Like Another Fairytale escrita por Mariia_T


Capítulo 9
09.


Notas iniciais do capítulo

DEMOREI, i know. Mas em compensação, não fiquei em nenhuma matéria nesse trimestre. Nem matemática, vei. Que orgulho. Orgulho define HAIOSAJSOH mas enfim! Espero que gostem!



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- Bom dia! – Falei, ao sentar-me à mesa do café-da-manhã com Jolie.

- Hm! – Resmungou, colocando a mão na cabeça com uma expressão dolorida.

- Que foi?

- Dor de cabeça.

- Ah. Onde estão seus pais? – Mudei de assunto ao notar a mesa vazia, posta apenas para nós duas.

- Será que estão trabalhando?! – Ela estava meio agressiva hoje.

- Ah, e os gêmeos?

- Não sei, Karen! Só... Para de falar! – Jolie levantou as mãos, como se suplicasse.

- Desculpe. – Falei, dessa vez mais baixo e iniciei meu desjejum.

Não conversamos muito. Jolie agia como se mal lembrasse o que fizera na noite anterior e, também, se lembrasse, não demonstrava remorso. Efeito da bebida, certo? Acho que havia lido sobre isso nos livros de biologia. O álcool afeta determinadas regiões do cérebro, principalmente a parte que armazena os acontecimentos recentes e...

- Karen! – Jolie gritava meu nome e segurava o celular numa mão. Não ouvi o aparelho tocar...

- Oi?

- Meu Deus, saiu do ar, foi? – Ela esboçou um sorriso claramente forçado. – Pode me fazer um favor?

- Claro. – Sorri, mais sincera que ela.

- Ótimo. Olha, minha mãe ligou, disse que precisa que alguém vá buscar o vestido dela na lavanderia. Eu sei que você não conhece a cidade, mas quebra essa para mim? Eu estou realmente morrendo de dor de cabeça, se eu ouvir o barulho dessa cidade, explodo!

- Não, claro! Eu vou lá sim. – Respondi, rapidamente, pondo-me de pé. – Onde é?

- Você vai andar três quadras, atravessar o sinal e entrar na primeira à esquerda. Não tem erro! – Ela gesticulava a cada sílaba pronunciada. – Muito obrigada, princesa, de verdade!

- Não tem de quê!

- Ok, vai lá que esse vestido tem hora marcada para ser pego! – Jolie me empurrou até a porta e quase me expulsou do apartamento. Repassei as instruções dela enquanto me dirigia ao saguão e depois à saída do prédio.

Sorri para mim mesma, tentando transpassar confiança diante meu primeiro passeio sozinho por Nova Iorque. Tudo bem que eu precisava de um guiado primeiro, mas eu poderia me virar por essa cidade. Andei tranquilamente pelo caminho que Jolie havia descrito, admirando tudo à minha volta. As bancas de flores, bancas de jornal, as pessoas ricas e elegantes que saíam dos prédios e entravam em carros caros. A maravilhosa vida no Upper East Side.

Virei à esquerda e procurei a lavanderia – segundo Jolie, a única – que deveria estar ali, mas não estava. Na verdade, atravessando o sinal e dobrando à esquerda eu encontrei uma ruela meio suja e vazia. Opa.

Refiz meu caminho e andei mais um pouco, atrás de qualquer lavanderia que eu encontrasse pelo caminho. Mas nada aparecia e as coisas só iam ficando mais estranhas. Tentei me orientar pelas placas, mas eu não entendia nenhuma das indicações. O desespero passou a crescer dentro de mim. Cresceu mais assim que procurei e não achei meu celular em nenhum dos bolsos da minha calça. Maravilha.

Eu estava quase para chorar quando a minha salvação apareceu à minha frente, andando distraidamente pela rua, com as mãos nos bolsos e um fone de ouvido pendurado.

- Ai, não acredito! Justin! – Gritei, acenando. Algumas pessoas desviaram sua atenção para mim, mas não liguei, estava desesperada de qualquer forma. Ele levantou a cabeça e procurou quem havia lhe chamado. Quando me viu, estancou no lugar e pareceu meio sem saber o que fazer. Engoli meu orgulho e fui até ele.

