Tom dizia que olhos azuis eram um atraso na evolução, pois não protegiam o suficiente. Ela sabia que ele gostava de repetir isso inúmeras vezes para irritá-la, já que o mesmo tinha olhos ainda mais claros que os dela, então já havia se acostumado com o jeito jocoso com o qual ele sempre soltava tal informações em momentos nos quais os assuntos faltavam entre eles.

Olhos azuis eram os mais comuns, ele dizia, e mais sem graça que os castanhos. Ela não acreditava, pelo menos não quando se lembrava dos olhos dele. As íris eram tão claras quanto as do Sr. Riddle e, ainda assim, conseguiam ser tão carinhosas quanto as da Sra. Riddle. Sem contar o quão misteriosas eram. Para a cor azul, Tom tinha olhos muito misteriosos, afinal, a cor clara deveria deixar as coisas transparecerem, não? Mas com ele era o contrário, era como se a cor clara fosse como uma camada de gelo sobre um lago, escondendo toda a profundidade e o conteúdo. Haviam vezes nas quais ela podia ver claramente o carinho, a alegria ou o interesse neles, mas havia outras nas quais tudo o que ela enxergava era uma enorme falta de expressão e aquilo a preocupava... Quem poderia saber o que se escondia por debaixo daquela inexpressividade? Tédio? Ódio? Loucura?

Uma vez ele lhe disse que algumas pessoas acreditavam que pessoas com aquela cor de olhos eram mentirosas. Ela nunca soube se tal informação era correta ou não, afinal, ela não era mentirosa, muito pelo contrário – um pouco de mentira lhe cairia bem, na realidade – e nem seus familiares ou os pais dele, mas, quando Tom sumiu com ela, a moça começou a acreditar no que diziam sobre a relação entre a mentira e a cor azul das íris.