Dois Caminhos, Um Só Destino escrita por LEvans, Cella Black


Capítulo 23
Capítulo 22 - Jogo Sujo


Notas iniciais do capítulo

O capítulo tava pra sair desde o comecinho do mês buuuut, saiu agora! E dessa vez, não demoramos 6 meses hehehee bem, foi o cap mais trabalhoso que tivemos o prazer (e dor de cabeça) de escrever até então. Esperamos que gostem do resultado!
PS: Cap dedicado a Paulinha Almeida, que ficou mais velha no domingo passado. Feliz Aniversário de novo, catilanga! ♥
Até as notas finais!!



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Arm yourself because no one else here will save you

The odds will betray you

And i will replace you

You can't deny the prize it may never fulfill you

It longs to kill you

Are you willing to die?

The coldest blood runs through my veins

You know my name

 

You know my name - Chris Cornell



O relógio na parede há muito já havia marcado o fim do expediente, no entanto, Harry continuava em sua mesa, em volta de montanhas de papéis que ele tivera o cuidado de esconder dos companheiros de trabalho.

   Até mesmo de Rony.

  Não que o ruivo não soubesse dos seus planos. Depois de sua conversa com Hermione, Rony com certeza já teria ciência da pretensão de Harry, mas continuava em absoluta ignorância quanto a última carta que chegara no departamento bem como do objetivo do amigo naquela noite. Ele sabia que o ruivo não ficaria muito satisfeito com aquilo e talvez tivesse que aguentar o melhor amigo emburrado por dois ou três dias, mas naquele momento, a única coisa que lhe importava era se livrar da venda sob seus olhos de uma vez por todas. Além disso, não queria interromper os preparativos para o casamento dos amigos, já se sentia suficientemente culpado por ter interrompido as férias de Rony junto com as suas, por mais que soubesse que o ruivo voltaria para o departamento mesmo sem a sua solicitação.

  E Viviane. Quanto mais analisava todos aqueles papéis com as árvores genealógicas dos aurores, mais as palavras da batedora martelavam em sua mente. Não havia contado aquilo para ninguém em respeito a ela, embora suspeitasse que John soubesse. Tendo em mente toda a breve conversa que tiveram, juntamente com a última carta que dizia tudo e ao mesmo tempo nada, Harry se trancou em sua sala e se afundou nos papéis que agora cobriam cada parte de sua mesa.

  Não queria que nada passasse despercebido por seus olhos, de modo que sua análise se tornava um pouco mais demorada, esquecendo-se, pelo menos durante aquele momento, de que teria um jogo de quadribol para assistir no fim daquela semana. Seu plano tinha que dar certo, do contrário, continuaria cego e o estranho que andava lhe ameaçando ainda estaria no comando, sempre com um passo a frente.

  Depois de horas, em que seu estômago clamava pela janta esquecida, finalmente chegou onde queria, as palavras de Viviane agora ecoando em sua cabeça. Nomes, sobrenomes, nomes, data de nascimento e de óbito... Então, estava lá. Precisou limpar a lente de seus óculos e reler os dados para que tivesse certeza, pois acreditar ainda lhe custava. Mas não se enganara. Agora via tudo tão claro quanto o fundo de um lago de água cristalina.

  O sorriso foi involuntário.

  -Te peguei. -Murmurou, querendo esmurrar alguma coisa resultante da adrenalina correndo por suas veias.

  Depois de tempos no escuro, finalmente voltara a enxergar.

  Os minutos que se seguiram foram tempo suficiente para que Harry pescasse um endereço e vestisse sua capa. Passou pela porta de sua sala e a trancou. Os corredores do ministério, embora iluminados, estavam desertos. Claro, sempre haviam uns bruxos ali e acolá, tentando adiantar o trabalho ou terminar o que estava atrasado, então poucos notaram um Harry apressado e decidido saindo do elevador e se encaminhando para uma das lareiras que o levaria para fora dali.

  O ar frio de Londres o tomou quando saiu de uma das entradas do ministério. Olhou por sobre os ombros enquanto caminhava, só para não perder o costume que adquirira em meio as missões que ensejava como auror, em sua busca por uma rua deserta ou por um beco escuro daqueles que ninguém se arriscaria a entrar. Não demorou muito para finalmente achar o que procurava e, sem hesitar, aparatou e apareceu segundos depois na rua que constava no endereço.

  O som de risos atraíram sua atenção. Havia uma taberna no final da rua, cheia de trouxas que procuravam se esquentar através de bebidas. Não era um lugar considerado perigoso, e sim uma típica avenida calma, cheia de prédios antigos e casas pequenas. Ainda sim, Harry colocou as mãos no bolso de seu casaco, sentindo sua varinha pelo vão do tecido feito especialmente para aquilo. Começou a descer a rua, buscando pelo número do endereço até finalmente encará-lo no muro de uns dos prédios antigos de 4 andares.

  Como não havia uma portaria, passar pela porta que levava as escadas no interior do prédio foi fácil. Ao menos para um bruxo. Tentando fazer o mínimo de ruídos possível, subiu pelos degraus até alcançar o corredor no terceiro andar. Parou na frente do número do apartamento que o endereço indicava e, sacando novamente sua varinha, lançou o feitiço silencioso capaz de destravar a tranca da porta, mas não antes de checar se não havia algum tipo de encantamento que denunciasse sua presença. Quando finalmente abriu a porta, encontrou no interior do apartamento exatamente o que previra:

  Nada.

 Nem uma mísera vertigem que provasse que alguém estivera ali naquele dia. Ou há uma semana.

 

—Não tinha nada? -Indagou Rony, carrancudo, no outro dia.

  -Nada. -Repetiu Harry, mais uma vez naquela manhã. Parecia que o amigo se recusava a acreditar.

  -Aquele filho da puta! -Exclamou John, sentado ao lado de Harry.

 Os três estavam na sala do apartamento do chefe dos aurores, onde o mesmo marcara uma reunião confidencial com o loiro e Rony. Embora tivesse quase certeza de suas suspeitas, os dois eram os únicos aurores que Harry confiava plenamente. Não poderia negar que chegara a desconfiar até mesmo de John, afinal, suas experiências em confiar em pessoas erradas levava sua mente a caminhos perigosos, no entanto, ao saber que o loiro estava por trás da revelação de Viviane há poucos dias atrás, qualquer resquício de desconfiança em relação ao amigo se dissipara juntamente com sua paciência. Seria impossível continuar de braços cruzados depois de suas descobertas na noite passada, de modo que não hesitou em compartilhá-las com John e Rony, e colocar este a par da última carta que recebera.

  -Espero que os Dementadores façam um bom trabalho com ele. -Continuou John, com uma raiva que, Harry sabia, ia muito além das ameaças contidas nas cartas.

