Recém-nascida escrita por Cambs


Capítulo 12
Onze




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PARTE II — VENENATAE

“Spür die kälte auf deiner haut, nichts bleibt so wie es war”

Levin acompanhava a ruiva andar de um lado para o outro enquanto o barulho do salto agulha penetrava cada vez mais em seu cérebro. Estava prestes a estender o braço para impedi-la de continuar andando, porém ela acabou parando sozinha, levando os seus bonitos e mentirosos olhos azuis claros até os vingativos e melancólicos azuis safira dele.

— Não vão conseguir — anunciou com a voz calma.

— Não sabia que você era uma pessimista — Levin sorriu irônico antes de jogar-se no sofá de couro negro. Ignorando a expressão de irritação da mulher, ele cruzou as pernas fazendo com que o couro da calça realçasse ainda mais os músculos de suas pernas.

— Não é pessimismo — suspirou ao levar os dedos para os finos cabelos cor de fogo, usando o indicador para pegar um dos cachos da ponta para então enrolá-lo no dedo. — É o que eu vi — ela observou Levin interessar-se subitamente por suas palavras, inclinando o corpo para frente e voltando a deixar as solas dos dois pés no chão. — Rebeldes.

— Bobagem, eles estão do nosso lado.

— Nem todos — ela ergueu uma das sobrancelhas vermelhas, fazendo questão de desafiar Levin. — Alguns até mesmo nem sabem que você existe, querido. Os que atrapalharão os planos, aparentemente, se encaixam neste último grupo. Eles sequestraram um humano importante para a dhampir e ela vai até eles.

— Um humano? — a expressão de surpresa de Levin permaneceu intacta até o mesmo se levantar, para depois virar um misto de diversão e crueldade, estampando um sorriso frio no belo rosto de Levin. — Interessante. Vamos... Espalhar a notícia.

— Mas, o que faremos? — a ruiva questionou.

— Primeiro, esperaremos esta situação se revolver, afinal estes... rebeldes, nos deixaram de mãos atadas. Depois pensaremos no que fazer, de acordo com o resultado. Ou então você pode mandar alguém ir impedi-los.

A ruiva irritou-se por um minuto, mas logo depois concordou com a cabeça e sentou-se no sofá antes ocupado por Levin. Com as pálidas pernas cruzadas, ela sorriu, deixando o contraste do batom vermelho chegar aos perfeitos dentes brancos.

— E quanto a Marco? — perguntou. — Precisa de outra sessão? O corpo dele é bonito demais para ser tão maltratado.

Levin sorriu como quem concorda e, segundos depois, gargalhou alto lembrando-se de coisas que só ele sabia.

— É Sophie — corrigi antes de engolir em seco. — Quem é você? — vamos reparar na minha pergunta inteligente.

“O nome dele é Ryan, certo?”

Permaneci em silêncio, tentando entender o que estava acontecendo. Ryan fora sequestrado? Quero dizer, ele também?

“Não vai perguntar onde está seu amigo?”

— Acredito que você o tenha sequestrado. Ou então é uma brincadeira bastante idiota do pessoal do campus.

“A pequena dhampir não é tão boba.”

Meu arrepio foi involuntário. Vampiros. E eles estavam com Ryan.

— Diga logo o que quer.

Pude ouvi-lo rindo novamente, um som rouco e informal. Murmurou alguma coisa para quem quer que fosse que estivesse com ele do outro lado da linha, para só então suspirar e lembrar-se de me responder.

“É simples, a dhampir Amattris pelo... amiguinho humano” — houve uma pequena pausa que era, provavelmente, destinada a qualquer palavra minha. O que não aconteceu, já que minha voz era impedida de se manifestar pelo grande nó que se apresentava em minha garganta. — “Nosso encontro acontecerá na Chain Bridge. Você tem até às cinco da manhã para decidir”.

Permaneci em silêncio por alguns minutos e fiquei até que surpresa por permanecer com a ligação intacta, sem que o vampiro desligasse na minha cara. Quando minha voz finalmente voltou, liberei as primeiras palavras que me vieram à mente.

— O que me garante que Ryan ainda está vivo?

O vampiro permaneceu em silêncio, como se estivesse esperando por isso.

“E o que a faz acreditar que eu preciso provar que o humano continua vivo?”

— Uma troca é substituir uma coisa por outra. Se não há algo para se trocar, não há motivos para esta ligação estar acontecendo. Então faça o favor de colocá-lo na linha antes que eu esqueça que uma troca deve ser realizada e vá até onde você está apenas para ter o prazer de chutar a sua bunda.

