Marshall caiu sobre a neve e foi rolando até deslizar sobre o gelo fino. Aquele frio fazia com que seus ferimentos ardessem ainda mais, fazendo-o gemer de dor. Suas roupas estavam rasgadas, fazendo com que o frio aumentasse. Ele queria morrer, podia simplesmente acabar com essa dor. Mas era imortal. Por quê? – Pensava ele – Porque justo eu?

               Relaxou o corpo, começou a prestar atenção nos pequenos flocos de neve que caiam sobre seu rosto... Não conseguia focar em nada... Afinal... Estava com um ódio profundo sobre uma bola de pelo tagarela.

“QUAQUAQUA!”

               Ele levantou somente a cabeça para olhar o que estava fazendo esse som. Algo escuro estava vindo em sua direção, pequeno, redondo... Um Gunter.

               O pequeno pinguim ficou ao seu lado, olhando para sua cara. Aqueles olhos arregalados, pareciam Azulados Abismos sem Alma. Ou seja, o pinguim foi feito para ser um escravo.

- O que você quer? – Indagou Marshall.

- QUÁ.

- Eu não falo sua língua...

- QUÁQUÁQUAQUÁQUÁQUÁ – E isso se repetiu até Marshall arranjar forças para sair correndo.

               Ele se levantou, com o coração pulsando rápido. Aquele pinguim não estava normal, ele estava gritando, não... Alertando... CHAMANDO! Ele estava chamando a Ice Queen! Aquela vagabunda com amnesia que não se lembra dele! Ele não queria vê-la... Nunca mais... É capaz de ela querer se casar com ele...

               A espinha dele gelou ao pensar nisso...

               O pé dele escorregou, caindo num túnel de gelo.  Ele começou a gritar, o túnel era escuro e ele não conseguia parar, tentava flutuar, mas acabava escorregando de novo. Seus gritos ecoavam pelos tuneis, e acabou passando por baixo dos pés de Fionna... Ela caminhava pelo gelo e estava o procurando... Seus olhos se encheram de lágrimas e ele conseguiu se agarrar numa pedra.

- FIONNA! – Ele gritou.

               A garota olhou para todos os lados, tentando descobrir da onde veio o som.

- Marshall? MARSHALL É VOCÊ?

- ESTOU AQUI EM BAIXO!!

               Fionna olhou para seus pés, vendo a sombra do garoto no gelo. Ela levantou a espada, ia tentar quebrar o gelo. Mas algo a golpeou pela cabeça, fazendo ela cair sobre o gelo.

               Marshall acabou afrouxando as mãos com o susto e voltou a aquela situação tenebrosa, mas acabou parando rápido. Ele estava numa caverna escura, com estalagmites no teto, que pingavam aos poucos, fazendo com que seu som se espalhasse, mostrando a dimensão do lugar.

- Olá...? – A voz dele ecoou pelo imenso vazio.

               Nada, nenhuma resposta... Nenhum sinal de vida... Estava preso.

- Não, não estou preso, vou sair pelo mesmo caminho que vim.

               A escuridão permitiu que sua pele regenerasse rápido, já estava menos atordoado e menos indefeso.

- Sou realmente o filho da escuridão... – Pensou ele olhando para o fundo da caverna – Porque eu fui me apaixonar por alguém com tanta luz?

               Marshall começou a flutuar, não estava com medo de se queimar de novo. Estava nublado, não havia perigos. Ele seguiu para o escorregador da perdição que o trouxe, e foi subindo devagar, para não acabar cometendo um erro besta.

- QUÁAAAAAA!

               Marshall olhou pra trás com um semblante raivoso no rosto.

               O Gunter o chamava no fundo da caverna, ele queria lhe mostrar algo.

               Impaciente, arregaçou as mangas da jaqueta e foi na direção do pinguim. O pobre coitado saiu correndo.

- AGORA VOCÊ NÃO ME ESCAPA! – Marshall gritou.

               O pobre Gunter corria chorando até que tropeçou e caiu. Rapidamente olhou para trás e viu o vampiro vindo a todo o vapor. Levantou a asa, apontando para cima.

               O vampiro parou e olhou para cima, havia uma velha escotilha, com as dobradiças enferrujadas quase prontas para cair. Ele a abriu, e conseguiu escutar alguém rindo alto. Era a Ice Queen.

- Traiu seu próprio povo pequenino?

               O gunter nada disse, continuou deitado, apontando pra cima, sem expressar nenhuma reação.

- Tenho medo de saber o que passa na cabeça desses Gunters...

               O vampiro começou a subir, esperando assim encontrar a guerreira.

               Fionna sentiu um frio em seu rosto, o que a fez levantar. Sua visão estava embaçada, a cabeça latejava e seu corpo estava dormente.

- Onde estou? – Ela se perguntou.

- Ora, Ora, Ora! O que temos aqui? Fionna a humana, huh? Oh, estou com tanto medo!

- Ice Queen... O que você quer?

               A Ice Queen começou a rir satisfeita, agora Fionna sabia onde estava. Ela estava presa.

- Ótimo você me prendeu... O que você irá fazer?

- Tolinha... O que você acha? – A rainha disse fazendo um sorriso maléfico.

- Vai me fazer casar com você.

- O QUE? EU SOU MULHER!

- Nunca consegue ficar com nenhum homem, pensei que fosse tentar outra coisa.

               A Rainha se estressou e tacou uma adaga de gelo na parede da cela quase acertando sua orelha.

- É isso que eu irei fazer com você... Querida...

               A garota levantou com os punhos prontos, ela começou a socar as barras de gelo, tentando quebra-las, a Rainha ria da cara dela, pois seu esforço era inútil.

               Fionna caiu de joelhos e olhou para suas mãos, estavam ensanguentadas. Ela cruzou os braços e deitou no chão, segurando as lagrimas de dor.

- Você é fraca! – A Rainha gritou – VOCÊ É FRACA!

               Ice Queen se deu por satisfeita e seguiu para seu quarto com vários Gunters em volta a seguindo.

               Marshall chegou ao fim do túnel e viu que não tinha saída.

- A ótimo, fui enganado por um pinguim... 

               Ele olha para o gelo acima de sua cabeça. Aquilo podia se mover. Colocou suas mãos sobre o gelo e o empurrou para o lado, logo conseguindo ver um pouco de luz vinda de dentro do castelo.

               Fionna notou que algo se moveu próximo a ela. Levantou a cabeça e olhou para os lados, vendo o buraco.

               Marshall colocou a cabeça pra fora, fazendo com que Fionna levantasse com o susto.

- Marshall... – Fionna disse se aproximando do rapaz...

               O vampiro saiu do buraco e a abraçou com força, ficou assustado com o estado da menina. Suas mãos estavam sangrando, o que o deixou meio atordoado, mas ele conseguiu se manter são.

- Vou te tirar daqui... – Marshall disse levitando a garota do chão – O buraco é estreito, você consegue ficar abraçada comigo até eu descer?

- Faça o que você quiser... Só me tire daqui...

               Marshall começou a descer, Fionna estava finalmente em seus braços. Sem aquela bola de pelos, sem aquele chiclete e agora, sem aquela tocha humana.

- Ainda estou sobre o efeito da poção... – Marshall resmungou – Vou levar você pra casa...

- Não... – Ela disse.

               O vampiro se assustou.

- Como assim?

- Eu quero ficar com você...