 -Não podemos prendê-lo ainda. -Disse Harry, não parecendo muito satisfeito com suas palavras.

 -Maldição! Não diga que não temos provas o suficiente. -Resmungou Rony, com um sorriso irônico.

 -Você sabe que não, Rony. Temos que interrogá-lo. Além disso, ele não trabalhará pelo resto da semana.

 -Maldito regimento. -Murmurou John.

 -Com o que temos, no máximo poderemos puni-lo pela omissão de um sobrenome e por ter fornecido um endereço falso. -Continuou Harry, analisando as cartas que tinham na manga.

 -Qual é... Isso não é nada!

 -Cartas com ameaças sem fundo também não parece muita coisa, John. -Disse Rony.

 -Mas e quanto ao seu ataque no Beco, Weasley?

 -John tem razão. Mas não temos como provar que foi ele. -Falou Harry.

 -E quanto a última carta? -Indagou o ruivo, sua preocupação estampada em cada linha de seu rosto. -Acha que ele pode...?

 -Sim.

 -O que? -Perguntou John, tentando extrair alguma coisa dos olhares trocados entre os amigos.

 -Achamos que ele quer assustar o Harry. Ele tentou algo contra mim uma vez, nada o impede de tentar algo com o resto da família também. -As mãos de Rony se fecharam em punho enquanto os pensamentos de Harry iam diretamente para Teddy e Gina.

 O silêncio reinou por alguns segundos até que John o quebrou, parecendo assustado com o pensamento que acabara de lhe ocorrer.

 -O jogo da sua irmã. -Murmurou ele. Harry assentiu, demonstrando que compartilhava das mesmas suspeitas.

 -Vamos ter que ficar de olho. Se ele tentar alguma coisa, não quero que ninguém saia ferido.

 -As arquibancadas são enormes, cara. Podemos deixar algo passar. -Disse John.

 -Não vamos. Não podemos. -Falou Harry, a determinação presente em seu tom de voz.    Arrumando seus óculos, virou-se para Rony. -Acha que Hermione...?

 -Não. -Respondeu Rony, rapidamente. -Não quero que ela se meta mais nisso. Ela já vai estar correndo risco em ir pra essa droga de jogo... Gina também.

 A menção do nome de Gina foi o suficiente para entender o amigo, de modo que Harry não o retrucou.

 -Não quero alarmar ninguém, Rony. Se impedirmos sua irmã e Hermione de ir... Ele pode não fazer nada.

 -Eu sei. -Murmurou o ruivo, parecendo resignado. -E quanto a Viviane?

 O pescoço de John estalou ao virar-se rapidamente em direção do amigo ao ouvir o nome da batedora.

 -Você não...?

—Ela o conhece. Além disso, ela não precisa fazer nada que... -Disse Rony, mas John o interrompeu.

—Ótimo, vocês livram as suas garotas mas a minha pode correr o risco de perder a cabeça? Ou a própria vida? -Somente depois que as pronunciou foi que John se deu conta do significado de suas palavras. Harry o encarava com as sobrancelhas levantadas enquanto Rony parecia impaciente. Harry não o culpava, visto que o ruivo não sabia inteiramente da história que Viviane guardava.

—Ela não é sua...

—Vá se foder, Weasley.

—Ei! -Exclamou Harry, querendo impedir um duelo iminente. -Seria mais fácil se vocês dois parassem de discutir feito duas doninhas no cio. Não vamos arriscar ninguém...

—Muito sensato da sua parte. -Murmurou John, irônico, embora concordasse plenamente com Harry.

—... mas Viviane pode nos ajudar.

John não poderia acreditar naquelas palavras.

—Ora, seu...

—Eu não vou arriscar ninguém, John! Não vou usá-la como isca nem nada que possa atingir um único fio de cabelo, mas você tem que concordar que somente a presença dela vai o atrair. Ele sabe que ela vai estar lá.

—Mais um motivo para não metê-la nisso, caralho! -Exclamou o loiro, exasperado.

Ao seu lado, Rony bufou.

—Ela já está. -Murmurou Harry. -E se eu me lembro bem, você que pediu pra ela.

—Se eu soubesse que você planejaria jogá-la as cobras, eu não teria feito. -Disse o loiro, levantando-se e encarando o amigo.

—Escuta o que ele tem a dizer, seu grande idiota. -Falou Rony.

Harry lançou um olhar agradecido em direção ao amigo.

—Não queremos alarmar Hermione ou Gina, mas seria bom que alguém junto à elas soubesse o que pode acontecer, não acha? Além do mais, Viviane conhece o campo. -Harry levantou-se e começou a andar pela sala, sua mente trabalhando a todo vapor.

—Gina também conhece. -Lembrou Rony.

—Sim, mas não vou pedir para ela abrir mão da primeira oportunidade grande no novo trabalho. Como eu disse, ele pode não fazer nada. - Retrucou o moreno. -  Mas, se algo acontecer, teremos que ter alguma coisa na manga.

  Pelo resto da tarde, os três tentaram organizar um plano com o mínimo de erros possível, o que gerou um grande trabalho já que havia infinitas formas do espião atacar. Resolveram então focar em salvar as pessoas que prestigiariam o jogo naquele fim de semana de qualquer ameaça iminente.

  Por mais que não estivesse totalmente na escuridão, o medo do possível ataque durante o jogo aliviava e, ao mesmo tempo, amendrontava Harry. Se tudo o que temia acontecesse dali há 2 dias, havia chances de ninguém sair ferido, estava preparado psicologicamente e fisicamente para isso, com diversas estratégias em mente. Por outro lado, se o que previa não viesse a acontecer, estariam a mercê do espião novamente, temendo um ataque que Harry talvez não pudesse prever ou, pior, não fazer tudo ao seu alcance para que ninguém saísse ferido.

Resolveu afastar tais pensamentos de sua mente e focar no plano que haviam bolado.

  Não poderia ter falhas.

 

  Gina não estava nervosa, mas a frequência com que esfregava as mãos uma na outra denunciavam sua ansiedade. Sempre fora muito confiante profissionalmente, e não duvidada da própria capacidade em fazer de sua coluna no Profeta Diário um tremendo sucesso. No entanto, a ansiedade sempre lhe tomava minutos antes de entrar em campo e, embora hoje não fosse voar em uma vassoura e mirar Goles em um dos três arcos do time adversário, sentia-se tão ansiosa como se o fosse.

