(DES)EDUCANDO Uma Princesa escrita por Vamp Writer


Capítulo 2
Capítulo 1: RESGATE


Notas iniciais do capítulo

Este é o começo da história. Realmente espero que vcs gostem!
Não esqueçam de deixar reviews, por favor ;)



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/246866/chapter/2





Nova York, EUA.




Agente Cullen




Em algum lugar muito longe, eu ouvia um barulho. Um barulho muito irritante e insistente. O cretino do meu celular ousava berrar escandalosamente, tirando cada vez mais meu sono e meu bom humor.

Rolei na cama de má vontade e, ainda sem abrir os olhos, tateei pelo criado mudo até encontrá-lo. Levantei alguns centímetros a cabeça do travesseiro e abri um olho, tentando enxergar o relógio digital pousado ali. Jurei a mim mesmo que mataria o desgraçado, bem dolorosamente, que ousava me ligar às quatro e vinte da manhã de um sábado.

– Alô? – atendi, com a voz bem grossa e mal humorada, rosnando para o aparelho.

AGENTE CULLEN!

O berro no telefone me fez sobressaltar e, com o tamanho susto, eu me desequilibrei e caí da beirada da cama diretamente para o chão duro e gelado. Aquela voz grossa e colérica me deu um arrepio e me deixou com mais dor do que a queda em si. Meu chefe.

– Sr. Johnson? – murmurei de volta, segurando um bocejo enorme enquanto me levantava do chão.

– Não, é o Papai Noel – bradou ele de volta, e eu me encolhi com seu berro enquanto afastava o celular do ouvido. – Por quê a demora para atender a esse maldito telefone? Estava morto por um acaso?

– Não, senhor. Desculpe. Eu tenho sono pesado – respondi, me segurando para não mandá-lo para aquele lugar.

– Eu já percebi isso – ele rebateu e eu revirei os olhos. – Tive que ligar para você cinco vezes, porque o imbecil do Agente McCarthy não atendeu a nenhuma das minhas treze ligações.

– Emmett? O senhor ligou para ele? – perguntei, feito um idiota.

– Está surdo, Agente Cullen? Não ouviu o que eu acabei de dizer? – perguntou ele, furioso novamente. – Faça-me um favor e depois dê um jeito nessa sua surdez de uma vez por todas... Agora, você tem um minuto para colocar o Agente McCarthy na escuta com você. Vocês dois têm uma nova missão.

– Senhor Johnson, eu não...

Cinquenta e cinco segundos, Agente Cullen – interrompeu ele, quase gritando.

Eu suspirei e enfiei a primeira calça que eu achei, largada no chão do quarto, e fui até a porta do meu quarto, questionando a mim mesmo o que diabos eu tinha feito para merecer isso. Entrei no quarto ao lado, o quarto de Emmett, e o encontrei usando só uma boxer branca, dormindo todo esparramado e de barriga para baixo. Ele dormia de boca aberta e até babava no travesseiro.

– Mas que visão do Inferno – resmunguei comigo mesmo, fazendo careta.

Meus olhos recaíram sobre o seu celular pousado no criado mudo ao lado da cama, o visor piscando e avisando sobre as treze ligações perdidas. E o pior de tudo, o que me fez revirar os olhos, foi ver que o celular nem estava no silencioso. Emmett dormia mais pesado que os mortos do cemitério.

TRINTA SEGUNDOS! – ouvi a voz do Sr. Johnson berrar no meu aparelho.

Revirei os olhos e sacudi o ombro de Emmett.

– Ei, Emm, acorde. O Sr. Johnson quer falar conosco – ele não se mexeu e eu tentei de novo, desta vez mais forte. – Vamos, Emmett. Anda logo... Emmett?

Nada ainda. Só roncos da parte dele. Então eu perdi a paciência.

– EMMETT, ACORDA CACETE! – berrei, quase o atirando fora da cama.

Ele abriu um dos olhos devagar e, no instante seguinte, ele estava de pé sobre a cama com um salto tão veloz quanto um gato, apontando sua arma para mim.

– Eu estou alerta! – berrou ele, ainda segurando a arma. – Você não vai me pegar!