- Karen! – Ele parecia bem surpreso.

- Nem acredito que te achei aqui! – Falei, rapidamente e colocando a mão no peito.

- E-eu... Como você chegou aqui?

- Honestamente? Estou meio perdida. – Confessei, me sentindo uma eterna imbecil.

- Hm... Ah! Você se perdeu! – Seu rosto se iluminou quando ele entendeu o que eu disse.

- É, eu me perdi. Você pode me ajudar... Ou estou te atrapalhando? – Mordi o lábio.

- Não... Eu estava indo só... Buscar uma coisa, mas... Eu posso te ajudar agora. – Disse, parecendo escolher cada palavra usada.

- Tem certeza?

- Não, eu tenho sim. – Passou a mão pelo cabelo e suspirou. – Quer que eu te leve para o Upper?

- Eu estava indo pegar algo na lavanderia, na verdade. – Entrelacei as mãos e pisquei os olhos algumas vezes.

- Ah... É para a Judith?

- Isso!

- Sei qual lavanderia você está falando. A Jolie sempre me fazia ir lá buscar alguma coisa para ela. – Justin riu, como se lembrasse de algo no passado.

- Então pode me ajudar, que maravilha! – Sorri abertamente, dando graças internamente por não ter que me virar sozinha, de verdade.

- Ér, pode ser. – Sorriu fraco e passou a andar ao meu lado.

- Desculpe mesmo se eu estiver te atrapalhando.

- Não, está tudo bem. – Garantiu, parando ao lado de um Impala 1967.

- Gostei do carro. – Alisei a lataria preta, admirada. – É um clássico, né?

- Uhum. Meu avô me deu. – Sorriu abertamente, entrando no carro. – Só tive que fazer algumas alterações. – Mostrou o painel e o câmbio moderno.

- Ficou legal. – Inspirei discretamente aquele cheiro de coisa antiga. Não me leve a mal, eu andava em um parecido com esse na Dinamarca, logo, me trazia boas lembranças de casa; ou nem tão boas assim.

- Obrigado. – Ligou o carro e manobrou para fora daquela rua meio sombria, a meu ver. – E aí? Gostando da cidade?

- É... – Franzi o cenho. – Pelo que eu já vi...

- Pelo que já viu? Não teve um tour pela cidade ainda? Não viu o Central Park? A Universidade de Columbia? O Garden? A Estátua da Liberdade? O Museu de História? Nada? Que tipo de prima é a Jolie? – Ele fez muitas perguntas ao mesmo tempo. Olhei para ele e encolhi os ombros. – Não acredito. – Riu.

- Somos pessoas ocupadas. – Defendi a honra de Jolie. Ele me olhou pelo canto do olho e riu mais um pouco. Girou o volante e fez algo que me pareceu um retorno, atrapalhando o tráfego de alguns carros.

- Sorte sua que eu não cobro. – Disse, divertido, ligando o aparelho de som. O som de uma guitarra ecoou pelo carro e Justin bateu as mãos na direção quando a bateria se fez ouvir. – Gosta de AC/DC?

- Se eu disser que nunca escutei, será um escândalo? – Mordi o lábio.

- Talvez. Mas vindo de você, acho que qualquer coisa é um escândalo. – Riu consigo mesmo. Não entendi o que ele quis dizer com aquilo.

- Qual o nome da música?

- Sin City. Cidade do pecado. – Sua voz parecia distante. – Deveria ouvir mais vezes. – Sorriu e se inclinou por cima de minhas pernas, abrindo o porta-luvas. – Pega um CD para mim?

Ele voltou à sua posição inicial e prestou atenção na rua. Estiquei-me para pegar a primeira capa que achei. Justin olhou rapidamente para minhas mãos e sorriu.

- Boa escolha. – Apontou para o painel e eu rapidamente troquei os CDs. – Guns N’ Roses é o que há de melhor no Hard Rock.

- Já ouvi falar. – Disse vagamente enquanto ouvia os acordes da primeira faixa do CD.