Ouvi a risada do vampiro mais uma vez e alguns murmúrios ao fundo, infelizmente, todos baixos demais para que eu pudesse entender. Segundos depois houve um ruído, algo como uma cadeira sendo arrastada e então, finalmente, a voz que eu tanto queria ouvir.

“Sophie”

E ali eu estava. Com o coração quase saindo pela boca só por ouvir meu nome sendo pronunciado pela voz grave e levada por um sotaque francês. Deveria eu estar feliz por estar falando com Ryan, sendo que isso apenas confirma o mal que está ao redor dele?

— Ryan — não era minha intenção suspirar e sorrir, mas ouvir a voz dele era bom demais. O que digo agora? Que tudo vai ficar bem? Essa era a última coisa que poderia dizer e eu tinha a impressão de Ryan sabia disso tão bem quanto eu. Os ruídos no telefone voltaram junto com os murmúrios, e um deles era produzido por Ryan. — Ryan? Ryan?!

“Chain Bridge. Até às cinco da manhã.”

A linha ficou muda antes que eu pudesse ter alguma reação. Frustrada, não cheguei a descobrir se o celular havia caído no colchão ou no chão com meu lançamento. No momento, eu me ocupava apenas em tentar não arrancar metade dos cabelos. Os sentimentos materializavam-se em lágrimas quentes determinadas a embaçar minha visão, atrapalhando a minha ida até a parede, onde eu planejava me escorar e chorar como se não houvesse amanhã. Porém, ainda contra os planos, apenas deixei o peso de meu corpo arrastar-me até o chão no tempo em que tentava ignorar o choro e raciocinar sobre o que faria.

Não poderia ir para um ponto cego, mas não poderia abandonar meu melhor amigo. Presa entre duas possibilidades, uma pior que a outra. Desarmada para atirar novamente no escuro e sem recursos para um resgate. Ir significava virar refém e provavelmente “participar” de um golpe contra os Amattris — e eu tinha a total certeza de que eles não aguentariam outro golpe —. Não ir significava abandonar Ryan e isso era algo praticamente fora de cogitação. Não precisava e não queria outra Lena em minha vida.

Em um suspiro, levantei e usei as costas das mãos para secar meus olhos. Eu tinha que falar com alguém sobre isso e, com certeza, não há pessoa melhor que o líder do clã ameaçado.

Rodric continuou a encarar o celular, mesmo após o fim da ligação. Um arrepio fazia questão de permanecer em sua nuca e o sorriso debochado demorava-se a sair do rosto pálido. — Ela gosta mesmo de você — virou-se para Ryan. — Seria isso algo além da amizade?

— Não é da sua conta — Ryan cuspiu em resposta.

— Claro que não — Rodric sorriu novamente e levou a mão até os cabelos castanhos e encaracolados. Iria sentar em um dos sofás, mas mudou de ideia, passando a jogar o celular de Ryan para Sierra. — Onde está Yulio?

— Deve ter ido para a praça — ela deu de ombros, mais concentrada em futricar o celular do humano do que no paradeiro do aliado. — E, pelo que acredito, você irá lá para cima.

— Não passamos tanto tempo juntos para você poder me conhecer tão bem — Rodric riu e bateu continência de forma debochada antes de virar as costas para Sierra e Ryan e encaminhar-se até a porta de metal que dava acesso ao andar de cima.

No quarto degrau da escadaria um tanto longa, a música alta da festa do andar de cima já podia ser ouvida enquanto reverberava pelas paredes frias e sem vida. Curvando-se novamente em um sorriso, os lábios finos de Rodric permaneceram imutáveis até o fim da escadaria no tempo em que as mãos do vampiro aqueciam-se nos bolsos do sobretudo cor de terra. Chegou até a segunda porta, esta feita de madeira avermelhada, e a abriu sem hesitar, apenas para ser atingido pelas diferentes sensações que o local proporcionava.

— Ah, doce Venerem — respirou fundo e encaminhou-se, primeiramente, até o bar. Com a primeira dose de vodca descendo pela garganta, Rodric encarou a pista de dança lotada de vampiros e humanos. O cheiro de álcool e sangue impregnava o ar e a música alta misturava-se ao som dos risos, gemidos, vozes e gritos. Perdeu na noção do tempo quando se juntou à multidão de corpos dançantes, movimentou-se de acordo com a música e divertia-se vez ou outra com alguma vampira que passava. Pensou brevemente na conversa que teve com Yulio e Sierra sobre transformar o humano em vampiro, com a dhampir cooperando ou não.