  Naquela manhã, acordara cedo, tomara seu café bem adubado feito carinhosamente por Viviane e, com a ajuda dela, escolheu sua roupa para dar o primeiro grande passo em sua carreira como Correspondente Sênior de Quadribol. O sorriso largo e as mãos suadas denunciavam o orgulho enorme que sentia de si mesma quando, usando um crachá especial que lhe dava livre acesso ao campo, ela adentrou ao enorme compartimento reservado exclusivamente para jornalistas e autoridades do mundo bruxo. O local tinha uma vista privilegiada que facilitaria sua atenção aos detalhes os quais, se os torcedores deixassem passar, leriam no dia seguinte em sua coluna no Profeta.

  -Srta Weasley? - A voz de uma das fotógrafas do jornal tirou Gina dos próprios pensamentos. - Há alguém lhe procurando ali fora.

  Gina agradeceu o aviso e se encaminhou para fora da sala, perguntando-se quem, além de jornalistas, teria chegado tão cedo ao palco do primeiro jogo de Quadribol daquela temporada. Seu coração bateu mais rápido ao avistar o culpado.

  -O jogo só começa daqui a duas horas, Sr. Potter. - Falou ela, feliz com a visão de Harry encostado em um dos corrimões que davam acesso as arquibancadas. A ruiva sabia que ele tinha consciência dos horários da partida e vê-lo ali tão cedo apenas podia significar que ele queria vê-la.

  -O que se deseja para alguém que vai cobrir a primeira vitória da Bulgária do campeonato? - Quis saber ele, sorrindo de lado ao mesmo tempo que puxava Gina pela mão para mais perto de si.

  -Bom jogo? - Ela apoiou uma mão no braço direito dele e se deliciou com o carinho silencioso que ele passou a fazer em sua outra mão livre.

  -Bom jogo, Srta. Weasley. - Desejou Harry, usando a mesma formalidade com que ela lhe recebera. Ambos sorriram com a frase.

  -Obrigada por vir aqui só para me dizer isso. Significa muito para mim.

  -De nada. - Respondeu ele, abaixando um pouco a voz ao continuar. - Eu daria um beijo com o mesmo significado, mas acho que você não gostaria muito…

  -Oh, eu adoraria! - Cochichou ela, como se contasse um segredo. - Mas receio que a foto desse beijo estaria estampado na capa do jornal de amanhã, e preciso de todas as atenções para a minha coluna. Estou sendo muito egoísta hoje.

  Harry riu com a cara de menina travessa com a qual ela lhe olhava.

  -Coisas de jornalistas. Entendo perfeitamente.  

  -Aceito o beijo mais tarde, se você ainda estiver disposto…

  -Estarei muito disposto. - Respondeu Harry, tão rápido que fez Gina rir baixo.

  -Não me esquecerei disso.

  Harry teve que controlar ao máximo seu impulso de beijá-la diante do sorriso lindo, sincero e sedutor nos lábios dela.

  -Por que me pediu para mudar vocês de lugar? -Perguntou ela, lembrando-se do pedido inusitado que recebera no dia anterior.

   -Ah… Seu irmão estava resmungando feito um bebê porque queria ter uma visão melhor do campo. -Disse ele, embora o olhar penetrante que ela lhe lançou lhe falava que ela não acreditava em suas palavras.

     -É quase do lado oposto em que terei que ficar. Talvez eu consiga enxergar a cara do Rony quando Krum capturar o pomo.

    Harry se achou o bruxo mais burro do universo quando lembrou-se que Gina não ficaria junto com os demais Weasley. Ela era jornalista, pelo amor de Deus! É claro que teria que ficar com os demais companheiros de sua nova profissão. Aquilo preocupava Harry, que preferia que a ruiva ficasse ao alcance da família, mas nada poderia fazer, ao menos nada que não fizesse ela desconfiar ainda mais de algo que a preocuparia o suficiente para a distrair sua atenção do trabalho. No entanto, ele se recusava a deixá-la ali, sem saber se ela estaria segura caso o estranho resolvesse agir.

   Não que não se preocupasse com os demais, mas o espião queria atingir Harry e, se estivesse certo, ele com certeza sabia de seus sentimentos em relação a irmã mais nova de Rony.  

     -Gina…Quero que fique com isso. -Disse Harry, tirando sua capa de invisibilidade de dentro de um de seus bolsos para entregá-la. -Por favor, me prometa que vai usá-la se… se for preciso.

  Gina o encarou por alguns minutos e Harry chegou a pensar que ela negaria. Ele sempre se surpreendia com o fato dela conseguir ler cada expressão de sua face.

  -Eu sei que se eu fizer perguntas, provavelmente continuarei sem respostas.  

  -Prometo explicar tudo depois.

  Ela sorriu, não acreditando muito nele. No entanto, se sentiu tola. Tola por ainda se sentir, de certo modo, excluída, por mais que soubesse que não tinha o direito de se sentir assim, visto que o que preocupava Harry era algo relacionado ao seu trabalho e ele provavelmente tinha o dever de permanecer em silêncio. Porém, não deixou de pensar que Rony e Hermione soubessem o motivo pelo qual Harry estava ali, lhe entregando o que talvez fosse sua mais preciosa carta na manga. Durante seu período em Hogwarts, os invejou, não se orgulhando em nada por isso. Via o trio andando, sempre com segredos compartilhados somente entre eles e sempre, sempre desconversavam toda vez que ela ou outro alguém tentava saber o que era. Até mesmo quando se tornaram mais próximos durante seu breve namoro, Gina sabia que Rony e Hermione eram a primeira opção de Harry.

  Mas, pensou, aquilo era diferente. Haviam ficado afastados durantes anos e, mesmo com muitos beijos já trocados, ela não sabia exatamente o que tinham, então não era como se ela tivesse o direito de sentir daquela forma. Assim, tentou ao máximo desviar sua mente daquele assunto ao pegar a capa das mãos de Harry.

  -Só não faça nada estúpido, Potter, ou eu juro que mato você. -Falou Gina.- Ou talvez deixe mamãe fazer isso.

  O sorriso continuava em seu rosto ao observar Gina retornar para junto dos demais jornalistas, pensando que, perto de Molly Weasley, um dragão lhe parecia subitamente mais dócil.

  Foi com muito pesar que obrigou-se a afastar qualquer tipo de pensamento que envolvesse ele e a ruiva em situações nada inocentes da cabeça quando resolveu que era a hora de seguir com o plano que ele, John e Rony haviam traçado nos últimos dias. Mais cedo naquele dia, eles haviam revistado todo o campo, incluindo os vestiários dos jogadores e as arquibancadas, não encontrando nada que pudesse comprometer a segurança dos que assistiriam o início do campeonato, mas Harry sabia que a chance de encontrar algo seria minúscula. O espião não seria burro o suficiente para tal, não quando sua melhor chance seria quando milhares de bruxos estivessem ali presente.

