Recém-nascida escrita por Cambs


Capítulo 6
Cinco




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— E então? — ele perguntou mais uma vez, tentando ao máximo não ser indelicado.

A ligação permaneceu em silêncio por cerca de um minuto, ele conseguia ouvir a respiração pesada da mulher do outro lado da linha, mas esperou que ela se pronunciasse.

“Vicktor...”

Ele sorriu com a menção de seu nome. Quase. Ela estava quase cedendo.

— Vamos Kyara, você quer fazer isso.

“Ah meu querido Vicktor, eu realmente não quero fazer isso, mas acredito fielmente que você irá continuar insistindo até que eu aceite, então pouparei a nós dois”.

— Sabia que poderia contar com você — Vicktor sorriu.

“Cale a boca” — ela ralhou fazendo Vicktor dar risada. — “Você pode, ao menos, me dizer detalhadamente qual é o problema com Sophie dessa vez?”

— Terá que ser por telefone, infelizmente. Não seria agradável se eu saísse do castelo agora e não quero fazê-la vir até aqui.

“Aprecio sua preocupação, mas, por alguma coincidência do destino e pura idiotice de minha parte, estou na Romênia, você consegue ir a, pelo menos, um hotel ou café ou sei lá?”

— Verei o que posso fazer por aqui, mas acredito que possamos nos encontrar em algum hotel. Posso retornar a ligação depois?

“Por mim você não teria nem feito esta, mas sim, você pode”.

— Obrigado.

“Tanto faz”.

Assim que ela desligou, Vicktor guardou o celular no bolso da calça e balançou a cabeça sorrindo. Nada, Kyara não havia mudado em nada.

— Você não é minha mãe, pelo amor de Deus! — exclamei irritada. Caramba, Demetri e Elliot conseguiam ser insuportáveis quando queriam.

— Se eu fosse sua mãe, certamente você estaria de castigo agora — Demetri sorriu zombeteiro. Peguei o objeto mais próximo e joguei nele, dane-se que era o controle do portão da garagem. — Ai.

— Sorte que eu não sou a mãe de vocês dois — Elliot revirou os olhos.

— Sorte a nossa, com certeza — revirei os olhos. — Vocês não deveriam estar dormindo ou sei lá?

— Estamos bem Sophie — Elliot respondeu esfregando os olhos. Minhas queridas babás precisavam dormir um pouco.

— Vão dormir, só sairemos daqui depois do pôr do sol de qualquer maneira, é desnecessário vocês permanecerem aqui, me torrando a paciência e gastando energia — disse enquanto observava Demetri e Elliot trocarem olhares.

— Último treinamento e pediremos à Karissa para nos arrumar um quarto — Elliot suspirou.

Dois quartos, eu não vou dormir com você, desculpe acabar com sua fantasia — Demetri disse.

Enquanto Elliot soltava um palavrão e levantava o dedo do meio para Demetri, eu apenas ri. Mesmo que isso tenha me causado dor, mas nada que uma dose maior de remédios não resolva. Vou deixar uma dica aqui: não leve uma facada nas costas, dói.

— Tenho um quarto de casal disponível que ficaria ótimo para o casal — Karissa apareceu e parou ao meu lado, encostando-se em seu carro. — Seu celular estava tocando — ela me entregou o objeto e virou-se para Demetri e Elliot. — Vamos, eu quero ver vocês treinando.

Eles sorriram — agora se era pela permissão de treinamento ou simplesmente por paquera eu já não sabia — e trocaram sinais indicando a posição inicial de cada um. Tomaram espaço e segundos depois estavam um atacando o outro com socos e chaves de braço. Suspirei e olhei para a tela do meu celular para verificar duas mensagens novas. Por favor, que não sejam de Ryan.

“Estou acreditando que você ainda está ocupada demais para me ligar. O que aconteceu com o ‘mandarei notícias todos os dias’? SR”

Merda, uma é do Ryan. Olha meu amor, sinto muito não ter te ligado, estava ocupada lutando contra um vampiro e sofrendo com um corte nas costas, por favor, me perdoe. Revirei os olhos e parti para a próxima mensagem.

“Garota, espero que o cara seja REALMENTE bom para você estar me ignorando. SR”

Merda outra vez, essa também era de Ryan. Eu já posso denunciá-lo por abuso de paciência e uso desnecessário de créditos? Ah, esqueci, ambos não são crimes — mas deveriam ser. Ouvi um palavrão e levantei os olhos da tela do celular, só para encontrar Demetri e Elliot esquivando-se de cacos de porcelana no chão. O que eles haviam quebrado? De qualquer jeito, Karissa não parecia se importar, na verdade, ela estava até sorrindo enquanto observava o treinamento dos dois. Maravilha. Voltei a encarar meu celular e tentei pensar em algo para responder Ryan.

