“Ore por mim

Porque eu fiquei procurando o céu durante a execução do inferno

Quando a morte encontra-me

Eu vou sozinho.”

“Chore sozinha, eu fui embora

Sem mais noites, sem mais dor

Eu tenho ido sozinho, gastando toda minha força

Mas eu mudei

Eu não vou te ver essa noite.”

“Pra tão longe, eu fui embora. Por favor, não me siga hoje à noite.

E enquanto eu estiver fora, tudo ficará bem.”

Ravena POV

Joguei Amores Infernais na escrivaninha junto com o outro livro. As passagens de avião joguei na cama com o passaporte e me sentei olhando para eles.

Peguei o livro do chão e a abri nas páginas do mapa. Coloquei as mãos na cabeça. Quando eu comprava as coisas eram apenas sussurros, mas a cada segundo elas estavam mais fortes. Minhas emoções. Eu já não precisava do espelho pelo visto.

Tem que haver um jeito melhor! – disse Afeto.

Essa não pode ser a única escolha! – disse Rude.

Tem de haver outra maneira! – disse Preguiça.

Ei! Uma de cada vez por favor. E não. Não tem outro jeito.

Ela tem razão. – me apoiou Conhecimento.

Você está do lado de quem? – perguntou Valente.

Do lado que quer que os outros continuem vivos. – ela respondeu.

Respirei fundo. Isso era mais estranho do que falar com minhas emoções em rochas flutuantes.

Olha só. – disse aquela vozinha doce que eu já não ouvia a um bom tempo. – Nunca achei que um dia você fosse fugir assim.

Ah, não. Você não.

Eu siiiim! – pude ouvir um sorrisinho em sua voz.

Só pode ser brincadeira.

Eu vi aquele beijo. – ela deu uma risadinha. – Está finalmente começando a aceitar o que sente? – ela riu outra vez.

Eu não sinto nada. E cale a boca.

Não pode mentir para mim Ravena. Sabe disso.

Mandei se calar!

Desculpa... – disse Tímida. – Não sabíamos que ela ia...

Tudo bem. Só... Me deixem cuidar de tudo.

Depois disso elas não falaram mais. Tirei minha mochila do armário. Não sabia ao certo o que levar, então coloquei o básico.

Documentos, dinheiro(trocaria quando chegasse lá), muda de roupas etc. Por falar em roupa, não podia ir de uniforme, então o tirei e coloquei na mochila. Vesti uma calça jeans escura, all stars, uma blusa azul lisa com mangas até o cotovelo e uma jaqueta de couro preta com gola.

Terminei de ajeitar as coisas, peguei a passagem e o passaporte e os coloquei no bolso. Então peguei o livro. Olhei pra ele por algum tempo e o coloquei na mochila. Três horas até o voo. Tempo suficiente para escrever um bilhete.

Me sentei na escrivaninha e depois de cinco tentativas consegui escrever alguma coisa decente. Quando guardei a caneta na gaveta, vi um pequeno brilho. Peguei para ver o que era.

Era uma moedinha.

A encarei alguns segundos e coloquei no bolso da mochila. Coloquei o bilhete na cama com meu comunicador em cima.

Coloquei a mochila nas costas e andei calmamente pela torre até a porta. Estava tudo escuro já que todos tinham ido dormir.

Quando saí, olhei para aquele T gigante onde eu morava a tanto tempo. Me virei e fui embora com o coração apertado.

Mutano POV

Era hora do café da manhã e embora fosse um dos meus momentos favoritos do dia, eu estava de cabeça baixa quase dormindo. Nunca mais jogo video game até as três da manhã.

– Puxa vida, você parece ótimo. - disse Robin sarcasticamente. Ciborgue estava cozinhando.

– Cala a boca. - digo contra a mesa. Robin ri. Ah, é assim? Nunca mais ajudo você a fazer uma declaração de amor pra sua namorada! O senhor tem-ideias-românticas-pro-chefe aqui, esta se demitindo!

Estava quase caindo de sono quando ouvi um grito. Não um grito tipo "Ai que susto!" Um grito tipo "Socorro o Chuck tá no meu quarto!".

Levantei rápido a cabeça o que me deixou um pouco tonto, o grito veio do andar de cima. Foi Estelar. Ok, se Estelar está gritando, alguma coisa séria aconteceu! Ela era durona! Tipo uma versão ruiva da Lois Lane, não gritava por qualquer coisa.

