Like Another Fairytale escrita por Mariia_T


Capítulo 2
02.


Notas iniciais do capítulo

Procedimento padrão no começo da fic, pra não ficar muito no ar, né.



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Ao sair do salão de desembarque, avistei uma garota baixinha, de cabelos loiros com algumas mechas vermelhas, seu short boyfriend deixava à mostra suas pernas e sua blusa tinha fotos no estilo vintage. Segurava uma plaquinha com meu nome ali.

“Foi fácil”, pensei sorrindo, enquanto me dirigia à ela.

- Karen? Karen Alexandrine? – Ela perguntou, quando eu cheguei bem perto. Assenti, com um sorriso. Não queria falar, não queria descobrir o quão minha voz ficava horrível com meu sotaque europeu diante o sotaque americano dela, que, de longe, era muito mais legal. – Ah, meu Deus! Não acredito que você é real! Achei que meu pai estava brincando quando me mandou vir aqui te buscar!

- É, eu sou real. – Franzi o cenho, rindo um pouco. Ela abriu os braços e me deu um abraço caloroso.

- Eu sou a Jolie McGee. – Sorriu ela.

- Eu sei, meu pai me falou de vocês. – Expliquei, sorrindo também.

- Ah, que ótimo! – Jolie bateu palminhas e tomou a direção de meu carrinho. – Você vai amar aqui! Eu amo, todo mundo ama! Nova Iorque é vida!

Ri de sua empolgação. Parecia que com Jolie, eu não teria que me preocupar em me enturmar ou ter assunto para muitas conversas. Sua animação era quase tangível e contagiante. Ela nos guiou para fora do aeroporto, enquanto me dava lembretes quanto o clima, a educação das pessoas por aqui e coisas do tipo.

- Você deve estar achando muito diferente da Dinamarca, não é? – Perguntou, quando entramos no carro, que era nada mais nada menos que um Audi A7. Ok, essa parte do carrão meu pai não havia mencionado.

- Um pouco. – Confessei, olhando atentamente para a paisagem lá fora.

- Como é por lá? Eu não sabia mesmo que tinha parentes do outro lado do mundo.

- É... Frio. – Constatei, olhando meu casaco de lã em meu colo. – Não sei descrever... Temos boas escolas, bons hospitais, mas ainda plantamos tudo que pode ser enfiado debaixo da terra. – Revirei os olhos, lembrando-me dos costumes tradicionais.

- Jura? – Ela riu. – Bom, eu acho que ninguém aqui em Manhattan planta alguma coisa, a menos que tenha um rancho no Texas. – Franziu o cenho.

- Acho que levarei algum tempo para me acostumar. – Dei de ombros, não preocupada com isso de verdade. Quero dizer, eu estava pronta para a aventura!

- Ouvi dizer que lá vocês são extremamente gentis.

- Tem isso também... – Ri pelo nariz.

- Vai por mim, aqui é extremamente o contrário. – Disse a abriu a janela do carro. Eu conhecia bem a rua em que estávamos. Ok, eu conhecia dos livros, das revistas e coisas do tipo, mas ainda assim eu podia saber quase tudo sobre ela: Times Square. O barulho que vinha da janela aberta me deixou um pouco assustada. Eu não estava acostumada com o linguajar mais popular dos americanos, mas sabia muito bem que os que alguns gritavam, não eram “bom dia” ou “até mais, vizinho”.

- Uau. – Falei, abrindo um sorriso abobalhado.

- Bem vinda à Selva de Pedra.

- Obrigada por me avisar. – Disse, voltando a olhar as calçadas movimentadas.

Sonho. Era exatamente aquilo o que eu estava vivendo naquele momento.

- Olha só, nós moramos aqui mesmo em Manhattan. No Upper East Side, já ouviu falar? – Olhou para mim quando estávamos paradas num sinal. Assenti. – Ok.

- Vocês não estudam na Eleanor Roosevelt? – Perguntei, a voz falha. Eu não queria ter que ficar sozinha.

- Eu estudo. Os gêmeos não, eles ainda são pequenos, por isso meus pais os colocaram em algum primário por aqui. – Ela disse, como se não desse muita importância.

- Entendi. – Respirei, mais aliviada.

Ficamos em silêncio o resto do caminho, que nem foi tão longo assim. Para mim, com certeza não foi, já que eu estava muito entretida com as imagens da minha janela.

- Seu novo lar. – Ela disse de repente, apontado algo à sua frente. Olhei na direção que ela apontou eu quase deixei meu queixo cair.

O prédio era simplesmente enorme. A faixada era branca, com um portão que dava para a portaria e um pequeno jardim ao lado da porta. Os carros luxuosos estacionados, imponentes e intimidadores. Algumas pessoas caminhavam com seus cachorros pela calçada, vestindo roupas de ginástica. Outras apenas conversavam enquanto se dirigiam aos seus prédios ou carros. Aquele era o lugar onde todo mundo parecia extremamente feliz.