- Vai ser uma boa trilha sonora. – Observou e olhou de volta para a estrada. – Karen, essa é a ponte do Brooklin.

Olhei pela janela e vi aquela coisa colossal à minha frente. A ponte era simplesmente enorme, com toda sua aura de coisa antiga e rústica – apesar de claramente ser uma superação da arquitetura. Ela me recordava o Tower Bridge, de Londres. Grande, imponente e principalmente linda.

- Uau. – Foi só o que eu disse.

- Legal, né?

- Demais! – Sorri. Não passamos por ela, infelizmente, pois Justin seguiu reto pela avenida, nos levando até a outra coisa gigante à nossa frente. Deixei meu queixo cair e o sorriso infantil e eufórico tomar meus lábios. – A Estátua!

Justin riu e assentiu. Estacionamos perto de um cais que tinha alguns barcos levando e trazendo os turistas até a ilhota. Justin saiu do carro tranquilamente e veio abrir minha porta para mim.

- Sério? – Perguntei, saindo do carro.

- É, você precisa conhecer pelo menos os pontos mais clichês! – Sorriu de lado e começou a andar.

Alguns bocados de minutos depois, chegamos á ilhota e á Estátua da Liberdade. Não sabia o que dizer, só sabia sorrir e olhar para cima, admirada, impressionada e qualquer outra coisa assim.

- Será que dá para ver por debaixo do vestido dela? – Justin inclinou a cabeça, após alguns minutos observando o monumento. Ri alto.

- Eu acho que não, Justin. – Limpei uma lágrima e voltei a olhar a água em volta. Senti Justin segurar meu braço e me levar ao outro lado da estátua.

- Era ali que ficavam as Torres Gêmeas. – Apontou para um canto da ilha de Manhattan.

- Ai meu Deus. – Fiquei olhando, lembrando-me do atentado terrorista. Meus pais quase ficaram loucos com tantas medidas diplomáticas, solidárias e políticas que tiveram de ser tomadas.

- Não é uma boa lembrança. – Ele pigarreou.

- Creio que não. – Desviei o olhar até ele.

- Vamos. Quero pegar o próximo. – Apontou para a barca que vinha trazendo outros turistas.

Próxima parada: Museu de História Natural. Em suma: enorme. Não pegamos a visita guiada e fomos andando pelo museu, apenas observando as coisas expostas.

- Deus! – Coloquei a mão no peito e Justin começou a rir. Eu tinha dado de cara com um Neandertal de cera, bem na entrada do corredor. Respirei fundo. – Para Justin!

- Cuidado! Ele vai te matar! – Imitou garras com os dedos e veio para cima de mim.

- Sai!

- Medrosinha!

- Só levei um susto, ok? Não é como se eu estivesse com medo!

- Como quiser, mademoiselle fragile.

- Olha quanto Justin naquela sala! – Apontei para a sala dos primatas e Justin parou de rir na mesma hora, me olhando com cara feia.

- Aposto que você acha eles tão assustadores quanto esse singelo cidadão aí. – Apontou para o Neandertal.

- Por favor. – Revirei os olhos. Ele arqueou uma sobrancelha e sorriu, segurou meus ombros e nos guiou até a sala. Fui “estacionada” na porta.

A sala era uma boa reprodução de uma floresta tropical que abriga diversas espécies de macacos. Dos mais pequenos até um gorila mais no canto. Realmente muito bem feito, muito bonito eu até diria. Não sou a maior fã dos macacos; não consigo imaginar como vimos deles.

- Nada mal. – Falei a Justin, com um sorriso cínico no rosto, mostrando que ele estava errado.

- É. – Sorriu. – Já deu oi para esse aí do seu lado?

- Onde? – Olhei para a direita, mas não vi nenhum. Olhei para a esquerda e soltei outro gritinho. – Ai, droga! – Dei dois passinhos para o lado.

- A gente deveria ter apostado alguma coisa. – Riu.

- Orangotangos são horríveis!

- Não diga isso, ele pode te ouvir! – Justin fez biquinho e acariciou o falso macaco.