Rodric trouxe a mente de volta para a boate e, para sua alegria, encontrou uma humana rebolando e passando a mão pelo corpo de modo sugestivo enquanto olhava, direta e descaradamente, para ele. A parte mais bonita nela eram, certamente, as veias pulsantes espalhadas em ramos por toda a extensão de seu corpo. Já conseguia sentir os caninos perfurando a fina pele empalidecida pela maquiagem e o delicioso sangue que havia ali em baixo. Mas qualquer ação foi impedida pela chegada de Sierra.

— Veio para dançar? — Rodric sorriu e, levemente frustrado, estendeu a mão enquanto era tentado a puxá-la mesmo sem consentimento.

— Sem danças, Rodric — Sierra revirou olhos e murmurou algo em francês. Estava, certamente, chamando Rodric de idiota. — Sua dhampir ligou — o sorriso animado da vampira terminava a frase. — Chame Yulio e volte com a garota.

Bateram continência um para o outro e Rodric acompanhou Sierra virar as costas e encaminhar-se de volta para o andar de baixo, para perto do humano que ela achava tão interessante. Bebeu mais dois copos de vodca antes de tatear os bolsos a procura das chaves do carro. Com seu próprio celular em mãos, ligou para Yulio e pediu para que o vampiro o esperasse na Praça Adam Clark, onde se encontrariam para passar pela Chain Bridge e depois esperar a dhampir aparecer.

Dentro do Audi Q5, depois de quase vinte minutos até, Rodric dirigia curiosamente dentro do limite de velocidade, mesmo que estivesse tão ansioso para o encontro que batia os dedos compulsivamente no volante. Com o rádio do carro ligado em uma estação qualquer, a distração que tanto ele quanto o parceiro precisavam para se acalmar parecia estar cada vez mais longe. O som do próprio coração ecoava nos ouvidos de cada um, fazendo a cabeça vibrar e a agitação aumentar. Nem mesmo os anos de experiência e rigidez de Yulio conseguiam deixá-los mais calmos.

— Nossa ansiedade é engraçada — Yulio comentou, com o sotaque britânico se fazendo tão presente quanto a própria voz.

— Só espero que ela não nos decepcione — Rodric respondeu. Virou a cabeça para olhar pela janela e observou os outros carros na ponte. O trânsito não estava carregado, mas os carros sempre diminuíam a velocidade para apreciar a estrutura do século XIX. Morador ou turista, a ponte sempre seria estonteante, com seus dois arcos decorados, os leões de concretos nas pontas e o espaço para os pedestres caminharem e tirarem as fotos que desejavam. Assim que a ponte terminara, passaram pela rotatória e tomaram o caminho para estacionar perto do Hotel Four Seasons, ou simplesmente Gresham Palace.

— E agora, nós esperamos — Yulio murmurou no tempo em que Rodric deixava o carro em ponto morto.

Não demorou muito, vinte minutos ou meia hora, até que um carro parou ali perto. No início, acharam que era apenas uma humana, mas agitaram-se para sair do Audi Q5 ao reparar nos olhos de safira da mulher. A vampira olhou em todas as direções até que encontrou os dois e, com uma expressão descontente, bateu no vidro da porta do passageiro. Rodric e Yulio continuaram em silêncio e olhavam curiosos cada ação que acontecia. Ao lado da vampira, saindo do carro pelo lado do passageiro, apareceu uma garota, de pernas longas e esguias, cabelos castanhos que caiam em ondas pelos ombros e olhos verdes carregados de raiva e veneno.

Aproximando-se devagar, Yulio e Rodric pararam na frente das duas mulheres, sentindo a tensão preencher-lhes os pulmões assim como o ar noturno e gélido. — Finalmente, Sophia.

— É Sophie, seu imbecil — o nervosismo que a dhampir sentia evaporou no momento em que ela revirou os olhos.


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Notas finais do capítulo

Spür die kälte auf deiner haut, nichts bleibt so wie es war = "Sinta o frio em sua pele, nada é como era".
Demorei, mas apareci. E não, eu ainda não estou gostando desse capítulo e certamente o reescreveria porque ficou ruim, mas tenho a leve impressão de que se eu demorasse mais para atualizar acabaria apanhando.
E É CAMS, DESCULPA, MAS NÃO TEVE DEMETRI NESSE CAPÍTULO, porém teve um pouquinho da Sierra olha só :3
E, é, acho que é só isso e não esqueçam de curtir a página no Facebook: http://www.facebook.com/AFilhaDasTrevas
ps: o próximo capítulo estará melhor ok? E eu, eu não sei se vai demorar.