Entre Caçadores E Presas escrita por Meggs B Haloway


Capítulo 4
Sorriso no rosto.


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem e comentem.



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— Por favor — Sussurrei quando ele deslizou os dedos por baixo de minha blusa fina. — Por favor, não faça isso… Por favor. — Minha voz falhou pelas lágrimas de terror que invadiam minha bochecha.

Não consegui contê-las porque eu era fraca. Eu sempre fui boa quando se tratava sobre esconder sentimentos, e lágrimas era o meu ponto forte. Ninguém nunca me vira chorando, nenhuma vez sequer desde os meus seis anos de idade, e acho que eles pensavam que eu tinha arrancado meus canais lacrimais. Eu nunca tinha dado a ninguém o prazer de me ver chorar.

Nas piores situações, eu escondia minhas lágrimas. Eu era tão boa que nunca sequer fiquei com os olhos marejados, nenhuma vez, nunca. A única pessoa que me vira chorar fora Riley e isso era porque ele havia me pegado desprevenida sozinha no meu quarto. As lágrimas secaram em apenas segundos, apesar de ele me garantir que estava tudo bem e eu podia chorar perto dele quando eu quisesse.

Eu nunca mais deixara a porta aberta quando chorava mesmo Riley sendo o meu amigo, eu não queria que aquilo se repetisse pelo simples fato de eu ser orgulhosa.

Um soluço esganiçado saiu de meus lábios ao mesmo tempo em que ele arrancou a blusa fina que eu vestia de meu corpo. As mãos dele eram grosseiras, os lábios eram a mesma coisa, me machucava por estar simplesmente me tocando. Eu queria que ele ficasse longe de mim, não queria as mãos dele em minhas coxas, onde apertavam sem nenhum cuidado.

Iria ficar roxo depois. Muito roxo.

— Você vai ser minha, Isabella. — Murmurou ele, os lábios em meu pescoço, as mãos apertando dessa vez os meus braços. — Fique quieta porque eu não quero machucar você… pare de chorar, docinho. — Quase cauteloso, ele limpou as lágrimas de meus olhos, limpando novamente quando uma nova camada das mesmas molharam minhas bochechas.

— Me solte. — Sussurrei.

Ele não iria me soltar, mas eu ainda teimava em implorar por isso. Eu não queria isso; já era ruim o bastante que eu estivesse sequestrada, ser estuprada parecia pior do que ser torturada. Porque sim, por uma parte, doeria mais. Para falar a verdade, eu preferia morrer. Se eu pudesse, estaria gritando, mas eu estava incapacitada de fazer isso, as lágrimas embolavam a minha voz e me deixava sem ar facilmente. E além do mais, a vizinhança parecia ser calma o bastante para estava casa ser situada em uma rua onde não tivesse ninguém.

Quando ele me levantou do sofá, quis morrer e espernear em seus braços fortes. Queria bater em seus ombros e pedir que ele me deixasse ir embora, ou apenas me liberar daquilo. Tudo que eu queria no momento era que ele ficasse longe de mim, que suas mãos abrutalhadas ficassem longe de meu corpo.

— Isso é impossível! — Gritou ele exasperado, empurrando-me e me fazendo bater em uma parede diante a força que ele usou quando o fez. — Você não para de chorar! É impossível te tocar desse jeito.

— Não quero que me toque! — Gritei com toda a coragem que um dia já ousei possuir em minha vida. — Você é… você é doentio. — Sussurrei.

Ele me olhou por alguns segundos, o maxilar apertado e as mãos que antes estavam grosseiras em meu corpo, apertadas em punhos fortes que talvez esmagasse meu rosto de fosse batida com força contra o mesmo. Mas ele não o fez apenas me olhou como se quisesse me matar tortuosamente e desceu as escadas com raiva.

Hoje, eu não ousaria sair do quarto.

Eu chorei pelo resto do dia, abraçada ao travesseiro como se talvez ele pudesse me salvar daquilo tudo, mesmo sendo impossível porque ele era um ser inanimado. Eu queria morrer — e dominada por essa ideia fui à busca de qualquer coisa que fosse letal se perfurasse algum órgão ou veia importante. Não tinha nada, a não ser uma gilete.

Quando eu finalmente tentei perfurar meus pulsos, não consegui. Eu nunca conseguiria me matar, pois eu ainda tinha esperanças que um dia eu talvez saísse daqui e seguisse minha vida como se isso tudo nunca tivesse acontecido. Poderia, sim, ser uma esperança falha, boba e inocente, mas o que importava era que eu ainda a tinha.

Irritada e com soluços na garganta, joguei a gilete com força contra a parede, vendo-a voar e quicar até poucos centímetros longe de mim. Enterrei minhas mãos em meus cabelos, encostando meu rosto em minhas pernas que estavam juntas. Solucei alto, sem me conter um segundo sequer.

