Dois Caminhos, Um Só Destino escrita por LEvans, Cella Black


Capítulo 24
Capítulo 23 - Os fins justificam os meios


Notas iniciais do capítulo

Olá pessoal!! Capítulo novinho!! Antes, porém, queríamos divulgar uma novidade. Para quem ainda não sabe, eu e a Cella criamos um grupo fechado no Facebook onde postamos curiosidades, trechos de futuras fics, trechos dos próximos capítulos e até mesmo indicações de livros/fics. Adoraríamos ver vocês por lá! Participem :)
https://www.facebook.com/groups/1779275052355810/

É isso!! Nos vemos lá em baixo! ♥



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I came here with a load

And it feels so much lighter

Now I've met you

And, honey, you should know

That I could never go on

Without you

Green Eyes - Coldplay




Alguns dias atrás;  Caldeirão Furado.

  -Preciso que faça uma coisa por mim.

 Viviane franziu o cenho, olhando para John com uma pergunta muda em seus olhos.

 -Estamos sendo ameaçados. -Declarou ele. Harry provavelmente o mataria se soubesse que ele estava declarando coisas sobre o trabalho para alguém que não fazia parte do departamento, mas ele não estava se importando nem um pouco. Se suas suspeitas estivessem certas, o que Viviane guardava poderia abrir os olhos do chefe dos aurores, e talvez ajudá-lo em seu plano que, embora ele não tivesse compartilhado com os outros, John sabia que ele tinha.

  -Ameaçados? -Indagou Viviane, parecendo muito confusa.

John respirou fundo antes de voltar a falar.

  -No Ministério.

  -Por quem?

  -Não sabemos. Na verdade, não sabemos nada. Pensávamos que não fosse nada sério, já recebemos ameaças infundadas de bruxos que não vão com a nossa cara, mas aí atacaram o Rony e...

  Viviane arregalou os olhos.

  -Não foi nada grave. Foi só um susto, mas também o suficiente para descobrirmos que quem quer que seja o remetente das cartas, está falando sério.

   -John, eu não tô entendendo. Por que você tá me contando isso? Você pode me contar essas coisas?

 John esticou a mão esquerda e segurou a direita dela, encarando os olhos dela tão profundamente que Viviane se sentiu completamente exposta, como se ele pudesse ler não somente seus pensamentos, mas também sua alma.  E, estranhamente, não se sentiu nem um pouco incomodada por isso.

  -Porque Ryron faz parte do corpo de aurores, porque tudo o que você acabou de falar, Pintinha, não sabíamos; porque você é mais velha que a irmã do Rony e conhece um Ryron que não conhecemos, o verdadeiro canalha que ele é. Se ele fez isso com você, então ele é capaz de coisas que nem desconfiávamos que ele pudesse fazer.

 Uma lágrima escorreu pela bochecha de Viviane. John a viu desviar os olhos para suas mãos unidas e morder o lábio inferior numa clara demonstração de incerteza.

   -O que você está pensando? -Quis saber ela. -Eu não quero ter que olhá-lo nunca mais, John.

   -Você não vai. -Declarou ele. -E eu prometo a você, Pintinha, que eu nunca vou contar a ninguém tudo o que você me disse. Você pode confiar em mim.

   -Mas o que você quer que eu faça?

 John hesitou antes de falar, como se não tivesse muito seguro de suas palavras.

  -Conte ao Harry.

  Eles se encararam em silêncio por um tempo que não saberiam determinar. Ao observar o semblante ainda triste de Viviane, John se amaldiçoou assim que as palavras saíram de sua boca. Ela acaba de revelar seu passado a ele, um passado que ainda a feria. Exteriorizar aquilo para mais alguém seria como passar por tudo aquilo novamente. Quem era ele para pedir aquilo a ela?

  -Esquece. Você não precisa fazer isso. Você não tem que fazer isso, Pintinha. Desculpa, eu sou um… Desculpa. Eu não deveria ter te pedido isso.

   -Você acha que eu posso ajudar?

 -Não é certeza. -Respondeu John, soltando a mão da dela para limpar sua bochecha molhada devido as lágrimas.

  -Se esse… estranho machucou o Rony, então ele pode atingir a Gina.

  -Ele quer atingir o Harry.

 Viviane riu, irônica.

  -Pior ainda. Seu amigo é péssimo em esconder sentimentos, John.

 John sorriu. Ela estava certa, afinal.

  -Eu vou ajudar você.

  -Pintin…

  -Eu vou contar ao Harry. Se isso pode ajudar vocês, então eu conto.

  -Você não precisa fazer isso.

 -Eu sei. Mas não estou pedindo permissão. -Disse ela, e John abriu outro sorriso, feliz em ver a Viviane que ele conhecia voltar aos poucos a tona.

 -Merlin, Pintinha, você caiu do céu pra mim. Literalmente! -Exclamou ele, fazendo-a revirar os olhos ao mesmo tempo em que ele a puxava para próximo de seu próprio corpo e a abraçava.

  -Você acha mesmo que ele tenha feito isso? -Perguntou ela, a cabeça apoiada em cima de sua mão que pousava no ombro dele.

  -Não sei, Pintinha… Mas se eu tivesse que apostar em quem do departamento faria algo assim, seria nele. Não tenho certeza, mas acho que o que você disser pode ajudar o Harry. Pra quem não tem quase nada de provas, uma nova informação pode ajudar a esclarecer muitas coisas.

  -Nossa… -Ele ouviu ela dizer.

  -O que?

  -Você é bom mesmo nesse papo de auror.

  John riu, afastando-se dela para olhá-la mais uma vez nos olhos.

 -Eu sou bom em muitas coisas, Pintinha. Pensei já ter te provado isso na melhor delas.- Falou ele, malicioso.

  -Eu sei que você é ótimo em inflar o próprio ego.

  John fingiu-se de ofendido e colocou uma mecha do cabelo negro dela para trás de sua orelha.

  -Não há nada de errado em ser verdadeiro, Pintinha.

  Viviane revirou os olhos mais uma vez antes de focar sua atenção nos verdes dos dele.

  -Tão metido…

 -Tão linda… -Respondeu ele, antes de se aproximar mais e capturar o lábio inferior dela com os seus, chupando-os levemente, arrepiando-a e pegando Viviane completamente de surpresa.

  -John… -Começou ela, e John sentiu ela começar a se afastar.

Em reflexo aos movimentos dela, ele firmou as mãos em sua cintura, segurando-a suficientemente firme para que ela não pudesse sair dali.

  -Fica comigo. -Pediu ele, afundando o rosto na curva de seu pescoço e se deliciando com o perfume contido no local.

  Viviane fechou os olhos com a carícia, sentindo cada fio de seu corpo se arrepiar ao mesmo tempo em que suas mãos agarraram os ombros dele como se quisessem mantê-la exatamente no local em que estava.

