O silêncio tomava conta daquele lugar. Confesso que não queria sair dali. Quer dizer, o sinal já tinha tocado faz uns 20 minutos. Mas nem eu nem Justin movemos um dedo, e nem abrimos a boca pra falar nada.

- Se eu te pedisse pra esquecer o que viu, você esqueceria? - ele perguntou de olhos fechados

Justin estava deitado na grama ao meu lado. Nossas mãos… estavam entrelaçadas, e ele fazia um carinho com seu polegar em meus dedos. Ele estava diferente. Digo, ontem ele estava tão… forte. E agora ele parecia tão sensível e tão frágil em frente a todo mundo.

- Nem se eu quisesse. - respondi fitando suas feições perfeitas, ele riu

- Só… Não me julga por isso, ok? - ele abriu os olhos e eu assenti - Eu prometo te contar sobre tudo um dia. Só preciso de um tempo. Acabei de chegar aqui e não quero que achem que eu sou um… psicopata. - engoli em seco e ele apertou minhas mãos entre as suas

- Não vou te julgar por isso… Digo, você deve ter um motivo pra isso. - disse o encarando e ele sorriu de lado assentindo

- Só um motivo não… muitos. - riu fraco - Eu só tenho você por aqui. Não vai me deixar sozinho, não é? - ele disse risonho, neguei com a cabeça

- Claro que não. - ri - Eu vou ficar do seu lado e… Isso vai ser nosso… segredinho. - sussurrei e nós rimos - Já tentou parar? - perguntei olhando o nada

- Não quero parar. - nos olhamos e ele se levantou, se sentando corretamente ao meu lado, suspirei - É o único jeito que eu encontrei de fugir da realidade.

- Alguém mais sabe disso? - perguntei meio receosa quando nossos braços se encostaram

- Além de você? - disse sorrindo e eu assenti - Só minha ex namorada e o irmão dela. E antes que você pergunte… Não, meus pais não sabem e não vão ficar sabendo tão cedo. - arranquei alguns pedacinhos de grama

- Não podemos mais entrar nessa aula. São dois horários de francês com o mesmo professor. - disse, ele fez careta e eu conferi meu relógio de pulso - Mas podemos entrar no último… Se não me engano, é história.

Justin balançou a cabeça. Ficamos conversando, nos conhecendo na verdade. Disse a ele como minha mãe era e como meu pai era. Descobri que os pais dele são separados. Sua mãe era doce e amigável. Seu pai tinha o abandona com sua mãe quando tinha alguns meses. E então ele voltou e pegou sua guarda, porque sua mãe não estava em boas condições e seu pai… Bom, seu pai élutador de boxe.

- Você luta boxe? - perguntei rindo e ele riu junto

- Ei, esses músculos servem pra alguma coisa, ok? - ele disse rindo e levantando a manga da blusa, mostrando seu bíceps pré-definido

- Eu ia gostar de conhecer seu pai. E também iria gostar de te ver treinando boxe. - rimos

- Prometo te levar na academia do meu pai um dia. Lá é irado. - seus olhos brilharam e eu sorri meio sem graça - Meu pai também é irado. - riu pelo nariz - Por mais que ele tenha me deixado com a minha mãe, ele é incrível e nunca deixou de ser presente na minha vida.

Justin deu de ombros. Conversamos por mais alguns minutos até bater o sinal pra última aula.

- Vamos? - Justin sorriu se levantando e estendendo a mão pra mim, assenti sorrindo

O toque de nossas mãos deixava as minhas suadas. Justin não se importava. Mas era claro o nervosismo em mim. Nunca tinha ficado assim… com um garoto. Na vida. Eu nunca tive nenhum amigo do sexo masculino. E isso é meio estranho. Porque eu não passo de ser a nerd do primeiro ano, representante de classe e conhecida apenas por ser irmã de ninguém mais, ninguém menos que Logan Brooks.