  Ele observou cada pessoa que passava por ele, a procura de algo estranho, até finalmente chegar onde Hermione, Viviane, John e Rony se encontravam.

  -Alguma coisa? -Perguntou Rony.

  Harry balançou a cabeça. Rony pareceu respirar aliviado, olhando para a noiva.

 -Ele não pode ser tão burro para aprontar alguma coisa, francamente. -Declarou Hermione, mas parecia que ela mesma se esforçava para acreditar em suas palavras. Harry, no entanto, levantou as sobrancelhas, um pouco surpreso.

  -Você…? -Começou ele, olhando para o melhor amigo.

  -Ela me ameaçou! -Falou Rony, parecendo um pouco emburrado.

  Hermione sorria, orgulhosa.

 -Hum, como se vocês conseguissem esconder algo de mim! Sinceramente, não sei porque vocês ainda tentam.

   -Se acontecer alguma coisa, você vai direto para...

 -Não vou a lugar nenhum, Rony. Vou ficar com Viviane e ajudar vocês. -Declarou ela, determinada.

  -Viviane, tudo certo? -Perguntou Harry, interrompendo uma possível discussão entre os amigos. Sabia muito bem que, não importava o quanto argumentassem, Hermione não sairia dali.

  Viviane aparentava calmaria, embora seus olhos expressassem outra coisa. Harry notara desde cedo, quando ela havia encontrado com ele, Rony e John naquele mesmo lugar.  

  -Sim. Não é como se eu fosse fazer muita coisa. -Disse a morena, dando um sorriso rápido.

  -É o suficiente. -Murmurou John, recebendo um olhar cortante da batedora.

—Não esqueçam dos celulares. -Avisou Harry, antes que as formalidades pré jogo começassem.

  Quando os jogadores finalmente apareceram, voando em suas vassouras, aplausos e gritos tomaram conta do campo de Quadribol, Rony e Harry trocaram olhares, enquanto John se encaminhava para o lado oposto das arquibancadas, olhando, revistando, checando tudo o que podia, mas tentando ao máximo não chamar a atenção de ninguém. O jogo começou, e os celulares de Rony e Harry continuavam silenciosos em seus bolsos.

  Enquanto o jogo rolava, tentaram agir o mais normal possível, aplaudindo quando os artilheiros da Bulgária acertavam a goles nos aros e lamentando quando o time adversário marcava. Como apanhador, Harry não era capaz de impedir que seus olhos varressem cada canto do campo, não apenas atrás de algo estranho, mas também atrás do pomo de ouro, assim como Viktor Krum.

  Ele também não conseguia evitar não olhar demasiadamente em direção onde ele sabia que Gina estava, desejando que John estivesse lá ou próximo o suficiente para evitar qualquer tipo de surpresa desagradável.

  As primeiras duas horas se passaram sem que nada acontecesse. Harry suava frio e Rony parecia impaciente. Ambos desejando que algum dos apanhadores capturasse logo o maldito pomo para que o jogo acabasse logo. John já havia retornado e saído outra vez para mais uma vistoria. Harry e Rony eram famosos demais para que ficassem perambulando pelas arquibancadas sem que fossem notados. No entanto, quando a Bulgária abriu uma diferença de 30 pontos em relação ao Puddlemere e a torcida foi a loucura, o chefe dos aurores  resolveu que seria uma ótima hora para ir ao banheiro. Ao menos, para parecer que o iria fazer.

  Assim, andou em direção contrária a John, desejando ter mil olhos para que não perdesse nada. Sua mente estava a mil, a adrenalina tomando cada parte de seu corpo. Então, algo aconteceu e a plateia olhou atônita  para algo no centro do campo. Harry andou até a extremidade da arquibancada, inclusive os que estavam sentados um pouco mais atrás, bebendo e trocando apostas, tentando descobrir o que havia acontecido.

  -Ele ‘tá passando mal! -Ele ouviu alguém dizer.

  Esticando o pescoço, conseguiu ver um dos artilheiros da Bulgária totalmente verde, com uma das mãos na vassoura e outra no estômago. O juiz parou o jogo mas, segundos depois e mais rápido que um raio, um vulto passou por ele e atingiu o estômago do jogador, fazendo com que a plateia soltasse um longo “ooh”.

  -Ele vai desmaiar! -Soltou um dos bruxos torcedores do Puddlemere, parecendo muito animado.  

  Os jogadores voavam em direção ao jogador verde quando esse, não aguentando mais, se curvou e vomitou bem no meio do campo, causando expressões de nojo e muitos “eew” nos torcedores. Harry franziu o cenho, olhando ao seu redor e encarando as expressões um tanto cômicas dos bruxos ao seu redor, todos parecendo muito interessados no que acontecia enquanto o jogador era socorrido.

  Todos.

  Uma distração.

  -Droga! -Murmurou Harry, começando a passar por entre os bruxos que pareciam muito curiosos com o jogador esverdeado.

  Com dificuldades, o chefe dos aurores finalmente conseguiu chegar no corredor de metal que dava acesso a todas as áreas das arquibancadas. Com o ocorrido em campo, não havia nenhum bruxo a vista, somente o barulho advindo do jogo que voltou a rolar poucos minutos depois. Harry colocou a mão no bolso de seu casaco, sentindo sua varinha e apressou o passo, procurando por algo, por alguém, por alguma coisa que confirmasse suas suspeitas de que o ocorrido com o jogador não fora nada acidental.

  Alguns bruxos começaram a surgir ali e acolá, provavelmente retornando para seus lugares cujo a visibilidade do campo não era tão boa assim, mas Harry não se intimidou e continuou sua busca. A arquibancada vibrou e ele pensou que o pomo finalmente havia sido avistado por algum dos apanhadores quando encontrou algo que dificilmente algum bruxo realmente interessado no jogo encontraria; que ninguém que não estivesse procurando por algo veria. Ele, no entanto, sim.

  No seu bolso, o celular vibrou. Na segunda chamada Harry já estava com o aparelho em mãos.  

  -O filho da puta colocou explosivos! - Exclamou John do outro lado da linha e, embora não tivesse gritado, sua voz carregava raiva.

  -Estou olhando para um deles agora mesmo.

  -5 Harry!! 5 bombas iriam nos matar se não tivéssemos trocado de lugar! Vou matar o desgraçado!

  -Você consegue desativar? -Perguntou Harry, aproximando-se do explosivo em sua frente, seu peito subindo e descendo devido o ritmo acelerado de sua respiração.  

  -Acho que sim. Pode explodir a qualquer momento…Aquele filho da puta! Vai demorar, não posso simplesmente jogar qualquer feitiço.

   -Viu ele em algum lugar?  

  -Não. Na verdade, eu vi a Jean.

