Like Another Fairytale escrita por Mariia_T


Capítulo 17
16.


Notas iniciais do capítulo

Olá olá. Demorei muito? Haha acho que não né, tem o quê? Duas semanas desde a última postagem? Bom, seja como for, espero que gostem :3



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    Larguei a caneta em cima do livro aberto na cama e me levantei correndo assim que ouvi a porta da frente sendo fechada. Atravessei o corredor e parei na porta da sala de visitas, sentindo meu cérebro protestar em decepção.

    Não era Jolie.

    Já fazia dois dias que ela não havia aparecido em casa. Eu sabia que ela estava na casa da avó, junto com os gêmeos, mas ainda assim, sabia que ela estava fugindo de mim.

    Tia Judith me lançou um olhar compreensivo. Ela apenas sabia que eu queria muito falar com Jolie e ela aparentemente levou tão a sério que resolveu tomar minhas dores. Mas ela não sabia do que havia acontecido de verdade.

    Fiz meu caminho de volta para meu quarto, mas parei no caminho, olhando para a porta do quarto de Jolie. Eu estava me sentindo tão mal, por que aquilo foi acontecer justo comigo? Nunca havia me excedido daquele jeito na bebida e muito menos havia beijado um garoto com tamanha obscenidade e, ainda assim, por mais que eu não soubesse de muita coisa sobre esse mundo de adolescentes normais, eu sabia que o que havia feito foi errado e não precisava que Jolie ficasse me lembrando disso.

    Entrei no quarto em silêncio e olhei em volta. Nunca havia provado o sabor de magoar alguém. Nunca ninguém havia depositado toda a confiança que Jolie depositou em mim. Todos sempre me deixavam saber apenas do que eu queria saber, ou seja, somente o que me agradava. Sentei na ponta da cama, sentindo o coração bater mais pesado em meu peito. Jolie era uma das únicas amigas que eu tinha e olha o que eu fiz.

    Vi um grande envelope em cima da escrivaninha dela e não pude resistir a ver do que se tratava. Minha curiosidade havia tomado proporções absurdas desde que eu havia chegado a Nova Iorque.

    Seu conteúdo era claro e eu sabia do que se tratava. Eram fotos da base da cintura de Jolie antes da cirurgia, a cicatriz ainda estava lá, intacta, horrenda e condenando. Havia algo naquela cicatriz que me dava arrepios e por algum motivo que eu não sabia qual era, mas, hoje, ver aquela coisa me dava uma sensação tão terrível de déjà vu. Sem hesitar, resolvi ficar com aquela foto, a que tinha um zoom mais perfeito. Ela não daria falta daquela, havia muitas.

    Voltei para meu quarto e me joguei na cama, guardando a foto debaixo do lençol do colchão. Peguei a caneta e me concentrei em resolver meus exercícios de matemática enquanto esperava Jolie aparecer. Ouvi meu celular vibrar em cima do criado-mudo, o que certamente era uma mensagem.

    “Nada ainda? J x”.

    “Não. Acho que ela me odeia agora :c x”.

    “Ela vai amanhã, fique tranquila”.

    “Meu estômago embrulha só de pensar em ter que falar com ela”.

    “Mas você tem que falar com ela”.

    “Eu sei, eu sei. Preciso terminar o dever de matemática, nos falamos amanhã xxx”.

    “Dever de matemática? Droga! Preciso ajudar minha mãe a limpar o restaurante. Faz para mim? Haha x”.

    “Não senhor, já fiz dever de história suficiente para não tomar essa dor por você!”.

    “Que isso, princesa. Não vai ajudar uma pobre alma? Ok, só para você ver como é, vai me ajudar a limpar esse restaurante! Muahaha”.

    “Marque o dia e terá sua ajuda. Agora, vai ajudar sua mãe... E faça os deveres! Vejo você amanhã x”.

    Como ele não respondeu, deixei o celular de lado e voltei aos cálculos.

    Meu final de domingo foi no mínimo deprimente. Mais por causa da minha ansiedade por ver Jolie na escola na segunda-feira do que por ter feito todos os exercícios de exatas que foram passados. Dormi cedo, porém, depois de uma xícara de chá com tia Judith na sala, para acalmar os ânimos. E ainda assim, acordei na manhã me sentindo mais cansada do que nunca, como se tivesse levado uma surra, o corpo todo doído.

    Vesti roupas de frio naquele dia, o tempo estava nublado e o ar era tão pesado que eu não vi muita coisa através de uma espessa neblina que cobria as ruas. O clima e minha sensação de cansaço pareciam me convidar para ficar em casa e não sair da cama. Como um presságio. Mordisquei alguma coisa em meu café da manhã e, ao receber a mensagem de Justin, desci para pegar carona com ele.

    - Bom dia. – Disse ele, quando entrei no carro.

    - Bom dia, mas só porque minha educação exige que eu te responda isso. – Expliquei, afundando no banco.

    - Vai dar tudo certo, Karen. – Justin tentou me confortar pela vigésima vez com sua voz aveludada, gentil.