– Emmett, sou eu, Edward! – gritei de volta, arregalando os olhos para o revólver a meio metro da minha cabeça. – Abaixa essa arma, seu retardado!

Ele me encarou por um instante, ainda com a arma apontada para mim, até que piscou os olhos devagar e pareceu me reconhecer. Rapidamente ele largou a arma, que caiu com um baque surdo sobre a cama.

– Ah, cara, me desculpe... Eu estava sonhando com um procurado que me perseguia. Foi mal – disse ele.

Você é louco, imbecil? – gritei, jogando minhas mãos para cima e o celular caiu sobre a cama, aos pés dele. Juro que tive vontade de subir ali e quebrar a cara dele eu mesmo. – Como é que você dorme com sua arma debaixo do travesseiro?! E se você disparar enquanto estiver dormindo?

– Eu chamo de precaução – respondeu ele, rindo de mim.

– E eu chamo de burrice – rebati, fuzilando-o com os olhos.

– SERÁ QUE DÁ PARA O CASAL DISCUTIR DEPOIS? – meu Iphone berrou.

Eu tinha até me esquecido totalmente dele. Peguei o celular e o coloquei no viva voz.

– Agente Cullen na escuta, senhor – falei, lançando um olhar para que Emmett fizesse o mesmo.

– Agente McCarthy também – emendou ele, sentando na cama.

– Ótimo. Tenho uma missão para o casal de Belas Adormecidas – falou ele, e eu fiz que não com a cabeça quando Emmett abriu a boca para respondê-lo. – Estão acordados agora?

– Perfeitamente, senhor – respondeu Emm, olhando feio para o telefone.

– Que bom. Agora, me escutem com atenção. O avião de vocês sai em uma hora de dentro do aeroporto de Nova York, então eu acho bom que os dois estejam presentes quando o jatinho do FBI decolar – Emm fez uma careta, enquanto eu fechava a cara. – O piloto deixará vocês em Rabat, capital do Marrocos, onde haverá um helicóptero e um mapa com as coordenadas que os levarão a Bharsóvia.

– Bharsóvia? – perguntamos os dois, ao mesmo tempo.

– Sim, Bharsóvia – confirmou ele, sem ironia dessa vez. – Trata-se de um pequeno país, uma única ilha próximo às Ilhas Canárias, que passa desconhecida para o planeta todo. Bharsóvia não está inscrita em nenhum mapa, por causa de um Tratado muito antigo que a protege do restante da civilização. Para os líderes do G8, os oito países mais ricos do planeta, é diferente. A informação é extremamente confidencial a esses oito Chefes de Estado.

– E o que faremos lá? – perguntei, após uma pausa em nossa aula de Geografia.

– Bharsóvia ainda é governada pela Monarquia. O Rei Charlie VI ligou ontem para o nosso Presidente, dizendo que teme por um possível Golpe de Estado amanhã, durante uma cerimônia local de coroação. O FBI está designando vocês dois para irem até lá, com a missão de proteger a Princesa Isabella, o tesouro do Rei. Ele implorou ao nosso Presidente que não medíssemos esforços em relação à proteção da Princesa. Então é isso. Entenderam bem?

– Claro, senhor – concordei, formalmente.

– Proteger a Princesa com nossas vidas – completou Emmett.

– Exatamente. Agora andem logo – ordenou ele. – Agente Johnson desliga.

O telefone ficou mudo. Emmett e eu trocamos um longo olhar em silêncio. Por fim, eu saí do quarto dele e voltei ao meu, decidindo tomar um banho para despertar melhor. Depois de vestido, peguei uma pequena mala com alças e enfiei algumas roupas, sapatos extras e coisas de higiene. Peguei meu passaporte e saí do quarto, Emmett já me aguardava na sala com sua bagagem e a chave de seu carro em mãos. Descemos silenciosamente pelo elevador e fomos para o estacionamento, onde seu Land Rover nos aguardava brilhando na escuridão. Chegamos ao aeroporto com vinte minutos de sobra e embarcamos no jatinho.





Castelo de Bharsóvia, Domingo, 14:00 p.m.




