Like Another Fairytale escrita por Mariia_T


Capítulo 13
12.


Notas iniciais do capítulo

Oie! Tá meio regular a minha postagem, né? Aw que orgulho de moi :3



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    A aula de Inglês estava consumindo todos os meus neurônios. Veja só, inglês é uma língua recorrente na Europa, mas ainda assim, eu tinha meu próprio dialeto dinamarquês.

    O exercício de conjugação dos verbos nos tempos estava quase acabando, graças a Deus. A professora havia nos dado uma lista enorme para fazermos aquilo, como uma revisão para uma redação que faríamos na próxima aula e ela não queria nenhum erro ortográfico nos textos.

    - Quem for terminando, deixe em cima da minha mesa, por favor. – A professora pediu, sem levantar os olhos de seu diário de classe.

    - Pss! – Ouvi alguém, um pouco atrás de mim, chamar. Olhei por cima do ombro e vi Gabe me sorrindo. Olhei para frente, franzindo o cenho. Não havia notado que tinha aula de inglês com Fredo. E olha que aquela já era a segunda semana de aula que eu tinha. Voltei a olhar para ele. – Qual a resposta da questão 9.3? – Cochichou.

    - Não pode ajudar! – Respondi, no mesmo tom que ele.

    - Vai, me ajuda! – Pediu. Rolei os olhos enquanto relia minha questão 9. Pobre Gabe, pedindo ajuda para a estrangeira!

    - Hm... O verbo vai ficar “founded”. – Cochichei e virei-me para frente rapidamente, aflita. Senti alguém me olhando e levantei a cabeça, vendo a professora me observando por cima de seus óculos de armação fina.

    Engoli em seco. Ela balançou a cabeça negativamente e voltou a preencher seu diário. Voltei a fazer meu exercício. O sinal tocou, gritando o término das aulas matutinas. Os alunos se levantaram e deixaram suas folhas em cima da mesa da professora. Levantei, quase por último, e deixei a folha lá também, tímida e acuada.

    - Srta. Alexandrine? – Ela me chamou assim que a folha tocou sua mesa. – A menos que pretenda tomar a vaga da faculdade do Gabriel numa prova seletiva, não o ajude em suas atividades avaliativas.

    - Eu não entendi. – Franzi o cenho. Havia provas seletivas para ingressar faculdades nos Estados Unidos?

    - Não o ajude. Se não ele não saberá fazer sozinho quando realmente precisar. – Explicou, parecendo cansada e seu olhar era acusador. – Entendeu agora?

    - Ah, agora sim eu entendi. Perdão não ter compreendido, na Dinamarca não temos provas seletivas para faculdades. – Minha vez de explicar, vendo-a pigarrear e ficar constrangida pelo tom que usara comigo. – Com licença, professora.

    Ela assentiu e eu saí da sala, rapidamente. Gabe me esperava na porta.

    - O que foi? – Ele quis saber.

   - Ela não quer que eu te ajude novamente. – Respondi, trocando os livros de um braço a outro.

    - Foi mal, não queria te causar problemas.

    - Nada demais. – Dei de ombros.

  Ficamos em silêncio por um tempo, enquanto caminhávamos até meu armário. Guardei meus livros ali. Peguei minha carteira e coloquei meu celular no bolso, enfiando minha bolsa pesada dentro em seguida, já que era desnecessário carrega-la no refeitório.

    - Então... Você e o Justin, huh? – Gabe disse, com as mãos nos bolsos e sorriso tímido no rosto. Olhei para ele e vi que Justin havia acabado de passar ali.

    - O que tem?

    - Estão saindo juntos, ultimamente.

  - Foram apenas duas vezes. E uma nem deveria contar, porque eu estava perdida e ele me achou.

    - De qualquer forma.

    - Como sabe?

    - Jolie contou.

    - Ah, para isso os bonitinhos conversam, não é? – Acusei. – Bom, saiba que Justin apenas se ofereceu para me mostrar a cidade.

    - Eu já te disse, fique longe dele. – Gabe me olhou, sério. – Eu gosto muito daquele viadinho, mas ele não é cara para você.

    - Gabe, não estamos namorando ou algo assim...

    - E nem vão! Se depender de mim!