- Vamos, depois eu peço para alguém pegar suas coisas. – Ela pegou minha mão assim que eu saí do carro e nos puxou para a portaria. – Bom dia. – Disse ao porteiro e ele sorriu, abrindo a porta para nós.

Luxo, luxo e um pouco mais disso. Eu iria me sentir em casa, afinal. Mas confesso que eu estava preparada para mudar, radicalmente, minha vida. Como se meus tios fossem cidadãos abaixo da linha da pobreza e eu tivesse que lavar banheiros de vez em quando.

- Que foi? Não está gostando? – Ela estava parada perto do elevador e eu percebi que havia parado de andar no meio do saguão.

- Não... É, só... É como estar em casa. – Dei de ombros.

- Ah! Que bom que se sente assim! – Ela sorriu e veio me segurar pelo braço, carinhosamente. – Mas temos muita coisa para fazer e não dá para observar o saguão do prédio o dia todo, então que tal a gente subir?

Ri.

- Desculpe. – Pedi, indo com ela até o elevador.

- Que isso. – Apertou o botão do décimo andar. – Escuta, a gente perdeu o período da manhã. Eu não sei se você está animada para ir à escola hoje, mas eu preciso ir, então, se quiser pegar o resto do dia...

- Seria ótimo! – Falei, sorrindo. – Desculpe, pode continuar.

- Não, que isso. – Ela ficou calada por dois segundos. – Hey, posso te fazer uma pergunta?

Eu sabia que estava demorando. Ela não havia tocado no assunto o caminho todo para cá. Estava sendo bom demais para ser verdade. Jolie ia começar a perguntar coisas sobre o palácio, ia perguntar se eu tinha um príncipe e um cavalo branco. Era o que todos sempre achavam.

- Claro.

- Como eu faço para ter esse seu sotaque lindo? – Perguntou, mordendo os lábios.

- O quê? Meu sotaque? – Abri um sorrisinho.

- É, ele é tão lindo... Eu nunca mais calaria a boca! – Ela riu.

- Meu sotaque é cafona! Legal é o de vocês. – Respondi, fazendo uma careta.

Nós entramos naquela discussão sobre sotaque. Eu estava aliviada por não ter que comentar sobre aquilo. E percebi uma coisa: ou ela não sabia que eu era princesa ou ela não queria mesmo falar sobre isso.

- Karen! – Um homem alto, de terno e gravata, nos esperava na porta do elevador. Ele me engoliu num abraço tão caloroso quanto o de Jolie. – Sou o tio Joseph. Ou Joe, se quiser. – Ele piscou para mim, com um sorriso genuinamente paterno nos lábios.

- Deixe a menina respirar, Joe. – Aquela deveria ser tia Judith. Pisquei duas vezes, tentando assimilar a palavra tia e aquela mulher linda à minha frente. Seu cabelo era loiro, igual ao de Jolie, seus olhos grandes e amendoados lhe concediam um ar quase angelical, se seu corpo de causar inveja não detonasse esse ar e colocasse uma mulher sexy à sua frente. – Sou Judith.

- Karen. – Sorri, abraçando-a.

Ela me apresentou aos gêmeos, só que por foto, já que eles estavam na escola. Disse que para diferencia-los, era necessário apenas olhar a pintinha presente no pescoço de apenas um deles, e aquele seria o Joshua. O outro, logo, seria o Jackson.

- Eu pedi à Margie para preparar um almoço, para você ir se acostumando com a nossa comida. – Ela anunciou, me guiando para a sala de jantar. O apartamento deles era enorme, eu mal saberia dizer quantos metros quadrados tinha. Talvez fosse o andar todo!

Agradeci, sentindo-me totalmente sem graça pela ótima recepção que estava tendo.

- O que está achando de Nova Iorque? Com certeza, nada parecido com Copenhague. – Tio Joseph perguntou, comendo um pouco de seu purê de batatas.

- É muito diferente, na verdade. – Abri um sorriso sem graça. Não queria ressaltar o quão fascinante aquele novo país era para mim. Eu deveria ser pelo menos um pouco mais patriota na frente das pessoas.

- E a nossa casa? Não é como um dos palácios, mas estamos bem, huh? – Foi a vez de Tia Judith perguntar. Comprimi os lábios quando ela disse a palavra “palácios”. Olhei para Jolie imediatamente, esperando a reação dela.

- Você visita muitos palácios lá, Karen? – Ela perguntou, divertida. Ok, ela não sabia de nada. Eu fiquei calada, não sabia como responder qualquer uma das duas perguntas. – O quê? Você não visita os palácios? Qual é! É um reino, não é? Com reis, rainhas e princesas, certo?

- É assim mesmo, Jolie. – Respondi. – Mas sobre os palácios...