  -Fica. -Falou ele, mais uma vez. A voz rouca e ao mesmo tempo gentil dele causou efeitos nela que ela nunca admitiria em voz alta.

  -Eu não vou transar com você, John. -Falou Viviane, feliz por sua voz não ter falhado, mesmo sentido a respiração dele em uma parte sensível de seu pescoço.  

  -Apenas fique. -Falou ele, voltando a olhar nos olhos.

  E ela ficou.

  Mas, no outro dia, enquanto ele ainda dormia, se desprendeu dos braços dele, pegou seu casaco e foi embora, tendo a certeza de que John causava mais efeitos nela do que ela gostaria, e tinha medo do que aquilo poderia lhe causar. Por hora, preferia não pensar muito no assunto. Ela já tinha coisas demais com o que se preocupar.

 

St Mungus; Dias atuais.   

 Ele nunca achou que não fosse conseguir abrir os olhos. Quando recordou a consciência, tentou varrer a mente atrás de algo que o fizesse lembrar de onde diabos estava, afinal sua casa não tinha aquele cheiro estranho e sua cama não era tão desconfortável como aquela em que estava deitado. Seu corpo parecia pesar mil toneladas, e, imediatamente, se desesperou em pensar na possibilidade de ter acordado velho e gordo, depois de anos na completa inconsciência.

Tentou novamente abrir os olhos, mas suas pálpebras pareciam pesar tanto quanto qualquer outra parte de si. A tentativa de mexer alguma parte do corpo também foi igualmente falha e, mesmo não obtendo resultado, um cansaço grande lhe tomou, como se tivesse acabado de jogar uma partida de quadribol. No entanto, seu estado como completo incapaz não lhe impediu de ouvir ruídos, passos e  conversas ao seu redor.

 Na primeira vez que recobrara os sentidos, ouviu a voz de uma mulher que ele não reconheceu. Na segunda vez, porém, distinguiu a voz de Harry e de Rony dentre outras que o rodeava.

  Bem, se isso fosse a morte, então ele era muito querido, pensou. Tinha que ter um lado positivo de estar daquela forma. Só não entendia o porquê de terem o deitado de bruços no próprio caixão. Acontecera algo com seu rosto que o deixara completamente abominável?

  Seus pensamentos foram interrompidos quando o som de passos ecoaram ainda mais próximo de seu corpo.

  -Acha que ele vai demorar pra acordar? -Ele ouviu Rony Weasley perguntar.

  -Leve o tempo que precisar, contanto que ele acorde. -Resmungou Harry. Logo depois, John ouviu a voz do amigo mais próximo de si. -Você não vai querer morrer pelas mãos daquele idiota, cara.

  Ele queria gritar e consentir, demonstrar para os amigos que ele estava ali, mas seu corpo não respondia aos seus comandos.

  Sentia-se um completo vegetal.

 Mas, tudo mudou quando, na terceira vez em que sua consciência voltou, finalmente conseguiu abrir os olhos. Foi como se John estivesse usando os óculos de Harry. No início, via apenas vultos, como se tudo fosse fumaça colorida e trêmula. Sentiu um ardor no fundos dos olhos, como se encarasse diretamente o sol, afinal, ele parecia já ter se acostumado com a escuridão.

 No entanto, a luz era infinitamente melhor. E Viviane também.

 Depois que sua visão voltou a normal, John pôde distinguir onde estava. Já havia frequentado o St. Mungus o suficiente por uma vida toda, mas o destino adorava jogá-lo naquele lugar. Então, ele já estava mais do que familiarizado com o sofá verde e a mesinha ao lado da cama que caracterizavam um dos quartos do hospital bruxo. O cheiro que havia tomado seus pulmões e que estranhara logo na primeira vez que retomara a consciência vinha de uma espécie de tônico, em cima da mesa ao lado, cujo a aparência combinava perfeitamente com seu desagradável odor.

  Mas nem a poção foi capaz de desviar sua atenção por mais do que poucos segundos da mulher sentada no sofá branco. Ela estava de cabeça baixa, os cotovelos apoiados nos joelhos e as mãos unidas, se movendo conforme giravam e estudavam uma varinha. A varinha dele.

  -Por favor, me diz que eu não tomei isso. -Disse ele, chamando imediatamente a atenção de Viviane. Sua voz saiu rouca, e John sentiu uma sede alarmante.

  -John…-Exclamou a morena, levantando-se do sofá e se aproximando dele, deixando a varinha onde estava sentada. -Como se sente? Mérlin, você quase matou todos de susto.

  -Vivo. -Respondeu John, abrindo um sorriso. Seu pescoço doía devido a posição e, arrastando um braço, tentou se levantar, mas uma dor tomou rapidamente todo seu corpo e ele sentiu o próprio rosto voltar a afundar no travesseiro.

  -Não tente se mexer… Apenas fique parado. -Disse ela, colocando uma das mãos no ombro nu dele.

  -Que porra aconteceu comigo? -Quis saber ele, seu rosto formando uma careta com a dor sentida. Por que ele diabos teve que se mover? -Pelo menos eu sinto minhas pernas, então quer dizer que eu ainda consigo fazer muita coisa levantar.

   Viviane fechou os olhos, mas logo depois sorriu. De todas as coisas que ele poderia pensar, como ela poderia achar que ele não se preocuparia logo com sua masculinidade?

    -Está sentindo muita dor?

 -Pra caralho. Mas meu principal atributo parece intacto, então você não precisa se preocupar, Pintinha.

   -Eu juro que se você não estivesse nessa cama, John, eu acabaria com você.

  -Eu adoro quando você me acaba, Pintinha. -Ele lhe lançou uma piscadela. -Se eu soubesse que a minha experiência temporária como vegetal iria fazer você me fazer promessas eróticas, eu juro que eu mesmo teria me estuporado há muito tempo.

  Viviane não respondeu. Sabia que não adiantava nada discutir com ele. Ao vê-lo finalmente acordado, sentiu um alívio tomar seu corpo, como se finalmente pudesse respirar depois de lutar para achar a superfície em meio ao oceano. Era como se a discussão que tiveram em seu último encontro não tivesse existido. O fato dele ter agido de maneira errônea com ela parecia muito irrelevante frente aos últimos acontecimentos. Então, Viviane não se importou em esquecer a cena na praia em frente ao chalé das conchas pelo menos pelas próximas horas.

 Sabendo que provavelmente ele estaria com sede, ela conjurou um copo e lançou um aguamenti sobre ele. No entanto, o principal problema foi fazê-lo tomar. Não era como se a posição fosse muito favorável, mas, no fim, um uma espécie de canudinho o ajudou a umedecer a boca e os lábios.