- Espero que ouça! – Falei mais alto.

- Deixa o bicho em paz.

Revirei os olhos e saí da sala, deixando Justin lá. O lado oposto pelo qual entramos dava para outras alas e por ali segui.

- Obrigado por esperar. – Justin apareceu ao meu lado.

- Por nada, Justin. – Abri um sorriso cínico e ele bufou.

- Olha! Soldados! – Ele sorriu e parou ao lado de réplicas perfeitas dos soldados da Guerra Civil dos EUA. – Já foi a Londres?

- Já.

- Aqueles caras de vermelho não se mexem mesmo? – Ele parecia uma criança, enquanto tentava ficar na mesma posição de continência que as estátuas.

- Não, eles não se mexem por nada. – Ri fraco.

- Legal. – Abriu um sorriso enorme e bateu continência. – Tenta me distrair.

- Quantos anos você tem mesmo? – Revirei os olhos e me aproximei dele. – Justin?

Ele estava se esforçando para não se mexer, comprimindo os lábios para não rir enquanto eu bagunçava seu cabelo e tentava fazer caretas. Levantei um pouco a blusa preta dele e coloquei a mão em seu bolso frontal – Justin vacilou um pouco com isso – e peguei seu celular. Ele não reagiu, mas ficou olhando o celular em minha mão.

- Qual o nome da sua namorada, mesmo? – Perguntei a ele, procurando pela lista de contatos. Ouvi-o engasgar e o celular desapareceu da minha mão.

- Não tenho namorada. – Disse rapidamente.

- Ué... Não é a... Jennifer? Jennifer, isso! Não é ela?

- Ah... É... Não sei. – Respondeu.

- Eu consegui te distrair. – Abri um sorriso vitorioso.

- Jogando baixo. Tem ideia do que eu imaginei que ia fazer quando levantou minha blusa? – Ele se exaltou.

- Não.

- Sério?

- É. O que pensou que eu ia fazer? – Encolhi os ombros.

- Vamos embora. – Colocou a mão no meu ombro.

Estávamos de volta à Times Square em alguns minutos. Movimentada, viva e furiosa. Os telões exibindo todas as propagandas dos mais diversos estilos, das mais diversas marcas, deixando toda a avenida ainda mais colorida. Mas Justin estava meio quieto.

- Broadway? – Abri um sorriso quando paramos em frente ao teatro.

- Só uma passadinha.

- Mas está fechado agora. – Franzi o cenho. Um teatro não funciona durante o dia.

- Não para nós. – Sorriu e me puxou.

Andamos por algumas ruas estreitas entre as lojas até chegarmos aos fundos de uma em especial. A porta era enorme e bem iluminada com uma placa dizendo “Backstage”. Justin bateu na porta cinco vezes e aguardou um pouco.

- Estamos fechados. – Ouvimos a voz de dentro.

- É o Justin.

- Ah. Bom dia, rapaz. – O cara abriu a porta para nós. – E moça. – Sorriu. – Meio cedo para o almoço, huh?

- Não... – Justin riu. – Nada disso. Ela é nova na cidade.

- Oh... Ah! – Ele sorriu para mim. – Vamos, entre!

- Obrigada. – Sorri timidamente. Justin entrou logo depois de mim, fechando a porta em seguida.

- Por aqui. – Pegou minha mão e me puxou para um lado diferente do que o moço andava. Estava muito escuro e com cheiro de poeira. Afastamos alguns panos e senti o piso mudar debaixo dos meus pés, mais liso.

- A gente vai ver o palco, né? A gente não pode vir na Broadway e não ver o palco, seria tipo um peca...

Uma forte luz se acendeu, bem em meus olhos, como um canhão de luz. Logo mais outras luzes se acenderam e revelaram onde estávamos. O palco era enorme, tão grande quanto sua plateia. As cadeiras vermelhas aveludadas preenchiam o espaço, contrastando com o negro das paredes. Lá de cima, na cabine de controle, o senhor que nos deixou entrar acenou.

- Bem vinda à Broadway, baby. – Justin riu fraquinho.

