Lily Evans.

A semana se passou lenta e dolorosamente, sério.

Sabe quando você está ansiosa pra certo dia chegar logo, e o cosmos parece querer dificultar sua vida até você pedir arrego?

Pois é, mas o cosmos pode tirando o cavalinho da chuva, porquê essa ruiva aqui é daquelas que nunca pedem pra sair.

Uau, fiquei realmente impressionada com o quanto isso soou ridículo.

– Hoje é domingo, e amanhã é segunda!

Eu estava tão feliz, que chegava a estar meio dopada, e consequentemente não percebi que o que eu falei foi umas das coisas mais idiotas que se pode falar quando está ao lado de Lene.

– Sério Lily? Precisamos anotar isso! Dorcas ligue para uma agência de gênios, precisamos registrar essa incrível descoberta que ninguém nunca foi capaz de fazer!

Lene pode ser bem chata e sarcástica quando quer.

Dorcas fez uma cara tão confusa, que de pena revirei os olhos em respeito á burrice dela.

– Agência de gênios?

A cara de Lene realmente foi engraçada quando ela olhou por céu como se pedisse “Por favor, Deus, me mate” e logo em seguida falou:

– Quando foi que vocês ficaram tão burras?

Revirei os olhos de novo. Vício é vício, fazer oque?!

Quando Dorcas e Lene foram embora, fiquei sozinha em casa. Oque era estranho, depois de duas semanas com todos fazendo tudo pra mim, estar sozinha em algum lugar era até meio incomodo.

Como não tinha nada pra fazer em casa, resolvi ir no shopping tomar sorvete e olhar as roupas de baile.

Por incrível que pareça, não chamei as meninas.

Precisava de um tempo meu, pra pensar em Amos e no que estou sentindo por ele, pensar em Severo e naquele beijo estúpido...

Mas eu daria tudo, tudo mesmo, pra ter o poder de voltar no tempo.

Imagina como seria bom eu ter continuado em casa, assistindo um filme qualquer e comendo uma bacia de brigadeiro com as minhas amigas.

Seria infinitamente melhor do que estar aqui, encarando os olhos loucamente castanhos de Potter.

Deixe-me contar tudo desde o começo.

Como eu não tenho um carro tive que vir de táxi mesmo.

Quando cheguei, fui direto na sorveteria. E graças ao meu bom Deus, aqueles três seres inúteis não trabalham mais lá, porquê, além de não saberem montar um sorvete direito, eles são completamente insuportáveis. E toda a vez que passo pela entrada só de funcionários lembro daqueles estúpidos bloquinhos de “avaliação”.

Depois disso, eu realmente achava que não iria encontrar nenhum deles, e teria uma tarde de paz... Mas, só pra variar, eu estava redondamente enganada.

Estava indo pra loja de vestidos de festa quando certo energúmeno que não sabe que se tem que olhar pra frente esbarra em mim, sujando minha blusa toda.

Pelo menos, dessa vez não era uma blusa nova.

Quando olhei pra frente, adivinha quem era?!

Sim, era Lana... E Potter?

Lana estava rindo, só pra variar.

A risada dela me irritava profundamente, era tão fina e forçada. Sem naturalidade, parece que ela ensaiava a risada toda vez que ia sair de casa.

E Potter então? Ele ria tanto que só faltava engasgar. Ele também estava sujo, mas nem se comparava á mim, eu estava completamente coberta de chocolate e constrangida, todos que passavam olhavam pra mim e riam.

Eu sei que era pouco pra ter saído correndo pro banheiro, me trancado em um dos boxes e me desfazer em lágrimas.

Mas não era só o fato de quase todo o shopping ter rido de mim, eu estava confusa em relação a Amos, Severo, e principalmente Lana... com Potter.

E isso me fez chorar ainda mais, eu estava me sentindo uma derrotada, mesmo sem ter motivos relevantes para me sentir assim.

Depois de alguns minutos me permitindo ser fraca, resolvi que já bastava e juntei todo o resto de dignidade que possuía e fui tentar limpar minha blusa. Consegui tirar uma quantidade considerável, mas ainda assim tinha chocolate na minha roupa.

Quando percebi que não tinha mais jeito, que já tinha escondido o máximo possível de evidências de choro e de chocolate saí do banheiro.

Até aí tudo bom, tudo certo, mas adivinha quem estava do lado de fora me esperando? É isso aí, Potter. Como se já não fosse o suficiente, ele devia estar querendo me irritar um pouquinho mais.

Tentei passar direto, como se não tivesse visto. Mas como minha sorte é realmente impressionante, ele segurou meu braço.

Eu ia continuar andando, mas ele apertou meu braço ainda mais forte e me puxou pra frente dele.

E agora você já sabe como acabei tendo que encarar os olhos de Potter.

Era bem estranho, pra falar a verdade. Os olhos dele me deixavam completamente confusa, como se dentro deles estivessem à chave pro futuro... Pro meu futuro.

Era como se eu quisesse de algum jeito ser o motivo do brilho dos olhos dele, a felicidade que só faltava saltar daquelas órbitas que avaliavam todos os detalhes do meu rosto. É como se estivesse tentando gravar cada traço, cada linha de minha face.

Mas então ele parou nos olhos.

E eu já disse o quanto é difícil ignorar olhos tão castanhos e sedentos pela vida?

Sim, é uma missão praticamente impossível.

Mas como Potter é Potter, ele falou.

Sim, quando ele fala toda a “beleza” dele desce pelo ralo.

– Hey, Lily, está tudo bem?

Aquelas palavras me trouxeram pra realidade com tanta eficácia quanto um tapa ou uma escola de samba se apresentando bem encima da minha cara.

Eu não respondi apenas me soltei e tentei continuar a andar. Mas, novamente ele segurou meu braço, aquilo já estava começando a ficar estranho, várias pessoas passavam e olhavam como se quisessem perguntar oque está acontecendo. Fofoqueiros.

Potter me encarou sugestivamente quando perguntou:

– Você estava chorando?

Se eu não o conhecesse talvez acreditasse que estava genuinamente preocupado, mas veja bem, ele é o Potter! Só se preocupa com si mesmo.

Sorri friamente.

– E desde quando você se importa?

– Desde que... Hey, você quer sair comigo?

Eu fiquei tipo “Hãm?”.

Era mesmo muita cara de pau.

– Cadê a Lana? Vai atrás dela. Sabe, eu tenho planos melhores do que sair com, com ...

– Com?

– Com um arrogante estúpido como você.

– Nossa, tocou aqui ó, no meu heart.

E pela segunda vez hoje, eu fiquei tipo “Hãm?” e saí andando.

E como minha sorte não vai muito com a minha cara, ele me seguiu.

– Mas é sério, porquê você não me dá uma chance? Vai perceber oque está perdendo. – Ele falou me olhando com uma cara maliciosa. Chego a ficar com pena só de imaginar que ele realmente acreditasse que isso ia funcionar comigo.

Meu nome não iria ser anotado naquele bloquinho. Não mesmo.

– Sabe oque estou realmente perdendo? - Falei chegando perto dele de uma forma sedutora.

– Oque?

Ele estava com uma cara cheia de esperança. Oque só ia deixa a coisa mais deliciosa.

– Meu tempo.

O empurrei pra longe e ele caiu dentro de uma loja infantil.

Acho que o motorista do táxi estava em dúvida, se me levava pra casa ou ia direto pro manicômio, porque eu estava rindo como uma doida só de lembra da cara do Potter cheia de expectativa.

Era realmente ridícula. Como ele.