  -O que aconteceu? -Perguntou ele, depois de minutos de silêncio nos quais a dor finalmente parecera lhe dar  trégua.

  -Um explosivo… Bem, ele explodiu, e você estava lá, então…

  -Não comigo. -Interrompeu ele, vendo-a largar o copo na mesinha ao lado da cama.- Quero saber do Ryron. Por favor, diga que o capturamos. Eu não quero estar de bunda pra cima atoa.

  Viviane suspirou e colocou as mãos no bolso traseiro de seu jeans, parecendo receosa.

  -Harry está o interrogando agora mesmo. -Disse ela, e, se não fosse pela dor, John estaria literalmente dando pulinhos. -Você estava certo. Foi ele.

  John sorriu, mas, maldição, até isso doía.  Ele olhou para ela esperando ver um sorriso do tamanho que ele queria dar, mas o que encontrou foi… Ele não soube ao certo. Tristeza? Então, passou pela cabeça do auror que Ryron, apesar de tudo, fizera parte do passado dela, e que ela provavelmente o amara, ainda que o romance dos dois tenha terminado de uma forma muito trágica para a jogadora de quadribol. E, mesmo depois daquilo, parecia que ela não desejava que ele fosse o estranho que vinha atormentando o departamento de aurores fazia meses.    

  -Ele é pior do que eu imaginava. E não tinha bebida, nem nada… Apenas ele. -Falou ela. -Eu sinto muito que você esteja nessa cama, John.

  -Ei… Você nunca mais vai precisar pensar nesse idiota, Pintinha. Espero que ele seja enterrado em Azkaban.

  -É um alívio saber disso. -Disse Viviane, voltando a se sentar no sofá. -Eu nunca pensei que ele pudesse…

  John esperou pelo fim da frase, mas ela não veio. Ele continuou a encarando e sentiu a necessidade de tocá-la, confortá-la, mas infelizmente não podia. Era de se esperar que, depois de tudo, ele terminasse na cama do St Mungus. Só desejou não ficar ali por muito mais tempo.

  -Ryron sempre foi a pessoa que eu mais odiei naquele departamento. Imaginar socá-lo fazia minhas missões com ele muito mais suportáveis. Eu sinto muito que ele seja pior do que você imaginava,Viviane. Ele nos pegou também. Na verdade, esse canalha conseguiu me foder. Mas eu estou vivo e espero ainda estar quando ele pagar em Azkaban pelo o que ele fez.  Então eu sinto muito que você não esteja sentindo o mesmo, Pintinha, mas te ver chorando por algo que ele causou aumentou ainda mais a minha vontade de matá-lo, então sim, se eu pudesse imaginar algum destino pior do que Azkaban, então eu faria tudo ao meu alcance para que ele passasse por isso.

  Viviane assentiu, como se estivesse assimilando tudo o que ele dissera. Ver que Ryron ainda a afetava fez com que John fechasse suas mãos em punho, o que acabou lhe causando outra onda de dor. Antes, porém, que palavras sujas saíssem voando de sua boca,  um curandeiro surgiu pela porta do quarto e começou a avaliá-lo. No intervalo de tempo durante o qual John pareceu ser objeto de análise para alguma pesquisa bruxa, Viviane relatou tudo o que acontecera. Bem, pelo menos até onde ela sabia.

  -Obrigado por ter nos ajudado, Pintinha. Não teríamos conseguido sem você. -Disse ele, depois que o curandeiro lhe fizera tomar o tônico nada agradável que começou a lhe deixar sonolento novamente. Pelo o que o bruxo dissera, quebrara duas costelas e seu ombro direito estava num estado perto do lamentável. Se fosse trouxa, John certamente estaria aleijado.

  -A ideia foi sua. -Respondeu ela, lhe dando um sorrisinho rápido. -Durma, John. Você precisa descansar.

  As pálpebras dele pareciam pesar mais a cada segundo. Mesmo assim, ele lutava para se manter lúcido. Queria continuar conversando com ela, falar sobre Ryron, falar que ela podia contar com ele nem que ela só precisasse de um saco de pancadas. Queria falar sobre a discussão que tiveram no chalé das conchas, mas sua visão começou a ficar turva e suas forças começaram a se esvair completamente.

  -Você vai estar aqui quando eu acordar? -Ele perguntou, num último resquício de lucidez.

  -Não vou me mover um milímetro. -Ela respondeu, mas John não teve certeza de que aquela de fato fora a resposta.

  Horas mais tarde, quando ele voltou a abrir os olhos e vislumbrou o verde do sofá, não havia mais ninguém.

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Alguns dias atrás; Apartamento de Harry.

 —Eu… sinto muito, Viviane.

 Ela sorriu em entendimento a falta de palavras dele, sabendo que Harry talvez nunca esperasse ouvir uma história triste dela, não quando parecia sempre tão confiante e inabalável. Mas a dor da perda do filho, a dor de ser deixada para trás, de ter sido abandonada… essa dor era responsável por fazê-la mais forte como jamais fora um dia.  

 -Você não precisa dizer nada, Harry. -Disse ela, sentada em frente a ele no sofá.

 -Tudo o que acabou de me falar… Talvez venham me dar muitas respostas, mas muitas perguntas também.

  -Espero que o ajude de alguma forma…

  Harry não a olhava. Seus olhos fitavam o próprio chão, por entre o espaço de suas pernas. Almofadinhas estava ao seu lado, com o focinho apoiado no sofá, mas nem mesmo o cachorro o tirava de seus pensamentos. Sua mente trabalhava a todo vapor.

  -Você sabe algo sobre os pais dele? - Perguntou Harry, após minutos em completo silêncio.

  -Tudo o que sei é que eles estão mortos.

  -Sabe como eles morreram?

  -Era estranho… -Os olhos de Viviane se tornaram um pouco vagos com a lembrança. - Ele nunca gostava de falar sobre os pais. Eu tentei várias vezes, mas ele sempre desconversava. Até que eu desisti. - Um riso sem ânimo saiu da boca dela, como se debochasse do seu eu no passado.  

  -Vou tentar descobrir algo sobre eles. -Embora Harry falasse em voz alta, Viviane achou que a frase soara mais para ele próprio do que para ela.

  Achando que já o ajudara de todas as formas que podia, ela levantou-se do sofá.

     

Departamento dos Aurores; Dia atuais

  O barulho dos passos de Harry na pequena sala no Ministério da Magia era tudo o que podia ser ouvido ali. Ele andava de um lado para o outro, os braços displicentemente estendidos ao lado de seu corpo, evitando fazer qualquer movimento que lhe pudesse causar dor no recém machucado.