  -A Jean? -Harry enrugou a testa. - Você falou com ela?

  -Eu tentei, mas acho que ela não me ouviu chamando. Você sabia que ela viria hoje?

  - Não! - Respondeu ele, rápido. - Temos que tirar todos daqui. Avise o Rony e depois que desativar essas, procure por mais. Esse desgraçado quer me ferir, mas espalhou bombas por todo o estádio!

    John concordou e desligou.

  Suando frio, a primeira coisa que Harry fez foi estudar melhor o explosivo, esquecendo-se de que a qualquer momento ele poderia explodir e, ao contrário de suas experiências com Voldemort, ele com certeza morreria daquela vez. Como John dissera, ele não poderia lançar qualquer feitiço, pois o que era preciso ali exigia muito mais cuidado e precisão do  que um “finite incantem”. Respirou fundo e repassou o encantamento três vezes em sua mente. Um movimento em falso de sua varinha poderia por tudo a perder.

  Então, executou o feitiço e o que parecia ser uma fumaça preta saiu do explosivo, dando certeza a Harry da exatidão de sua ação. Logo depois, começou a correr.

  Mais um ponto havia sido marcado pelos artilheiros da Bulgária quando Harry ouviu o jogo ser interrompido por um aviso que fez, segundos depois, milhares de bruxos surgirem em sua frente, dando-lhe a certeza de que John já havia falado com Rony. Ignorando perguntas e olhares assustados, Harry corria por debaixo das arquibancadas, onde encontrou mais dois explosivos que foram danificados por ele logo depois.

  Não poderia perdê-lo. E, se tudo desse certo, Rony, John e ele conseguiriam encurralar o espião e acabar de uma vez por todas com as ameças.

  -Harry! -Viviane surgiu no meio de muitos torcedores do Puddlemere, juntamente com Hermione, a pergunta muda estampada nos olhos da jogadora de quadribol.  

  - Ele colocou explosivos. John está do outro lado -Declarou, embora baixo o suficiente para que somente elas ouvissem.

  Hermione arregalou os olhos. Harry, no entanto, virou-se para a batedora.

   -Lembra das chaves do portal?

   Viviane assentiu.

  -Tentarei atrair todos para lá!

  -Harry, a Gina… -Começou Hermione, mas Harry a interrompeu.

  -Ela está com a capa. -Ele preferia acreditar que ela a estava usando. -Agora saiam daqui, levem todos que conseguirem. Tenho que pegar esse desgraçado.

  Harry não esperou que as amigas falassem qualquer outra palavra e saiu em busca do espião, desviando-se de bruxos e bruxas que começaram a seguir Viviane quando esta ampliou a voz com a varinha e anunciou as chaves de portal que John e Rony haviam espalhado pelo campo mais cedo naquele dia, indicadas com bandeiras dos dois times daquela noite.

  A cada minuto que passava, Harry temia ouvir alguma explosão. Acelerou mais o passo, não importando-se nem mesmo com alguns esbarrões que dava em alguns bruxos. Jurou a si mesmo de que tudo acabaria naquela noite. Estava farto de atirar no escuro e, agora que sabia a identidade de quem estava lhe mandando as ameaças, só iria parar quando conseguisse colocar o maldito em Azkaban. Não passara anos a mercê das ações de Voldemort para que um idiota qualquer resolvesse, de uma hora pra outra, acabar com a normalidade que tanto lutou para ter.

 Conforme avançava, o número de pessoas a sua vista diminuía, até que não restou mais ninguém. A parte sul do campo, onde ele se encontrava naquele momento, já estava completamente vazia. Aquilo tranquilizou-o, embora que momentaneamente, afinal, aquele era o local em que Gina e os demais jornalistas estavam, juntamente com outras autoridades bruxas do Quadribol. No entanto, não podia se dar ao luxo de não revistar o local.

Assim, varreu com os olhos cada milímetro da área, até finalmente ter certeza de que nenhum explosivo havia sido posto ali. Suas mãos estavam indo de encontro ao seu bolso que guardava seu celular a fim de se comunicar com John e Rony quando, de repente, ouviu passos vindo da parte inferior, abaixo dele. Atento e silenciosamente, desceu as escadas laterais até o andar debaixo, onde avistou alguém, alguém que continha uma cabeleira loira tão familiar a seus olhos que a reconheceu mesmo de costas.

  -Jean?

  A loira virou-se assustada, a varinha em sua mão direita. Havia algo em seu semblante que era totalmente novo para Harry, como se não a conhecesse.  

  -Oi, Harry. - Falou ela, abrindo um sorriso que não permaneceu mais de dois segundos em seu rosto.

  -O que estava fazendo aqui? - Quis saber ele, então, vislumbrou um explosivo no pilastre atrás da loira. -Jean, se afaste...

  -Eu encontrei uma bomba! É o espião, não é?

  Harry, que até aquele momento estava se encaminhando para mais próximo dela, parou, franzindo o cenho.

  -Como você sabe?

  Jean o encarou por alguns minutos antes de finalmente responder.

  - Pensei que você fosse precisar de ajuda.

  -Ninguém além de mim, Rony e John sabiam que…

  -Eu estava assistindo a partida até Rony soltar aquele aviso. -Disse ela, antes que ele pudesse terminar a frase. -Tenho que confessar, Harry, que depois do que tivemos, eu não esperava tanta falta de confiança da sua parte.

  Harry suspirou, parecendo impaciente. Não tinha tempo para ouvir os dramas de Jean, embora soubesse que ela tinha razão.

  -Jean, isso não é hora para isso. Tem um explosivo atrás de você e preciso que...

  -Vou desativá-lo. Deve haver mais por aí! -Disse ela, interrompendo-o mais uma vez. E, por baixo de sua determinação, Harry pôde identificar um nervosismo totalmente desconhecido.

  Antes que pudesse fazer ou falar algo, Jean se virou e se aproximou mais do explosivo. Harry a observou, cada parte de sua mente e corpo lhe avisando que havia algo errado.

    -Não se preocupe, Harry. Eu cuido dessa.Você tem que pegá-lo! Não pode perder tempo. Eu sei desativar esses tipos de explosivos. Vá!

  Harry deu 3 passos e parou a menos de 5 centímetros de Jean, fazendo com que ela se voltasse novamente para ele. A olhou dos pés a cabeça até seus olhos passarem pela bomba atrás dela e, logo depois, pararem na mão da loira Jean que carregava a varinha. A mão direita.

   E ele estivera o tempo todo esperando ela passar a varinha para a outra mão.

  -Fico feliz que tenha vindo ao jogo. Espero que aprecie a sua derrota. - Antes que a auror pudesse digerir as palavras de Harry, o punho direito dele voou direto em seu rosto, lhe acertando em cheio. - Desgraçado!

