Coração De Mãe escrita por UnderworldKing


Capítulo 16
Capítulo 15 - Rival


Notas iniciais do capítulo

Não, não estou morto. Simplesmente minha vida profissional e acadêmica resolveu exigir mais dedicação da minha parte. Espero que compreendam.
Ainda tentarei escrever quando puder.
Em outras notícias: uma certa personagem, ou doppelganger se preferirem, faz uma reaparição (triunfal?) neste capítulo.



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Capítulo 15

Rival

Haku estava preocupada.

Até aí nada de estranho, considerando que ela tinha que lidar com trabalho, uma filha e Lily. No entanto, ela suspeitava que algo havia ocorrido quando Miku foi acompanhar Luka até o carro. Sua filha voltara com um expressão distante enquanto tocava sua bochecha. Para sua maior preocupação, Lily apenas soltou uma risadinha e deu os parabéns a adolescente de cabelos azuis.

Falando em Lily, a loira parecia não se lembrar de nada do que ocorreu na noite passada. Haku ainda podia sentir o choque de ter sido beijada por Lily, juntamente com um leve calor e... a pediatra sacudiu a cabeça e bateu em suas bochechas com a palmas das mãos. Ela não podia ficar pensando nessas coisas. Não era como se ela fosse lésbica ou bissexual como Lily.

Não que ela soubesse de qualquer maneira... mas ela já tivera uma paixonite por um homem então ela não podia ser e...

Haku bateu sua testa de leve na mesa, resmungando para si. Ela realmente devia parar de ficar pensando nessas coisas. Não é como se ela fosse se comprometer com Lily, considerando o quão agitada a vida da cantora era agora.

– Doutora Yowane. – um outro médico chamou a atenção dela. – Zatsune está...

– Pedindo minha presença pra ter alta... é eu imaginei. – Haku disse, levantado a cabeça e suspirando.

Enquanto pegava os documentos e diagnostico referentes a sua paciente mais problemática, Haku ainda pensava em Miku. Ela havia conseguido fazer com que as duas ficassem o mais afastado possível quando Miku vinha prestar suas horas voluntárias no hospital. As outras crianças adoravam Miku, que parecia emanar um carisma que cativava até os outros enfermeiros e ajudantes.

Se ela realmente perseguir a carreira de cantora não tenho duvidas de que ela seria um sucesso. Haku pensou com um leve sorriso.

Haku entrou no quarto onde Zatsune estava. Sozinha. A mulher de cabelos prateados ergueu uma sobrancelha para aquilo. Durante todo tempo em que Zatsune estivera no hospital, Haku não vira os pais dela uma vez sequer. Aparentemente, os dois estavam sempre muito ocupados até para virem ver sua filha doente!

A mulher de cabelos prateados sacudiu a cabeça para dispersar a raiva. Ela nunca gostou muito de pensar sobre pessoas que não ligavam ou abandonavam os próprios filhos.

– Doutora Haku! - Zatsune chamou animadamente, até mesmo abrindo um raro sorriso que ela reservava somente para Haku. Se aquele sorriso era porque Zatsune via Haku como uma espécie de mãe substituta, ou somente porque Haku foi quem cuidou dela, a mulher de cabelos prateados não sabia.

– Zatsune-chan. Pronta para receber alta? - Haku perguntou, colocando um sorriso em seu próprio rosto, o mesmo sorriso caloroso e atencioso que ela usava quando falando com os seus pacientes.

– Sim. Apesar de que vou sentir sua falta. – a garota de cabelos pretos admitiu, o que fez Haku abrir um sorriso maior.

Zatsune era uma criança completamente diferente com Haku. Enquanto que ela tratava os outros com desdém ou até hostilidade, com Haku, Zatsune falava com respeito e educação, algo que se esperaria de qualquer outra criança quando lidando com outros adultos.

No entanto, a Miku criança não era uma garotinha comum, como Haku algumas vezes tinha de lembrar a si mesma. E tudo por cause de quem os pais dela eram.

– Você sabe que minha sala sempre estará aberta caso precise de qualquer coisa. – Haku falou.

– Sim. Mas vou começar na Academia Crypton amanhã. Sinceramente, nem gosto muito de música, mas eles insistem. – Zatsune disse, suspirando. Por “eles” ela se referia a seus pais.