Sentei na beira do palco e fiquei admirando o lugar. Tipo, tudo muito mágico. É clichê, mas os clichês são as frases que mais descrevem o que está acontecendo com você naquele momento.

- Isso aqui tira o melhor das pessoas. – Justin sentou ao meu lado.

- Como assim?

- Música, dança, teatro. – Ele deu de ombros, com um sorrisinho no rosto.

- É verdade. Nova Iorque é incrível, Justin. – Falei, sincera.

- Eu sei. – Suspirou.

Ouvimos uma música soar baixinho, quase inaudível. Depois foi aumentando e então pude reconhecer a música: Time After Time, da Cyndi Lauper. Justin olhou diretamente para a cabine de controle e riu. Olhei também e vi o senhor sorrindo para nós dois, depois virou-se e começou a dançar sozinho.

- Alguém não bate bem da cabeça. – Ele comentou, rindo sozinho.

- Coitado.

Levantei e puxei-o junto. Improvisei alguns passos no ritmo da música. Justin riu um pouco, parecendo envergonhado. Ele pegou minha mão e me girou no palco, jogando as mãos para o alto e cantando junto com a Cyndi.

- Bela voz. – Elogiei.

- É a magia do lugar.

- Você canta bem mesmo, Justin. – Rolei os olhos.

- Obrigado então. – Ele pareceu ficar sem graça.

Parei de dançar e admirei o lugar. Talvez Justin tivesse razão, aquele lugar tinha magia. Quando voltei a mim, procurei Justin pelo palco e não o vi ali. Girei nos calcanhares, mas ele não estava lá.

- Justin? – Gritei.

- Aqui atrás! – Ele gritou de volta.

- Aqui atrás onde, Justin?

- Vem. – Insistiu.

Revirei os olhos de novo e fui para trás do palco escuro. Esbarrei em algumas tralhas, quase caindo de cara no chão.

- Opa, cuidado. – Ouvi a voz de Justin vindo de algum lugar.

- Tá muito escuro, Justin! – Reclamei, esticando as mãos à minha frente para impedir que eu esbarrasse em algo.

- No escuro é mais divertido. – Ele riu um pouco e de repente senti sua mão encostar em meus braços. – Aqui, vem. Com cuidado. – Começou a me guiar pelo escuro.

- Onde estamos indo?

- Para a entrada.

- Mas... – Tropecei em alguma coisa que fez um barulho alto ao cair no chão. – Ai.

- Machucou?

- Não, mas acho que eu quebrei alguma coisa. – Mordi o lábio.

- Tudo bem. – Riu.

Continuamos andando pelo escuro até acharmos uma porta com luz passando pelas frestas. Justin correu até ela e a abriu de uma vez, fazendo meus olhos doerem com a claridade.

- Foi mal. - Disse e me puxou pela mão até o corredor iluminado.

- Ai... Meu Deus! – Cobri a boca com a mão e sorri. O corredor estava lotado de pôsteres dos musicais da Broadway, iluminados majestosamente por luzes vermelhas.

- Bem legal, né?

- Demais!

- Vamos sair daqui.

Sem nos despedir do senhor que nos deixou entrar, fomos embora do teatro, pela porta da frente. Não me pergunte como Justin conseguiu aquilo, na verdade, depois daquele passeio e estava começando a levantar algumas dúvidas sobre ele.

- Central Park! – Justin estacionou no acostamento e me sorriu um sorriso perfeito.

- Justin, você tem compromisso, lembra?

- É rapidinho. – Ele piscou e saiu do carro, contornou o capô e abriu minha porta.

Andamos um pouco pelo parque, conversando mais algumas besteiras. Era tudo lindo, de fato. Havia uma ala onde as crianças brincavam em playgrounds coloridos e enormes, as pessoas faziam caminhada numa trilha, muitos animais, muitos casais fazendo piquenique... Era como estar num daqueles filmes de comédia romântica.

- Aqui. – Justin me passou o sorvete azul. Agradeci e encarei o doce. – É gostoso.

- Tem certeza?

- Tenho! – Ele riu e pegou outro sorvete da mão do sorveteiro, dando uma mordida logo depois.