  Ela não estava desativando as bombas, e sim as colocando. Fora por isso que John as achou logo depois de avistar a loira. Não era ela, afinal. Jean era destra, mas empenhava sua varinha com a mão esquerda, o que Harry sempre achou o mais admirável dentre todas suas habilidades como Auror.

  O maldito não seria tão burro de vir com a cara própria, afinal. Era de se esperar que uma poção polissuco lhe viesse a calhar.

  -Filho da puta maldito, todo esse tempo… -Começou Harry, aproximando-se da falsa Jean carregado de fúria.

  O espião caiu ao chão com o soco mas, com a varinha em mãos, lançou um feitiço na direção de Harry, o acertando em seu braço esquerdo. Ele gemeu diante da dor agoniante e sentiu um líquido quente escorrer por seu braço provavelmente manchando suas vestes de vermelho.

  -Você é um grande idiota, Harry Potter. Se não tivesse o nariz tão empinado, talvez tivesse enxergado o que eu planejava bem diante de você. -Exclamou o espião, a voz tão conhecida mas o tom completamente diferente do que Jean costumava usar. Harry achou-se um idiota por não ter percebido logo a farsa.

  A loira conseguiu se levantar e ergueu novamente a varinha na direção de Harry, lançando outro feitiço que provavelmente faria o mesmo estrago do anterior, mas o chefe dos aurores foi mais rápido e conseguiu bloquear o que certamente lhe causaria mais dor. Ignorou completamente a agonia advinda de seu braço e lançou outro feitiço na direção do espião pensando que, se não conseguisse capturá-lo naquele momento, então ele mesmo se amaldiçoaria.

  Do outro lado do campo, porém, John lutava contra o próprio tempo e a imprevisibilidade.  Ele sabia que tinha que ser rápido. Havia 5 explosivos em sua frente, o suficiente para matar não só ele e seus amigos que antes ficariam ali, mas para causar um estrago em um bom pedaço do estádio, levando a vida de mais de centenas de pessoas a risco.

  O andar acima do seu tremia com os passos desesperados de pessoas correndo, temendo a própria vida. Ele podia ver, de onde estava, o tumulto causado pelo acúmulo excessivo daqueles bruxos nos corredores que, certamente,  não os suportavam de uma só vez. Imediatamente, desejou que pudessem aparatar, tornado a fuga muito mais fácil. Mas, infelizmente, de acordo com as leis da organização dos jogos de Quadribol, aquilo não era permitido em estádios e jogos daquele porte.

  Preocupado, John não hesitou nem mais um segundo antes de partir para a primeira bomba e desativá-la. Fez isso com mais duas até precisar parar. Faltava mais duas, e essas estavam mais altas do que ele podia alcançar e perigosamente afastadas para que tentasse lançar o feitiço de longe. Pegando fôlego, pendurou-se pelas mãos em uma das colunas que sustentavam os andares do estádio e, usando o impulso dos pés, escalou por entre os ferros até chegar perto o suficiente para que lançasse o feitiço com exatidão e segurança, dando fim então ao penúltimo explosivo. O último, porem, estava pregado a grossa tora de madeira que servia como piso ao andar superior.

  John olhou para baixo. Não havia outra estrutura de ferro que o possibilitasse subir para mais perto. Teria que ser dali mesmo. Esticou totalmente o corpo, ficando na ponta dos pés e se segurando com mais força pelo seu braço esquerdo, enquanto o outro levantava a varinha em direção a última bomba. No entanto, a tremedeira gerada com a correria no local não facilitou o trabalho do auror e, inesperadamente, seu pé esquerdo não encontrou mais apoio.

  5 segundos. Esse foi o tempo que levou até John soltar a varinha, cair por entre os ferros logo abaixo de si e a bomba explodir, deixando tudo amarelo, quente e, finalmente, tão escuro que ele não foi capaz de ver e sentir mais nada.

  A explosão, porém, chegou aos ouvidos e olhos de grande parte dos bruxos ali presentes, que soltaram gritos de surpresa e de horror, temendo a vida de outras dezenas de pessoas que ainda não haviam conseguido sair. Do outro lado do campo, um sorriso triunfante surgiu nos lábios de Jean quando ouviu o grande estrondo e vislumbrou um pedaço do campo desabar.

  -O show começou! - Falou o espião, desviando de feitiços que Harry lhe lançava. Esse, por sua vez, embora preocupado com possíveis vítimas, não deixou-se abalar. Segurava firme sua varinha e tentava ferir o psicopata em sua frente a todo custo.

  Pegou a falsa Jean pelo cabelo quando conseguiu chegar mais perto, e a arremessou no chão em sua frente. Ela, porém, fora rápida em sacar a varinha e gritar:

  -Bombarda!

  Pedaços de madeira e 3 estruturas de ferro caíram, fazendo Harry rolar pelo chão e jogar uma tora de madeira na direção do espião quando essa quase o acertou. O machucado em seu braço latejou com o movimento repentino mas, mais uma vez, ignorou.    

 -Como está se sentindo ao saber que a vida de milhares de pessoas está em risco por sua culpa? - Perguntou o espião, andando de costas para ficar de olho em cada passo que Harry dava. O sorriso que carregava era repleto de ódio e satisfação por ver seu chefe a mercê de suas ações.

  Harry ignorou a provocação, focado em sua missão, esperando pelo deslise do homem em sua frente que, em poucos minutos, finalmente veio. Determinado, ele lançou um Expelliarmus ao mesmo tempo que o corpo de Jean começou a se contorcer, bolhas apareceram em seu rosto e, a medida que o efeito da poção polissuco ia chegando ao fim, as feições do verdadeiro espião foram aparecendo.

  As feições de Ryron.

  A varinha do vilão voou longe e, tentando ignorar o tremor em seu corpo, ele viu a corrida como única possibilidade de fuga. Mal chegou a dar passos porque um Harry furioso o agarrou pelo colarinho da blusa, e com a outra mão livre, socou-o no rosto mais uma vez naquela noite.

  -Espero que esteja disposto a conversar mais tarde, Ryron. Sabe o que o espera. - Foram as últimas palavras de Harry antes de lançar um último feitiço em direção do auror, fazendo-o voar até bater com a cabeça em uma pilastra de madeira e cair adormecido no chão.

  Logo depois, andou até Ryron e pegou sua varinha, mas, embora aliviado, raiva ainda tomava seu corpo ao encarar a face do responsável por grande parte de suas dores de cabeça nos últimos meses. Virando-se na direção do último explosivo, lançou o feitiço para destruí-lo, de modo que não corresse mais nenhum perigo e voltou sua atenção para Ryron.