    - E de Jolie. – Completei.

    - Ela tem os motivos especiais dela para não confiar no Justin. Eu apenas sei que ele não é do tipo de cara que vai te levar para jantar no restaurante mais caro e te trazer em casa antes das dez.

    - Motivos especiais como a cicatriz? – Perguntei, meio receosa. Gabe me olhou com uma cara de interrogação e deu de ombros. Ok, ele não sabia. Resolvi não tocar mais naquele assunto.

    - Não sei, ela não conta nada...

    - De quando eles namoravam?

    - É. – Revirou os olhos. Um silêncio caiu sobre nós dois quando chegamos à porta do refeitório. Havia um vinco de frustração formado na testa dele.

    - E você e a Hanah? – Perguntei, mudando de assunto. Pegamos nossas bandejas brancas e nos direcionamos no final da fila do almoço. – É esse o nome dela, certo? – Lembrei-me de quando Katherine me apresentara a menina ruiva.

    - O que tem ela?

    - Como vocês estão?

    - Ah... Não... Aquilo era somente... – Riu. – Não estamos juntos de verdade.

    - Não? E por que estão juntos de mentira, então?

    - Para fazer ciúme. – Respondeu, sereno. Não entendi. Qual era a de Gabe? Eu não sabia muita coisa sobre ele... Queria poder saber. Bom, eu sabia que ele nutria alguma raiva de Jolie, porque pelo modo como ele falou dela na festa, quando estava bêbado, não parecia que ele estava 100% bem com tudo aquilo.

    Colocamos nosso almoço na bandeja. Gabe começou a andar em direção à mesa de Justin e Cia. Olhei em volta, à procura de minha prima, mas não a achei. Na verdade, desde quando saímos da biblioteca antes das aulas começarem que não a vejo. Assim, sem achar Jolie no refeitório, fui, derrotada, sentar-me com Gabe e seus amigos.

    - Oi, gente. – Falei, tímida o suficiente para não olhar muito em volta.

    - K! – Katherine me abraçou de lado quando sentei entre ela e Hanah. Gabe sentou-se do outro lado de Ryan, que estava ao lado de Kate, e Chaz, Justin e Jennifer estavam à minha frente. – Não te vi o dia todo.

    - Não tivemos aulas compatíveis. Minha aula de matemática é só de tarde. – Expliquei a ela. Matemática e Biologia eram as únicas aulas que eu tinha com Kate. Biologia reunia todo aquele grupo e eu na mesma sala.

    - Entendo. – Ela suspirou. – Ei, você já se inscreveu para alguma aula extracurricular?

    - Eu? Para o jornal da escola, mas não me saí bem. Por quê? – Coloquei um pedaço do meu frango teriaky na boca.

    - Oh, sinto muito... – Kate disse. A mesa toda estava em silêncio, apenas ouvindo nossa conversa. – Você podia vir com a gente depois da aula e se inscrever para o time de líderes de torcida!

    - Hein? – Olhei para ela, confusa com a ideia.

    - É a sua cara. – Kate disse. – Não é a cara dela, Ry?

    - É... Não. – Ele respondeu.

    - Ryan!

    - Que foi? Não imagino a Karen pulando por aí com pompons e gritando enquanto Justin faz a cesta da vitória na sexta-feira! – Ele disse, fazendo um toque com Justin, que não havia se mostrado ciente da conversa até então.

    - To contigo, Ryan. – Justin disse e lançou um olhar enérgico para mim.

    - Mas eu fiz a proposta à Karen! – Kate se defendeu. – E aí?

    - Bom... Eu nem sei o que elas fazem direito... Quero dizer...

    - Elas só pulam, mostram a bunda magra delas e soltam gritinhos irritantes! Não é muito difícil de imaginar! – Jennifer respondeu a mim, com veneno na voz.

    - Obrigada pela delicadeza, Jenny. – Kate revirou os olhos.

    - Eu acho que Karen não combina com o cargo. – Gabe se pronunciou e Chaz também.

    - Não sei fazer as acrobacias, de qualquer forma, Kate. – Falei, meio que pedindo desculpas.

    - Tudo bem. Só achei que seria legal. – Ela deu de ombros.

    - E você, por que não tenta? – Perguntei.