- Estou acreditando em você! – Falei.

- E está escorrendo! – Apontou para um lado da casquinha.

- Tem uma colher?

- Para quê colher? Lambe isso!

- Mas...

- Vai cair! – Ele quase gritou. Estalei a língua e lambi o sorvete. – Salvo! Tá salvo!

- Justin!

- Fiz nada! – Encolheu os ombros. – E aí, o que você gosta de fazer quando está livre?

- Como assim? Hobbie?

- É, pode ser...

- Hm... Ah, essa é difícil, Justin!

- Como o que você gosta de fazer pode ser difícil?

- Eu... Eu não...

- Qual é? Você não sabe o que gosta ou não pode fazer? Que isso?

- Eu não tenho tempo. – Consegui falar algo coerente. Ele não pareceu se convencer. O que eu podia fazer? Eu realmente não tinha tempo para fazer algo que me agradasse de verdade ou que eu sentisse livre vontade de fazer. Minha vida toda era controlada!

- Entendi, pessoa ocupada.

- Eu gosto de cavalgar! – Falei assim que veio em minha mente. Era verdade, eu adorava passar horas com os cavalos do castelo. Montaria era minha aula favorita.

- Isso é legal. – Ele aceitou.

- E você?

- Gosto de basquete.

- Ah, você jura, Justin? – Rolei os olhos.

- Ei, você não pediu algo exclusivo.

- Ok. Me conta algo que ninguém saiba então.

- Por que eu contaria, aí não seria mais segredo.

- Então você tem um segredo! – Apontei para ele.

- Ok, ok. Deixe-me ver... – Ele prensou um lábio contra o outro, pensativo. – Hm, eu não sou americano.

- Sério?

- Uhum. Sou canadense. Vim para Nova Iorque com cinco anos.

- Uau, eu nunca diria isso.

- Eu sei, me adaptei muito bem.

- Seus pais vieram a trabalho?

- Minha mãe. Meu pai continua por lá.

- E o que sua mãe faz?

- Ela... Bom... Não sei... Ela cozinha bem...

- Não estou falando sobre hobbies, Justin. No que ela trabalha?

- Ela tem uma empresa.

- Jura? Parece meio chato.

- Acho que ela gosta muito do que faz. – Justin riu pelo nariz. – E os seus pais?

- Eles não... Quero dizer. Meus pais comandam muita gente... Na Dinamarca eles...

- Entendi, são influentes e tal.

- É, muita influência. – Sorri amarelo.

- E você fugiu de casa ou seus pais te despacharam para cá? – Quis saber.

- Eu que quis vir. Na verdade eles não concordaram muito com a ideia. – Dei de ombros, um pouco derrotada por lembrar a conversa que tive com meus pais uma semana antes da minha viagem.

- O quê? Eles são do tipo que comandam sua vida?

- Talvez... – Deixei a frase morrer no final. Justin pareceu entender.

- Você não gostou do sorvete? – Ele olhou para a casquinha em minhas mãos, quase intocada e aguada. Ótima mudança de assunto.

- Não! Não, Justin, eu adorei. É de tuti-fruti, não é? Eu só... Você me distraiu com essa conversa...

- Culpa minha? Ok, ok. – Ele levantou as mãos em defesa, rindo.

- Eu acho melhor você me levar para casa. – Falei baixinho, me sentindo mal de repente.

- Ah é verdade! – Ele pareceu se lembrar. – Você precisa pegar uma coisa na lavanderia.

- É! – Agradeci por ele não ter ficado ofendido com meu pedido.

- Tudo bem. Vamos. – Sorriu e nos guiou para uma das saídas do Central Park.

Não mais de cinco minutos depois, ouvindo Sin City, do AC/DC – eu me ocupei em ler a capa do CD que tocava para me distrair – chegamos ao meu principal destino. A lavanderia que tia Judith havia deixado seu vestido e eu precisava ir buscar.

- Não entrega mais?! – Eu quase gritei quando a moça da lavanderia disse que o vestido não me seria entregue. Meu Deus, o que seria de mim?!