  A sua frente, sentado em uma cadeira mágica que o impossibilitava de mexer qualquer parte do corpo, Ryron acompanhava os passos do seu chefe, a cara fechada e a sobrancelha esquerda arqueada demonstravam que sua presença ali era totalmente forçada. Odiava não poder se mexer. Odiava estar sob os comandos de Harry e, mais ainda, odiava estar tão vulnerável. Se pudesse, fecharia os punhos em sinal de raiva, mas mexer as sobrancelhas, respirar e falar era tudo o que ele podia fazer naquele momento.

  Além dos dois naquela pequena sala, havia um relógio na parede, do lado direito de Harry, indicando que já se passavam das 17h. De vez em quando, ele o encarava por alguns segundos antes de voltar a analisar Ryron. Não tinha pressa, mas o ponteiro menor lhe dizia que já estava ali há 20 minutos, sem dizer nada. Harry deu um meio sorriso, a calmaria dominando cada parte de si, típica de quando chegava ao fim de uma missão. Estava aliviado, seu departamento não era mais refém de ameaças anônimas e a sensação era comparável a felicidade de uma coruja no céu depois de tantos dias em terra firme.

  -Como descobriu? - A voz de Ryron rasgou o silêncio. Harry parou de perambular pela sala, olhando o inimigo há somentes 3 centímetros de distância. Depois de meses sem ter em quem mirar, o espião agora estava perfeita e totalmente dentro de seu campo de visão. Tal pensamento o fez sorrir novamente e, dessa vez, o gesto irritou o homem em sua frente.

  -Como descobriu? - Voltou a perguntar Ryron.

  -Você sabe como funciona, Ryron. Eu faço as perguntas. -Disse Harry. - Mas, se você facilitar e responder todas as minhas, posso pensar em fazer o mesmo com as suas. É tudo o que posso oferecer. Caso contrário, Azkaban o receberá de braços abertos um pouco mais cedo que o planejado.  

  Ryron bufou de ódio, não desviando os olhos em nenhum momento de Harry. Sentado e com a proximidade entre eles, era preciso erguer a cabeça para olhá-lo, o que não era nada confortável. Ele era um homem inteligente, sabia reconhecer quando perdia uma guerra, mas o orgulho e o ego eram suas maiores características, não as perderia facilmente.

  -Foi a vagabunda da Viviane, não foi? Coincidentemente, ela tinha que aparecer e atrapalhar meus planos. - Ryron riu sem humor - Agora sei porque tem tanto sucesso, Potter. Particularmente, nunca achei suas habilidades grandiosas ao ponto de reconhecê-lo como herói. Mas descobri o seu segredo. Sorte. Você tem sorte. O grande Harry Potter não passa de um homem sortudo. Tenho que dizer, eu esperava mais.

   Foi a vez de Ryron sorrir, satisfeito pela cadeira o possibilitar de fazer o gesto.

  Harry continuou a encará-lo sem deixar que as palavras dele o atingissem. Seu semblante continuava calmo, sereno, se não estivesse em pé e de olhos abertos, poderia até dormir porque, não importava o quanto Ryron falasse, ambos sabiam como tudo aquilo terminaria, e Harry passava longe de sair infeliz.

  -Eu não tenho sorte, Ryron. - Falou o chefe dos aurores, voltando a andar pela sala. - Tenho amigos.

  Harry entrara naquela sala tendo certeza de duas coisas: não cairia nas provocações de Ryron e não falaria nada a respeito de Viviane. Tudo o que falasse naquela sala seria usado e arquivado, e pertenceria para sempre ao Ministério. Todos que tivessem autorização, poderão ter acesso ao caso, ou quem sabe ele poderia servir como objeto de estudo no treinamento de novos aurores. De qualquer forma, Harry nunca deixaria o passado de Viviane exposto dessa forma. Devia isso ela e, ainda que as informações tenham servido como base na descoberta da identidade do espião, poderia omitir a ajuda da jogadora de quadribol sem que o caso sofresse qualquer desfalque em seu fechamento.

  -Por que planejou tudo isso? - Perguntou Harry, depois de mais alguns minutos de silêncio. Por um momento, achou que Ryron continuaria calado, mas a resposta veio mais rápido do que imaginara.

  -Por que? Porque você não é um herói, Potter. É um assassino.

  A afirmação fez Harry quase arregalar os olhos, mas se conteve. Nunca fora chamado de assassino, nem na época da Guerra, quando matar era pré requisito para a sobrevivência. Inquieto, ele parou novamente em frente a Ryron, a pergunta muda evidente em seu rosto.

   -Meu pai era um Comensal da Morte, como você já deve saber.

   -O pai cujo sobrenome você ocultou.

  - Durante a  Primeira Guerra, ele negligenciava tudo: a casa, a mulher, o próprio filho…Ele ameaçou a minha vida caso Caroline negasse se tornar uma Comensal da Morte…Só o que realmente importava eram as ordens do Lord Voldemort! Foram anos dessa mesma maneira, até mesmo depois que você o derrotou, em Godric’s Hollow.

  -Em algum momento você se tornou adulto. Não precisava mais da atenção do pai... -Falou Harry,  incentivando-o a continuar.

  -Tem razão. Mas Caroline precisava. Ele dedicou a vida por ele, abandonou a família... E o desgraçado retribuiu dedicando a vida a outro. Irônico, não é? - Enquanto falava, a raiva era nítida em cada parte do rosto de Ryron. - Minha mãe era uma mulher honesta, Potter. Boa, generosa… Nunca se juntaria ao Lord das Trevas por vontade própria.

  Pela primeira vez desde que o conhecera, Harry viu sentimentos honráveis nos olhos de Ryron, o que lhe deu a certeza de que tudo o que ele falara era verdade.

   -O que aconteceu com seu pai? -Perguntou ele, curioso.

  -Depois que Sirius Black fugiu de Azkaban, tudo mudou, o Ministério pareceu se espertar e haviam mais aurores por toda a parte, ainda mais depois dos boatos de que Voldemort retornara. Houve uma busca por Comensais da Morte, e foi aí que o inferno começou. Eu adiava meu pai, mas Caroline não me perdoaria se eu o entregasse. Então nos mudamos para Gales. Comecei meu curso para ser auror e aluguei um apartamento longe de onde o desgraçado morava com a minha mãe. Eu os visitava as vezes, até que... - Ryron parou, parecendo lembrar-se de algo que há muito não pensava. Não era preciso muito para adivinhar o que aconteceu em seguida.

   -Mataram seu pai. - Afirmou Harry.

 -Eu cheguei numa noite, e a casa estava um inferno. Soube o que acontecera no momento em que vi a porta aberta. Sabe o que eu senti, Potter? Alívio. Alívio porque eu não seria mais obrigado a aguentar as merdas que o meu pai fazia para Caroline... Então eu a encontrei morta.