Robin e Ciborgue também estavam com cara de preocupação. Fomos em direção a escada quando Estelar desceu voando e se atirou nos braços de Robin chorando. Ok, Estelar chorando é situação duplamente séria! Ele cambaleou um pouco com o impacto.

– Star... o que aconteceu? - ele perguntou abraçando ela. Estelar não respondeu, continuava chorando no ombro de Robin, só então percebi que ela tinha alguma coisa nas mãos. Robin estava verdadeiramente preocupado, afinal, não era todo dia que Estelar caia no choro.

– Ravena... - ela disse depois de um tempo. Certo, agora eu é quem estava preocupado. - Eu fui ver como ela estava e...

– O que aconteceu com Ravena? - eu pergunto.

– Ela foi embora... - Estelar disse num sussurro.

– Como assim foi embora? - perguntou Robin.

– Foi embora Robin. - ela diz se afastando dele. - E deixou isso. - ela mostrou o que tinha na mão direita. O comunicador de Ravena. Robin o pegou e olhou confuso.

– Mas... eu não entendo...

– E também deixou isso. - ela fungou e mostrou um pedaço de papel. - Um bilhete de despedida. - eu estava em estado de choque. O que estava acontecendo? Por que ela foi embora? Aquele beijo tinha sido tipo uma despedida? Mas nenhuma dessas perguntas saiu.

– O que diz aí? - perguntou Ciborgue. Estelar fungou outra vez, desdobrou o papel e começou a ler.

– "Caros amigos, queria ter um jeito melhor de dizer isso para vocês mas não há. Eu tive que partir. Mas não se preocupem comigo, eu vou ficar bem, e espero voltar logo. Mas..." - ela fungou enquanto novas lágrimas se formavam em seus olhos. – “... Existe possibilidade, de eu não voltar. Mas acreditem, eu não faria isso se tivesse outra escolha. Acreditem é para o meu bem, e o de vocês..." - nesse ponto eu já olhava para o chão incrédulo. Rae... - "... Por favor não me sigam. Não venham atrás de mim. Isso só vai piorar as coisas. Gostaria de poder explicar mas não posso.''

Estelar parou de ler um segundo para segurar o choro, Robin e Ciborgue estavam confusos enquanto eu olhava para o chão com os punhos cerrados.

– "E, para o caso de eu não voltar, quero que saibam que eu sempre considerei vocês a família que eu nunca tive..." - Star começou a chorar e Robin a abraçou. - " Vocês são maravilhosos. Continuem sempre assim. Pura..." - ela deu um sorriso. –“... Louco..." - abraçou Robin de volta. – “...Explosivo..." - disse rindo para Ciborgue. - "... E engraçado." - aquilo foi como uma facada no meu peito. Levantei s cabeça, Estelar me lançava um sorriso fraco. - "Ravena." - e desabou a chorar no ombro de Robin outra vez.

O bilhete caiu no chão perto de mim, o peguei e reli aquelas palavras. Ainda não conseguia acreditar naquilo.

– O que faremos agora? - Estelar disse sufocada. Ninguém respondeu por um tempo.

– Vamos atrás dela.- disse Robin.

– O quê? - disse Ciborgue. - Cara isso é...

– Eu concordo. - digo quando finalmente acho minha voz.

– Vocês só podem estar loucos. - Ciborgue continuou. - Não sabemos onde ela foi nem nada do gênero! E ela disse para ficarmos!

– E disse que talvez não voltasse. - digo. - Você conhece Ravena, para ela não existe talvez! Ou é ou não é! E ela sempre acha que pode fazer tudo sozinha! Lembra o que aconteceu nas outras vezes? Não sei vocês mas eu não vou abandona-la! - eu estava quase gritando. Jogo o bilhete, agora amassado, no chão. Respiro arfante.

– Por onde começamos? - diz Estelar decidida, enxugando as lágrimas.

– Pelo quarto. - diz Robin. - Deve ter alguma pista lá. - olhamos para Ciborgue. Ele suspira derrotado e dá de ombros. Nos entreolhamos e subimos as escadas correndo.

Pode ter certeza Ravena, você não vai fugir.