Ao ouviu barulho de passos de alguém se aproximando, sacou novamente sua varinha apenas para logo depois enxergar um Rony muito preocupado chegar correndo onde ele estava.

  Ao olhar Ryron desmaiado aos pés de Harry, o ruivo permitiu-se respirar.

  -Droga, perdi a melhor parte.

  Harry sorriu, seu peito subindo e descendo devido sua respiração continuar acelerada.

  -Deixo a pior parte pra você na próxima.  -Então, parecendo se lembrar de algo, olhou para o outro lado do campo, onde a explosão havia ocorrido. -Estão todos bem?

  -Apenas alguns arranhões, mas, cara…

  -O que? -Quis saber Harry.

  -John estava lá.  

  

  

O barulho de seus passos ecoavam pelo corredor do hospital, ignorando a dor em seus dedos dos pés. De fato, botas não eram os calçados mais confortáveis para Gina, mas achara que passaria o resto daquele dia sentada, imaginando que talvez os únicos dedos que precisariam de atenção seriam os de sua mão direita. O que, infelizmente, não aconteceu. Depois de correr no meio de diversas pessoas e ter seus pés pisoteados por incontáveis delas, andar agora era como caminhar nas nuvens, ainda que seu passo estivesse mais rápido do que provavelmente estaria em uma simples caminhada.

  Passou por diversas portas, todas enumeradas em sequência e de acordo com cada andar do St. Mungus. Soltou um suspirou de alívio e apressou mais o passo quando avistou a sala que a enfermeira lhe informara ser a correta. Quando enfim chegou ao seu  destino, Gina nem ao menos bateu na porta. Abriu-a com cautela e colocou a cabeça para dentro, seus olhos percorrendo cada detalhe do local até pararem em Harry.

  Havia um armário branco encostado do lado esquerdo da sala. Ao lado dele, um sofá verde musgo preenchia o espaço vazio da parede branca. Harry encontrava-se encostado na pequena cama em frente ao armário, na direção da única janela do compartimento. Ele parecia calmo, seus pés sustentavam o peso de suas pernas onde seus braços estavam apoiados, suas mãos pendiam no vão entre seus joelhos escondidos pela calça jeans e seu peito, o qual encontrava-se totalmente exposto por estar sem camisa, subia e descia no ritmo lento de sua respiração. A visão fez com que Gina soltasse o ar preso em seus pulmões desde que chegara ali. Tirando o pequeno curativo que rodeava a parte superior do braço esquerdo de Harry, ele parecia bem e inteiro, e aquilo era a melhor notícia que teve conhecimento nas últimas horas.

  Ela adentrou a sala e encostou-se na porta fechada ao mesmo tempo que jogava sua bolsa e a capa de invisibilidade no sofá. O barulho de sua entrada anunciou sua presença para Harry, que a olhou dos pés a cabeça até lhe dirigir um pequeno sorriso, o alívio de vê-la bem estampado em seu rosto. Os minutos seguintes foram um completo silêncio. Ambos ficaram apenas se olhando, como quisessem se certificar que estavam realmente bem, que não haviam sofrido nenhum dano. Havia uma pequena distância entre eles, mas a sala era tão pequena que nem Harry e nem Gina se incomodaram de sessá-la com rapidez.

   -Oi. - Falou ele, quebrando o silêncio.

  Gina sorriu para ele e vê-la sorrir enquanto andava a passos lentos em sua direção era como sentir o sol nascendo depois de longos dias nublados. Harry não conhecia sensação melhor, ainda mais quando ela parou no meio de suas pernas e apoiou as mãos em seus ombros. Se ela não fosse o sol, era algo parecido porque o contanto e a distância agora quase dissipada lhe aqueceram instantaneamente.

  -Você não consegue voltar sem algum machucado, não é? - Perguntou Gina, descendo a mão direita pelo braço machucado dele enquanto esse apoiava as mãos em sua cintura.

  -Acho que vai deixar uma cicatriz, mas nada que eu já não esteja acostumado. - Respondeu Harry, levantando a cabeça para olhá-la melhor. Como estava sentado na cama, Gina em pé era centímetros mais alta que ele.

  -Ainda bem que cicatrizes combinam com você.

  Harry sorriu com o comentário antes de puxá-la para mais perto, colando seu peito nu ao corpo dela. Gina descansou a cabeça em cima do ombro direito dele, rodeando-o com braços e usando as mãos para acariciá-lo nas costas em um movimento gostoso de sobe e desce.

  -Eu nunca vou me acostumar com isso. - Sussurrou ela, sem sair do abraço.

  -Com o que?

 -Com você saindo para salvar o mundo ou alguém… Me faz lembrar da Guerra, quando você, Rony e Hermione saíram em busca das Horcruxes. Não tive uma noite de sono contínuo até Voldmort morrer e eu saber que vocês estavam bem. -Ela apertou-se mais contra ele-  Já tinha esquecido da sensação de poder nunca mais te ver…

  -Eu sempre vou voltar. Principalmente se souber que você está me esperando.

  -Vou ter isso em mente da próxima vez.

  O coração de Harry acelerou porque, embora não fosse a primeira vez, simplesmente amava quando ela falava frases que remetiam ao futuro que possivelmente teriam juntos.

  -Sinto muito por hoje. Como vai ficar a sua coluna no Profeta? - Quis saber ele.

  -Polêmica. Vou passar a limpo o que anotei do início do jogo até a explosão. Sei que parece maldade da minha parte, mas acho que isso fará mais pessoas lerem o jornal. Infelizmente, não por motivos que eu considere admiráveis.  

  -Tem razão. Toda fonte de informação sobre esse jogo será exaltada amanhã.

  -Como está John? - Indagou Gina, afastando-se um pouco para olhá-lo nos olhos.

 -Da última vez que tive notícias, ele não estava muito bem. Quebrou duas costelas. E Viviane?

  -Aposto que não muito bem depois que eu disser isso a ela. - Gina suspirou, suas mãos subiam e desciam agora por toda a extensão dos ombros e braços de Harry, provocando-lhe arrepios na nuca. - O que aconteceu com o seu casaco e blusa?

  -Eles estavam aos trapos. A enfermeira pediu para tirar para poder fazer o curativo.

  -Está doendo? - Quis saber ela, pousando levemente a mão sobre o machucado.

  -Um pouco. Não posso fazer movimento bruscos até ele sarar por completo.

  O silêncio voltou a reinar, dando espaço somente para as carícias igualmente silenciosas. Harry reparou nas roupas que Gina usava: As botas de cano baixo, o jeans justo que delineava as curvas de seu quadril e uma blusa preta de manga ¾, que evidenciavam sua cintura e o volume de seus seios através do decote no formato de V. Ele não soube quanto tempo passara olhando naquela direção porque estando mais baixo que ela, a linha funda entre os seios da ruiva eram um alvo fácil aos seus olhos, além de atraente demais para sua própria sanidade.  