   Harry não disse nada, e o silêncio reinou enquanto os pensamentos de Ryron vagavam por lembranças desagradáveis. No entanto, não poderia ficar ali pelo resto do dia, então o chefe dos aurores não deixou com que Ryron ficasse calado por muito tempo. Ele tinha que saber o resto da história.

  -Então foi tudo por vingança, porque você acha que eu matei Caroline?

  Ryron deu uma risadinha sarcástica.

  -Ela era inocente.

  -Ela tinha a marca negra -retrucou Harry.

  -Draco Malfoy também tinha! Então, me diga, por que não mataram ele também? -guinxou ele, utilizando-se de informações obtidas por sua condição de auror. -O seu Ministério entrou naquela casa, Potter, e assassinaram Caroline.

  -Ryron... -Harry respirou, dando uma pausa a si mesmo antes de continuar. - Caroline se suicidou.

  Quando estudara a linhagem sanguínea do homem em sua frente, fora fácil ver que havia falsas informações, de modo que, após uma longa e sigilosa pesquisa sobre o passado de Ryron, a verdade apareceu-lhe triste e condizente com a personalidade do auror. A frieza e o mistério camuflavam bem a dor de um auror que fora fiel a mãe até essa morrer por vontade própria, e deixa-lo a deriva. Completamente sozinho. As vezes Harry se perguntava como seria caso houvesse convivido com seus pais mais do que somente um ano, tal como Ryron, e a imaginação o fez engolir em seco. Era injusto demais acostumar-se com alguém e, de um hora pra outra, vê-lo morrer. Era doloroso, e a dor era um atalho fácil para a escuridão, Harry bem sabia, porque a perda de Sirius talvez fosse sua lembrança mais escura de si mesmo.

  -Você sab...

  -E VOCÊ sabe disso, Ryron! Mas é muito difícil aceitar que Caroline preferiu se matar ao ficar com o filho. E é muito fácil colocar a culpa em alguém e querer se vingar depois. Mas você já se perguntou se ela aprovaria tudo o que você fez até aqui?

  Ryron não respondeu, sua boca era uma linha fina e reta em seu rosto.

  -Você ocultou o próprio registro, colocou a prima inocente de Caroline como sua mãe, feriu Rony e hoje colocou a vida de centenas de bruxos em risco. O que você queria com tudo isso?

  A resposta veio segundos depois.

  -Ela era frágil, Potter! Não aguentava mais as merdas do meu pai, mas vocês fizeram com que ela apontasse a varinha para o próprio pescoço, vocês fizeram isso e a deixaram lá! E ela era inocente. Inocente!! Quando eu a encontrei, prometi que acabaria com aqueles que fizeram aquilo com ela, terminei o curso de auror em Gales e consegui me transferir. E então conheci o famoso Harry Potter, tão irritante e cheio de si, com o Ministério inteiro a seus pés.

 Harry o fitou, escolhendo o silêncio como resposta porque sabia que nenhuma palavra que viesse a proferir em sua defesa adiantaria para mudar os pensamentos do espião. Ryron era puro ódio, vingança e egoísmo, vivia na escuridão por tantos anos que se acostumara a ela. Nem mesmo Viviane e a notícia de um filho, há anos atrás, o mudou. Portanto, Harry tinha plena consciência de que Ryron era um caso perdido. Precisava-se de anos para construir muros altos e fortes, e horas em uma conversa nunca seriam o bastante para derrubá-los.

  Antes porém de Harry anunciar o fim daquela conversa, a porta da pequena sala foi aberta com a mesma força usada para bater em um Trasgo. Jean passara por ela, os punhos fechados e os lábios em uma fina linha de raiva.

  -Jean... você sabe que não pode entrar aqui. - Mas as palavras de Harry parecem não abalar um fio de cabelo da loira. Determinada, ela andou a passos largos pela sala até parar na frente de Ryron. Raiva transbordava de seus feições.

  -Seu filho da puta! - Cuspiu Jean, segundos antes de acertar um soco no ex-companheiro de trabalho.

  Harry jamais permitiu agressão em interrogatórios, mas deixou que Jean fugisse à regra naquele momento. Seu punho fechou-se por muitos momentos ao longo da conversa com Ryron, esperando a raiva lhe dominar para então fazer o que desejou desde o momento que o demascarara. No entanto, havia uma lista de prioridades em sua mente e perguntas precisando de respostas, além do machucado em seu ombro que o impedia de exercer a força esperada para um bom gancho de direita. Felizmente, Jean era tão capaz quanto ele.

  Ryron arregalou os olhos na direção de Harry, pedindo um auxílio que o ex-grifinório não estava disposto a dar, uma vez que assistir alguém infringindo a regra que ele mesmo criara parecia, naquela cena, algo extremamente prazeroso.  

    -Covarde idiota! -Vociferou Jean, segurando Ryron pela gola da blusa. Ele tremia, mas a cadeira impedia-o de executar qualquer movimento. - Achou que sairia ileso se passando por mim, não é? Seu pciscopata… todas aquelas pessoas… - dessa vez, Jean o socou no canto da boca, fazendo-o cuspir sangue. - Esse foi em nome do John. E esse aqui é por mim mesma.

  A cadeira com Ryron ameaçou a cair quando Jean deu-lhe o terceiro e último soco. Afastando-se para contemplar seu feito, ela sorriu satisfeita ao ver sangue na boca do espião, assim como uma marca vermelha na bochecha esquerda e mais sangue escorrendo do supercílio direito.

   -Espero que seja bem-vindo a Azkaban. - Proferiu ela e, com o mesmo tom insolente, voltou-se para Harry. - Quero falar com você depois, chefe.  

  Harry, de braços cruzados, assentiu em resposta. Seguidamente, olhou para Ryron, para rosto desconfigurado pelos socos e pela raiva.

  -Já acabei. - Anunciou ele, olhando nos olhos do ex-auror antes de seguir Jean para fora da sala. Ele a conhecia bem demais para saber que a sua raiva não passaria tão facilmente.

  Quando Harry fechou a porta de sua própria sala no Ministério, e deu a volta em sua própria mesa, largou-se em sua cadeira, sentindo o cansaço finalmente falar mais alto. Jean, porém, manteve a postura ereta, os braços cruzados e permaneceu de pé em frente a ele.

   -Eu sei que você os abomina, mas eu adoraria ver os dementadores sugarem tudo de Ryron. -esbravejou ela. -Como ele pôde ser tão baixo? De todas as pessoas que ele poderia se transformar, por que logo eu?

  -Porque ele queria me atingir, Jean -respondeu Harry, fazendo uma leve massagem em sua têmpora com os dedos. A falta de uma noite de sono estava começando a lhe surtir efeito. -Porque nos relacionamos e…

  -Você acreditou? -perguntou ela, interrompendo-o. Harry franziu o cenho frente aquela pergunta. -Você acreditou que era realmente eu?