Princesa Baudellaire




– Ai, Tom! Não consigo respirar – sussurrei, sem fôlego.

Tom puxava cada vez mais as tiras em minhas costas, deixando o espartilho de meu vestido cada vez mais apertado.

– Majestade, isso é necessário – desculpou-se ele, enquanto eu o ouvia rindo baixinho atrás de mim. – Para ficar bonita, toda mulher sofre. E seu vestido a deixará deslumbrante.

– Não posso ficar bonita sem sofrer? – perguntei, minha voz um pouco amuada. – Sou uma Princesa. Isso não me dá nenhum tipo de privilégio?

Ele deu outro puxão e eu me encolhi toda.

– Muito pelo contrário – discordou ele, enquanto eu o sentia fazer um laço na base das minhas costas. – Prontinho. A senhorita está magnífica, ficou muito melhor do que no meu croqui.

Thomas Bouvié era o costureiro real há anos, desde que papai era um jovem príncipe. Ele me vestia desde bebê e era o meu melhor amigo, eu o considerava meu segundo pai. Seus gentis olhos castanhos sorriam para mim enquanto eu dava uma pirueta, seu sorriso de satisfação espelhando-se em meu rosto.

– Eu adorei, Tom. Lilás é a minha cor favorita – assinalei, passando o dedo pela saia ampla e rodada enquanto me virava para o espelho triplo de perfil atrás de mim.

O vestido era fabuloso mesmo. O espartilho era todo bordado em cristais em complexos arabescos, que davam a impressão de que eu carregava uma luz que refletia por todos os lados comigo. A saia era ampla, abrindo em pequenas pregas perto da cintura, feita de um tecido macio e pesado que se arrastava ao chão. E o barrado, era bordado com minhas iniciais em fios de ouro.

– Sim, eu sei – ele sorriu. – Combina muito com você e deixa seus lindos olhos verdes mais brilhantes do que esmeraldas. Minha alteza estará perfeita, será o centro da sua cerimônia de coroação.

Eu deixei um longo e pesado suspiro escapar de mim.

– Acho que eu ainda não estou pronta para isso, Tom – desabafei, saindo da frente da minha imagem no espelho e fui até minha penteadeira, sentando-me em minha banqueta.

Tom veio até mim e começou a pentear meus longos cabelos, moldando-os para o penteado que eu usaria na cerimônia dali à uma hora.

– Por quê diz isso, minha pequena?

Eu dei um pequeno sorriso tímido para ele, enquanto o fitava pelo espelho da penteadeira.

– Eu só tenho dezoito anos. Não estou pronta para ser coroada, muito menos para assumir o trono como Rainha de Bharsóvia. Eu não sei governar nada, não mando nem em Preciosa, a minha gata. Já pensou no que eu posso fazer com o nosso reino?

Ele sorriu para mim, doce e compreensivo como sempre.

– Majestade, Preciosa é uma gata de personalidade muito forte... A senhorita pode não mandar nela, mas com toda a certeza ela é muito fiel a você.

E como se tivesse sido chamada, Preciosa entrou em minha suíte e veio andando graciosamente até mim, pulou em meu colo e se aninhou por ali, ronronando satisfeita. Eu sorri para ela e comecei a acariciá-la distraidamente, meus dedos roçando por seu pêlo macio e branco como algodão.

– Viu só o que eu disse? – falou Tom, sorrindo, enquanto colocava os últimos grampos em meu cabelo. – Governar Bharsóvia não será difícil. Sei pai estará ao seu lado, para apoiá-la e ajudá-la sempre que necessário, assim como eu. E em breve a senhorita encontrará um nobre rapaz, o qual escolherá para governar nosso reino com você. Não será muito difícil.

Ele finalizou o penteado colocando minha coroa de Princesa, bem no alto de minha cabeça. Eu sorri para a jovem princesa que me olhava no espelho, os mesmos olhos doces e verdes de minha mãe, a Rainha Renée. Todos me falavam que eu era idêntica a ela, com a exceção dos cabelos, que não eram loiros e dourados, mas negros como a noite iguais aos de meu pai. Minha mãe dera sua vida em troca de que eu viesse a este mundo, e no fundo eu senti que ela se orgulharia de mim de onde quer que esteja lá no Céu.