    - Ah... O que eu queria mesmo era o Grêmio. – Suspirou. – Mas o povo dessa escola não leva muita fé em mim.

    - Poxa... – Deixei a frase no ar. – Eu votaria em você.

    Kate soltou um barulhinho estranho pela boca e me abraçou com vontade, dando um beijo em minha bochecha em seguida. Ri da reação dela e voltei a comer meu almoço.

    - Olha, a vaca chegou do pasto. – Jennifer comentou, olhando para um ponto fixo em algum lugar. Levantei os olhos e segui os dela, vendo Jolie de pé na porta do refeitório, olhando freneticamente para os lados.

    - Jenny... – Justin começou a falar, mas eu respondi mais rápido que ele.

    - Ela não é vaca. – Defendi minha prima, recebendo um olhar de pura desaprovação de Jennifer em troco.

    - Ah, ela é sim. – Jennifer resolveu sustentar sua implicância. – Mas uma vaca mansa, porque ela sabe apanhar de boca calada.

    - Jennifer! – Todos na mesa repreenderam a menina. Fitei Justin, incrédula por ele ter a cara de pau de falar naquele tom com a menina, como se ele fosse algum santo na história.

    - Com licença. – Levantei da mesa e saí dali, ouvindo Kate falar algumas coisas para Jennifer.

    Andei até Jolie rapidamente, esperando que ela não começasse a andar por aí. Quando ela me viu, soltou um suspiro de alívio e veio me dar um abraço.

    - O que foi? Onde você estava? – Perguntei contra o cabelo loiro dela.

    - Argh... – Ela se afastou de mim e suspirou. – Meus pais pediram para eu levar os gêmeos para a escola. Eles tiveram outra briga.

    - Ah. – Foi só o que eu disse e ela assentiu.

    - Já almoçou?

    - Não terminei. – Dei de ombros. – Fredo me arrastou para a mesa de Kate.

    - Argh. – Repetiu.

    - Vamos sair daqui, chatinha. – Ri pelo nariz e a empurrei para fora do refeitório.

    - Não sou chatinha!

    - Ah, é sim! – Ri de novo.

    Fomos andando pelo gramado da área externa do campus da escola e paramos perto de uma árvore. O terreno era irregular ali, mais alta e tínhamos uma visão meio que panorâmica da quadra descoberta e do ginásio. Acabamos por sentar e ficar em silêncio, cada uma em seu mundo. Eu estava a um oceano de distância dali...

    Uma menina se aproximou da gente. Tinha uma boa pilha de folhas cor-de-rosa em mãos e nos entregou uma folha para cada uma disse. Ela nos disse oi, sorriu e foi embora.

    - Festa. – Jolie suspirou e fechou a cara. Achei que nunca viveria para ver Jolie fechar a cara por uma festa.

    - Que foi?

    - Nada. Essas festas organizadas pelo povo da escola são meio chatas.

    - Gabe também faz parte do ‘povo da escola’ e você vai nas festas dele. – Argumentei.

    - É diferente. As festas da escola são tão... Chatas.

    - Você já disse isso. – Falei.

    - Para você ver como são bem chatas mesmo! – Disse e nós rimos daquilo.

    - Ok, mas olhe... – Li o papel rosa que eu segurava. – Vai ser depois do jogo de basquete.

    - E quando é o jogo?

    - Sexta-feira agora. – Respondi, contando mentalmente a data que batia com o que estava escrito na folha. – Vamos?

    - Por que quer tanto ir?

    - Ser sociável é bom de vez em quando. – Dei de ombros.

    - Ser sociável com gente que não é daqui é legal.

    - Eu não sou daqui, vamos fazer uma social comigo na festa! – Levantei as mãos, orgulhosa de meu argumento. Jolie me olhou, divertida e soltou uma gargalhada.

    - Ok, Karen, nós vamos. – Ela disse, fazendo-me comemorar com palminhas. – Mas...

    - Estava muito bom...

    - Você convence a minha mãe. – Jolie abriu um sorriso desafiador e quase vitorioso.

    Abri a boca para protestar, mas fiquei calada. Era aquilo... Ou nada.