No entanto, Haku arregalou os olhos ao registrar a fala da garota.

– V-Você disse que vai começar na Academia Crypton?

– É. – Zatsune disse como se o fato não fosse lá grande coisa. – Por mim, eu teria escolhido uma escola diferente, mas...

Haku não conseguiu prestar atenção ao resto, por que sua mente ficou ocupada imaginando o que aconteceria quando as duas Mikus se encontrassem novamente.

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Miku entrou na sala de aula, indo para seu lugar. Seu rosto mostrava uma expressão pensativa, como se ela estivesse em contemplação profunda.

– Entãaoooo... – Rin disse enquanto se sentava em seu lugar, dando um sorriso sugestivo para Miku. – Ouvi dizer que alguém conseguiu marcar alguns pontos com a Professora Megurine.

Len sentou-se no seu lugar, ao lado de sua irmã e também se virou para Miku, que ainda parecia estar em contemplação.

– Então... como é que foi? – Rin tocou no ombro de sua melhor amiga, o que pareceu fazer Miku voltar para Terra.

– Uh? O que foi Rin?

– Tão bom assim, é? – o sorriso de Rin poderia facilmente rivalizar com o do gato Chesire de Alice.

Miku inclinou sua cabeça para o lado, confusa, porém não pode perguntar, pois a professora acabará de entrar na sala, o que forçou todos a se ajustarem em seus lugares.

– Turma, hoje teremos uma aluna nova. – o professor começou. Aquele comentário chamou a atenção de todos. – Ela esteve no hospital durante maior parte do período letivo devido a problemas de saúde, então sejam gentis com ela. Pode entrar! – ela chamou alguém a porta.

Quando a nova aluna entrou, os olhos de Miku imediatamente arregalaram em choque. Ela não conseguia crer naquilo. Simplesmente não era possível!

– Por favor, apresente-se a turma. – o professor disse.

Muitos foram forçados a se levantar para olhar para a jovem aluna transferida. Uma aluna transferida realmente jovem.

– Sou Zatsune Miku, 11 anos. E se algum de vocês fizer alguma piada sobre isso ou tentar colocar a mão em mim, deixe-me lhes dizer que possuo imunidade diplomática, além de ser capaz de rastrear seus endereços e acabar com a vida profissional de suas famílias.

Aquela apresentação gerou silencio total, seguido de algumas pessoas suando frio pelo tom quase banal com o qual aquela garotinha ameaçou praticamente a todos na sala. Zatsune passou seus olhos pelas pessoas na sala, até que eles recaíram em cima de uma cabeça com cabelos azulados e um rosto quase idêntico ao dela.

– VOCÊ!!! - Zatsune apontou para Miku, o que fez com que toda turma se virasse para a adolescente.

Miku começou a temer pelo seu futuro escolar.

– / - / - / - / - / - / -

– Deixa eu ver se entendi... - Rin disse quando eles se sentaram em sua mesa na cantina. - Aquela pirralha é quem vivia chamando a tia Haku no hospital? - Miku sacudiu a cabeça em afirmação. - E vocês se pegaram no quarto dela? - outra confirmação por parte de Miku. - E ela te apagou com uma bandejada na cabeça?

– Na verdade, mamãe entrou naquele momento e eu me distrai. - Miku se defendeu.

– Mas o que ela tá fazendo na nossa turma? - Len perguntou. - Ela mal parece ter entrado no primário.

Aquilo, sem duvida, era intrigante. Tirando tudo mais, Zatsune ainda era uma criança. Ela não devia nem estar na mesma ala da Academia que eles.

Foi então que o assunto da conversa do grupo falou, fazendo todos quase saltarem de suas cadeiras:

– Pra sua informação, vocês faria bem em não me subestimar.

– Gah! Não aparece assim! Sua mãe não te ensinou boas maneiras? - Miku exclamou.

– Olhe só quem fala... - Zatsune rolou seus olhos.

Rin e Len olharam de uma garota para a outra. Nenhum dos dois queria apontar aquilo, pois sabiam que isso provavelmente faria com que Miku explodisse em fúria, mas aquela garotinha parecia exatamente com Miku quando ela tivera a idade de Zatsune, com a diferença sendo os cabelos pretos e olhos vermelhos.

