POV Delilah

Sentia meu corpo arder, como se todas as minhas terminações nervosas fossem aquecidas. Uma sensação estranha, eu me sentia imóvel.

Era isso a morte? Essa agonia sem fim, não se mexer e conseguir pensar enquanto sentia tudo isso?

Talvez eu tivesse indo pro inferno e essa queimação fizesse parte, mas eu estava pensando.

É, eu não estava morta. E tive a comprovação quando a dor foi aliviando e eu comecei a ouvir zumbidos.

Pareciam pessoas conversando, mas eu não conseguia definir, era quase impossível distinguir o que diziam.

Eu não sabia quanto tempo estava ali, mas já estava incomodada de não fazer nada, pareciam dias sem me mover. Eu fazia constantes forças pra me mexer, mas nada parecia dar certo.

Eu só pensava nos meus filhos e em como eu havia sobrevivido. Lembrei de Justin e senti vontade de chorar. Eu podia sentir as lagrimas escorrendo pelos meus olhos, mas eu não conseguia me mexer, nem sequer abrir os olhos.

Senti um toque quente em meu rosto e fiz força para me mexer. Me sentia inútil e forcei os olhos. As lagrimas me ajudavam, umedecendo-os e facilitando. Finalmente abri os olhos devagar, mas ainda só via borrões.

- Delilah – aquela voz me fez ter força o suficiente pra abrir os olhos. Ele estava ali, os olhos vermelhos e fundos, o rosto molhado de quem chorava.

- Jus... – minha garganta estava seca e minha voz rouca.

- Não se canse meu amor, eu estou aqui. Eu vou ficar aqui – fechei os olhos e deixei que as lagrimas continuassem a lavar meus olhos. Ele estava ali.

Abri os olhos devagar e olhei o quarto devagar, eu estava mesmo no hospital, mas Justin não estava ali. Provavelmente fora uma alucinação minha.

Ouvi o ranger da porta abrindo, mas permaneci olhando pro teto, sem me importar com quem entrava.

- Mamãe – levantei o rosto rapidamente e Julieta me olhava cautelosa, enquanto Justin a carregava no colo com um sorriso fraco.

- Vem – pedi e ele se aproximou, a puxei a segurando em meus braços. Ela se aconchegou em meu colo e eu sorri enquanto as lagrimas caiam.

- Com licença – levantei o rosto e sorri ao ver uma enfermeira entrando com uma bandeja – Hora do almoço senhorita.

- Quer comer com a mamãe filha? – ela assentiu animada e eu lhe dei um beijo.

Onde eu estava com a cabeça quando pensei em abandonar isso? Eu sentia necessidade de estar com meus filhos.

- Onde esta Jason? – perguntei pra Justin que nos olhava sentado na poltrona ao lado da cama.

- Esta em casa com a minha mãe. Ele não pode entrar aqui. – resmunguei e voltei a comer, Julieta fazia careta pra comida e eu ria.

.

- Quando você sai daqui mamãe?

- Não sei linda, mas em breve, eu prometo. – ela sorriu e me deu um ultimo abraço apertado antes de ir pro colo do pai novamente.

- Ryan veio buscar ela, eu já volto. – assenti meio sem graça e eles saíram do quarto.

Apertei de forma apressada o botão da enfermeira e não demorou uma apareceu.

- A senhora podia me ajudar a tomar um banho? – ela assentiu e me ajudou a sair da cama.

Claro que eu me senti envergonhada com uma mulher desconhecida me dando banho, mas ou era isso ou nada.

Ela lavou meus cabelos e os elogiou enquanto penteava-os pra mim.

- O marido da senhora esta la fora. – ofeguei e me olhei no espelho.

- Eu estou bonita? – ela sorriu doce.

- Você esta linda menina, alias, você é linda. – assenti e ela me ajudou, praticamente me carregando de volta pro quarto. Justin ajudou a enfermeira a me colocar de volta na cama. Apesar de eu achar que não precisava disso tudo, eu acho que conseguia andar e subir na cama pelo menos. Mas vai dizer isso pra enfermeira e pro Justin.

- Como se sente? – ele perguntou se sentando na beirada da cama. Ajeitei as costas sobre o travesseiro e passei a mão pelo cabelo que já estava enorme.

- Bem.

- Eu sempre amei seu cabelo sabia?

- Eu também... ahn... sempre amei o seu.

- Você sempre gostou de mexer nele. – sorri e abaixei a cabeça – Você me perdoa?

- Pelo o que?

- Você sabe. Eu fui um idiota. Me perdoa Lilah.

- Você me chamou de Lilah. – ele sorriu e pegou minha mão, beijou meus dedos e depois me olhou nos olhos.

- Você não sabe a dor que eu senti quando vi você desacordada. Não sabe a dor que eu senti só com a idéia de te perder. Por favor, não faz mais isso comigo. Eu te amo Delilah, eu fui um idiota por não perceber a mulher maravilhosa que eu tinha em casa. Você se dedicava tanto a casa e aos nossos filhos que eu sentia que você me esquecia, mas a verdade é que tudo que você fazia era pra mim, e eu te amo por isso Lilah. Só não faz mais isso, eu te amo e prometo nunca mais te fazer sofrer.

- Justin, eu...

- Você me perdoa? Eu sei que é imperdoável isso mas eu...

- Eu te perdôo.

- Sério?

- Eu te amo – ele sorriu radiante e tocou meu rosto. Não demorou e seus lábios tocaram os meus, o beijo era tão bom que eu gemi contra seus lábios. Ele aprofundou o beijo, cheio de saudade e desejo de tempos sem nem sequer se tocar. Sorri e segurei sua nuca.

Ele estava de volta pra mim.

Separamos os labios ofegantes, e por incrível que pareça eu me senti envergonhada por ter o beijado com tanto fervor. A tempos não nos beijávamos assim.

- Você esta corada – ele sorriu radiante e acariciou minha bochecha. Girei os olhos pelo quarto do hospital, sorrindo como boba e parei ao ver uma coisa encostada a parede.

- Aquilo, é o que eu estou pensando? – perguntei e ele olhou pra trás, logo voltando seu olhar feliz pra mim.

- Você quer? – sorri e ele me deu um selinho antes de se levantar. Tirou o violão da capa e sentou na ponta da cama, de frente pra mim – Quer que eu toque a sua musica? – assenti já sentindo as lagrimas virem e ele começou os primeiros acordes, me fazendo arrepiar e meu coração palpitar.

Ele era meu, assim como eu era dele.