Radio Rebel escrita por Snapelicious


Capítulo 2
I




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/241132/chapter/2

Tudo começou naquela manhã. Na verdade, já tinha começado há algum tempo, mas foi naquele dia que complicou.

Aula de teatro. Eu não gosto de aulas de teatro. Simplesmente porque temos que incorporar um personagem ridículo na frente de uma turma que quase dormia. E isso não é legal, principalmente porque naquela manhã, naquela maldita aula, o meu grupo de teatro mudou. Normalmente, somos eu, Dorcas, Sirius e Remus encenando juntos.

Mas uma força sobrenatural fez a professora sortear os grupos do trabalho. E adivinhe? Fiquei com Marlene McKinnon, James Potter e Spencer Smith. Eu fiquei com a minha famosa expressão de “O QUE DIABOS EU ESTOU FAZENDO AQUI?”. A mesma que eu usei quando conversava com o instrutor da academia.

Antes que você pergunte, não, eu não frequento a academia. Aquela única vez, lotada de pesadas e cansativas conversas sobre como malhar, já foi demais para mim. Eu fui obrigada a ir lá por minha mãe, que com certeza desejava ter uma filha perfeita ao invés de... Mim. Mas ainda tem gente que acha que ser tão magra que parece um esqueleto é horrível. Concordo com eles; nada que eu faça vai mudar minhas coxas grossas e meu vício por bolo de carne e achocolatado.

Imagine se eu, Lily Evans, iria desistir de algo que gosto para agradar alguém tão inútil, como a sociedade? Nem em sonhos.

Eu também já dissera que nem em sonhos ia falar publicamente. E olha onde fui parar: sendo a garota misteriosa e inspiradora de uma rádio amadora chamada Radio Rebel. Quase todo mundo na escola ouve meu programa, mas ninguém nem faz ideia que eu sou a rebelde da rádio. Acho que teria uma ataque se eles descobrissem.

Eu realmente não sirvo para ser popular. Na rádio é diferente, posso fingir que estou falando com as paredes do meu quarto, e não com dezenas de pessoas. Sempre fui a ruiva quietinha do fundo da sala, e pretendo continuar assim. Não quero chamar a atenção, e nem sei como lidar com ela. O único motivo de eu ter criado a Radio Rebel foi minha paixão: música.

Você não acha que ela é simplesmente a melhor coisa desse universo e de todas as galáxias vizinhas? Pois eu acho. Música é tipo minha salvação. Não sei o que queria sem ela. Muito provavelmente uma garota ruiva quietinha do fundo da sala que não escuta música.

Mesmo assim, música me inspira. As letras me libertam, e o ritmo incentiva a fazer coisas loucas. Tipo recusar as ervilhas da comida da minha mãe, porque, acredite, isso foi a coisa mais próxima de radical que eu já fiz.

-Vai falar com ele.

-Não.

-Vai!

-Não!

-Agora!

-Vocês duas querem fazer o favor de parar de conversar em forma de uma linguagem feminina ultra secreta e deixarem nós participarmos da conversa? - pediu Remus, roubando meu pudim. Era horário do almoço, e estávamos comendo em paz até Dorcas começar a insistir para mim falar com James Potter sobre o trabalho. Claro que isso é uma coisa totalmente inviável, já que eu literalmente derrubo tudo quando ele me dirige a palavra. E ele está almoçando com McKinnon, é melhor não incomodar. Vai saber o que ela pode fazer com que ela odeia.

Que eu saiba, duas garotas que desafiaram a perfeição de Marlene McKinnon acabaram sendo expulsas da escola por um motivo que prefiro nem comentar. Mas que incluem super-cola, uma moto, uma calça e uma pitada de centenas de lantejoulas.

Marlene McKinnon é simplesmente uma daquelas garotas que você sempre tem que falar sobre ela, mas não pode falar com ela. Parecendo uma Barbie, com dezesseis anos já teve mais namorados do que eu imaginava ter em minha vida toda. Recebe vários convites para o baile, mesmo quando não há baile. Mas dessa vez há, e ela passa a aula toda conversando com Jane Urie, sua fiel escudeira e capacho, sobre quem ela deveria escolher para aceitar o convite.

Bailes. Eu odeio bailes. Na verdade eu odeio muitas coisas; e na minha lista de utilidades, bailes está em algum lugar entre arco-íris e presilhas de cabelo. Pelo o menos arco-íris avisam que uma chuva acabou de ocorrer. Em Hogwarts nós temos todo ano, o que é um saco. Garotas gastam todas as economias para a faculdade em vestidos que usarão apenas uma noite e garotos roubam os cartões dos pais para alugar limusines. Se eu tivesse ido á algum baile em minha vida, a coisa mais luxuosa que minha mãe me ofereceria seria uma carroça puxada por um asno de um metro de altura.

Sem exageros.

Dessa vez meus planos seriam os mesmos, ficar em casa revezando entre assistir o jornal da noite e Pica-Pau, comendo um belo pote de sorvete e agradecendo por não ter recebido nenhum convite. Mas meus pensamentos começaram a mudar quando James Potter veio em minha direção.