- Você não vai aos palácios da família Real? Lá é tipo o palácio da Rainha da Inglaterra? Só a família vê? – Continuou perguntando, ainda sem entender.

- Os palácios abrem durante as altas das estações. – Informei. – Mas... Não, tia, não é como lá. Eu nem diria que conheço tanto dos palácios como a senhora deve imaginar.

- Ah, entendi! Você não mora no palácio? – Ela sorriu, interessada naquela confusão.

- Não... Eu moro. Mas eu não ando muito por eles. Quero dizer, são tantos e... Eu nunca tive tanto tempo disponível assim e...

- Você morava num palácio?! – Jolie pareceu processar a informação. Ela largou o garfo no prato e me encarou, seus olhos azuis – iguais aos do pai – brilhavam. – Por que ninguém me disse antes?

- Eu... Eu achei que você sabia. – Falei, meio encabulada.

- Se eu soubesse... Eu é que teria ido estudar na Dinamarca! – Riu ela, com um sorrisão no rosto. – Você vai me contar mais sobre essa vida, princesa!

- Tudo bem. – Eu fiquei totalmente sem graça. Quem diria: uma princesa que detesta atenção. Ironia do destino.

Voltamos a comer, e agora eu respondia as mil perguntas de Jolie.

- Os seus pais são legais. – Falei à Jolie, enquanto ela me guiava para o meu novo quarto. Era a penúltima porta à esquerda. O da frente era dos gêmeos e a porta ao lado da minha, de Jolie. O quarto no final do corredor era do casal.

- Na maior parte do tempo. Minha mãe não faz muito da vida, já que meu pai banca tudo com a empresa dele. – Deu de ombros, parando na porta que tinha meu nome. Abri um sorriso, realmente feliz. – Coisa do Joshua. Ele é o anjinho bom e Jackson, o mau. – Disse, rindo um pouco.

- Eu adorei. – Falei, passando os dedos nas bordas das letras de madeira, coloridas com giz de cera.

- O Josh é muito fofo. – Sorriu e abriu a porta do quarto. – Bom, eu vou te deixar à vontade aí, ok? Suas malas já estão no closet e... Esteja pronta em trinta minutos, ok?

E saiu, fechando a porta em seguida.

Não perdi tempo e fui achar o closet daquele quarto, em busca de minhas malas. Tomei um banho relaxante, porém rápido. Eu não estava me sentindo cansada ou com fadiga de voo, eu queria ir para a escola, conhecer meu novo lugar de estudo.

Vesti um jeans e uma blusa básica, com a frase “Rock It” escrita em dinamarquês. Coloquei um par de Converse preto e amarrei o cabelo num rabo de cavalo alto. Eu estava simples e prática. Na verdade, eu não sabia como me vestir para ir à uma escola. Qual é, eu tinha aulas em casa!

- Aulas em casa? – Jolie ficou surpresa quando lhe contei por que estava tão ansiosa. O Audi dela avançava à toda pelas ruas de Manhattan, já estávamos à caminho da escola. – Seus pais nunca te deixavam sair do palácio?!

- Às vezes... Mas eu não tinha muito o que fazer fora das propriedades reais então...

- Que chato! – Disse, fazendo uma careta.

- Finalmente algo que você acha ruim na minha vida. – Ri pelo nariz.

- Ah, mas isso é detalhe! Sua vida é totalmente demais! Queria eu ser princesa. Somos parentes muito distantes? Você tem irmãos? Ou eu posso me candidatar à coroa também? – Ela tagarelou.

- Eu... Acho que eles preferem alguém que nasceu lá. – Respondi, meio incerta.

- Ouch. Que triste. – Fez um bico.

- Mas não, eu não tenho irmãos... Então, eu acho que eles procurariam meu parente mais próximo. Se fosse você, não teria quem discutisse. – Declarei, lembrando-me de algumas das minhas aulas de história real que havia tido.

- Ah! Que ótimo! – Riu de um jeito que me deu medo. – Não vou te matar nem nada assim, relaxa.

- Está tudo bem. – Sorri sem mostrar os dentes.

- Olha, princesa, nós chegamos. – Ela estacionou numa vaga e desceu do carro.

Eu mal sabia dizer que tipo de festa meu estômago estava tendo. Quero dizer, estava tudo misturado: ansiedade, felicidade, medo, empolgação e preocupação. Mas tinha que dar tudo certo, não tinha?

- Hey, Jo, não conta para ninguém, ok? – Pedi.

- Certo. – Fez um gesto com a mão, como se passasse um zíper na boca. Ri pelo nariz e a acompanhei pela entrada do campus da escola.



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Notas finais do capítulo

Capítulo maior, weee.
Então, acho que dá para ter uma noção, né?
Espero que tenham gostado. Me digam o que acharam? É muito importante!
Beijinhos gatas ♥