    - Que CD vamos ouvir hoje? – Mudei de assunto, abrindo o porta-luvas e procurei um álbum que me agradasse, por mais que eu não soubesse nada sobre as músicas que ele ouvia. – Hm... Olha, eu conheço esse! – Tirei o álbum Thriller do Michael Jackson e mostrei a ele, satisfeita.

    - Como não conhecer é a questão. – Ele riu fraquinho e apertou o botão para ejetar o CD que já estava no som e eu coloquei o do Michael.

    Ele estacionou o carro na vaga de costume assim que a música The Girl Is Mine acabou. Respirei fundo e, com minha demora e concentração em não surtar, nem havia notado que Justin já havia saído e segurava a porta aberta para mim, olhando-me sugestivamente. Abri um sorriso e saí do carro rapidamente.

    - Tudo bem? – Quis saber.

    - Tô bem. – Garanti. – É só que eu nunca fiz isso.

    - O quê?

    - Pedir desculpas.

    Justin me olhou engraçado e só então eu me dei conta do que havia dito.

    - Isso é sério? – Ele arqueou uma sobrancelha.

    - Não... – Comecei a falar, pronta para resolver aquele impasse quando uma garota chamou Justin, vinda detrás de mim.

    - Justin! Preciso falar com você! – A voz foi ficando cada vez mais alta e eu me virei. Era Jennifer. Seu sorriso murchou assim que ela me viu e algo atravessou seus olhos. – Oi, Alexandrine.

    - Oi, Jennifer. – Respondi, sem entender o tom de voz dela. Senti como se os céus estivessem se partindo acima de mim, nada para melhorar meu dia como ver Jennifer logo no primeiro minuto na escola.

    - O que foi, Jenny? – Justin perguntou, dando atenção à menina. Essa foi a deixa para ela passar por mim e se enroscar nos braços dele.

    - Você ainda tem a chave da mecanografia do colégio?

    - Tenho...

    - Ótimo! Posso pegar ela? Preciso tirar umas cópias de um trabalho e estou sem tinta em casa...

    - A quero de volta no intervalo! – Intimou ele, tirando a chave da mochila e deu a ela, que abriu um sorriso estranho e deu um rápido selinho nele.

    - Tudo bem. – Ela sorriu de novo e se afastou a passos largos.

    Comecei a andar em direção à entrada da escola e Justin logo me seguiu.

    - Você tem a chave da mecanografia? – Perguntei, meio surpresa.

    - Alguns dos privilégios e créditos de confiança por ser o herói da escola. – Ele elevou os braços e fingiu jogar uma bola numa cesta de basquete. Revirei os olhos e ri.

    - Grandes privi-

    Ouvi o barulho de motor acelerando e dei um pulo para o lado, assustada, Justin me puxou para fora do corredor do estacionamento, onde passou um Audi A7 numa velocidade considerável. Olhei o carro desaparecer no meio dos outros carros e voltei a olhar Justin, completamente assustada. Todos à nossa volta estavam olhando, curiosos, julgando; alguns apontavam para mim e cochichavam, outros apenas encaravam.

    - Ai meu Deus! – Deixei escapar, como um silvo. Justin se colocou de frente a mim, vendo se eu estava tudo bem, checando minha temperatura e pulso. – Ela me odeia!

    - Não, ela não deve ter te visto. – Disse ele, calmo.

    - Como não?! – Olhei para ele, abismada. – Justin! Ela quase me atropelou!

    - Calma, ok? – Pediu, passando um braço por meu ombro e me puxou para um abraço de lado.

[...]

    O dia passou quase como um martírio para mim. Minhas aulas foram as mais improdutivas possíveis e minha mente me torturava sem piedade. Já estava ficando ansiosa e paranoica, não vira Jolie uma vez sequer naquele dia e as pessoas me olhavam ainda mais ao passo que tomavam conta do que aconteceu na festa de sexta.

    - Não sei por que tanto escândalo. – Ouvi Kate desdenhar enquanto saíamos da aula de Matemática, já era hora do almoço e estávamos indo para nossos armários. – Não é como se todo mundo aqui fosse santo. – E seu tom ficava cada vez mais nervoso assim que os olhares aumentavam. Ela estava nervosa sobre a atenção negativa que eu estava recebendo, tranquila até demais pelo fato de eu ter beijado seu namorado.

    - Está tudo bem, Kate. – Falei baixinho.

    - Não está não! – E ela recomeçava seu discurso indignado de que ela deveria ser alvo dos comentários, não eu.

    - Você não está chateada comigo? – Ousei perguntar. Ela me olhou do modo mais meigo e carinhoso possível.

    - Claro que não, K! Não há nada de concreto entre eu e aquele primata. – Revirou os olhos. Até onde eu sabia, eles haviam discutido e ela terminou com ele na noite da festa. Assenti e voltei a olhar o chão, sem vontade de encarar de volta as outras pessoas. – Hey, olha lá.

    Levantei a cabeça e vi Jolie em seu armário. Ela estava péssima para o estilo dela. O que ela usava era praticamente um moletom e estava sem maquiagem. Senti-me mal de novo, tensa e com um misto de nervosismo. Olhei para Kate e ela assentiu, entendendo o que eu ia fazer.