É quase como se todas elas fossem diferentes versões de Miku que resolveram se encontrar em uma única cidade. Rin pensou, tremendo ao perceber quão bizarro aquilo era.

– De qualquer maneira, o que você está fazendo aqui, pirralha? – Miku indagou, se certificando de acrescentar o insulto.

– Meus pais me mandaram pra essa escola, por razões além da minha compreensão, tábua. – Zatsune respondeu, também adicionando um insulto a Miku.

– Como é?! Vê se se enxerga pirralha! Quem é você pra falar de mim assim?! – Miku praticamente rugiu, atraindo atenção de todos os alunos ao redor.

– Aposto que quando crescer os meus vão ser maiores.

– HA! Duvido!

– Flashforward –

Uma Miku de 20 anos estava voltando do shopping a pé, decidindo admirar um pouco o dia. Ela passara por uma loja de roupa feminina para comprar sutiãs (para a alegria da mulher de cabelos azulados, os antigos dela estavam apertados).

Enquanto ela caminhava pela rua com um sorriso no seu rosto, um conversível vermelho reduziu a velocidade até acompanhar o passo de Miku. Uma buzinada atraiu a atenção dela e Miku viu quem estava dirigindo:

– E aí, MikuMiku! Como vai?

– Zatsune. - Miku parou, falando o nome com uma expressão de quem engolira algo amargo.

A outra Miku estacionou o carro e praticamente saltou por cima da porta, parando perto da mulher de longos cabelos azuis soltos. Ela tinha um grande sorriso zombeteiro no rosto e usava óculos escuros, além de roupas escuras, estilo gótico.

– O que você tem ai? – ela pergunta, apontando para as sacolas, um segundo antes de tirá-las das mãos de Miku, e olhar dentro, fazendo a adulta soltar uma exclamação de indignação. – Sutiãs? Caramba. Finalmente atingiu a puberdade hein. Só demorou... o que? Cinco anos a mais?

Miku cerrou seus dentes, tirando as sacolas das mãos de Zatsune e se controlando para não grunhir para a outra Miku, que continuava a exibir aquele sorriso que parecia ser desenvolvido especificamente para dar nos nervos da Miku de cabelos azuis.

– Aposto que você gostaria de ter comprado alguns destes, hã? - Miku replicou, tentando mostrar um sorriso vitorioso, porém este saiu mais parecido comum de irritação do que de vitória.

– Nah. Honestamente acho que essas coisas prendem muito. – ela então olhou para seus peitos, que estavam bem a mostra no vestido sem alças que Zatsune usava, deixando a parte de cima a mostra para todos na rua verem. – Nunca consigo colocar eles direito. – como se para esfregar sal na ferida, Zatsune empurrou seus generosos peitos um pouco para cima.

Miku pode sentir um tique na sua sobrancelha esquerda e, inconscientemente, olhou para o seu corpo. Mesmo após ela ter crescido, os dela ainda eram menores do que aquela versão de cabelos pretos dela. O que afinal ela tinha de fazer pra ganhar daquela garota?!

– Bem, foi legal falar com você, MikuMiku. – Zatsune disse, saltando para dentro de seu conversível de novo e acenando para Miku. – Tchau!

A Miku de cabelos pretos então acelerou e desceu a rua, deixando uma Miku de cabelos e olhos azuis tremendo de raiva enquanto segurava a sua sacola.

– Eu odeio aquela garota...

– Fim do Flashforward –

Antes que as duas pudessem continuar com o confronto verbal, o som de um apito soou, fazendo com que as duas Mikus olhassem e vissem Miki praticamente derrapando perto de onde as duas estavam.

– Sem brigas na cantina! – ela disse, apontando para as duas. Até que seu olhar caiu em Zatsune e a ruiva perdeu a sua postura séria em favor de um olhar de adoração. – Ah meu deus! Como você é fofinha! – Miki disse, juntando suas mãos.

Miku e Zatsune lançaram um olhar incrédulo para a monitora de classe. Rin apenas suspirou e decidiu apartar a briga, se interpondo entre as duas:

– Ok, vamos nos acalmar vocês duas. Ninguém aqui quer parar no escritório do diretor, certo?

As duas Mikus olharam de Miki para Rin e então lançaram um olhar entre si, antes de fungarem e darem as costas uma para a outra. Zatsune praticamente empurrou Miki de lado, porém a garota ruiva ainda parecia muito encantada com a pequena Miku e olhou para o trio de amigos, perguntando:

– Por algum acaso ela é uma parente sua, Miku-chan?

