Recém-nascida escrita por Cambs


Capítulo 8
Sete


Notas iniciais do capítulo

Queria mandar um beijo para a Geo e para Cams e ah, beijo pra todo mundo.



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— Você desenvolveu um senso de humor um pouco macabro não acha Carlo? — Kyara arqueou uma das sobrancelhas negras. Que bom que eu não era a única que não estava acreditando.

— Eu dei as coordenadas até Marco, então, tecnicamente, você é a iludida aqui — Carlo não olhou para Kyara, e nem para mim. Eu simplesmente odiava vê-lo se martirizando daquele jeito. Não só Carlo, mas como qualquer outra pessoa pela qual tenho afeição.

— Disse a eles que queria que Marco fosse sequestrado? — perguntei.

— Não.

— Disse a eles queria Marco morto?

— Não.

— Disse a eles qualquer coisa que indicasse que queria machucar Marco?

— Não.

— Não sabia que tinha virado detetive — Kyara sorriu e olhou para mim. Maneira altamente sutil de me mandar calar a boca. Ah, que saudades disso.

— Assisto muito CSI, desculpe — sorri de volta e escutei o que pareceu ser a risada de Matthew, mas ele me pareceu sério demais para rir disso. Mas quem sabe, não se deve julgar pelas aparências, afinal todos acreditam que eu sou uma “vadia psicótica manipuladora”, o que não é verdade. Em partes, pelo menos. Eu acho. — Mas, pelo meu “interrogatório”, você não é culpado de nada Carlo, pare com isso, pelos céus.

Carlo manteve o olhar baixo, era quase possível ver as engrenagens em sua cabeça, girando e girando, tentando decidir algo.

— Eles apareceram do nada e se apresentaram como nômades — Erin suspirou. Já que Carlo aparentemente não contaria, ela o faria. — Hesitamos, conversamos e concordamos em oferecer ajuda. Os dois estavam tão... Degradados, repletos de fuligem e sangue seco, com as roupas rasgadas e arranhões, havia machucados demais para serem apenas nômades, mas não perguntamos, conseguiríamos nos defender totalmente se caso eles fossem rebeldes.

— Pareciam ser jovens e depois de um dia, já alimentados e com roupas novas, nos pediram desculpas e disseram que eram fugitivos, não de gangues, rebeldes ou de um dos Quatro, estavam fugindo de caçadores de sangue e nos encontraram por acaso enquanto fugiam. Não sabiam que este lugar pertencia a um dos Grandes e nem que estava habitado por ser ponto turístico — Eliah disse.

— Caçadores de sangue? — perguntei.

— Vampiros mercenários. Caçam outros vampiros em troca de altas quantias de dinheiro — Matthew respondeu.

— Caçadores de sangue, ellenséges, rebeldes, ataques... Está tudo voltando — suspirei antes de impedir um bocejo, tendo que limpar os olhos depois. Medicamentos fazendo efeito, me deixando sem dor e abaixando minha pressão. Agora não era a hora de dormir.

— Aparentemente, está — Matthew cruzou os braços e recostou-se na cadeira, parecendo mais sociável sabendo que tenho algum conhecimento da história dos vampiros. Vá entender, esse vampiro ainda é um mistério para mim. — No segundo dia, nós conversamos sobre os Quatro Grandes, sem dizer exatamente que Carlo era um deles. Pareciam mesmo jovens, aparentavam não ter qualquer conhecimento sobre os líderes ou nada do gênero.

— Eles, então, perguntaram se os líderes permaneciam vivos, depois perguntaram onde cada um se encontrava. Demos apenas a localização de Anthony e Marco, marcamos Carlo como desaparecido e dissemos que Paolo havia sido morto — Erin disse, passando os dedos finos pelo cabelo de Carlo.

— No terceiro dia, não havia sequer anoitecido e os dois já estavam prontos para partir. Levantaram, roubaram algumas de nossas coisas do arsenal e saíram, sem despedidas, sem declarações, sem desculpas — Eliah disse, parecendo terrivelmente desconfortável. — A maioria de nós ainda estava dormindo.

— E como descobriram que eram ellenséges? — Kyara perguntou, parecendo estar mais atenta do que eu. Droga de sono.

— Seth os encontrou pouco antes de partirem, parados do lado de fora, esperando os últimos raios de sol se apagarem. Segundo o que Seth disse, e não temos motivo para não acreditar, um deles levantou a camiseta e ele conseguiu ver parte de uma marca.