  Gina notou os olhares de Harry para si e gostou do desejo evidente naquela simples ação. Lhe agradava saber que seu corpo não era o único a sentir necessidades ali, ainda que estivessem dentro de um hospital. Mas o que ela poderia fazer? Ele estava sem camisa, expondo toda a glória de seu peitoral largo e tão suscetível ao toque de suas mãos… era como oferecer sorvete a uma criança, terrivelmente doloroso dizer não aquela linda oferta.

  Ela achou que poderia ser controlar e não atacá-lo com seus hormônios comparados aos de uma adolescente, mas teve certeza que andaria pelo caminho da perdição quando ele encostou a testa em seu colo, apoiando sua cabeça ali. Os olhos e a respiração quente dele batendo bem no meio de seus seios a fez perder o fôlego, os beijos que ele começou a distribuir por ali roubaram uma batida de seu coração  e a textura da língua dele na pele exposta de seu busto a fez morder os lábios e esfregar as coxas uma na outra.

  -Harry… - Embora houvesse sido um sussurro, a súplica por mais ficou evidente. Gina levou as mãos aos cabelos de Harry e arranhou seu coro cabeludo e nuca enquanto os lábios dele saiam de seu decote e subiam por seu pescoço.

  -Você trancou a porta? - Perguntou ele, a respiração quase tão rápida quanto a dela, a necessidade de tê-la tomando cada parte de seu ser.

  Ela afirmou com a cabeça e, logo depois, deixou seus lábios serem domados pelos dele, em um beijo tão profundo quanto os que trocaram na noite que ele a levara a Hogsmeade. Suas línguas se tocavam, sugavam pedindo por mais. As mãos de Harry apertaram os quadris de Gina antes de puxá-la, ao descer mais as mãos, pelo seu traseiro para cima de si, tendo assim seu corpo rodeado pelas maravilhosas coxas dela. Ela subitamente odiou estar de calça porque imaginou que se o contato do interior de suas coxas com o tronco dele era maravilhoso, a sensação delas livres de qualquer tecido a faria ver estrelas antes mesmo de olhar para o céu.

  Harry se arrastou para o meio da cama com Gina em seu colo, tentando facilitar a posição em que estavam. Subiu suas mãos pelas costas dela por dentro da blusa preta, e a sentiu flexionar seu corpo contra o dele quando esse brincou com o fecho de seu sutiã. Se aquilo era uma sala de hospital, os dois pouco se importavam. Os corações batiam rápidos e seus corpos latejavam de desejo o suficiente para ignorar todo o resto em volta.

   -O machucado… movimentos bruscos?  - Perguntou a ruiva, ofegante.

  -A enfermeira terá que ser mais específica da próxima vez. - Respondeu o bruxo em seu ouvido. - Além do mais, nunca fui um paciente obediente.

  Gina apertou suas pernas em volta dele para sentir o volume na calça jeans que ele trajava. Harry a queria e se ele pudesse explorá-la além de suas roupas de baixo, também saberia que ela estava tão sedenta quanto ele.

  As mãos dele, ainda por dentro da blusa da ruiva, rodearam sua cintura e subiram para acariciá-la nos seios ainda cobertos pelo sutiã, decidido em ignorar por completo a dor em seu braço. Gina gemeu com a boca unida a de Harry e, quando finalmente as mãos dele começaram a fazer o caminho que ela tanto desejava, uma batida na porta e a voz de Ron soaram pela sala.

  Harry e Gina desgrudaram suas bocas na mesma hora e ela somente saiu de cima dele quando Ron voltou a falar:

  -Puta que pariu, me digam que vocês não estão se agarrando nos hospital!!! - Cochichou Rony alto o suficiente para ambos ouvirem nitidamente. Gina revirou os olhos enquanto Harry passava as mãos impacientemente pelos cabelos. Rony é amigo, Rony é amigo, pensava ele, tentando se convencer a não pegar sua varinha e estuporar o ruivo ali mesmo.

   -Não estamos nos agarrando no hospital. - Falou Gina, saindo de cima da cama e caminhando até a porta, abrindo-a com o sorriso mais forçado do mundo ao dar de cara com o irmão.

  -Não? - Perguntou Rony, subitamente surpreso.

  -É claro que estavamos, seu idiota. Você que pediu para eu não dizer!

  Rony fechou a cara imediatamente mas, para a sorte da ruiva que não queria aguentar os dramas do irmão naquele momento, Hermione apareceu.

  -Como está Harry? -Quis saber ela, entrando no quarto.

 -Vivo. -Respondeu o chefe dos aurores, lançando um sorriso amigável em direção da grifinória.

  -Oh, Harry... -Ela andou até ele e o abraçou. -Eu sinto muito. Foi tudo tão rápido...

  -Engraçado, ganhei uns tapas no lugar de um abraço. -Resmungou Rony, largando-se no sofá verde.

  Gina revirou os olhos.

  -Foi por você ter me deixado por quase duas horas sem notícias suas! -Disse Hermione, sentando-se ao lado de Harry na cama.

  -Harry também fez isso, mulher!

 -Ela não vai se casar comigo, Rony. -Respondeu o chefe dos aurores, divertido com a interação dos amigos e conseguindo, pelo menos por aquele momento, desviar seus pensamentos de Ryron.

  Sabendo o que lhe esperava no outro dia, naquele momento, era tudo o que precisava.



 


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Notas finais do capítulo

Nunca, nunca esperamos tanto por comentários como estamos esperando depois de postar esse capítulo. Escreve, apaga, acrescenta, retira... Assim foi o processo de "criação" do cap mais trabalhoso e longo da fanfic. Então... o espião finalmente foi capturado!! Quem aí acertou quem era?? Há algumas dúvidas no ar que serão extintas com o próximo cap.
O que acharam dos momentos Hinny??? Esses dois só tão fofura, né? Bem, Dois Caminhos, Um Só Destino está chegando ao fim, depois de quase 5 anos !! No máximo, 5 capítulos nos separam da finalização e, sinceramente, não sabemos se choramos de alegria, alívio ou tristeza. Há tantos projetos na manga que não sabemos nem por onde começar depois que "apertarmos" o fim! Bem, temos até o fim de 2016 para decidir!
Antes de dar tchau, queria dizer que, em breve, uma one vem aí!! Eu, Cella Black, a estou escrevendo e gostando do resultado!! Falarei mais sobre ela em breve, na nossa page do FB. Quem não curtiu, o link está no nosso perfil! :)
Um beijo grande das gêmeas pra vcs! ♥



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