Eu passo muito tempo da minha vida pensando porque o universo conspira contra mim. James acha que eu sou uma idiota. Marlene sabe que eu sou a Elly. Fui indicada para a Rainha do Baile. James e Sirius querem invadir a SLAM FM. O programa começa em dez minutos. Eu estou ferrada.

-Sério, galera, não vamos fazer isso – tentava, pela décima quinta vez. Estávamos nos fundos da rádio, onde tinha a porta dos fundos e alguns latões de lixo – É loucura.

-Fica quieta, Lily – disse Remus. Sirius espiava pelo canto do prédio, conferindo se a barra estava limpa.

-Acho que já podemos entrar – disse Sirius – Lily, primeiro as damas.

Ok, definitivamente, não tenho pelo o que reclamar. Consegui colocar um pingo de juízo na cabeça desses débeis mentais e convencê-los que me içar por uma corda para a janela do quarto andar não era uma boa ideia. Eles concordaram, mas acho que foi pelo medo de acidentalmente me deixarem cair, formando uma mancha de gordura ruiva nos fundos da SLAM.

Soltando um palavrão, entrei pela porta dos fundos normalmente, enquanto eles davam uma de James Bond, se agachando e rolando pelo chão. Já fazia quase uma semana que eu apresentava a Radio Rebel na rádio de Zac, e com a ajuda de uma pitada de curiosidade, conhecia cada canto do prédio. Mas tinha certeza que se pegarem dois garotos andando com cara de culpados atrás de uma ruiva doida, eles nos barrariam.

Cheguei nos corredores principais, que graças a qualquer coisa que queira nos ajudar em um nível superior, estava vazio.

-Acho que é aqui – disse, e abri a porta da sala perto do meu estúdio, onde eu e Cami costumávamos tomar limonada depois desse programa.

-Lily? - perguntou ela, ao ver minha cabeça em uma fresta da porta – O que...?

-Me ajuda – sussurrei – Meus amigos doidos estão me seguindo...

Ela colocou seu copo de café na mesa e se levantou prontamente. Dei espaço para ela passar, enquanto Sirius e Remus se escondiam atrás de uma planta e de uma poltrona.

-Ah, olá, Lily! - cumprimentou ela, em um falso tom de amizade – Não sabia que estava aqui. Estou indo ajudar Elly com o programa, quer vir comigo?

-Não, obrigada – respondi.

-Tudo bem. Se vir seu padrasto, diga a ele que vou para o estúdio 4 com Elly. Aquele no último andar.

Ela saiu andando pelo corredor. Olhei para os garotos, que mal conseguiam esconder sua felicidade. Eles se levantaram e a seguiram. Esperei os três sumirem de vista para entrar na sala à minha frente.

Ah, com isso temos que adicionar mais um problema na minha lista. Sirius e Remus vão ficar longe por um tempo, mas em compensação... Eu não sei mexer em droga nenhuma desse equipamento. Eu só falo e coloco as músicas, Cami que liga tudo.

Sentei na minha mesa e apertei em um botão qualquer. O ar condicionado ligou no modo “congelante”. Ótimo, exatamente disso que eu precisava.

“Como se liga essa droga????”, enviei para Cami por SMS. O tempo passava, e ela não respondia. Três minutos antes de começar o programa, recebi: “O botão vermelho ao lado do queijo-quente”.

Definitivamente, tinha um queijo-quente em cima da mesa de mixagem. Coloquei meus fones.

“Eu sou Elly, e você está ouvindo Radio Rebel. Eu... Estou passando por um momento difícil. Nem tenho palavras para isso. O que é estranho, Elly sem palavras. Nunca pensei que diria isso. Eu realmente não quero que vocês saibam quem eu sou. Não seria legal para ninguém; e é até mais divertido ouvir uma garota falando sobre as merdas do mundo sem saber quem ela é realmente. Eu sou uma de vocês. Aquela que não é notada nunca... Que está com uma pressão enorme sobre si para revelar quem realmente é... E sou uma garota que está com medo. Medo do que os outros vão pensar”.

Por um momento, pensei que ia chorar. Elly, supostamente a garota mais forte do mundo, que tem uma solução para tudo, está caindo aos pedaços no programa. Respirei fundo.

“Nunca pensei que chegaria a esse ponto. Eu não quero mais isso. E se eu dizer que eu não sou como todo mundo? Mas ao mesmo tempo tem muitas pessoas iguais a mim. Que não consegue se expressar. Que tem muita coisa dentro de si. Que tem medo do que os outros vão falar...” Olhei para um botão no painel e tive uma ideia. “Mas uma hora ou outra teremos que encarar nossos medos, não? Estou abrindo a linha. Ligue pra cá. Diga o que sente, os seus medos. Vamos... Aqui ninguém vai te julgar.”

Primeira ligação.

“Diga o que pensa” falei.

“Eu acho que realmente você deve se candidatar a presidente”, foi o que o anônimo disse “Você tem voz, garota. Realmente consegue se expressar. Posso ver que está com medo, mas você não precisa disso. Você é brilhante, caramba!”

“Sempre fui julgado” outra ligação “ Nunca pude fazer o que eu gosto, sempre achando que os outros vão pensar mal de mim...”

“Gosto de uma garota... Que não tá nem aí pra mim. Eu sei que parece idiota, mas é a vida. Ela é da classe popular da escola, e despreza garotos como eu...”

“Tem tanta pressão por eu ser a 'filha perfeita'...”

“Parece que todos aqui tem problemas” comecei “Pode parecer que estamos bem, mas sempre temos um conflito interior... Ah, tenho mais uma ligação. Vamos, se expresse”.

“Hey. Eu realmente acho que não temos com o que nos preocupar”. Congelei ao ouvir essa voz. Não, não pode ser ele. Impossível... “O mundo é uma merda, sim, ele é. Não tem quase nada que possamos fazer a respeito disso. A única solução para nossos problemas é melhorá-los. Não precisamos viver na preocupação o tempo todo. Só temos que... Que achar um jeito de melhorar tudo. Liguei pra cá pensando nisso. Você não precisa ir ao baile. E como você, ás vezes, mesmo que sem querer, dá algumas dicas de sua situação, sabemos que você estuda em Hogwarts. Em todo lugar tem bundões que só querem nos prejudicar... Mas em compensação tem centenas de pessoas que se inspiram com você. Que se importam. E que, mais do que tudo, pessoas que querem conhecer quem os ajudou. Não precisa se esconder para sempre. Elly, você aceita ir ao baile comigo?”

Ok, certamente isso foi inesperado. James Potter convidou a Rebelde da Rádio para o baile. Ou seja, eu. Ele não sabia quem era Elly realmente, mas gosta dela e quer ir ao baile com ela. Isso é muito estranho, sendo que Elly... É Lily Evans.

Não conseguia raciocinar direito. Fiquei por um tempo em silêncio. Meu juízo gritava “NÃO”, e meu coração (aquela pequena e idiota parte que é apaixonada por James Potter) revidava com “SIM”.

Ah, fala sério, o que você faria? Finalmente fui convidada para o baile, mesmo que não gostasse de ir neles. Fui convidada por alguém que gosto, e que nunca nem olhou para mim... Mas não era bem assim. James convidou Elly, não eu. Ele não sabia que eu era ela, e eu tinha que ter perfeita consciência disso.

Mas como sempre, minha consciência fez merda.

“Eu adoraria”.

Com essas palavras, me comprometia a ir ao baile com James. A revelar minha identidade.

A acabar com a Radio Rebel de uma vez por todas.