Recém-nascida escrita por Cambs


Capítulo 10
Nove




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— Obrigada pelo teste de surdez, mas, como viram, deu negativo para todos nós — passei o dedo pela têmpora tentando fazer com que os gritos basicamente histéricos de Becca e Innya saíssem de mente. Até agora estava sendo inútil.

— Gritar não irá nos ajudar — Carlo repetia meus movimentos, porém mantinha os olhos fechados, tentando, talvez, se concentrar nos dedos de Erin por seus cabelos enquanto ela se esforçava para manter-se calma.

— Você tem a total certeza disso Dannika? Porque, se for uma mentira, saiba que esse seu lindo rostinho irá se contorcer de dor — Kyara disse.

— Menos Kyara — Zed disse, rolando os olhos quando Kyara mostrou-lhe o dedo do meio. O grandalhão parecia abalado, mas estava mais concentrado em tentar acalmar Becca do que em discutir com Kyara ou surtar.

— Tenho certeza absoluta, as mensagens nunca mentem — Dannika suspirou, parando de encarar os pés para levantar o olhar até Kyara, que simplesmente concordou com a cabeça e passou a encarar Carlo, ainda de olhos fechados. — A única outra informação que preciso ter para passar a vocês é sobre a decisão de Mégara.

— Como assim a decisão de Mégara? — Bonnie perguntou, enrolando uma mecha dos cabelos cor de cobre no dedo de forma compulsiva.

— Mégara ainda pode considerar vocês culpados e, se ela fizer isso, certamente mandará alguém atrás de Carlo — Dannika respondeu o mais calmamente possível. — De qualquer maneira, todos vocês, exceto Kyara e Sophie é claro, estão sob a acusação de traição.

— Ou seja, se Mégara considerá-los culpados, ou vocês irão parar em alguma masmorra ou serão exilados ou serão mortos — Kyara disse, fazendo com que Innya gritasse novamente, mas, dessa vez, ela parecia estar mais com raiva do que com medo.

— É tudo culpa de Marco! — Innya continuava com o tom alto de voz, contanto agora se mantinha longe de Eliah. — Não temos Marco e nós não somos responsáveis por seu sumiço, mas tudo continua a girar ao redor dele! Por que não entregamos a filha e nos livramos dos problemas?!

— Innya... — Eliah puxou a esposa pelo braço, mas ela relutou em permanecer ao lado dele ou em silêncio.

— Se Sophie viveu com o pai deve ser tão desprezível quanto ele, se os rebeldes levaram Marco é só entregar a filha dele para eles que até mesmo Mégara ficará feliz com isso!

— Innya, já chega — Erin disse.

— É uma brilhante ideia! — manifestei-me. — Vocês têm algum altar de pedra também? Então já aproveitamos para fazer algum daqueles rituais de sacrifício.

— Ninguém será sacrificado ou enviado aos rebeldes como uma mercadoria de troca em algum comércio antigo — Carlo levantou-se colocando ordem na situação, com Innya agora em silêncio e minha ironia sendo engolida, ele suspirou pesadamente e encarou Dannika. — Se Mégara decidir que somos inocentes, ainda temos o risco de morrer com o ataque rebelde?

— Sim — Dannika suspirou. — Alguém está controlando os rebeldes e vocês são alvos em potencial, assim como os Vettris e até mesmo os Amattris. Alguém está planejando um grande ataque contra os Líderes.

— É como um Terceiro Expurgo — Kyara disse.

Carlo voltou a se sentar e passou a mão pelo rosto, deixando os dedos fazerem pressão nos olhos antes de deixar o membro cair em sua perna. Erin permaneceu ao seu lado, mas não levou os dedos até os cabelos do marido, ela os deixou repousando em seu colo, enquanto seu peito subia e descia com o ritmo de sua respiração até que calma. Um silêncio pesado tomava conta dos dois e pouco depois o mesmo tomava conta de todos no lugar. Agora seria uma boa hora para Innya gritar.

— Podemos fugir disso? — Eliah perguntou à Dannika.

— Não sei. Talvez sim, talvez não — ela tentou disfarçar um dar de ombros, mas não conseguiu, pelo menos não de minha parte.

— Não vamos morrer fugindo — Zed pronunciou-se e colocou Becca atrás de si, como se fosse protegê-la de algo. — Já que é para morrer vamos tentar ter um pouco de dignidade nisso.