“Você está pior que um namorado ciumento, por favor. Meu celular estava sem bateria e sofri para encontrar uma tomada. E que cara? Você está com alguém? FINALMENTE SAIU DO ARMÁRIO? Com amor, Sophie”.

Eu sou, realmente, muito engraçadinha — ou cara de pau, como queira —, mas não poderia ficar sem brincar com Ryan, ele merece. Assim como Ryan, minhas costas mandaram lembranças e eu soltei um palavrão mentalmente. Quanto tempo levaria até esse corte maldito parar de doer? Sinceramente, não estou com vontade de ficar viciada em remédios só para poder me movimentar sem sentir dor, já me bastava ser proibida de treinar.

— Ok rapazes, acho melhor vocês pararem antes que quebrem outro vaso meu — Karissa disse fazendo com que eu a olhasse. Ela não parecia brava por ter perdido um vaso. Hm. Por incrível que pareça, Elliot e Demetri obedeceram ao pedido de Karissa e, segundos depois, me vi junto do grupo ao subir as escadas para voltar para a sala de estar. Caminhei até a cozinha para beber água, e talvez tomar algum remédio, enquanto Karissa levava os dois vampiros para os quartos. Passei alguns minutos bebericando a água gelada sentindo-me frustrada por não ter conseguido achar nada além de alguns comprimidos de sonífero. Embora dormir também seja uma boa. — Não conseguiu encontrar, não foi? — Karissa passou pela porta da cozinha sorrindo e parou na frente do armário, abriu a primeira gaveta e retirou de lá uma cartela de compridos de remédio para dor. Eu juro que havia procurado ali.

— Obrigada — peguei os compridos e tomei um deles sem nenhum líquido, o que foi idiotice porque acabei engasgando e tomando toda a água do copo.

— Disponha, aceita um chá?

Karissa e chá, um eterno romance, talvez seja por causa deles que ela é tão calma. Acho que preciso tentar isso.

— Aceito — puxei uma das cadeiras e sentei-me devagar, obervando Karissa passear pela cozinha começando a preparar nossa bebida, que eu realmente adoraria que fosse algo que tivesse altos níveis de cafeína. — Tem conversado com a mensageira da Hungria ultimamente?

— Depende, o que você quer saber sobre os Mottris? — ela perguntou de costas para mim, segurando a chaleira embaixo da torneira. — Certas coisas é melhor você mesma descobrir, surpresas podem ser agradáveis.

— Eu só quero saber se eu preciso saber de algo para não ter nenhuma surpresa desagradável, tanto para mim quanto para Carlo, acho que já basta uma acusação de traição para o pobre homem.

— Não, não tenho conversado muito com Dannika, vamos dizer apenas que qualquer conversa evitada é um bem para mim, eu simplesmente não gosto dela. Acredito que as mensageiras mais insuportáveis estão na Hungria, o que é uma pena para Carlo.

— Nada pode ser totalmente bom... Mas você pode me dizer algumas coisas sobre eles então?

— Pelo o que eu saiba, nada de trágico aconteceu com os Mottris, na verdade, eles estavam bem felizes antes dessa história do sequestro de seu pai. Aliás, eu ainda não disse que sentia muito por você, desculpe.

— Não se preocupe com isso.

— Certo, bem, o que posso dizer? — Karissa deixou a chaleira no fogão e encostou-se a pia para olhar para mim. — Acho que você já sabe sobre Riese, não é? — ela analisou minha expressão e então riu. — Certo isso é um não. Riese é a filha de Eliah.

— Filha? — arqueei uma sobrancelha. — Então ela é uma...

Dhampir, exato. Assim como você.

Enquanto Karissa verificava a água fervendo e a colocava nas duas xícaras, eu comecei a tamborilar os dedos na mesa tentando pensar. Eliah tinha uma filha dhampir... Quem diria.

— O que Marco disse a Carlo quando soube? — perguntei.

— Marco não sabe — Karissa colocou as xícaras na mesa e sentou-se na cadeira a minha frente, sorrindo novamente ao ver minha expressão de surpresa. — Ora, peço desculpas se estou ofendendo, mas você conhece a hipocrisia de Marco tão bem quanto eu.

— Bem, nisso você está certa — tomei um gole do chá. — Isso ainda é um segredo ou já descobriram?

— Vicktor sabe há pelo menos um ano, e, se não me engano, os Vettris também tem conhecimento.

— Os Vettris não são, exatamente, um problema em relação a isso. Sabe, imagino o discurso moralista e hipócrita que Marco faria. Quer apostar comigo que Eliah o ofenderia?

— Não conheço Eliah o suficiente para isso, mas eu diria que sim.

Nós rimos e pouco depois fomos para a sala de estar. Eu teria que enrolar até a noite já que Demetri e Elliot não poderiam sair com a luz do sol. Karissa ligou a TV em um canal de clipes e assim ficamos até que eu cochilei enquanto o remédio fazia efeito. Dormir é uma maravilha sem igual.