– Obrigada, Tom. Você faz tudo parecer mais fácil para mim – eu agradeci a ele, os olhos cheios de lágrimas.

– Não ouse chorar antes da hora, ou vai borrar sua incrível maquiagem que é mais uma das minhas obras primas – ele me censurou, sorrindo para mim e me estendendo a mão.

Eu a peguei e me levantei, segurando Preciosa em um dos meus braços e lhe dei um abraço apertado. Tom, gentil como sempre fora comigo desde que eu me entendo por gente, retribuiu meu abraço com carinho. Quando me soltou, ele pegou meu rosto em suas mãos e beijou a minha testa.

– Princesa Isabella Swan Baudellaire, está na hora de se tornar Rainha.

Ele sorriu e me ofereceu o braço. Saímos do meu quarto e partimos então para a Sala do Trono, onde todos me aguardavam.

O palácio hoje estava muito mais cheio do que o habitual. Havia uma quantidade enorme de guardas reais, todos vestidos com suas fardas especiais na cor branca, que se curvavam respeitosamente para mim à medida que passávamos por eles. Dois em especial chamaram a minha atenção, quando entramos na Sala do Trono. Parados alguns metros atrás do Trono, eu não me lembrava de tê-los visto antes pelo castelo. Mas eu não dei muita importância a isso naquele momento.

– Papai? – chamei delicadamente, quando parei ao seu lado.

Papai tinha uma expressão muito séria e concentrada, enquanto estava de pé junto a uma das janelas e olhava para os jardins da frente do palácio. Era como se ele tivesse esperando que algo fosse acontecer, algo ruim. Isso me deixou desconfortável.

Ele voltou seu olhar para mim, mas seu sorriso não conseguiu impedir que eu visse uma expressão de dor em seus olhos antes que ele a escondesse.

– Minha Bella de Neve – disse ele baixinho, pegando minha mão entre as suas.

Eu sorri para ele. Na minha mente, veio uma das minhas lembranças favoritas. Quando eu era apenas uma garotinha, ele me chamava de Bella de Neve por causa da Princesa Branca de Neve. Assim como ela, eu sempre fui muito branca, quase transparente, o que contrastava muito com meus cabelos bem negros. Meus lábios também sempre foram muito rosados, como se eu usasse batom todo o tempo.

– Está tudo bem? – perguntei, olhando fundo em seus olhos.

Eu vi aquela pequena ruga de tensão conhecida se formar em sua testa.

– É claro que está – respondeu ele por fim. – Só estou... um pouco nervoso. É, é isso. Nervoso pela minha princesinha, que logo será a minha Rainha.

Eu fiz uma pequena careta e eu senti ele me envolver em seus braços.

– Eu estava dizendo ao Tom que acho que não estou pronta para isso, papai – murmurei contra seu peito.

Preciosa gemeu em meus braços, aquele seu miado de desaprovação.

– É claro que está, minha querida – garantiu-me ele, mas depois sua voz assumiu um tom mais sério. Muito mais sério. – Você tem que estar pronta para tudo... Para qualquer coisa.

Eu me afastei para observá-lo, confusa.

- Como assim? O que o senhor quer dizer?

– Não é nada, meu amor – ele deu um pequeno sorriso e beijou minha testa. – Apenas besteiras de seu velho pai.

– O senhor não é velho – discordei e Preciosa concordou, miando em meu colo.

– Vocês duas são muito gentis com esse Rei bobo – ele sorriu, acariciando a cabeça de Preciosa. Ela fechou os olhos e se entregou à carícia. Papai era a única pessoa além de mim que ela deixava se aproximar e lhe fazer carinho. – Agora vamos aos Tronos, está na hora da cerimônia começar.

Eu o segui até o meio do salão, onde o trono do Rei ficava, grande e magnífico sobre os degraus de mármore branco. Sentei-me no em meu trono, à direita do dele, e Preciosa permaneceu aninhada em meu colo, prendendo meu olhar em seus olhos muito azuis por um longo tempo.