— Eu não vou morrer, Zed. — Eliah virou-se para Zed, e imitou seu gesto ao colocar Innya atrás de si, que, por sua vez, foi até Riese e Seth e colocou os braços ao redor dos ombros da filha.

— Não ouviu o que a ruivinha ali disse? Acabou Eliah e você sabe disso tão bem quanto eu. Se não morrermos nas mãos de Mégara será pelas mãos dos rebeldes!

— Não posso morrer Zed.

— Mas vai. Todos nós vamos.

— Se for para ser um covarde, assim seja, mas eu irei salvar minha filha e quem mais conseguir! — a voz de Eliah subiu de tom enquanto o mesmo cerrava os punhos.

O silêncio fez-se presente novamente e pareceu ser o mesmo que um soco no estômago, fazendo todos recuarem e se sentirem desconfortáveis. Não era uma situação agradável, ninguém sabia o que fazer e essa era, provavelmente a coisa mais frustrante da situação.

— Nós poderíamos, sei lá, nos separar — Bonnie foi a primeira a falar depois de minutos. O dedo já não enrolava mais a mecha de cabelo e agora acompanhava os outros contra o braço de Matthew.

— O que quer dizer com isso? — Seth perguntou.

— Acho que os rebeldes não sabem que nós já sabemos do plano deles, então eles esperam nos atacar quando estivermos juntos, para eliminar o clã inteiro em um único ataque. Acredito que, se nós fossemos para algum lugar diferente daqui, eles teriam que arquitetar outro plano, e, se nos dividirmos em algo com duplas, provavelmente não será um grande número de renegados que irá atrás de nós — Bonnie respondeu deixando um suspiro passar pelos lábios no final.

— Se vocês se dividirem em duplas ou trios, será até mesmo mais fácil — Kyara concordou. — Quando ou se os rebeldes conseguirem descobrir que vocês estão separados em dois ou três, é quase certo que o mesmo número vá atrás de cada um, podem até superestimá-los e mandar apenas um.

— E se mandarem um ellenség? — Erin perguntou.

— Se o nível dos ellenséges for igual ao nível do que me atacou, não será realmente difícil lutar contra um — disse.

— Um treinamento básico consegue resolver? — Kyara me perguntou.

— Um pouquinho mais do básico deve adiantar — dei de ombros. — E tenho quase a certeza de que quem estiver por trás disso irá superestimá-los, acho que nem mesmo um ellenség irá mandar.

— Estão todos de acordo com isso, então? — Carlo perguntou. Ele olhou em volta tentando ver o rosto de cada um, mas como não conseguiu, apenas moveu a cabeça para os lados observando quem estava em seu alcance. — Essa é, talvez, a nossa única possibilidade de permanecer vivos.

— Sem querer interromper, mas ainda falta saber sobre Mégara — Dannika voltou a balançar os pés. Eu tinha a leve impressão que ela não se importava se estava mesmo interrompendo algo ou não. Pelo menos ela não parecia ser tão ruim quanto Karissa havia dito... ainda.

— Já que tanto faz, podemos decidir isso agora — Matthew disse.

Dannika deu de ombros e prestou atenção nos pés que iam para frente e para trás no ritmo do balanço e suspirou algumas vezes, como se tudo aquilo estivesse sendo tedioso para ela.

— Então — Kyara levantou-se. — Quem eu irei treinar primeiro?



— Eu sei que dói e é incômodo, mas, por favor, cale a boca — Elliot disse com a cabeça entre os joelhos, o vento de outono ajudava em sua tontura momentânea, mas o que realmente precisava era caçar e descansar.

— Desculpe se estou te incomodando, mas eu não dou a mínima, agora tampe os ouvidos e fique quieto — Demetri resmungou. Os dedos formavam algo similar a uma pinça para manter a camiseta longe da pele queimada, ainda em processo de cicatrização. — Já tem alguém vindo, não é?

— Já, Demetri, já tem — Elliot suspirou.

Não demorou muito, uns vinte minutos talvez, e a Range Rover Evoque preta estacionou na rua bem a frente deles. As pernas cobertas pela calça jeans de Suzan foram para fora do carro, e, quando as solas de suas botas tocaram o chão, ela se encaminhou até Demetri e Elliot sentados na grama ao lado do galpão. Atrás dela, Lenna desceu do carro com o salto do scarpin fazendo barulho ao andar até alcançar Suzan.