  Ele a fitou, sabendo que se proferisse a verdade em voz alta, pareceria-lhe um absurdo até mesmo para seus ouvidos.

  -Eu já esperava… -Disse ela, profundamente magoada.

  -Jean… me descul…

  -Poupe-me das suas desculpas. - A máscara de ódio voltou a cobrir a mágoa de Jean. - Preciso que você assine esse papel para mim.

  Harry a viu tirar um papel de um dos bolsos da jaqueta preta que ela usava, para logo depois entendê-lo em sua direção. Com o senho franzido, ele o pegou e arregalou os olhos com o que havia escrito ali. Jean estava pedindo para que ele assinasse e concordasse com a sua Transferência para o Ministério dos EUA, do outro lado do ocenao. Longe de Londres. Longe dele.

  -Você tem certeza disso? - Perguntou ele, mesmo já sabendo a resposta. No fundo, Harry sentia-se culpado pela mágoa que Jean carregava por ele, quando antes costumava ser paixão. Ainda assim, sabia que ele nunca seria capaz de fazê-la feliz, não quando seu coração pertencia a Gina.

  -Certeza absoluta.

  Harry molhou a sua pena no tinteiro e assinou o papel. Entregou o documento de volta para ela e, tentando se convencer de que fizera a coisa certa, falou:

  -Espero que seja feliz, Jean.

  Ela o encarou por alguns segundos antes de assentir e sair da sala, sem dizer uma palavra. Fitando a sala agora vazia, Harry perguntou-se se aquela seria a última vez que a veria.  

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  Gina não saberia dizer quantos minutos estava deitada no sofá, olhando para o pedacinho do céu que o vidro da janela da sala não escondia. Chegara do hospital não havia muito tempo, livrou-se das roupas sujas e demorou exatos 35 minutos no banho, quando Viviane bateu na porta do banheiro ao estranhar a demora. Agora, depois de escolher um short jeans velho e uma blusa de alcinhas surrada, Gina sentia-se leve, relaxada, longe do estado de alta adrenalina e tensão que passara durante o jogo.

  Pela primeira vez desde quando se mudara para o antigo apartamento de Hermione, a felicidade de ter um lar, um sofá confortável e a calmaria lhe deixavam feliz por estar ali e não n’ A Toca, onde um minuto de silêncio era extremamente raro. Sorrindo com os próprios pensamentos, a ruiva agarrou-se em uma almofada e pendeu seu pé direito para o chão, de modo que seus dedos acariciassem os pelos de Bichento, deitado no tapete abaixo do móvel.

  Repentinamente, a campainha do apartamento soou e Gina quase caiu do sofá com o barulho, ainda estranhando o modo trouxa de anunciar visitas. Suspirou ao mesmo tempo que Bichento miou, ambos ligeiramentes tristes pelo momento de paz ter acabado tão rápido. Mas Gina arrependeu-se do próprio lamúrio ao abrir a porta e dar de cara com Harry, com cabelos úmidos, roupas limpas e notáveis olheiras abaixo dos olhos verdes cobertos pelas lentes do óculos.

  -Gosta de pizza de calabresa? - Perguntou Harry, estendendo a caixa da pizza em direção a ruiva, que sorriu estantaneamente e pôde jurar que seu estômago fazia o mesmo.

  -Felizmente a Mione já me apresentou a essa delícia! - Respondeu ela, pegando a caixa de pizza e dando passagem para que Harry entrassem. - Se eu não soubesse o quanto você é ruim em Legilimência, agradeceria por ter lido meus pensamentos. -Continuou a ruiva, enquanto depositava a caixa em cima da mesa no canto da sala.

  Harry fechou a porta e caminhou para o meio do cômodo enquanto sorria para a ruiva visivelmente animada a sua frente, agradecendo a si mesmo pela ideia da pizza. Depois dos altos e baixos dos últimos dias, vê-la era a certeza de um final de dia feliz. Algumas pessoas tinham um lugar para chamar de refúgio, mas Harry tinha Gina Weasley.

  Ainda sorrindo, ele reparou na simplicidade das roupas dela, e na falta de algumas peças também. Assim, ele não foi capaz de controlar os próprios pensamentos tendo a visão daquela ruiva tão confortável e ao mesmo tempo tão atraente bem na sua frente. A tentação era tamanha que quase o fazia esquecer do cansaço que tomava cada fibra de seus ossos, sentindo-se como se ainda tivesse energia o suficiente para atividades bem mais interessantes, contanto que a envolvessem.

  A ruiva notou os olhos dele em seu corpo, principalmente na região dos seios, onde a blusa fina e velha certamente não os escondiam com perfeição. Algo dentro dela fervilhou e suas mãos suaram ao lembrar que o caminho que os olhos dele percorriam agora era o mesmo por onde as mãos haviam a explorado mais cedo. Bem, quase o mesmo. Subitamente, a saudade da sensação de tê-lo colado a ela se fez presente, de modo que, andando lentamente, Gina rodeou Harry com seus braços e sentiu-o fazendo o mesmo consigo. Na mesma hora perguntou-se como pôde sentir-se feliz no sofá quando os braços dele eram disparadamente mais aconchegantes.

  Harry apertou o corpo da ruiva contra o seu, sentindo o volume dos seios dela pressionados contra seu peito e a barriga encostando em seu ponto sensível. O calor que emanava dela tomou conta dele por completo, juntamente do aroma floral e natural que exalava do pescoço onde seu rosto se afundou. Feliz, ele não ligou para os minutos que passaram ali, em pé, no meio da sala e completamente grudados, no lugar exato onde desejou estar desde que se separaram no St Mungus.

    -Você está bem? - Ela já havia proferido aquelas palavras mais cedo, mas a pergunta saiu de sua boca sem que pudesse conter-se, de um modo abafado por seu rosto estar afundado no peito de Harry.

      -Muito bem. -Respondeu ele, sentindo as mãos de Gina subirem por seus braços.

     -Seu braço ainda dói?

     -Quase curado.

  -Tem certeza? - Ela arqueou uma sobrancelha para ele, afastando-se um pouco para encará-lo. Sabia o quanto ele podia ser negligente com a própria dor.

  Revirando os olhos em brincadeira, ele a carregou, passando um braço pelas costas dela e o outro pelos joelhos. Gina deu um gritinho com o movimento repentino, antes de começar a rir com a atitude boba dele de demonstrar o quanto o machucado estava quase completamente curado. Com ela ainda em seus braços, Harry sentou-se no sofá e a depositou em seu colo, tal como Teddy costumava ficar.