O Sacerdote entrou no saguão e a cerimônia foi iniciada. Eu ouvia cada palavra, mas estava tensa demais por dentro para prestar atenção ou assimilar seu significado – apesar de meu rosto estar sereno e tranquilo. Isso era algo que eu aprendi a fazer desde pequena: não importa como você esteja no momento, uma Princesa sempre deve manter a aparência. Serenidade e aparência sempre em primeiro lugar.

Houve um som mais alto e de repente tudo virou uma confusão.

Todos nós vimos as pesadas portas do salão se abrir com violência e o General Trenttini entrou, ao mesmo tempo com uma expressão determinada e um júbilo cruel em seu rosto. Ele encarava papai, sem desviar o olhar. Preciosa ficou agitada em meu colo, eriçando-se toda, e eu tentava acalmá-la enquanto ela rosnava cada vez mais alto para o General.

– Majestade – ele disse em um tom de escárnio, completamente diferente do que ele usava e fez uma rápida reverência. – Estou aqui para destroná-lo. Meus homens e eu esperamos que se entregue pacificamente.

Eu o olhei confusa, quase boquiaberta.

– Do que você está falando, General Trenttini? Meus soldados nunca trairiam ao seu Rei – falou papai, colocando-se de pé exatamente entre eu e o General.

– Estou falando em um Golpe de Estado – respondeu ele, avançando mais alguns metros até nós junto com um grupo de soldados. – E nem todos os seus homens são leais a você, como você pode ver... Eu assumirei seu lugar como o novo Rei de Bharsóvia, e ninguém me impedirá, seja você, sua filhinha mimada ou o seu exército.

– Guardas, protejam-nos! – gritou papai, sua voz ecoando pelo salão, cheia de fúria.

No instante seguinte, os homens do General avançaram contra nós, lutando bravamente com suas espadas contra os soldados que obedeceram à ordem do Rei. Preciosa ficou agitada demais e, antes que eu pudesse segurá-la em meus braços, ela saltou de meu colo e desapareceu no meio da confusão.

– Preciosa! – eu gritei, levantando-me e seguindo na direção em que ela correu.

Senti uma mão segurando meu cotovelo, impedindo-me de seguir minha gata. Quando olhei, apavorada, descobri que era apenas Tom, puxando-me para longe dali.

– Não, Tom, papai está lá! – gritei, apontando para meu pai que empunhava uma espada contra um soldado, a poucos metros de onde nós estávamos.

– Vá com ele, Isabella! Encontrarei vocês logo – ordenou papai, enfiando a ponta de sua espada no estômago do homem, que caiu guinchando no chão.

Tom não me deixou discutir novamente e logo estávamos correndo na direção da porta atrás dos tronos. Ele corria com bastante fôlego pelos corredores ainda vazios do castelo, nós dois ouvindo o caos e a confusão que deixávamos para trás, enquanto eu cambaleava atrás dele com a visão turva pelas lágrimas.

– Tom, o que está acontecendo? – perguntei, enquanto avançávamos pelas passagens que nos levavam à parte sul do castelo.

– Não tenho tempo para explicar tudo, majestade – ele disse enquanto me estendia a mão para me ajudar a descer os degraus de um lance de escadas. – Mas o Rei suspeitou que esse tipo de ataque poderia acontecer.

– Por isso é que ele estava daquele jeito mais cedo? – perguntei, mas ele não me respondeu.

Eu sabia que era a verdade. Agora papai estava lá, correndo perigo.

Quando nos aproximamos do fim de um corredor, fomos interceptados por dois soldados da Guarda Real. Eu imediatamente gelei, temendo pela vida de Tom e pela minha. Eu senti que estava tudo acabado, todo o nosso esforço até agora tinha sido completamente inútil. Abri a boca e enchi o pulmão de ar, para gritar com a maior força que eu conseguisse.

– O castelo está cercado pelos homens do General – disse o soldado mais magro, cabelos cor de bronze, diretamente para Tom.

– Temos pouco tempo para escapar – falou o outro, de cabelo loiro curto e mais musculoso.