    - Então, Oliver Cromwell assumiu o poder. – Disse o professor Cameron, enquanto apoiava o dedo no mapa estendido no quadro que indicava a sede do governo britânico, Londres.

    Tomei nota daquilo, apesar de saber que na hora dos testes, não recorreria às minhas anotações para estudar. Eu me julgava excelente em história, muito obrigada. Puxei meu cabelo para trás e o prendi em um nó pela falta de um elástico. Algumas mechas caíram, fazendo-me bufar. Tentei não me mexer muito para que o nó não se desfizesse.

    De repente eu pulei de susto quando alguma coisa bateu em minha cadeira, jogando-me levemente para frente. Meu cabelo caiu todo no meu rosto, uma cortina amarela e ondulada. Olhei para trás, fuzilando meu colega de classe.

    - Justin! – Sibilei, impaciente. Meu cabelo acompanhou o movimento e caiu sobre minha testa. Puxei-o para trás de novo e refiz o coque. Justin riu fraquinho e eu me virei de novo para frente.

    Não demorou muito e senti algo puxar meu cabelo e ele caiu sobre meu rosto de novo.

    - E aí? – Virei-me para trás de novo, fuzilando Justin com o olhar.

    - Gosto mais dele assim. – Disse, baixinho e se inclinando sobre a mesa. Abriu um sorrisinho e piscou.

    - O cabelo é meu! – Respondi, puxando-o todo para frente. Justin riu de novo e indicou com a cabeça para que eu virasse para frente.

    Olhei para o quadro e vi o professor anotando outras coisas sobre a Revolução Gloriosa. Anotei rapidamente tudo o que ele passara e suspirei, arrumando meu cabelo novamente. A sala estava silenciosa; alguns dormiam, outros anotavam e outros não faziam nada.

    Ouvi Justin se mexer na cadeira e virei para ele na mesma hora:

    - Se você se atrever a tocar no meu cabelo de novo... – Ameacei, levantando um dedo indicador para ele. Justin me olhou, travesso e confuso.

    - Não ia fazer nada!

    - Uhum. – Resmunguei. – Pare de mexer comigo, ok? Por que não finge que não estou aqui?

    Ele franziu o cenho e abriu a boca para falar, mas a voz que ouvimos não era dele.

    - Vocês querem um café e biscoitos para acompanhar a conversa? – Cameron estava atrás de mim, com as mãos na cintura e nos olhava acusador.

    - Com um pouquinho de leite, por favor. – Justin sorriu, sarcástico e desafiador.

    - Se acha espertinho, não? – O professor olhou feio para Justin, que pareceu se arrepender na hora de sua resposta. – Dez minutos depois da aula comigo, Sr. Evans.

    - Tenho treino! Não posso ficar depois da aula! – Justin rebateu, alterado.

    - Pensasse nisso antes de desviar a atenção de minha aluna dedicada. – Respondeu o outro, voltando para sua mesa. Justin bufou atrás de mim e se recostou na cadeira. Olhei para ele, pedindo desculpa por aquilo, mas ele não pareceu se importar.

    Voltei-me para frente, pressionada a não me mover sequer um centímetro.

    O sinal não demorou muito para indicar o término de nosso horário vespertino. E a vida seguia apressada para casa. Esperei que todos saíssem da sala, menos Justin e o professor. Saí também, mas fiquei na porta, atenta ao que se passava lá dentro.

    - Você não está indo bem na minha matéria, Justin. Entenda isso como uma ajuda. – O professor dizia. – Estou te alertando.

    - Eu sei o que faço. – Ouvi Justin responder, meio irritado.

    - Sei disso. Mas para o seu bem, vou te ajudar. – Ouvi o barulho de uma gaveta sendo aberta e folha sendo balançada. – Quero isso para sexta.

    - Sexta? Não pode ser para segunda-feira que vem? Tenho o jogo e...

    - Eu disse sexta, e sexta deverá ser entregue a mim. – Ele sentenciou. Nesse momento, não me aguentei e entrei na sala, segurando meus livros firme contra meu busto, tímida e surpresa com minha audácia. O professor olhou para mim e cruzou as mãos em cima da mesa. – Sim?

    - Eu deveria estar recebendo castigo também. – Falei, balançando-me em meus pés. – Eu que me estressei rápido demais. Deveria ter ignorado o Justin.