    - Jo? – Aproximei-me dela, fazendo com que desviasse os olhos do armário. Ela me olhou por meio segundo, seus olhos carregavam algo que me fazia querer desviar o foco, mas não conseguia. – Jo, me desculpa...

    - Poupe suas palavras, Karen. – Ela murmurou, voltando ao armário.

    - Jo, eu não queria fazer aquilo. – Falei, tentando convencê-la. – Jo...

    - Para você agora é Jolie, sua prima e nada mais que isso. E é claro que você não ia fazer aquilo, não é você quem gosta dele.

    - Eu tinha bebido, você sabe como isso é novo para...

    - Novo para você? Pare de ficar usando essa desculpa para tudo! Você se acha a dona do mundo, por isso pensa que todos devem dar algum voto de compaixão a você. Mas está na hora e assumir que você fez algo de errado. Assumir que você não tem caráter.

    - Eu não acho isso!

    - Claro que acha! Todo mundo te ama, princesa. Não é a isso que você está acostumada? Meus pais amam mais você, Gabe gosta mais de você, até o monstro do Justin gosta mais de você! E você ama isso. Gosta de estar por cima.

    - Eu não sou assim, Jo… lie. Eu sou uma pessoa boa, não quero o mal de ninguém. – Falei, sentindo minha garganta doer e meus olhos arderem. Pelo menos eu me achava uma pessoa boa, pelo menos era o que eu sempre acreditei ser.

    - É tão boa que só está me ferrando desde que chegou! Está me fazendo reviver um dos meus piores pesadelos, roubou minha mãe de mim, minha família, meu amigo, minha escola!

    - Se você não fosse uma pessoa tão amargurada, quem sabe todos não te amassem também?! – Rebati, sentindo-me tão mal por dentro que a vontade de romper em lágrimas estava me tomando.

    - Que tipo de coisa ruim você já passou na vida, hein, princesa? – O tom de voz dela aumentou na última palavra e eu, por hábito, olhei em volta para ver se alguém havia escutado e qual não foi minha surpresa quando vi que todos não só escutaram, como estavam todos calados, assistindo tudo.

    - Jolie, fala baixo...

    - A sua dama de companhia não colocou seu banho na temperatura certa? Seu caviar não estava no ponto? O rei e a rainha não te deixam sair do castelo? Você não sabe nada, nada, do que acontece fora dos contos de fada, Karen. Não pode vir aqui no meu mundo querer me dizer como ser e como não ser. Você não é uma adolescente normal e nem sei por que insistiu tanto para vir aqui, ser essa estranha fora do ninho, sem mimos ou empregados para fazer tudo. Já pode voltar para a Dinamarca e governar seu país, você serve direitinho para as sujeiras da política.

    Ela terminou seu discurso, fechado por uma lágrima minha que caiu tão rapidamente quanto eu a limpei, de cabeça baixa. Ouvi dela uma risada seca e voltei a olhar para ela.

    - Isso dói, né? Bem vinda ao mundo real. Se me der licença, Vossa Alteza, tenho que ir almoçar. – Ela fez uma reverência exagerada, debochando de mim e saiu andando pelo corredor a passos duros.

    As pessoas ao meu redor recomeçaram a se mover, prestando atenção em seus armários e voltando a conversar enquanto eu me sentia a pior escória da humanidade. Obriguei-me a caminhar e cheguei até meu armário. Quando a porta foi aberta, caiu de lá vários papéis coloridos, idênticos. Larguei a mochila lá dentro e peguei as folhas, parando para ler seu conteúdo.

    Havia várias fotos na folha e, à medida que eu ia olhando, meu coração falhava um pouco. Era eu em todas elas, eu e meus pais, em encontros formais na Europa. No final da folha, havia um breve resumo da minha vida, quem eu era, de onde era e por que era, e então, logo no rodapé havia uma frase em letras garrafais, gritando por atenção: A PRINCESA VIROU SAPINHO.

    Levantei os olhos e encontrei – de novo – as pessoas me olhando e o mesmo papel que eu tinha nas mãos, elas tinham também. Seus olhares me acusavam, outros me dissecavam com os olhos, procurando por algo – talvez uma coroa. Meu cérebro deu um nó. Jolie não podia ter feito aquilo comigo. Somente ela sabia, eu só havia confiado meu maior segredo a ela!

    Avistei meu novo grupo de amigos vindo pelo corredor, olhando confusos e perplexos para o papel que carregavam. Gabe parecia analisar minuciosamente o que havia em seu conteúdo, concentrado. E então eu encontrei Justin me olhando, o choque visível em seus olhos e algo mais neles. 


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Notas finais do capítulo

Vish, a coisa tá feia. E aí, gostaram? I hope so. Então, minhas aulas já começaram -não fui hoje oeioieoie bandida- e eu não sei se vou ter muuuito tempo para atualizar rápido, estou no 3º ano e tal e quero me dedicar, então, só quero deixar claro que não vou abandonar a LAF e vou postando assim que der, ok?
Beijinhos ♥



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