Eu ainda estava boquiaberta, com o grito preso em minha garganta pelo choque. Minha mente esforçou-se para me mostrar que estes eram os dois soldados que eu vi mais cedo, no início desta tarde enquanto andava com Tom até a Sala do Trono. Eram os dois guardas que eu não reconhecia e, agora, eu tinha absoluta certeza de que eles não eram da Guarda Real coisa nenhuma.

– Tom! – eu gritei alarmada, puxando-o para mais perto de mim pela mão, olhando de um soldado para o outro em pânico. – Eles não...

– Está tudo bem, majestade – interrompeu ele, em seu tom familiar e tranquilo. – Estes são o Agente Cullen e o Agente McCarthy, são do FBI dos Estados Unidos. Eles estão aqui para protegê-la.

– Majestade – disseram eles juntos, em tom um baixo, fazendo uma reverência.

Busquei o olhar de Tom confusa, mas nada havia além de seus olhos castanhos fixos e serenos nos meus.

– Podemos escapar pela cozinha – disse o mais forte, o loiro. Ele olhava para Tom, como se estivesse com a situação sob controle. Depois sacou uma arma de sua farda, o que me fez arregalar os olhos e dar um pequeno passo para trás. – Nós daremos conta de quem se atrever a cruzar o nosso caminho.

Recomeçamos a andar rapidamente, Tom ao meu lado segurando minha mão e me oferecendo apoio quando eu me desequilibrava com o salto, o agente de cabelos cor de bronze na frente e o mais forte atrás. Um soldado, provavelmente um homem do General, nos viu – mas antes que ele pudesse fazer algo, o agente à minha frente já havia atirado em sua perna, incapacitando-o de nos seguir ou ir muito mais longe.

Eles escancararam a porta da cozinha, andando à nossa frente com a arma erguida, apontando para todas as direções. Mas a cozinha estava vazia, nem mesmo um único empregado sobrara perante a confusão que se espalhava pelo castelo todo. Quando nos aproximamos da saída, na parede oposta, a porta novamente foi aberta atrás de nós e nos viramos todos na mesma hora. Os dois agentes estavam com suas armas apontadas para a porta, prontos para atirar, mas não o fizeram. E logo depois eu estava correndo até lá.

Papai! – eu gritei, correndo até ele e jogando meus braços em torno de sua cintura. – O senhor está bem?

Eu me afastei um pouco, tentando ver algum ferimento, mas não havia nenhum.

– Sim, estou – respondeu ele, um pouco sem fôlego. A corrida lhe exigiu um esforço maior, principalmente depois de duelar com a espada há poucos instantes. – Isabella, minha filha, você precisa ir com eles. Bharsóvia é perigosa demais para você agora.

– O quê? Não, eu não vou deixá-lo! – eu protestei, apavorada, abraçando-o forte.

– Mas você precisa – disse ele, em um tom muito sério, triste e indiscutível. Ele me afastou um pouco para poder olhar em meus olhos, já cheios de lágrimas. Aquela terrível dor em seus olhos fez meu coração se contorcer. – Eu não vou me perdoar se o General Trenttini colocar as mãos em você. Você precisa ir com eles.

– Mas papai...

– Quero que vocês – interrompeu-me ele, olhando diretamente para os dois atrás de nós – me prometam que nada irá acontecer com a Princesa. Independentemente do que acontecer, quero que me prometam que irão proteger e cuidar dela custe o que custar, se preciso for com suas vidas... Estou lhes entregando o tesouro mais precioso de Bharsóvia, o mais valioso de minha vida. Minha filha é tudo para mim.

Eu estava com os olhos cheios de lágrimas, chorando sem parar.

– Nós prometemos – prometeu o loiro, olhando para meu pai seriamente.

– A Princesa será mais importante do que a nossa própria vida – jurou o outro.

Papai assentiu, mais relaxado. Voltou então a olhar para mim.

– Ótimo. Agora vá com eles, querida – falou ele.

– Mas e o senhor? E Tom? – perguntei, o choro ameaçando ficar mais histérico.

– Nós ficaremos bem – garantiu Tom, pousando a mão em meu ombro.

Eu soltei a papai e lhe dei um forte abraço, desejando que o que ele disse fosse mesmo a verdade. Quando o soltei, olhei relutante para meu pai.