— Uma espiral com três riscos em baixo da última volta? — perguntei e vi Eliah concordar com a cabeça. — Ainda marcam os ellenséges?

— É o que parece, e no mesmo lugar.

— Na base da medula espinhal, como uma sustentação para as três linhas que mantém como uma espécie de mantra. Treinar, matar e obedecer — Kyara suspirou, como se estivesse perdida em pensamentos. O que certamente estava.

O silêncio pairou no quarto, deixando claro que cada um tinha seus pensamentos e pesares, embora eu me atentasse apenas aos meus próprios. Era uma atmosfera pesada, nem tanto surpreendente assim dada as circunstâncias, mas ainda altamente desconfortável.

— Mégara precisa saber disso — resolvi dizer, segurando um bocejo novamente, só que dessa vez atraí a atenção de Eliah.

— Você não vai conseguir contar para ela tão cedo, mal consegue manter-se acordada — Eliah disse. Sabia que iria falar alguma coisa do gênero, ele tinha um caráter até que protetor e agora sendo pai de uma dhampir não tenho quase nenhuma dúvida de que minha condição lembrava a filha.

— Estou bem, obrigada — não consegui impedir o bocejo dessa vez, o que fez Eliah dar um sorriso vitorioso. Idiota. O que me lembra... — Passei no seu teste? — virei-me para Matthew. Ele pareceu surpreso no primeiro momento, mas depois mostrou-me a sombra de um sorriso e acenou positivamente com a cabeça. Fora um chute certeiro, pensei que a seriedade de Matthew era algo dele próprio, mas talvez seja apenas seriedade de um primeiro contato. Ou não, ultimamente tenho errado bastante nesse quesito de “o que as pessoas parecem e o que elas realmente são”.  

Estava com aquela sensação outra vez. Alguma coisa, com certeza, iria dar errado. Quem dera ele soubesse o que fosse.

— Estou pronta — Karissa apareceu na sala da estar. Estava estranha, agitada. Demetri arqueou uma sobrancelha.

— Vamos assim que Elliot terminar de confirmar as informações e fazer uma ronda pela rua — Demetri suspirou, quase que cansado. Quase, não. Ele estava cansado.

— Certo — a loira jogou-se no sofá e encarou o vampiro. — Você não vai saber por que eu estou agitada, desista.

— Se você sabe de algo potencialmente perigoso, é melhor dizer. Ou eu simplesmente arranco essa informação de você — Demetri pendeu a cabeça para o lado, passando o dedo levemente pelo braço da poltrona, observando Karissa ficar corada. — Estou falando sério.

— Não é perigoso para você, de qualquer maneira — Karissa deu de ombros, respirando fundo para mandar o sangue sair de suas bochechas, mas o profundo olhar de Demetri tornava isso extremamente difícil.

— Você está sob o cuidado meu e de Elliot, então, sim, isso também será perigoso para nós.

— Ah não, não é.

— Diga logo garota, nós não temos a noite inteiro e eu não tenho paciência — ele rolou os olhos, batendo os pés no chão quando levou o corpo para frente, passando a apoiar os cotovelos nos joelhos e o queixo em uma das mãos. Quase sorriu quando Karissa disse não. — Está vendo, as pessoas nunca fazem o que eu quero quando sou bonzinho com elas.

— Você não me assusta — Karissa sorriu, quase que desafiadora. Demetri suspirou mais uma vez e levantou, estralou as costas e foi, com passos lentos, para a porta. — Aonde vai?

— Não é da sua conta — o vampiro lançou-lhe um olhar irônico e então saiu, recebendo o vento noturno nos cabelos loiros e o cheiro de sangue que vinha da casa vizinha. Alguém, aparentemente, tinha se cortado. Sentou-se na calçada e passou a mão pelo rosto antes de esfregar os olhos. Como queria estar na Romênia apertando o pescoço de algum humano até ouvir os ossos se esfarelarem.

— Você foi expulso da casa ou o quê? — Elliot perguntou, tirando as mãos dos bolsos da calça jeans enquanto se aproximava da casa.

— Você já terminou de fazer o que deveria? — a sobrancelha esquerda de Demetri foi arqueada.

— Já e você não respondeu minha pergunta.

— Não irei respondê-la. Encontrou alguma coisa?

— Está limpo. Já que você está nesse humor, vá lá chamar Karissa, estarei no carro.

Eles trocaram olhares antes de Demetri levantar preguiçoso, sendo acompanhado novamente pela sensação ruim de que algo iria acontecer. Sensação dos infernos. Ele voltou para casa e chamou Karissa para partirem em direção a Romênia, onde a garota se encontraria com Mégara.

