiracolo. Acho bom começarem a me explicar, antes que eu mate aos quatro!

Emm olhou confuso para mim, tão lindo com aquela carinha perdida dele... Ah, mais uma vez obrigada por eu estar usando minha Victoria’s Secret nova branca. Mas bem que eu poderia ter colocado a preta... Tudo bem, eu posso matar o Edward, a garota e a gata. Fico com ele.

– Alice, esta é Isabella Swan Baudellaire – Edward começou a falar, silenciando toda a minha tagarelice mental. Ele sentou na beira da cama, ao lado de Emmett. – Ela é a Princesa de Bharsóvia, um pequeno país em uma ilha perto das Ilhas Canárias. O FBI mandou a mim e ao Emm em missão para lá, porque seu país foi vítima de um Golpe de Estado. Nós saímos fugitivos de lá, com perseguição de tiros e tudo mais, com a Princesa para protegê-la. E agora somos os responsáveis por ela, até que tudo acabe por lá.

Eu os encarei a sério por um longo tempo, sem dizer nada.

E então explodi em uma crise de gargalhadas.

– Esta é a pior mentira que eu já ouvi na vida, rapazes. Parabéns pela imaginação! – eu disse, enxugando as lágrimas de riso com as costas das mãos.

– Não é mentira – discordou Emm, sério. – É tudo verdade, Alice.

– Tá, tudo bem – eu disse, controlando o riso que ameaçava escapar novamente. – Mas então... Já que vocês são os responsáveis por ela, o que eu tenho a ver com isso tudo?

– Já que você sabe de tudo agora, também está envolvida com um segredo de interesse mundial – disse Edward, num tom baixo e todo persuasivo. – O que significa que você não pode virar as costas para o Presidente dos EUA.

Eu ergui uma sobrancelha para ele.

– Não estou dando as costas ao Presidente, mas a você e a toda essa missão idiota – eu o corrigi.

– Alice, ela não pode ficar conosco – Emm tentou argumentar. – Ela não pode morar com dois caras, porque vai acabar pegando má fama, e você sabe que as pessoas falam mesmo. Além do mais, não temos um terceiro quarto.

Eu abri a boca para argumentar de volta, mas Edward foi mais rápido. De novo. Argh.

– E como você mora sozinha e tem um quarto desocupado – ele sorriu torto para mim, usando todo o seu poder. – Pensamos que ela poderia ficar aqui com você.

– Não! E esse seu sorriso torto não funciona comigo, Edward. Como sua irmã, e não como uma daquelas que babam por você aos cantos da cidade, eu sou imune a esse tipo de coisas. Graças aos céus!

– Por favor, Alice? – implorou Emmett, ficando de pé e me seduzindo com aqueles olhos azuis enquanto se aproximava de mim.

Droga. Eu não era imune a ele, e quase cedi a aquela cara de pidão.

– Não – eu sussurrei, sem muita convicção na voz.

– Alice, por favor? – Edward também estava de pé, ao lado dele, usando todo aquele seu tom triste de órfão abandonado. – Você não é ruim o bastante para querer ver uma pobre garota sem teto, num lugar onde ela não conhece nada nem ninguém...

– Ai, droga... Tá, tudo bem – eu cedi, totalmente contra a minha vontade. Vamos deixar isso bem claro. – Ela pode ficar aqui.

Eles vieram até mim e me esmagaram em um abraço de doer os ossos. Eu estava abraçando a Emmett – ele realmente estava ainda mais gostoso naquela farda branca, o cabelo loiro meio bagunçado e aqueles incríveis olhos azuis que sorriam para mim – quando Edward me puxou para mais perto dele. Como se reparasse mesmo em mim só agora. Ele imediatamente tirou o paletó da farda e fazendo uma careta, colocou-o sobre meus ombros, enquanto eu tentava me desvencilhar.

– O que é isso que você está usando, Alice? – esbravejou ele, me olhando com reprovação da cabeça aos pés.

– Uma camisola branca, linda e cara da Victoria’s Secret – eu disse, dando uma voltinha na frente deles e me exibindo de propósito. – Gostou, maninho?

Ele fechou ainda mais a cara, enquanto eu olhava para Emmett. Ele tentou desviar o olhar, fingindo que não tinha reparado, mas eu sabia que ele percebeu.

– Vamos deixá-las esta noite aqui com você e amanhã de manhã a gente volta – disse ele, ainda sem me olhar nos olhos.

Deixá-las? – eu repeti, estranhando o plural. Toda a minha linha de pura sedução rompeu-se na mesma hora. – Ah, peraí... Não me digam que a gata vai ficar também?

Eles sorriram amarelo. Falsos!

– Preciosa tem um temperamento forte e bem peculiar. Acha que tem um rei na barriga – comentou Edward baixinho, só para nós.

– É só você não ficar muito tempo perto da Malgata que fica tudo bem com você – aconselhou Emm, sorrindo travesso.

– Ah, que ótimo – eu bufei e olhei para as duas na cama. – Agora, além de abrigar uma Princesa fugitiva, eu tenho que abrigar a gata do mal dela também...

– Por isso eu disse Malgata – repetiu Emm, rindo. – É uma variação de gata do mal combinado à malvada, maléfica e derivados. Boa Noite, Alice.

Ele veio até mim e eu fiquei esperando que ele me desse um belo beijo de boa-noite, mas ele não o fez. Apenas bagunçou um pouco meu cabelo e saiu do quarto.

– Voltaremos amanhã, maninha querida – falou Edward e saiu atrás dele, antes que eu pudesse encontrar algo para atirar nele ou atacá-lo novamente.

Com um último suspiro, eu dei as costas as duas e saí do quarto. Fui até a sala, passei a chave na porta e voltei para o meu reino feliz, minha doce e adorada cama.

Algo me dizia que essa Princesa mudaria muitas coisas por aqui.






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