Memórias

IX

Natsu continuou olhando a loira, ou deveria dizer.. morena? Ele sabia que era ela. Tinha certeza. Mas como ela não demonstrou nenhum sinal de saber quem era ele, decidiu jantar normalmente com Lisanna e Loki e quando tivesse um espaço, tentaria falar com ela.

...

Lucy não entendia. Na janta inteira, aquele garoto de peruca rosada a fitava intensamente, e ela não sabia porque. Teria feito algum mal para aquele garoto? Ao contrário dele, sua acompanhante era super fofa, simpática e sorridente. Ele passou quase a janta toda calado, menos nos momentos em que fora chamado pela albina. Lucy decidiu levantar seu olhar e os seus olhos se encontraram. Ela não entendia o por que, mas ela sabia, suas bochechas haviam ficado quente, ela havia corado. Aquele garoto a fazia se sentir tão.. diferente, ao contrário de seu.. suposto noivo.

Lucy soltou um longo suspiro e Loki percebeu.

— O que foi, Lucy? – Loki perguntou preocupado, ela poderia ter se lembrado dele?

— Não estou me sentindo bem, vou pegar um ar lá fora. Com licença. – A loira disse retirando-se da mesa de jantar apressada. Correu em direção ao jardim, que de fato era lindo iluminado pela luz da lua, segurou-se na sacada, pois embaixo dela havia um grande lago e se perdeu em seus próprios pensamentos, quando sentiu alguém se aproximando.

— Sabe, acho que está frio aqui, você pode se resfriar. – O garoto de peruca rosa olhou timidamente nos olhos da loira, mas mostrando preocupação.

— D-desculpe-me, mas quem..quem é você? – A loira que usava a peruca morena perguntou confusa.

— Você não sabe fingir, Luce.— O rosado se aproximou puxando a peruca da loira. Puxou a para perto de si, até seus lábios se encontrarem. Não era um beijo quente, nada do tipo. Ao contrário, ele demonstrava saudade, medo de perder. A loira permitiu ao rosado continuar com o beijo. Ele era um beijo terno, que demonstrava os mais puros sentimentos do coração do rosado, e talvez, até do coração da loira. Quem sabe.. só sua mente tivesse esquecido dele. O coração, não.

Lucy se afastou. Ela não o conhecia. Tinha um noivo. Não poderia ter feito isso. Por mais que estivesse confusa, os dois ficaram se encarando por um longo tempo. Natsu percebeu algo estranho com a garota e sentiu um aperto no peito. E se.. ela tivesse esquecido dele? Ele sabia muito bem que Loki tinha muito poder. Poderia fazer o que quisesse. Então resolveu perguntar.

— Estranha, você não se lembra de mim? – Ele perguntou nervoso, olhando para o chão. É claro que gostaria de ouvir um: "Sim, eu lembro. Seu idiota, eu senti tanto a sua falta." Mas não foi isso que aconteceu.

— N-não. Saia de perto de mim! – A loira correu assustada para dentro do castelo e alguns segundos após ouviu-se a batida de uma porta.

Natsu não queria admitir. Não queria, não conseguia e não poderia admitir. Ele não queria acreditar naquilo que acabara de ouvir, ele sabia, ela devia conhecer ele. Desesperou-se. Ele tentava o máximo que podia se segurar, não chorar.

Ele tentava, como todas as outras vezes em que era maltratado por seus colegas quando ainda estudava, ele tentava. Ser frio o máximo que conseguia, sem abrir seu coração a ninguém, nem a ele mesmo. Ele tentava não ser sincero com seus sentimentos. Ele tentava dizer que não se importava, mesmo que aquilo o machucasse. Ele sabia que seria assim, abriria seu coração e se machucaria. Por isso por todo esse tempo preferiu guardá-lo a sete chaves e sumir com todas elas. Ele tentava.. e não conseguiu. Ele definiu que, quando se ama, você se machuca. Quer dizer, aquilo que ele sentia era amor? Não sabia, não queria saber. Estava muito machucado por dentro e mal conseguia pensar, até sentir gotículas molhadas escorrendo do seu rosto. "Natsu, você está parecendo uma criança. Recomponha-se!" Sua consciência brigou com si próprio. Secou as lágrimas com as costas dos braços e entrou novamente no saguão do castelo.

Lá estava Lisanna, esperando por ele. Ele realmente não estava com humor para aturar ela. Passou direto pela garota e bateu a porta de seu carro. Deu partida no mesmo.. e seu mundo desabou. Mais uma vez. Para ele sempre fora difícil ser o garoto prodígio da família, como seu pai sempre esperava. Ser o fracote nerd da escola, ser excluído e só conseguir garotas por interesse. Ele sabia que Lucy não era assim, e achava que era por isso que aquela idiota havia chamado sua atenção.

...

Lucy estava confusa, triste e perdida. Ela realmente gostaria de se lembrar daquele garoto. Não conseguia. Tirou toda a maquiagem e a roupa, colocou um pijama que se encontrava em cima do sofá e deitou. Se perdeu pela décima vez só naquele dia em seus próprios pensamentos. Pensou no beijo, no garoto, no que sentia, no seu noivo, até que sentiu uma leve dor de cabeça. Estava se lembrando de algo. Sua família. Sua mãe, Layla, sua irmã, Erza. Sorriu. Pelo menos sabia quem eram os membros de sua família novamente. Mas nada, nada mesmo de se lembrar do rosado. Lembrava-se de que havia ganhado um ursinho-gato azul também. De alguém que deduziu ser do príncipe ruivo, certo? Cansada demais e confusa, adormeceu.

...

Natsu tinha chegado em seu castelo e foi até seu quarto. Bateu a porta, que fez um tremendo barulho, assustando alguns criados e se atirou na cama. Era muito difícil começar a gostar de alguém que mal sabia que ele era. E sentiu culpa. Culpa por ter menosprezado a loira, culpa por ter a trocado por Lisanna, culpa por acreditar em Lisanna.. Lisanna. Ela devia ter feito algo nesse sequestro de Lucy, tinha certeza. Iria fazer aquela garota se arrepender, se não contasse o que era.

Lisanna, ela era a culpada, o tempo todo, nunca tinha gostado da loira, desde a primeira vez que a viu e deixou isso claro. Deduziu e então se deu um soco. "Idiota! Como você não percebeu?" – Gritou para si mesmo. Ele sentia saudades da loira. Muitas. Parecia até que seu coração ia se quebrar, mais do que já estava.

Correu o olho pelo seu quarto e deparou-se com o gatinho azul, que lhe deu uma ideia.

"Se ela não se lembra de mim, desse gatinho ou sei lá o que é deve se lembrar.. certo? E se ela não se lembrar.. então.. eu posso conquistá-la novamente. Eu acho.." — E então um sorriso triste surgiu em seu rosto.

Lembrou-se de quando a garota havia perguntado que nome deveria dar para aquele gato. Ele deveria ter falado... nem que fosse qualquer coisa. Assim teria mais chances da loira se lembrar quem era ele.

Cansado, adormeceu.

Continua..