— Não parece tão poderoso agora, se me permite dizer — o vampiro andava lentamente até chegar à cela. Este era outro, mais alto e mais corpulento, com o rosto forte e cabelos bem curtos do que o que sempre o visitava.

— E quem seria você? — Marco arqueou uma sobrancelha. O que o sangue não faz. Pensou amargurado, sentido-se mais forte do que antes depois que lhe deram de beber.

— Oh, não se lembra de mim, mas acredito que você não se lembra de ninguém, certo? — o vampiro parou na frente da cela de Marco e deu um sorriso zombeteiro. — Mas para todos os efeitos, Kane Grass, ao seu dispor.

Marco analisou o vampiro e forçou sua mente, mas simplesmente não conseguia lembrar-se dele. Tentou mais uma vez e falhou, talvez ele não tenha sido de tanta importância no passada, caso contrário conseguiria se lembrar. Lembrava-se de Mégara, de Vicktor, de Anthony, de Paolo, de Sophie e de mais algumas pessoas, mas todos tinham algo em comum: em algum momento deixaram uma forte impressão para ele. Já o vampiro a sua frente era inútil tentar-se lembrar.

— E o que deseja, Kane? — Marco endireitou a postura o máximo que consegui, alimentado ou não, os machucados demorariam um pouco mais para sumirem.

— Ah, você sabe, estou apenas fazendo a ronda noturna e aproveitando para ver o grande Marco Amattris preso e rebaixado a apenas mais um vampiro qualquer — Kane sorriu.

— Você deveria aprender a não julgar pelas aparências, meu jovem.

— Jovem — Kane deu uma risada cruel fazendo os pelos da nuca de Marco se arrepiarem. — Não se lembra de mim mesmo não é? Você é do tipo que manda os outros fazerem o trabalho sujo, talvez seja por isso. Vou lhe dar uma dica, Segundo Expurgo.

Marco suspirou. Ah, o Segundo Expurgo, quando ele e seus aliados massacraram as comunidades rebeldes em uma guerra que não passou de uma semana, tendo os vampiros não rebeldes como vencedores. Se Kane estava lá, tinha sorte de ter sobrevivido e Marco certamente não se lembraria dele.

— Tem razão, não me lembro de você — decidiu dizer, suspirando mais uma vez.

— Sabe Amattris, esta é a primeira vez que fico realmente feliz em servir um dos Grandes — Kane sorriu mais uma vez, deixando a crueldade de seus pensamentos refletirem em sua expressão.

Estava sendo realmente engraçado ver Demetri e Elliot encolhidos no bando traseiro do carro, totalmente cobertos com vários cobertores e mantas, certamente estavam dormindo, aproveitando nossas quatro horas de viagem até o castelo de Carlo. Mas agora não faltava muito, a noite já havia caído e os sete pedágios da estrada já haviam passado. E os remédios estavam fazendo efeito e eu estava conseguindo dirigir, essa é a principal parte.

A paisagem de Strada Jiului até Castelo Schossberger era bem bonita, contando com grandes campos abertos, algumas casas e empresas espalhadas por aqui e ali, com tudo sendo tingido de laranja pelo pôr do sol e sem seguida ficando mais escuro com a cor da noite.

— Já chegamos? — ouvi Elliot murmurar debaixo dos cobertores.

— Ainda não, mas estamos quase, e se vocês quiserem já podem sair debaixo desses cobertores, já anoiteceu.

Nenhum dos dois se mexeu e depois de dois minutos de silêncio, deduzi que Elliot havia voltado a dormir e Demetri nem havia acordado. Continuei a dirigir e deixei minha mente flutuar para tempos e lugares em que eu não tinha que me preocupar com mais nada além de fingir que eu não sabia uma matéria ou como desenhar uma planta na faculdade de Arquitetura, quando meu maior drama era fazer Ryan calar a boca. Ah, bons tempos.

Depois de mais uma hora tamborilando os dedos ao som de várias músicas — e uma cantoria básica ao som de Foster The People e Muse, que miraculosamente tocaram em uma rádio — eu já havia entrado na rua do castelo. Estiquei o braço para cutucar Elliot e Demetri e depois de ambos acordados estacionei o carro na frente do castelo, fazendo algumas folhas caídas voarem. O outono só melhorava a visão do castelo, que já era realmente belo por si só. Nós três descemos do carro e só então eu consegui ver algumas pessoas paradas ali.

— Sophie — fui abraçada por um amontoado de cabelos castanhos, só então percebi quem era.

— Erin — sorri quando devolvi o abraçado da vampira. Assim que ela me soltou, observei os outros presentes. Carlo, Eliah, Zed e eu me recusava a acreditar que estava vendo aquela pessoa ali.

— Não me diga que herdou a educação de seu pai — Kyara sorriu zombeteira enquanto trocava o peso de uma perna para a outra.


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