Eu estava rouca quando a crise passou completamente trêmula e com os olhos ardendo como se tivessem jogado areia nos mesmos. Tombei na cama, abraçando minhas pernas o máximo que consegui, com o braço livre, enrolando-me ao lençol de um modo que ele parecesse um escudo contra tudo e todos — assim como eu fazia quando era criança.

Sede — era o que eu sentia quando me acordei de um sono turbulento e escuro. Respirei fundo, levantando-me da cama e tirando minha roupa, colocando uma camisola longa que chegava até meus tornozelos. Era de madrugada, eu tinha certeza que o homem não estava acordado há essa hora.

Prendi meu cabelo em um rabo-de-cavalo antes de sair do quarto, vestindo uma chinela de tiras e tentando não fazer nenhum barulho para não acordá-lo. Eu não queria reviver tudo àquilo de novo, todo aquele terror horrendo que eu nunca pensara um dia sentir em toda a minha vida. Eu era forte e o medo era psicológico — era o que eu pensava com a mais pura inocência.

A televisão estava ligada em um canal de notícias, mas os olhos verdes estavam fechados em um sono profundo. Expirei aliviada, eu pelo menos não precisaria me preocupar em ter de voltar para o quarto sem ter bebido água antes.

O copo transparente me permitia ver minhas impressões digitais em meus dedos prensados fortemente. Bebi três copos de água até meus olhos irem de modo involuntário até uma faca enorme que estava descansada em cima da pia, e era provável que ele tenha a colocado lá para enxugar. Hesitei, mordendo meus lábios para evitar que um sorriso travesso escapasse dos mesmos.

Eu teria mesmo coragem de matar uma pessoa com um sorriso no rosto? A faca se encaixava perfeitamente na curva de minha mão, parecia que tinha sido feita por medida, e com mais determinação, apertei seu cabo. Analisei-a brevemente, ainda com o lábio entre os dentes, e suspirei.

Essa era a esperança que eu não tinha perdido. Essa era a minha chance de sair daqui.

E então, praticamente corri até a sala, ficando de frente a figura sonolenta pousada suavemente no sofá. Respirei fundo antes de cravar a faca na garganta do homem que eu sequer sabia o nome, apenas sabia que o conhecia o bastante para querer matá-lo. Seus olhos se arregalaram e ele agarrou o ar com os braços, caindo no tapete logo em seguida.

A cena que eu vi, eu nunca esqueci em toda a minha vida. O sangue vermelho vívido escorrendo do corte em sua garganta, o sangue jorrando de sua boca, de seus ouvidos. Ele morreu lentamente, eu quase podia ouvir sua dor, mesmo ele não falando nada.

Fiquei fitando o corpo inanimado na minha frente mais que deveria, depois corri para o quarto, trocando de roupa, jogando minhas roupas dentro de uma mala que encontrei no meio do caminho, indo para o quarto dele e colocando dentro da mala também todo o dinheiro que encontrei; depois relógios que me pareciam caros o suficiente para serem vendidos por uma quantia boa.

Eu obviamente não voltaria para casa. Na verdade, eu não sabia o que faria agora.

A mala de rodinhas fez barulho ao descer as escadas e eu evitei olhar para o corpo que ainda jorrava sangue. Antes de estar a dez metros da porta, ela foi aberta por um homem quase idêntico ao que eu havia matado. Ele era mais novo três ou quatro anos, tinha cabelos mais curtos e de uma cor perfeita de bronze, os olhos eram azuis esverdeados.

Eu não estava contando com o fato de ele ter um parceiro de sequestro.          

— O que você fez com meu irmão? — Perguntou o homem ― ou garoto ― aos berros.

Minha única reação foi ficar calada, pensando em correr, mas sabendo que não conseguiria porque ele tampava a minha única saída. Encolhi-me quando ele se aproximou de mim, dando-me um soco que me levou ao chão sem hesitar um segundo sequer. Fiquei no chão, sem forças para me levantar e com os lábios sangrando.

Tentei me arrastar para onde tinha colocado a faca, mas o homem percebeu o que eu ia fazer e pisou em meu pulso antes de eu poder colocar as mãos na faca. Gritei de dor, recolhendo minha mão rapidamente antes que ele pudesse fazer mais alguma coisa. Estava torcido, e se não fosse às várias vezes que isso já tinha acontecido, eu não saberia disso.

— Meu nome é Edward, e eu vou fazer de sua vida um inferno. — Ele me informou enquanto pegava um celular e falava rápido demais para que eu pudesse ter chance de entender quais eram seus planos. 


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Notas finais do capítulo

Comentem.