– Não. Felizmente nós não temos qualquer parentesco. – a Miku de cabelos azuis disse.

– Sério? Porque vocês são tão parecidas que qualquer diria que são irmãs.

– Miki-chan! Aquela pirralha e eu não somos parecidas em nada! Certo?! – Miku se virou para os gêmeos.

Rin e Len se entreolharam antes de virar os seus olhos para uma direção que não fosse a de Miku enquanto assobiavam...

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Não é possível!!! esse foi o pensamento que marcou o resto do dia escolar para Miku.

Zatsune estava em todas as classes em que ela estava, o que significava a garota de marias-chiquinhas teria de aturar a “pirralha” durante o resto do dia.

A única coisa boa, na opinião de Miku, era que ela poderia falar com Luka depois da aula. No entanto, esse pensamento passou voando pela cabeça da aspirante a cantora quando Zatsune respondeu a quinta equação apresentada em aula corretamente.

– Impressionante, Zatsune-san. – Luka elogiou. – Nunca vi um estudante aprender esta matéria tão rápido.

– Na verdade, eu tive um tutor em Física no ano passado que me fez decorar as fórmulas. – Zatsune disse em um tom de quem fazia aquilo rotineiramente.

– Nesse caso, se importaria de ficar um pouco depois da aula para conversar, Zatsune-san?

Zatsune deu de ombros em uma resposta afirmativa.

Enquanto a turma sussurrava entre si ao ver mais esta demonstração de como a Miku de cabelos escuros era uma prodígio, Hatsune Miku somente conseguia olhar para sua sósia jovem com o queixo caído e um olhar de puro choque.

– / - / - / - / - / - / -

– Não que eu seja contra, mas, Miku, cê parou pra pensar no que poderia acontecer? Zatsune parece ter conexões com gente importante, se ela consegue ameaçar a classe inteira daquela maneira e sair impune. – Rin disse.

Aquilo fez com que a melhor amiga dos gêmeos parasse de proferir ameaças de morte e promessas de tortura extrema à Zatsune. Se Rin estava, pela primeira vez, avisando a ela para tomar cuidado e não tentar usar de violência para resolver o problema (não que Rin fosse violenta, como ela mesma dizia) então talvez fosse melhor Miku esperar e avaliar a situação melhor quando ela estivesse de cabeça fria.

Suspirando, Miku só queria chegar em casa, fazer seu dever e esperar que esse dia horroroso acabasse. Ela realmente precisava de algumas horas sem a “princesinha” Zatsune nos arredores. Enquanto caminhavam em direção a sua vizinhança, Miku e os gêmeos viram uma limusine passar ao lado, chamando a atenção dos três quando eles estavam a poucos metros da casa de Lily.

– Uau! Lily-nee-san deve tar montada na grana agora. - Rin comentou.

Foi então que eles viram Lily saindo de dentro da casa, o que confundiu o trio. Se Lily estava em casa então quem viera visitá-la? Algum empresário importante dos Estudios Crypton, talvez?

A limusine estacionou quando Lily chegou perto e o motorista e um segurança saíram dos assentos da frente para abrir as portas para o convidado importante da loira. Do lado direito, saiu o agente de Lily, que Miku e os gêmeos só conheciam de vista. Do esquerdo surgiu uma mochila, uma mala e...

O queixo de Miku caiu e seus olhos se arregalaram pela segunda vez naquele dia.

Não... não pode ser.

– Hum... o bairro parece adequado. Um pouco simples, mas deve dar. - a pequena figura de Zatsune Miku disse, olhando ao redor.

– Posso lhe garantir, Zatsune-san, a vizinhança é bem tranquila e os paparazzi geralmente não circulam neste bairro, já que a maior parte dos moradores é constituída de pessoas de classe média. - o agente de Lily, um homem de cabelos escuros, com um terno preto e olhos castanhos disse. - O fato de não haver uma mansão ou uma casa mais chamativa também faz com que anonimato seja melhor mantido.

– Ahem. - Lily murmurou.

– Oh. Desculpe, Lily. Zatsune-san, essa é a mais nova sensação musical de quem eu estava lhe falando, Masuda Lily.