    - Srta. Alexandrine? Tem certeza disso? – Ele me olhava com afinco, tentando achar alguma coisa em meu rosto que denunciasse algo.

    - Tenho... Quero dizer, não é justo que somente ele tenha esse dever para sexta-feira. Poderíamos dividir...

    - Não vou deixar você fazer esse dever por minha causa. – Justin falou, me olhando com seriedade.

    - Bom, pensasse nisso antes de me incomodar. – Finquei pé e me aproximei da mesa. Peguei a lista de exercícios e a coloquei entre alguns livros.

    - Srta. Alexandrine...

    - Professor, por favor, não impeça uma aluna sua de praticar a justiça e a responsabilidade por seus atos. – Argumentei, fazendo seu queixo cair levemente. – Essa atividade será entregue ao senhor, por Justin, na sexta-feira...

    - Não posso entregar isso na sexta! – Justin me interrompeu.

    - Como prova de nosso comprometimento. – Ignorei-o e concluí minha proposta.

    O professor me olhou fixo, os olhos semicerrados. Depois, abriu um sorriso radiante e colocou seus óculos de leitura sobre a mesa, esfregando o rosto nas mãos.

    - Ok, ok. – Disse ele. – Você me convenceu. Entreguem o exercício e eu retiro as anotações que fiz de vocês nessa aula.

    - É ótimo fazer negócio com você, professor. – Estendi a mão, em um gesto de acordo. Ele riu de mim e apertou minha mão.

    - Ótimo. – Justin, que não parecia nada satisfeito, segurou-me pelo braço e me arrastou para fora da sala. Antes que eu passasse pela porta, o professor me chamou e eu o olhei por cima do ombro. – Você será uma ótima governanta! – Piscou para mim.

    Meu coração parou.

    - Não precisava ter feito isso por mim! – Justin bufou.

    - Não seria justo...

    - Ai meu Deus!

    Olhei para ele, indignada.

    - Justin, você pode ficar tranquilo, ok? Eu vou fazer isso, você só precisa entregar! Dizer obrigado não dói! – Coloquei as mãos na cintura.

    - Você não vai fazer isso sozinha! – Ele deu meia volta e parou na minha frente.

    - Se você se dispõe a fazer comigo, qual é o problema?

    - Não é para você ficar aí se comovendo por minha causa! – Gesticulou com as mãos, para cima e para baixo, apontando para si.

    - Não fiz nada por você, Justin. Fiz por mim, porque não aguentaria ver você levando a culpa sozinho. – Cruzei os braços e abri um sorriso;

    - Mas a culpa é só minha!

    - Desculpe quebrar sua bolha egoísta, mas não.

    - Você é inacreditável! – Justin passou as mãos no cabelo. Por que ele estava tão nervoso?

    - Desculpe, qual é o seu problema exatamente? Uma hora você é todo calado, não fala comigo, noutra faz brincadeirinhas e quer levar a culpa por mim!

    Justin me encarou, meio perplexo meio confuso. Esbocei um sorriso vencedor e ele pareceu ficar mais nervoso. Diminuiu a distância entre nós em dois passos e arrancou os exercícios de minhas mãos.

    - Você não vai fazer isso! – Sentenciou.

    - Devolve isso, Justin. – Pedi, tentando manter a calma. Eu tinha um poço dela, mas esse menino mostrou hoje ter a capacidade de drenar esse poço de calma em alguns segundos. Ele negou com a cabeça e abriu o mesmo sorrisinho vitorioso que eu. – Tudo bem, eu peço uma cópia ao professor... Ei!

    Seu braço me envolveu pela cintura e ele me ergueu do chão. Tentei me livrar dele, mas tudo o que consegui foi acabar sendo carregada na horizontal, grudada à lateral de seu corpo. Esperneei mais um pouco – que cena deplorável, minha tutora pensaria – mas ele não me soltava por nada.

    - Justin! – Pedi, enquanto ele se dirigia com dificuldade até a porta de entrada e saída do colégio. – Dá para me soltar? Por... AI! – Gemi quando minha cabeça bateu na porta.

    Rapidamente ele saiu da escola e me sentou na escada da entrada do colégio, sentando-se à minha frente também. Jogou as folhas no degrau de cima.