— Você não parece tão ruim — Lenna sorriu para Demetri.

— A sua preocupação é algo tocante Lenna, obrigado — Demetri limitou-se a fazer a boca contorcer-se em um sorriso irônico.

— Disponha — ela suspirou. — Você consegue levantar sozinho? Onde se queimou?

— Todo meu tronco está queimado, a maior parte das costas, áreas perto do pescoço e perto do quadril já estão quase cicatrizadas enquanto o resto ainda está terrível — Demetri respondeu e, depois de deixar um suspiro escapar pelos lábios, ele deixou que o tecido da camiseta se encostasse à pele queimada.

Assim que Elliot percebeu que Demetri tentaria levantar, ele se adiantou e, já de pé, parou atrás de Demetri e colocou as mãos em suas costas. Com a assistência de Elliot, Demetri levantou lançando pragas e suspirando pela dor de mexer-se.

— Suzan, você dirige — Lenna disse e parou ao lado de Demetri. — Vamos, apoie-se em mim também.

Praguejando novamente, Demetri passou um dos braços pelos ombros de Lenna, enquanto o outro ia para os ombros de Elliot. Juntos, os três caminharam lentamente até o carro enquanto Suzan abria a porta. Assim que Demetri fora acomodado no banco de trás do veículo, Lenna passou as chaves para Suzan e Elliot sentou-se no banco da frente.

— Espera, onde está a mensageira? — Suzan perguntou enquanto colocava a chave na ignição.

— Karissa não pode ir até Mégara — Elliot encostou a cabeça no encosto do banco.

— E porque não? — Suzan arqueou uma das sobrancelhas claras.

— C2 e C3 quebrados, fratura exposta fazendo com que praticamente todo o sangue saísse e muitas lacerações pelo corpo — Demetri respondeu.

Suzan virou a cabeça para encarar o vampiro enquanto Elliot revirava os olhos.

— Karissa está morta — ele sussurrou, de repente cansado demais, como se todo o peso dos acontecimentos tivessem, finalmente, caído sobre seu corpo, deixando ainda mais exausto do que já estava e novamente com tontura.

— Isso é ruim — Lenna levou os dedos finos até o cabelo. — Muito, muito ruim.



Fez os olhos passearem mais uma vez pela tela do notebook, antes de morder o lábio inferior e suspirar com sua frustração. Recostou-se no banco e passou a mão pelo rosto, cansado e irritado. Porque simplesmente não ligava para Sophie? Ou então passeava pela cidade até que a garota visse as sete ligações perdidas com o número dele?

— O senhor precisa de ajuda?

Ergueu os olhos para cima e deparou-se com a dona da voz. Não deveria ter mais de vinte anos, o rosto fino ostentava bonitos lábios carnudos cobertos por algum brilho labial e olhos eram redondos e de um azul safira extremamente belo e incomum.

— Não, obrigado, estou bem — ele sorriu e observou a garota afastar-se depois de lhe lançar um sorriso. Ela não vestia um uniforme, o que o fez deduzir que ela não trabalhava ali no aeroporto. Suspirou mais uma vez e voltou a prestar atenção em sua pesquisa.

Voltou para a página inicial do Google e digitou o nome da amiga mais uma vez. Os resultados foram os mesmos da outra vez. Decidiu então, clicar no segundo link, obtendo as mesmas informações de quando clicara no primeiro link da pesquisa. A única diferença, agora é que o sobrenome “Amattris” aparecia logo depois do “DeFount”. Droga, precisava perguntar para Sophie porque diabos a internet dizia que ela estava morta a mais de quinhentos anos.

Desligou o notebook e, depois de guardá-lo em sua mala, levantou-se e pegou o celular. Caminhou até a saída do aeroporto enquanto discava o número de Sophie e arrumava os dedos na alça da mala.

— Soph, é o Ryan, pode dar o ar da graça e me ligar, por favor? — ele disse ao telefone depois da voz eletrônica indicar que o recado deveria ser deixado. Com o celular de volta ao bolso e já do lado de fora do aeroporto, Ryan não esperava que o aparelho eletrônico vibrasse tão cedo, e também não esperava aquela gélida mão em sua boca, levando-o para trás e impedindo-o de proferir qualquer som.


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