– E eu mandarei buscá-la quando tudo acabar, minha Bella de Neve. Eu prometo que tudo vai dar certo – jurou papai, tentando esboçar um pequeno sorriso, mas sem muito sucesso. Ele me puxou para seus braços novamente e eu fiquei ali, agarrada a ele, desejando que aquilo pudesse durar para sempre.

– Precisamos ir, alteza – interrompeu-nos o loiro.

– Vá com eles – mandou papai, me soltando com a mesma relutância que eu tinha em deixá-lo. – E nunca se esqueça de que eu a amo, mais do que tudo o que tenho.

– Eu também amo você, papai – eu disse, minha voz fraca e trêmula, enquanto me aproximava dos agentes. Esforcei minha voz, para que produzisse um último grito. – E se cuidem, por favor!

O agente fechou a porta atrás de mim e descemos os degraus da pequena área, em direção ao bosque que encontrava a lateral do castelo.

– Sou o agente Cullen – identificou-se o de cabelos cor de bronze, estendendo-me a mão para me oferecer apoio enquanto andávamos rapidamente. – Ele é o agente McCarthy, vamos protegê-la de qualquer um custe o que custar.

– O helicóptero está logo ali na frente – disse o agente McCarthy, apontando para algo a dezenas de metros que eu mal enxergava. – Vocês podem seguir na frente que eu cubro a retaguarda.

Eu então corri junto com o agente Cullen, segurando uma de suas mãos e o meu vestido na outra, enquanto cambaleava e tropeçava no terreno irregular do bosque e em minha própria saia. O agente McCarthy vinha poucos passos atrás, sempre alerta e com a arma em posição de disparo a qualquer segundo.

Quando estávamos a menos de dez metros do enorme helicóptero preto, pousado em uma pequena clareira próximo ao penhasco, ouvimos gritos e passos agitados atrás de nós. Quando virei o corpo, vi o General Trenttini com uma dúzia de homens armados correndo em nossa direção.

– NÃO PERMITAM QUE ELA ESCAPE! – bradou ele, apontando para mim.

Os tiros então começaram. Eu queria parar, me jogar no chão, chorar mais e me entregar, mas o agente Cullen não permitiu que eu fizesse nada disso. Enquanto eu corria, me encolhendo ao som de cada disparo, ele e o agente McCarthy disparavam cada vez mais contra os homens do General.

Quando finalmente chegamos perto o suficiente do helicóptero, eu percebi que não havia um piloto. Eu arfei e o meu estômago despencou dentro de mim.

– Entre rápido, Princesa! – mandou o agente Cullen, abrindo a porta de trás para mim.

Ele me ajudou a subir e quando eu não conseguia parar de tremer e chorar, ele passou as inúmeras fivelas do cinto de segurança sobre mim e me prendeu ao banco. Ele bateu a porta, deu a volta rapidamente e entrou do outro lado, assumindo o lugar do piloto. Eu percebi, com alívio e horror ao mesmo tempo, que os tiros não me atingiam ali dentro, talvez porque o helicóptero fosse completamente blindado.

Enquanto ele prendia o seu próprio cinto, colocava o fone e ligava uma série de botões do complexo painel do helicóptero, o agente McCarthy corria até onde estávamos, atirando contra os homens do General e os detendo pelo máximo de tempo possível. Quando ele estava a centímetros da porta, um tiro certeiro o atingiu nas costas e ele caiu no chão.

Não! – berrei, colocando minhas duas mãos na janela, olhando para ele caído à minha frente.

– Ele está bem, alteza – falou o agente Cullen, por cima do meu grito. – Anda logo, Emmett!

Milagrosamente eu o vi ficar de pé, como se nada tivesse acontecido. Ele entrou pela porta na frente da minha e sorriu para o agente Cullen rapidamente, antes de bater a porta atrás de si.

Enquanto eu olhava para fora, olhando para o General e seu pequeno exército de seis homens – fiquei surpresa ao ver que eles dois abateram metade dos homens do grupo –, um borrão branco entrou em meu campo de visão e chamou minha atenção.

– Preciosa! – gritei, agitada, tentando me soltar. – Parem, parem!