– Ei. Como vai?

Zatsune olhou Lily de cima a baixo com a mesma expressão de quando Miku entrara em seu quarto de hospital. No entanto, diferente daquela situação, ela mostrou um sorriso cordial e apertou a mão de Lily de uma maneira bastante graciosa para uma garota de apenas onze anos:

– É uma prazer conhecê-la, Senhorita Masuda.

– Por favor, me chame de Lily. Nunca gostei muito de formalidades.

– O QUE ELA TÁ FAZENDO AQUI?! - o grito de Miku pode ser ouvido até o final da rua, o que fez com que todos se virassem para ver a garota de marias-chiquinhas se aproximando em pesados passos da sua sósia mais nova.

Lily parecia confusa enquanto que o segurança se moveu para proteger a garota, apenas para Zatsune sinalizar com a mão que não havia ameaça.

– Achei que havia um cheiro estranho do ar. Agora vejo que era o cheiro de brutalidade e má educação. - Zatsune provocou com uma expressão e tom neutros, como se estivesse meramente falando sobre o clima.

– Tia Lily, o que ela tá fazendo aqui?! - Miku marchou até sua tia e apontou para a garota de cabelos negros.

– Vocês... se conhecem? - Lily perguntou.

– Essa brutamontes me atacou no hospital. - Zatsune respondeu.

– Eu... aquilo foi... - Miku começou, sua raiva dando lugar a constrangimento ao ver todos os adultos olhando para ela como se ela fosse algum tipo de criminosa. - E-Eu posso explicar!

– Não há alguma outra casa em que eu possa me hospedar? - Zatsune ignorou Miku, voltando a olhar para o agente de Lily.

– Bem... infelizmente, essa é a única moradia que podemos encontrar que atende às suas especificações, Zatsune-sama. E Lily-san garantiu que não haveria problemas.

– Claro que não há! - Lily disse, rapidamente emendando, fazendo com que Miku lançasse um olhar escandalizado para a loira. - Posso lhe mostrar a casa se quiser.

– Bem, não parece que tenho outra alternativa. - Zatsune deu de ombros. - Leon, pegue as minhas coisas. – o segurança loiro de óculos escuros acenou com a cabeça e pegou as malas da garota.

Miku pode apenas olhar para tudo aquilo atônita, enquanto que Lily lançava um olhar de súplica para que a sua sobrinha adotada não fizesse nada. Quando o grupo desapareceu dentro da casa de Lily, Miku sentiu como se uma parte do mundo dela tivesse desabado.

– / - / - / - / - / - / - / -

– Você sabia e não me contou? Porquê mamãe?! – Miku perguntou para Haku, quando esta admitiu saber que Zatsune iria estudar na Academia Crypton pouco tempo depois de sua filha entrar, gritando por ela e parecendo absolutamente desesperada.

– Eu só fiquei sabendo hoje quando fui dar alta à ela, filha. – Haku falou. – Mas isso não explica porque ela vai morar como a Lily.

Miku também estava imaginando o porquê daquilo. Rin e Len foram falar com sua prima para ver qual era a história enquanto que Miku saíra correndo para sua casa, chamando por Haku. Ela ainda se sentia abalada por tudo aquilo.

Zatsune... na minha vizinhança... vivendo com a tia Lily... será que o mundo ficou louco de repente?! essa era a impressão que Miku tinha.

A porta da casa se abriu e Len entrou, parecendo zangado. Ele se largou em uma cadeira livre na mesa de jantar. A expressão no rosto dele indicava que–

– Aquela pirralha disse que um nome melhor pra mim seria Lin. Lin! Ela achou que eu era uma garota e que Len devia ser um nome unissex no Japão!

Aquilo acorrerá.

Esperando que Len terminasse de resmungar para si, Miku então perguntou o que ele descobriu.

– A coisa é mais complicada do que parece. Miku, você ouviu falar de Alexander e Annabele Matson?

– Você quer dizer Big Al e Sweet Ann? Eles são super-cantores estrangeiros, certo? – Miku disse, confusa quanto ao que aquilo tinha a ver com a situação.

Haku se sobressaltou. Ela conhecia aqueles nomes. Miku notou aquilo e se virou para sua mãe. Pelo que ela se lembrava, Haku não conhecia ou ouvia muitos cantores estrangeiros. A pediatra então explicou:

– Esse são os nomes que constavam na ficha de Zatsune como seus pais.