  -Satisfeita? - Perguntou ele, sorrindo maroto. E foi a vez dela de revirar os olhos, ainda que a vontade de beijá-lo tomasse conta de todo o seu ser. Quando ia sucumbir a vontade, os passos de Viviane foram ouvidos.

  -Ah, é você! - Falou a morena, em meio a um bocejo e um esfregar de olhos. Seu cabelo estava levemente bagunçado e o rosto inchado, evidenciando que acabara de acordar. O casaco grande e bege que ela usava certamente escondia um de seus trajes de dormir que John amaria.

  -A campainha te acordou? - Quis saber Gina, sentindo Harry apertar os braços ao redor de sua cintura, a mantendo em seu colo. Não que ela quisesse sair, claro.

  -Na verdade, foi o cheiro da pizza. - Viviane riu com as próprias palavras enquanto sentava no tapete, de frente aos amigos.

  -Vamos comer então. - Disse Harry, convocando a pizza com a sua varinha e libertando Gina para que ambos sentassem no tapete junto a Viviane.

  -Como foi no Ministério? - Perguntou a ruiva quando os três já estavam com um pedaço de pizza em mãos.

  -Resolvi tudo. Ryron irá amanhã para Azkaban. - Harry olhou brevemente para Viviane ao falar a última frase, um olhar carregado de significados que ela pôde desvendar, e lhe sorriu agradecida.

  Viviane gostava de Harry. Havia revelado seu passado a ele e, ainda que houvesse sido ideia de John, ela jamais o faria caso não se sentisse bem com isso. Mas, estranhamente, Harry lhe transmitia segurança, lealdade e confiança, o que a dava certeza de que ele nunca mais falaria de Ryron ou do filho que ela perdeu. Seu passado estava seguro com ele.

  -E John? Teve alguma notícia nova depois de sair de lá? - Foi Harry que lançou a pergunta, e Gina fitou de imediato a amiga.

  O coração de Viviane palpitou só com a simples menção do nome dele.

  -Ele deve deixar o hospital em no máximo dois dias. É tudo o que sei. - Respondeu ela, enfiando mais um pedaço de pizza na boca para evitar mais perguntas. Não queria falar de John. Não queria pensar em John, ainda que fosse uma causa perdida. Internamente, Viviane se via em uma ilha rodeada de pensamentos e sentimentos que só o loiro a fazia sentir, e havia apenas um caminho que podia a tirar dali: Gales. A data com a sua volta para o país estava cada vez mais próxima, e a lembrança a fez suspirar. Fora por isso que não ficara com John por muito mais tempo no hospital. O que adiantava ficar quando ela partiria dali há alguns dias? Porque insistir em se acostumar com a proximidade dele quando seu coração já sofria com a distância?

  -Amanhã irei vê-lo. Rony está lá agora. -informou Harry, sorrindo-lhe. -Mas tenho certeza que John estará inteiro a tempo para o baile do ministério.

  -Baile? -indagou Viviane.

  -Vai ser na noite antes da sua volta para Gales. -informou Gina.

  -Ah...

 Harry e Gina permaneceram calados por alguns minutos, concentrados em terminar a pizza e respeitando Viviane, que parecia não querer mais conversar depois da pergunta sobre John.

  -Você salvou a minha noite. Estava faminta. - Foi Viviane que quebrou o silêncio, depois de mastigar o último resquício de seu pedaço de pizza.

  -Como dizem os trouxas, pizza é sempre bem vinda. - Proferiu Harry, dando-se por satisfeito após seu terceiro pedaço.

  -Você também é. Não é, Gina?

  A ruiva a olhou de canto, sorrindo maliciosa ao entender a insinuação da amiga. Harry apenas riu.

  -Tudo bem, agora sim vou poder dormir bem e de barriga cheia. - Viviane levantou-se e trouxe a caixa vazia da pizza consigo. - Eu costumo lançar um abafiato no quarto quando não quero ser incomodada, então sintam-se livres para fazer qualquer barulho. Será como se eu não estivesse aqui.

  Gina fuzilou a morena com os olhos, a qual sorria radiante. Harry não conseguiu contar o sorriso largo que saiu de seus lábios com a provocação de Viviane, e sentiu suas bochechas esquentarem.

  -Obrigada pela pizza Harry. Boa noite.

  No minuto seguinte, ele e Gina já estavam sozinhos.

  -Não ligue para o que ela diz. - Falou Gina.

 -Eu gosto da Viviane. Na verdade, eu gosto muito dela. Me deu várias ideias... - Respondeu ele, rindo com a própria brincadeira.

  -Deu é? - A ruiva mordeu o lábio inferior e levantou uma das sobrancelhas, desafiando-o a continuar com aquele jogo prazeroso de indiretas.

  Harry puxou Gina para seu colo novamente e, apoiando suas costas no sofá, ele a ajeitou de modo que a pernas dela pendê-se por cima da sua coxa direita.

  -Deu, o que me lembrou do real objetivo de ter vindo até aqui hoje. - Falou ele, dando leves beijos nos lábios de Gina.

  -E qual é?

  Gina enlaçou o pescoço dele com seus braços, o rosto a meros centímetros de distância do dele.

  -Buscar o beijo que você me negou ontem, antes do jogo. - O sorriso que se abriu no rosto dele estava cheio de intenções das quais ela também compartilhava.

  -Pensei que já havia sanado essa dívida hoje mais cedo. - Respondeu ela, fingindo-se de assustada em uma careta que Harry achou adorável.

  -Ah não, aqueles não contaram.

  -Não contaram!?

  -Foram deliciosos, amei cada um deles, mas a dívida ainda se mantém. - Harry, sem forças para conseguir manter seus lábios longe dela, começou a distribuir beijos em cantos diferentes do rosto de Gina, a fazendo morder os lábios com a expectativa.

  -Acho melhor eu pagar o que devo. Não gosto de cobranças. - A voz de Gina já era um mero murmúrio, envolta pelo momento carinhoso e ao mesmo tempo ardente. Suspirando, ela fechou os olhos e sentiu Harry a deitar no tapete e apoiar metade do corpo por cima do dela. Respiravam em sincronia, peito contra peito, de modo que as suas batidas do coração mais pareciam respostas as batidas do dele.

  Quando ele sorriu e finalmente deu atenção aos lábios da ruiva, foi como se finalmente houvesse encontrado a terra após dias em mar aberto. E a sensação era fantástica. Não havia pressa, nem urgência em nenhum de seus movimentos. Harry a beijava com a mesma paciência de quem saboreava o melhor sorvete do mundo, hora sugando o lábio inferior dela, hora lambendo-o ou simplesmente brincando com língua em volta daquela boca já vermelha por causa do beijo. Diferentemente do momento quente no St Mungus, onde o desejo sobrepunha qualquer outra sensação, era o sentimento que ambos ainda não sabiam nomear que os comandava agora. Fosse alegria, paixão, carinho, ou até mesmo a mistura de todos, ambos só tinha a certeza que nunca mais queriam saber o que era ficar sem aquilo.