– O quê?! – perguntaram os dois, agitados e alertas.

– É a minha gata, Preciosa! – eu falei, apontando para a bolinha branca que corria se desviando de um obstáculo e outro enquanto se aproximava na nossa direção.

Já estávamos a alguns centímetros do chão, mas Preciosa não parava de correr.

– Parem, por favor! – pedi novamente, minhas mãos agarradas ao vidro.

- Nós não podemos, majestade! Temos que tirar a senhorita daqui – falou o agente Cullen, inflexível, sem me obedecer.

Por favor! – implorei, chorando enquanto minha garganta se fechava.

Como se já não fosse ruim o bastante, eu não tive escolha ao abandonar meu pai e Tom para trás. Agora Preciosa, a única que sempre esteve grudada a mim e que se arriscava ao passar por esse tiroteio, eu não suportaria. Não sabendo que, eu poderia tê-la levado comigo, ao invés de abandoná-la à mercê de um ser tão cruel.

– Edward. Acho que eu consigo pegá-la – intercedeu o agente McCarthy, olhando para Preciosa, que olhava para nós, alguns metros abaixo de onde sobrevoávamos. – É só você abaixar mais um pouco. E eu espero que ela saiba pular.

Ela vai conseguir – eu jurei, como se minhas palavras pudessem fazê-la conseguir.

O agente suspirou, mas acabou cedendo. Fez uma pequena meia volta e se aproximou mais do solo, a poucos metros de onde ela estava. O agente McCarthy abriu sua porta e a chamou, gesticulando, gritando e até se balançando, mas Preciosa não se mexeu. Um tiro acertou seu ombro direito e eu gritei novamente.

– Ei, seu retardado! Vá atirar na sua mãe! – berrou ele, sacando sua arma e disparando de ponta cabeça certeiramente contra o homem que o atingira. Depois, girou sua cabeça para mim, que observava tudo horrorizada pela janela. – Princesa, chame sua gata! Faça-a pular, porque ela não me deu a mínima atenção.

– Não conseguirei estabilizar o helicóptero por muito mais tempo – disse o agente Cullen, tenso.

Preciosa! – eu gritei com todas as forças que me restavam, batendo no vidro para fazê-la olhar para mim. – Venha, menina! Venha para mim! Vamos!

Ela pareceu ouvir o meu chamado, porque seus olhos azuis encontraram os meus. Quando o agente se debruçou mais uma vez para baixo, com os dois braços esticados, a cerca de um metro e meio do chão, ela obedeceu e pulou exatamente em seus braços. Ele a segurou e pegou um impulso, balançando-os de volta para dentro e batendo a porta atrás dos dois.

– Vai, vai, vamos Edward! – berrou ele e imediatamente começamos a ganhar mais altura.

Preciosa pulou resmungando, aquele miado tão familiar para mim, dos braços do agente McCarthy para o meu colo. Ela ficou mais alegre, ronronando baixinho enquanto eu afundava o rosto em seu pelo macio e branco. Eu chorava e a agarrava ao mesmo tempo, aliviada por ela estar comigo ali em segurança. O helicóptero balançou um pouco mais enquanto subíamos e eu olhava para o castelo abaixo de nós, cada vez menor e mais distante, até que Bharsóvia perdeu-se de vista.

– Para onde estão me levando? – perguntei depois de um longo tempo, quando eu não tinha mais forças para chorar.

O pôr do sol emoldurava tudo à nossa volta e eu teria achado tudo aquilo lindo, se não estivesse tão apavorada e confusa. Preciosa permanecia imóvel em meu colo, perdida em seus próprios sonhos de gata, enquanto eu lhe fazia carinho mecanicamente. Minha voz já estava estável e serena, assim como meu rosto aparentava estar.

– Estamos a caminho de Rabat, no Marrocos – respondeu o agente McCarthy.

– Lá fica o aeroporto mais próximo – continuou o agente Cullen, sem desviar os olhos do painel. – De lá seguiremos para Nova York, nos Estados Unidos.

Sem dizer mais nada, eu apenas assenti e voltei meu olhar para fora, pensando no caos que eu deixara para trás.






Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!