Justin entrelaçou seus dedos nos meus. Senti um arrepio pela minha espinha. Ele sismou de levar minha mochila junto com a dele. Tentei recusar e insiti que seria muito peso pra ela, mas Justin não se deixa levar tão fácil.

Entramos na sala e todos nos olhavam, mas mantinham os olhos fixos nas nossas mãos entrelaçadas. Corei bruscamente. Justin com aquele sorrisinho sarcástico no rosto, e eu abaixei a cabeça sentando na penúltima carteira vazia, com ele atrás de mim.

Logo o professor entrou e todos pararam de olhar pra nós. Confesso que meu rosto estava vermelho e eu respirava constrangimento.

[...]

O sinal estridente tocou. Aleluia.

Justin, inesperadamente, arrumou suas coisas e esperou eu acabar de copiar as coisas do quadro.

- Acabou? - ele perguntou resmungando pela milésima vez

- Não Justin, não acabei... - disse revirando os olhos e copiando a última linha - Você deveria ter mais paciência. - fechei meu caderno e ele abriu um sorriso travesso

- Já podemos ir pra quadra agora? - ele perguntou levantando e indo pra porta

- Quadra? - levantei uma sobrancelha

- Seu irmão... Me chamou pra jogar. - ele sorriu

- Eu vou pra casa, Justin. - disse firme e ele negou com a cabeça

- Não! Você vai ficar aqui comigo. - ele me puxou até o corredor

- Não, é sério. Por favor, hoje o dia foi... cansativo. - sorri e ele bufou

- Ta. Ok, tudo bem. Mas... Me dá seu telefone? - Justin disse e eu arregalei meus olhos

- Meu telefone?! V-Você quer o número do meu telefone? - vacilei nas palavras e ele gargalhou

- Quero. Qual o problema? - me perguntou confuso, neguei com a cabeça

Passei meu número pra ele que anotou no celular.

- Bom, eu vou indo.

- Não quer que eu te leve de carro antes?

- VOCÊ TEM UM CARRO? - gritei e ele riu me encarando

- TENHO, POR QUE VOCÊ TA GRITANDO? - gritou no mesmo tom que eu, minha vez de rir

- Esqueci que você tem 16... - ele me olhou com uma sobrancelha levantada - E meio. - rimos - Agora eu preciso ir. Ér... Tchau. - disse e quando ia me virar senti seu corpo colado no meu

Justin me abraçou. JUSTIN BIEBER ME ABRAÇOU. Inalei todo o seu perfume. Pelo menos o que consegui inalar. Aquele cheirinho de droga ainda tava impregnado nele. Mas dane-se.

- É... - ele murmurou me soltando, ele tava vermelho, acho que mais vermelho que eu - Obrigada por hoje. - ele coçou a nuca

- Por nada. Até amanhã. - sorrimos

- Até, Mel.

[...]

Justin Bieber POV

Caminhei com um sorriso no rosto até a quadra da escola. Meu pensamento vagava até ela... Melanie Brooks. Eu sei, eu disse que não acreditava em amor a primeira vista. Mas... Mudei meus planos.

Quer dizer, não to dizendo que eu to apaixonado por ela. Justin Bieber não se apaixona fácil. Só estou dizendo que... Ela me atrai. É o tipo de garota que eu gosto. E não esse bando de vadia que sai com o rabo aparecendo por ai.

Mel. Ah, doce Mel. Se você soubesse o quanto é encantadora, não se esconderia por trás desse rabo de cavalo mal feito e essas roupas largas.

- Novato? - ouvi a voz de Logan atrás de mim seguido de um riso, me virei - Estava indo pra quadra. Sabe como é, me atrasei na sala da faxina. - rimos

Na sala da faxina tudo acontecia, segundo Melanie. Era lá onde todo mundo se pegava. Talvez eu vá lá algum dia desses... talvez.

- Ta bem amiguinho da pirralha, né Bieber! - Logan disse

Demorei um tempo pra entender que pirralha era Melanie. Óbvio, implicância de irmão. Ri pelo nariz.

