Dando por encerrado o seu horário fora do expediente, Rose Weasley tirou os óculos de leitura e os colocou em cima da pilha de livros mais próxima. Ela não pôde evitar a súbita impressão de que, no início da semana, essa torre de exemplares em específico – a que ficava em cima de sua escrivaninha – era ligeiramente menor.
Apertando os olhos, tomou coragem e olhou analiticamente para o próprio aposento: além da estante cheia que parecia prestes a ceder pelo peso indevido, havia pequenos montantes de livros para onde quer que se olhasse. Era possível que ela já pudesse protagonizar um episódio daquela série trouxa sobre acumuladores que seu avô Granger adorava.
Talvez fosse a hora de se mudar.
Suspirando, ela abriu a gaveta da mesa de estudo e mirou de novo a carta de oferta de Ilvermorny. Há dois anos atrás, quando ela fora admitida como professora titular de Poções em Hogwarts, ela havia achado o espaço do seu cômodo agradável e suficiente. Não vira necessidade de alugar um lugar em Hogsmeade ou em algum outro vilarejo próximo, porque havia algo de acolhedor em apenar voltar a morar no colégio, como quando era uma interna.
Ela sabia que o sentimento ainda estava ali, mas ele era soterrado mais vezes do que Rose gostaria, não só pelos muitos livros que se amontoavam pelos cantos e ela comprava mesmo sabendo que nunca teria tempo de ler, mas principalmente pelo cansaço diário que sentia.
Rose amava lecionar, amava seus alunos e achava que o sentimento era recíproco – mesmo entre os que não eram particularmente fãs de sua matéria. Isso parecia um feito muito grande para alguém com apenas vinte e sete anos. Ela estava contente com sua trajetória acadêmica até então, mas, em algum nível, se sentia anestesiada. Era bom ter uma carreira consolidada tão cedo – sua mãe lhe dizia isso o tempo todo e acreditava que ela poderia fazer grandes coisas pela educação bruxa no Ministério futuramente. Rose concordava com meio sorrisos.
Era possível ser feliz e triste? Era possível sentir como se a própria vida fosse uma lagoa bonita de águas paradas com margens bem delimitadas e fixas que não davam em lugar algum? Parecia que ela estava boiando desde sempre. Era seguro, mas também entediante.
Estalando os dedos e espreguiçando o corpo, ela ouviu uma leve batida na porta. Era noite e poucas pessoas tinham acesso ao seu dormitório. Ela sabia que isso só podia significar uma coisa.
— Ei, prima. – Albus sorriu, encostado no batente da porta escura.