– QUÊEEE?!?!?! – Miku exclamou. –Mas... mas... ! Como... ?!

– De acordo com que eu ouvi, parece que ela foi emancipada uns três meses atrás. – Len disse. Miku olhou para ele, sua expressão dizendo “como isso é possível?” – Lily-nee-san não sabe dos detalhes, mas considerando quem os pais dela são, não seria muito difícil imaginar que eles tenham conexões o suficiente pra isso.

“Quanto ao nome dela, parece que Sweet Ann tem dupla nacionalidade, a segunda sendo japonesa. Zatsune era o nome do pai dela, daí... bem, o resto dá pra adivinhar.”

Miku pode apenas olhar de seu melhor amigo para sua mãe. Nada daquilo fazia sentido algum para ela. Era como se ela tivesse sido jogada em algum tipo de situação cômica para o entretenimento de outras pessoas. Mesmo assim, nada daquilo respondia o que Zatsune estava fazendo ali, na casa de Lily, logo ao lado.

Quando Miku perguntou aquilo, Len falou que, aparentemente, tudo era um projeto da gravadora Crypton para aproximar-se de nomes famosos estrangeiros de modo a expandir sua influência e promover Lily internacionalmente. Em outras palavras, um jogo de marketing.

– E a melhor maneira de fazer isso é usar uma criança? – Haku perguntou, soando indignada.

– Mamãe! Você devia estar do meu lado! – Miku falou.

– Miku, eu não falei isso por estar do lado de Zatsune. Isso é sobre ética. Eles não podem usar uma menor como parte de algum esquema de publicidade.

– Na verdade... – Len chamou a atenção das duas. – Como Zatsune já é emancipada e é de outra nacionalidade, eu não acho que as leis japonesas se apliquem nesse caso. E, honestamente, acredite em mim, a última coisa que ela precisa é de proteção.

Aquilo pareceu confundir Haku, até que Miku e Len contaram a ela sobre como Zatsune se apresentara para sua turma e Len relatou que, aparentemente, a garota era uma espécie de prodígio. Ela fora instruída por acadêmicos famosos da Inglaterra e já tinha até duas empresas em seu nome, além de ter pulado diversos anos na escola.

– Deixa eu ver se entendi... – Haku fez sinal com as mãos para os dois pararem. – Zatsune não só é legalmente considerada maior, como também é um gênio e é capaz de lidar com coisas que alguns adultos teriam dificuldade?

– Resumindo; é. – Len disse.

– Alôoo. Acho que vocês esqueceram qual é o problema aqui! – Miku falou, com um tom petulante. – Zatsune, aquela pirralha, vai viver logo ao lado. Como é que eu vou sobreviver a isso?!

– Miku, acho que você esta exagerando. – Haku disse, em um tom pacificador. – Mesmo que Zatsune esteja vivendo do lado, não quer dizer que Lily ou Len e Rin vão deixar de gostar de você. Não acho que ela vá interferir nas nossas vidas.

– / - / - / - / - / - / -

– Sinto muito Miku, mas não vou poder te buscar hoje. Zatsune convocou uma reunião com os “cabeças” sobre a possibilidade de financiar um show pra mim. Foi de última hora, então... sem ressentimentos, ok? – Lily disse um dia quando Miku a esperava nos portões da Academia Crypton. Ela podia ouvir o sorriso embaraçado de Lily pelo celular.

“Miku. Zatsune teve uma crise alérgica e deu entrada agora de manhã no hospital. Vamos ter de adiar nosso almoço especial para amanhã.

Amor, Haku.”

Esse fora o bilhete que Miku encontrou quando acordou no sábado em que ela e sua mãe iriam sair para almoçar no restaurante favorito das duas. Miku sentiu sua sobrancelha esquerda tremer.

– Li sobre a sua pesquisa, Professora Megurine, e devo dizer que estou intrigada com ela. – Zatsune disse após a aula de Física, enquanto que Luka recolhia o seu material.

– É mesmo? Obrigada, Zatsune-san. – Luka disse, em seu típico tom profissional.