- Ela é uma garota legal. - disse

- Uma garota estranha, você quis dizer.

- Ah, não exagera. Fala sério... Ela só é... diferente das outras garotas que você fica.

- As líderes de torcida gostosas. - ele disse e rimos - Posso arrumar uma delas pra você. Aliás, ouvi conversas bem picantes sobre você no vestiário feminino. - levantei uma sobrancelha

- Me conta sobre essas conversas mais tarde. Adoraria conhecer algumas delas. - ri

Logan me emprestou uma bermuda pra jogar. Tirei a blusa da escola e coloquei uma regata que tinha dentro da minha mochila. Vi os pacotes de droga espalhados. Cocaína e maconha. Suspirei pensando no que Melanie ia achar de mim agora. Droga, eu sou um idiota.

Pus os pacotes no fundo da mochila, vendo as líderes se aproximarem. Sorri de lado. Isso tava começando a ficar bom.

- Ora, ora... Mas não é o novato. - uma voz aguda me disse, sorri perverso

- E vocês são... - disse a fazendo continuar

- Eu sou Chelsea. Essa é Cindy. E essa é Mandy. - a loira gostosona apontou pra duas meninas ao seu lado, uma loira e uma ruiva

Morena que é bom nada né. Pelo menos eu tenho uma morena. Melan... JUSTIN BIEBER, SE CONCENTRE. É melhor eu evitar pensamentos nessa garota, vou acabar ficando louco.

[...]

Logo quando o jogo acabou, peguei minha mochila, me despedi das meninas, do time e troquei telefone com Logan.

- Manda um beijo pra sua irmãzinha. - gritei correndo até a porta de costas

- Não sei porque gosta tanto dela! - Logan gritou de volta acenando, sorri

Peguei meu carro indo até o Central Park. Não queria, mas eu precisava. Ouvi dizer que aqui é ponto principal de cocaína de Nova York. Suspirei parando em frente e suspirando. Olhei alguns adolescentes que riam sentados em baixo de uma árvore distante. "A marca atrás da blusa", lembrei das informações que o garoto nova iorquino e drogado da delegacia me deu. Uma garota levantou e se virou. Pude ver um círculo branco com algumas coisas envolta na sua blusa preta. Eram eles.

Me senti... fraco. Fraco por não conseguir controlar meu vício. Continuei parado dentro do carro. Bati minha cabeça no volante, desejando reencarnar como uma pessoa melhor. Peguei meu celular nas mãos. "Mensagem de Logan", apareceu no visor. Abri.

"Melanie mandou outro beijo. E ah, não sou pombo correio. Logan" - ri

Melanie. É, acho que seria ela quem me distraíria. Procurei seu número na minha agenda telefônica, "Princesa Mel". Pensei mil vezes antes de apertar no botão verde.

Droga, já tinha ido. Levei o celular ao ouvido meio receoso, vendo as pessoas passarem felizes em frente ao carro. Joguei a cabeça no banco, ouvindo um bípe agudo a cada segundo.

- Alô? - aquela voz que eu tanto gosto ecoou nos meus ouvidos, me senti aliviado, sorri involuntariamente

- Mel? É o Justin.

- J-Justin? Ér... O que quer?

- Desculpa se eu te ver incomodando mas... Eu preciso da sua ajuda.

- Minha ajuda? Mas... Justin, ta tudo bem? - ela perguntou preocupada, sorri de novo

- É... Eu não sei. Eu vou ser sincero, ok? Só quero que fale comigo, quero que me distraia.

- Jus, onde você ta?! - sua voz se alterou e eu ri vendo ela me chamar pelo apelido

- Eu to em frente ao Central Park. - ela resmungou e eu continuei - Calma, eu não fiz nada. Juro que... Pensei em sair do carro e... Fazer o que eu realmente quero. Mas eu não posso. Eu preciso que você me diga o que eu quero ouvir. Por favor, Mel. Eu preciso de você.