- Desculpe, você excedeu o prazo de uma hora para buscar o vestido da Srta. McGee. – Ela disse, calmamente.

- Mas, mas... E onde eu consigo o vestido?

- Sinto muito...

- Ai meu Deus. – Coloquei a mão na testa e virei-me para Justin, que assistia à cena ao meu lado.

- Tem certeza que não pode abrir uma exceção no regulamento de vocês? – Justin interveio, fitando com seriedade a moça atrás do balcão.

- Não é possível. – Disse ela, mais uma vez.

- Tia Judith vai me matar. Estou morta! Meu Deus, vou ser morta, meus pais vão mandar o exército atrás dos meus parentes distantes e... E o país vai ficar sem herdeira e... Ai Deus! – Comecei a me desesperar.

- Karen? Karen! – Justin me segurou pelos ombros e riu. – Relaxa. Judith não vai te matar!

- Como você pode saber?

- Não sei, mas relaxa.

- Não dá para relaxar, Justin!

- Não pode mesmo fazer nada? – Perguntou mais uma vez à moça. Ela negou com a cabeça. Justin assentiu e me puxou para fora da loja.

- Ai, droga...

- Você vai chorar?

- O quê? Não. – Revirei os olhos. – Mas é muito ruim desapontar alguém.

- É só um vestido.

- Significa mais que um vestido. Significa que eu não sou responsável o suficiente nem para pegar um vestido na lavanderia. – Mexi no cabelo, começando a ficar nervosa.

- Quanto significado um vestido pode ter para vocês mulheres? – Pareceu horrorizado. Abriu a porta para mim e depois correu para seu lado do carro.

- Não é isso... Argh, esquece. – Joguei a cabeça para trás, descansando-a no encosto do banco.

- A sua tia não vai se importar.

- Claro que vai!

- Não sei, não, Justin.

- Para com isso.

Não respondi. Apenas suspirei e fiquei olhando a cidade passar por minha janela. Justin ligou o som e deixou a música rolar.

- Entregue. – Ele riu fraco e olhou para mim. Talvez esperando que eu saísse logo de seu carro.

- Obrigada, Justin. Foi muito gentil da sua parte me ajudar. E me mostrar a cidade. – Disse, sorrindo para minhas pernas.

- Que isso. – Ouvi-o rir pelo nariz.

- Bom, tchau. – Olhei para ele rapidamente e abri a porta do carro.

- Ei. – Chamou. – Boa escolha. – Ele me entregou o CD que eu havia tirado do porta-luvas mais cedo. Guns N’ Roses. Sorri abertamente e peguei o CD de sua mão.

- Oi! – Jolie pareceu aliviada quando me viu na porta. – Você demorou muito!

- Eu sei. – Fiz um bico. – Eu me perdi.

- Sério?

- É, eu achei o Justin por aí e ele quis me mostrar a cidade e... Ai, Jo, me desculpa! – Abracei-a.

- Que foi, Karen?! – Ela parecia preocupada. Afastou-se de mim e me analisou da cabeça aos pés. – Cadê o vestido?

- Eu...

- Você perdeu a hora, não foi?

- Eu não sabia!

- Tá, tá. Eu preciso pensar. Minha mãe vai pirar!

- Não me diz isso!

- Não, ela não vai pirar contigo. Ela vai me esganar!

- Ai, Jo! Desculpa! Mas fui eu quem esqueceu...

- Mas fui eu quem te mandou ir buscar. E ainda por cima porque eu estava de ressaca! – Deu ênfase na última frase.

- Quem estava de ressaca?! – Tia Judith apareceu na porta da sala, com as mãos na cintura. Ouvimos o barulho da porta se fechando e Tio Joe apareceu logo atrás dela, nos encarando seriamente.

- Ahn... – Jolie começou, mas não terminou.



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Notas finais do capítulo

Eaí? Gostaram? Dez páginas de att pra vocês! DEZ, gente. Acho que eu só postei algo desse tamanho num dos primeiros capítulos de TSO2H, sério. Enfim. Até a próxima entãao :D
love ya guise xxx