  O joelho esquerdo de Harry estava no meio das pernas de Gina, e a mão que não o estava servindo de apoio, repousava carinhosamente em seu quadril. Ela sabia que havia muitas outras formas de sentir-se mais unida a ele do que somente ter metade de seu corpo colado ao dele, mas a sensação de estar completa preenchia até o espaço entre seus dedos do pé. Perguntou-se se ele sentia-se da mesma forma porque, ainda que seus braços contornassem o tronco largo e o acariciasse nas costas, seu corpo nunca seria proporcional ao tamanho do dele. No entanto, a maneira como ele a beijava a fazia ter certeza de que, como diziam os trouxas, a pressa era inimiga da perfeição, e Harry certamente não tinha pressa alguma.

  No momento que respirar se fez mais importante que continuar o beijo, ele ergue-se um pouco para admirá-la. Tal como o ritmo acelerado do coração se correspondiam, suas respirações um tanto ofegantes se misturavam, e as bocas, igualmente inchadas, sorriam uma para a outra, satisfeitas e saciadas, ainda que prontas para mais. Harry achou que ver Gina daquela forma, com o rosto a centímetros do seu, os cabelos ruivos espalhados pelo tapete e o peito subindo e descendo em convite para seus toques, serviriam de inspiração para qualquer artista. Não satisfeito em gravá-la somente como os olhos, ele subiu sua mão direita de encontro ao rosto dela, e dedilhou o contorno de suas feições com a mesma lentidão com a qual a beijara. Começou pelas bochechas para logo depois seguir para os lábios.

  Gina sorriu com o toque em sua boca, totalmente inebriada pelo olhar dele tão cheio de carinho e afeição.

  -O que foi? - Perguntou ela, em sussurro. Harry sorriu, e roubou-lhe mais um selinho antes de respondê-la.

   -Você é linda.

  Ela não soube o que responder diante do elogio sincero, também não viu necessidade para tal porque ele deitou a cabeça em seu ombro direito, o nariz um pouco acima de seus seios. Sentiu que os dele dele estavam fechados, e a respiração antes um pouco rápida, já normalizada. Gina começou um carinho gostoso na nuca de Harry, e entrelaçou sua perna na dele e, por incontáveis minutos, permitiram-se ficar daquela forma, até que ele saiu de cima dela e deitou-se ao seu lado no tapete. Já acostumado com o calor do corpo dela, ele a trouxe para deitar em cima de seu peito, onde Gina se aconchegou tão rápido que o fez pensar que a distância entre eles não era algo a ser debatido ali.

  -Estou exausto. - Suspirou ele, enquanto acarinhava o braço esquerdo de Gina em um movimento de vai e vem. Ela levantou-se um pouco com a revelação, apoiando-se pelo braço direito em cima do peito dele e o encarando novamente. A ruiva sorriu em entendimento das palavras, simplesmente porque a frase poderia ter facilmente saído de sua boca.

  -Podemos ir para o quarto, se você quiser… - Disse Gina, olhando-o calmamente. Não era um convite para sexo. Era um convite de companheirismo, e ficou feliz que Harry soube entender o recado. Ele levou a  mão direita ao seu rosto, dessa vez somente para por uma mecha ruiva de seu cabelo para trás de sua orelha, assentindo com o rosto em resposta ao seu convite.

  Pensou em perguntar se ela tinha certeza porque, embora não houvesse energia para sexo, vontade era o que não faltava o que, estranhamente, não deixava o convite soar menos íntimo. No entanto, a certeza no olhar e expressão de Gina o dizia, novamente, que ela tanto quanto ele não estava disposta a colocar distância entre eles. Não naquela noite.

  Sorrindo cumplinces, ambos levantaram-se do tapete de mãos dadas. Gina sussurrou um Boa noite para bichento, que estava deitado na porta da cozinha, e conduziu Harry até seu quarto.

  Já havia estado no quarto de Gina Weasley uma vez, mas eram épocas, casas e turnos diferentes. A curiosidade de avaliar cada espaço do compartimento se fazia presente, mas o cansaço e ela em si já tomavam conta de seus olhos por completo. Harry então esperou que ela arrumasse a cama ampla para que deitassem, notando o cuidado com que ela parecia pequena em comparação ao móvel tão grande e acolhedor. Quando terminou, ela voltou-se em sua direção novamente, em frente a porta já fechada do quarto, e veio até ele. Gina ficou na ponta dos pés para tirar os óculos dele, aproveitando para roubar um selinho com a proximidade, o que os arrancou uma leve risada. Após depositar os óculos em cima da penteadeira, ela levantou os braços de Harry, para então começar a tirar a blusa que ele vestia.

  As mãos de Gina, ao mesmo tempo que subiam com o tecido, o acariciavam nas costas, fazendo Harry arrepiar-se por inteiro, e o fato dela o encarar nos olhos em meio a uma atitude tão inusitada não o deixava menos desconfortável com a situação. Sentia-se tranquilo ali, sendo despido por ela, no meio do quarto escuro e acolhedor dela. Era como se ambos já houvessem feito isso diversas vezes, embora fosse a primeira vez.

  Finalmente livre da blusa, e ficando somente com a bermuda, Harry sentiu Gina o puxar pela mão em direção a cama. Tão natural como todos as ações daquela noite juntos, deitaram-se ali, cobriram-se com o mesmo cobertor e aconchegaram-se um no outro.

  O último pensamento de ambos antes de se entregarem ao sono profundo foi o pedido silencioso de que pudessem dormir juntos pelo resto de suas vidas.




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Notas finais do capítulo

Esse capítulo começou comigo sentada na frente do pc (lógico), respirando fundo e dizendo: é a hora da verdade. Ele estava planejado há tanto tempo que estamos realmente muito ansiosas para saber o que vocês acharam do resultado. A falta de alguns trechos em capítulos anteriores finalmente foi sanada, então nos deixem saber o que vocês acharam nos comentários, ok?
E agora? Agora só faltam 4 capítulos!!! Mas temos também uma surpresinha. Quem participa do nosso grupo fechado no Facebook, vai saber primeiro sobre o que se trata! Então não deixem de participar!
Outra novidade é que eu (LEvans) postei duas ones recentemente. Uma Jily, cujo o nome é INSÔNIA, e outra Romione, que se chama PRIORIDADES. Essa última foi escrita em parceria com a Fe Damin e foi uma experiência muito divertida!! Não deixem de passar lá também!
É isso, pessoal!
Aguardando ansiosamente os comentários divos de vcs,
beijos das gêmeas ♥



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