– Se precisar de algum suporte, pode me ligar. – Zatsune entregou um cartão a professora de cabelos rosa, que mostrou, pela primeira vez desde que chegara àquela escola, uma cara de surpresa. Ela tinha ouvido sobre Zatsune, mas era a primeira vez que ela realmente via a garota de olhos vermelhos agindo de um modo tão... profissional. – Gosto de me cercar de pessoas competentes e, se me permite dizer, você me parece muito promissora, Professora Megurine. – Zatsune até mesmo esboçou um sorriso que, para uma garotinha, teria feito ela parecer bonitinha.

No entanto, para Miku, que estava escutando a conversa toda do fundo da sala, aquele sorriso era apenas mais uma artimanha de Zatsune para realizar seus planos malignos.

A adolescente apertou o lápis que segurava com tanta força que a ponta se partiu e a parte do lápis que ela segurava dentro da mão foi pulverizada. Ela já podia sentir a raiva borbulhando dentro de si.

Não vou deixar que essa pirralha metida a Princesa do Mundo roube a Luka de mim também!

– / - / - / - / - / - / - / -

Zatsune estava guardando seus materiais em um armário que a escola lhe fornecera (na fileira inferior) quando ouviu os passos pesados de uma Miku quase possessa. Ela se virou e encarou a garota com uma expressão de desdém.

– Achei que senti um rinoceronte se aproximando. Pelo visto, eu não estava tão erra... – ela não foi capaz de terminar a frase, pois Miku pôs a sua mão na porta do armário acima de Zatsune e olhou para a menina de modo a intimidá-la.

Zatsune chegava apenas até o peito de Miku, o que dava a garota de marias-chiquinhas uma vantagem de altura sobre a sua sósia. Ela então falou:

– O que você quer afinal, hein?! Primeiro a minha mãe, depois a tia Lily e agora tá atrás da Megurine-sensei também?!

Zatsune exibiu uma rara expressão de confusão por um momento, antes que seu rosto se iluminasse com o que parecia ser compreensão. Ela então falou, seu tom indicando que Miku não conseguira intimidá-la:

– Ah, você gosta daquela professora? Não pensei que fosse lésbica, mas... imagino que seja a única opção pra você, considerando quão pequena você é.

Miku sentiu sua sobrancelha esquerda tendo um tique novamente, e colocou a outra mão nos armários, olhando para Zatsune de uma posição bem superior, quase se inclinando para cima da nuca da outra Miku.

– Eu ainda estou crescendo! E o que você tem com isso?

– Nada. E pra sua informação, eu tenho mais o que fazer com o meu tempo do que desperdiçá-lo com você, então porque eu iria me preocupar em te atazanar? O mundo não gira em torno de você, princesinha.

Miku sentiu outro tique. Aquele era o mesmo apelido que ela atribuirá a Zatsune, mas jamais pronunciara em voz alta. Como é que aquela garota ousava!

– Além do mais, não acha que devia para com esse seu hábito nojento?

– O quê? Do que você tá falando? – Miku perguntou, sua raiva ainda presente.

– Do bullying. Sério, achei que você só tinha problemas, mas sei que a Doutora Haku deve ter tentado te educar. Você só deve ser uma péssima filha.

Aquilo fez com que Miku recuasse como se tivesse sido agredida fisicamente. Ninguém nunca havia dito aquilo na cara dela, nem a acusado de bullying.

– Eu não sou bully! E o que te dá o direito de falar de mim assim?!

– Tanto faz. Eu tenho mais o que fazer do que falar com uma bully. Eu recomendaria um ótimo psiquiatra que conheço, mas sei que gente que nem você faz isso pelo prazer de atormentar os mais fracos.

Havia tantas coisas erradas naquela sentença que Miku nem sabia o que responder. Ela pode apenas ficar ali, negando as acusações de Zatsune, enquanto esta lhe dava as costas, jogando o seu seu longo cabelo preto para o lado e dava um último olhar de canto para Miku.

– Vejo você por aí, bully. – com essas palavras, Zatsune partiu.

O tique de Miku e a irritação que haviam permanecido durante toda a semana pareceram finalmente atingir o seu ápice. Miku gritou em frustração enquanto puxava suas marias-chiquinhas, atraindo a atenção de todos os alunos em volta.


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Notas finais do capítulo

Lembrem-se crianças: bullying é uma coisa feia!
...
Parece até slogan desses novos programas anti-alguma-coisa que eles vêm lançando na área educacional...



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