    - Desculpe! Desculpe! Está tudo bem? Machucou? – Ele segurou meu rosto e o analisou minuciosamente, principalmente a testa.

    - Sai! – Afastei sua mão, minha voz saiu arrastada demais por causa da dor. – Tenho que ir para casa.

    - Karen, foi mal...

    Olhei em volta: o estacionamento estava vazio. Arranquei meu celular de dentro da bolsa e vi a mensagem não lida. “Você estava demorando demais! Precisei voltar para casa por causa dos gêmeos. Se não conseguir carona me liga! Jolie x”. Ótimo, eu estava tão ocupada com o Evans que nem me toquei que precisava ir embora com Jolie.

    - Vai querer carona? – Justin leu meus pensamentos... Ou foi só o olho grande dele em cima do meu celular. Suspirei baixinho e assenti. Ele me ajudou a levantar e fomos até seu carro, o único carro dali.

    Não conversamos no carro. Justin colocara um de seus CDs preciosos para tocar e eu não me dei ao luxo de quebrar a linda melodia de R&B com uma conversa. Aliás, minha cabeça latejava. Foi somente quando ele estacionou na rua de casa que eu tive que agradecer e ele mencionou a atividade extra de história.

    - Amanhã à noite eu estou livre. – Disse ele, inclinando-se um pouco por cima do banco do passageiro para poder me ver através da janela aberta.

    - Você se ofenderia se eu dissesse que não quero passar tempo demais com você? – Abracei meus ombros, sentindo-me péssima por dizer aquilo e ao mesmo tempo sentindo-me obediente ao pensar em Jolie. Justin comprimiu os lábios.

    - Eu compreenderia. – Sorriu. Não pude deixar de sorrir também.

    - Segundo recomendações, eu deveria ficar longe de você. – Confessei. Justin não pareceu se abalar, como se já estivesse acostumado.

    - Não parece estar tentando.

    Abaixei a cabeça por uma fração de segundo, reprimindo um sorriso sem graça.

    - Amanhã à noite, então. – Concordei e dei as costas para ele, entrando no prédio.

    O elevador subiu rápido demais para o meu gosto. Não queria que Jolie me perguntasse como havia chego a casa e com quem. Ela ficaria meio chateada, certeza, mas teria de compreender que o Evans não é fácil de lidar.

    - Hey. – Encontrei Jolie em seu quarto. Ela estava na frente do espelho, tentando ver a pequena porém expressiva cicatriz que marcava a base de suas costas.

    - Oi. – Suspirou e abaixou a blusa vermelha que usava. Jogou-se na cama e me encarou, de cabeça para baixo.

    - Acho que devo desculpas. Deveria ter acreditado em você e pronto. Não precisava ter me mostrado a cicatriz. – Falei baixinho, com vergonha de mim mesma.

    - Perdeu a vontade de ficar perto dele, não é? – Ela me olhou com um sorriso divertido nos lábios. – Eu sei como é.

    - É mais por você do que por mim. – Confessei, sentando-me ao seu lado. – Não queria que você lembrasse de algo assim.

    - K, enquanto essa cicatriz estiver aqui, lembrarei disso todos os benditos dias. – Ela suspirou de novo e deitou a cabeça no meu colo.

    - Por que não faz cirurgia?

    - Meus pais perguntariam o porquê de tanto dinheiro.

    - Eles não sabem?

    - Não.

    Ali o assunto morreu. Fiquei mexendo no cabelo de Jolie até Jack gritar pela irmã e ela ter que sair do quarto para ver o que era. Cruzei as pernas e fiquei pensando na vida. Fredo e Jolie me alertavam a mesma coisa, sempre.

    Era tudo fascinante para mim, era como devorar um suspense de Agatha Christie, era emocionante. Nunca imaginaria que os adolescentes de outros países tivessem uma vida tão cheia de camadas, segredos e escândalos. A vida aqui fora era mais interessante que dentro dos muros do castelo.

    Eu queria saber mais sobre o passado daquele grupo de amigos. 


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Notas finais do capítulo

Yay? Como estão minhas flores? Espero que todas bem :3
Bom, aí está e espero que tenham gostado!
Xxx