-Hey, Lily – ele disse. Fiquei paralisada.

-O-oi -respondi.

-Então... - ele continuou, vendo que mais nada sairia da minha boca. A não ser provavelmente vômito – Você já sabe sobre o que poderemos fazer a peça?

Ia abrir a boca para falar alguma coisa inútil, mas Dorcas foi mais rápida:

-Oh, Vocês poderiam fazer sobre Romeu e Julieta!

-Uma boa ideia – concordou James – O que você acha?

-Ótimo, você é Romeu, Marlene é a Julieta e eu... Posso ser a árvore – respondi. James riu.

-Vamos pensar no assunto – falou – Mas tenho quase certeza que não há uma árvore em Romeu e Julieta. Nos vemos por aí.

E se foi, me deixando com cara de idiota. Agora é a hora que Dorcas diz que eu fui ótima, e que riremos de tudo isso um dia. Mas isso não aconteceu, porque Marlene McKinnon me encarava com raiva no olhar.

Ótimo. Agora fui transformada em alvo de vinganças terríveis.

Só faltava essa.

-//-

-Lily? É você? - gritava minha mãe da cozinha, ao ouvir o barulho da porta.

-Não, mãe, é um ladrão que tem a chave da porta da frente – respondi, revirando os olhos. Corri para meu quarto antes que fosse obrigada a praticar Yoga com pinguins. Podemos esperar de tudo vindo da minha mãe.

Mas tinha que me concentrar em preparar meu progama dessa noite. São umas cinco e meia, e eu entro no ar sempre ás sete da noite. Eu falaria o que penso, tocaria algumas músicas e no outro dia todos estariam com elas baixadas em seus Mp3. E os estudantes também escrevem minhas frases “brilhantes” na porta de seus armários e comentam sobre o programa, sempre tentando adivinhar quem é a Rebelde da Rádio. Se depender de mim, eles nunca descobrirão.

Boa noite á todos. Como foi seu dia? O meu foi péssimo. Recebi a notícia que terá um baile em minha escola. Essa é a época do ano em que todas as garotas populares entram em uma briga de ideais para se tornar a Rainha do Baile. Isso não é inútil? Se pudéssemos nos vestir como gostaríamos, sem seguir nenhuma regra nem padrão, isso sim seria divertido. Muitos passam o dia todo fingindo ser alguém que não é. Vamos ser nós mesmos! Eu sou Elly, e essa é a Radio Rebel. Agora fiquem com uma das minhas bandas favoritas, River Raid”.

Coloquei a música para tocar, desliguei o microfone e me encostei na cadera. Alguém bateu na porta do meu quarto. Tendo o pensamento que eu só teria mais ou menos dois minutos e meio até o final da música, atendi a porta.

-Zac! - exclamei – O que faz aqui?

Zac é meu padrasto. Ele casou com minha mãe há cerca de dois meses, mas nós nunca tivemos uma conversa séria. E, admito, esse é um péssimo momento.

-Eu queria pedir sua opinião sobre um assunto – ele respondeu, adentrando o meu quarto. Tenho dois minutos – A SLAM FM está com um projeto de ter programas para adolescentes, por isso preciso de sua opinião.

SLAM FM é tipo uma das rádios mais escutadas hoje em dia. Toca excelentes músicas, e Zac é um dos coordenadores. Ele fica em busca de novos talentos e bandas legais para apresentar na rádio. Mas pedir minha opinião? Isso é novidade.

-Sim?

-Tem uma garota que invadiu as rádios, ela apresenta a Radio Rebel. Já ouviu falar?

Congelei.

-S-Sim.

-Então, eu pensei em contratá-la para apresentar um programa na SLAM. Você acha que os jovens aprovariam?

Tempo esgotado. A música acabou, e a rádio ficou muda. Zac, que provavelmente estava escutando em seu fone de ouvido, estranhou.

-Que esquisito – falou, tentando arrumar o aparelho – Ficou mudo.

Corri para meu notebook, coloquei os fones e liguei o microfone.

“Eu sou Elly, e essa é a Radio Rebel. Porque não seriamos nada sem música”.

Coloque outra música, e me virei para Zac. Ele parecia muito surpreso.

-V-você é a Elly! - exclamou – A Rebelde da Rádio!

-Por favor, não conte para ninguém! - pedi.

-Só se você começar a se apresentar na minha rádio.

Seria uma proposta tentadora, se eu não estivesse tão desesperada para sair dessa enrascada. Mas já que só há um jeito...

-Tá, tudo bem – resmunguei. Ele me abraçou e saiu do quarto pulando.

Embora meu amor por música seja extratosférico, nada supera o meu medo de ser descoberta. Mas o que está feito está feito, e nem o mais inteligente dos inteligentes conseguiria contornar uma situação como essa.

Na verdade, qualquer um conseguiria. Mas nenhum deles tem minha timidez. Nem a minha idiotisse. Ou minha imensa capacidade de se meter em problemas.

Como eu odeio ser eu.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!