— Encontraram alguma coisa? — ela perguntou, parando na porta.

Demetri não respondeu, ao invés disso, ele colocou as mãos na porta de entrada, com cada braço de um lado da cabeça de Karissa, deixando o rosto a centímetros do dela.

— Sua última chance de me contar o que é — ele disse.

Karissa suspirou e rolou os olhos, indo para trás tentando afastar o rosto do de Demetri, era difícil demais pensar com o rosto dele tão próximo.

— É uma mensagem, não posso contar-lhe e, como eu disse, não é perigoso para vocês — Karissa respondeu e observou Demetri franzir a testa antes de finalmente afastar-se.

— Elliot está esperando no carro — foi tudo o que o vampiro disse antes de cruzar os braços.

— Certo — Karissa balançou os ombros e saiu, chutando uma pequena pedra pelo caminho até a rua. Na metade do percurso, ela girou os calcanhares e observou Demetri fechar a porta de sua casa, antes de olhar para o local com um ar melancólico. — Era um lugar legal.

Demetri encarou a garota, com mais perguntas do que deveria preparadas para serem ditas, mas ele a segurou quando percebeu que qualquer pergunta que fizesse não seria respondida.

— Concordo — Demetri deu de ombros.

— Foi um prazer morar aqui — Karissa suspirou, dizendo as palavras mais para si mesma do que para Demetri, para só depois lembrar que o vampiro estava ali, parado em sua frente com as mãos nos bolsos e uma bonita jaqueta de couro. — Foi um prazer conhecer você também. O mesmo vale para Elliot.

Karissa agarrou a alça de sua bolsa e girou os calcanhares novamente, dessa vez caminhando em direção ao carro, deixando para trás um Demetri confuso e com os pelos da nuca arrepiados pela volta de sua sensação ruim. Droga, como queria saber se tinha alguma relação com a mensagem que Karissa recebera. Na verdade, só queria saber por que estava tendo a sensação.

— Então, de onde você vem? — Riese agarrou meu braço, fazendo com que eu quase caísse entre um passo e outro. — Quero dizer, onde nasceu?

Riese era bem animada, aparentemente de Innya, que sequer me dirigia o olhar. Espero que ela não seja sempre assim ou começarei a ter pena de Eliah.

— Nasci em Siracusa, e, antes que pergunte, nunca vi o Livro da Paz — respondi quando viramos no corredor. Carlo obrigara-me a utilizar um dos quartos por pelo menos uma noite. Continuava teimoso, mesmo que eu não possa dizer nada sobre isso.

Riese sorriu como se entendesse o que eu quis dizer e lançou um rápido olhar para Kyara, que andava na nossa frente, trocando palavras com Seth.

— O que acha dele? — Riese puxou meu braço em uma tentativa de fazer-me me abaixar. Quando perguntei o que ela queria dizer, Riese simplesmente sussurrou: — O Seth, o que você achou dele?

Essa não. Por favor, não.

— Ahn, não sei, ainda não o conheço — embaralhei-me.

— É, ainda — ela sorriu de uma maneira que me causou arrepios, embora não houvesse ameaça alguma ali. Em partes, pelo menos. Um cupido era a última da qual eu precisava.

Chegamos a um corredor curto, que tinha quatro portas dispersas pelas paredes claras e antigas. Eliah indicou-me uma das portas enquanto Kyara entrava na porta que ficava em frente a minha. Quartos.

— Boa noite — Eliah lançou-me uma piscadela e puxou Innya pela cintura, saindo com ela logo em seguida. Riese agarrou o braço de Seth e, depois de ambos me desejarem boa noite, ela saiu praticamente arrastando o vampiro, coitado.

— Não fuja pela janela — Kyara disse antes de entrar em seu quarto.

— Boa noite para você também — elevei a voz para que ela pudesse ouvir e suspirei antes de entrar no quarto, desejando que por algum milagre fosse o quarto do apartamento que eu dividia com Ryan no Canadá. Qualquer exercício que aquele professor mala passasse era melhor do que esse pesadelo. Marco, como eu queria que você estivesse de volta e que nada disso estivesse acontecendo. De verdade.

Tudo que encontrei fora uma cama grande e fofa, e, no momento, era o que me bastava.


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Notas finais do capítulo

btw, os capítulos pretendem ser menos chatos ok.
btw2, alguém ai não entendeu sobre Siracusa e o Livro da Paz?