Endógeno escrita por Poteto


Capítulo 1
Por dentro


Notas iniciais do capítulo

As pessoas devem estar pensando: "Pô, Poteto, pára de escrever DenNor!" ... MAS A POTETO NÃO VAI PARAR! Ela é completamente viciada neles dois! Digo... Olhem como eles ficam lindos juntos! Também devem pensar "Meu Deus, Poteto, você não serve para escrever drama!" e a Poteto diz "Pois é, com isso eu concordo..." Mas ela realmente queria escrever um draminha não se sabe porquê, então perdoem esta comediante frustrada incapaz de escrever algo sério. Espero que alguém goste. Noruega PDV.



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Eu corria pela casa enorme ouvindo meus passos ecoarem altos pelos corredores vazios. Meu peito subia e descia tão rápido quanto meus pés e meu coração batia com tanta força que poderia ter saltado do peito para a garganta e de lá para fora da minha boca. Sentia que as extremidades do meu corpo estavam geladas como se toda a força que meus batimentos cardíacos estavam fazendo não fosse o suficiente para bombear o sangue. Sabia que estava pálido como a morte por puro medo, pois sabia que a coisa que eu suspeitava deve ter acontecido. A coisa que eu temia. Nós éramos mais uma união que deu errado?

Alcancei o lado de fora finalmente e comecei a procurar freneticamente com os olhos por algo importante. A nevasca que caía tornava difícil enxergar o que quer que fosse. Tentava desesperadamente sufocar o pânico quando meus olhos notam algo de diferente na paisagem glacial: Vermelho carmesim contra branco brilhante. Manchas de sangue. Pungentes. Dolorosas. Máculas no território que eu conheço e adoro. Um equívoco. Sentia vontade de correr até lá e chutar os flocos de gelo até que as infames marcas desapareçam, mas tinha mais urgência ainda em encontrar outra coisa.

Localizei-o depois de poucos segundos de procura febril. Encostado contra a parede da mansão espalhafatosa, ele era mais um desdoiro na visão branca que a neve oferece com seu casaco negro comprido. A camisa vermelha pela qual que ele tinha tanto apreço estava exposta em vários pontos em que o seu sobretudo havia sido rasgado. O escarlate do tecido se confundia com o tom vibrante do sangue que escapava num ritmo constante por sua pele. O machado enorme estava caído ao seu lado. Senti que era eu quem estava ali caído na neve, pois meu corpo inteiro estava igualmente gelado.

Forcei meus membros dormentes a se mexerem uma vez mais e corri na direção dele. Gritei o seu nome num tom desesperado que nunca antes havia sido ouvido na minha voz - que todos dizem não ter jamais emoção alguma - repetidas vezes até alcançá-lo e ver seu peito subir e descer lentamente num movimento falho e irregular. Eu caí de joelhos ao seu lado, completamente desvairado de pânico.

Danmark! - berrei - Danmark! Responda!

– ... 'mbora... - ele murmurou.

Hva? - aproximei-me para ouvir melhor.

Sverige... E Fin... Foram embora. - repetiu sua voz fraca.

Era exatamente o que eu imaginava. Retirei a minha capa dos ombros e coloquei sobre ele esperando que isso amenizasse o frio. Aquele idiota... Ele simplesmente não conseguia ficar longe dos problemas. Comecei a levantar para buscar ajuda quando senti sua mão segurando firmemente o meu pulso.

– Ya... vai, não vai, Norge? Não... Vá...

– O que está dizendo? - tornei a me apoiar sobre os joelhos - Eu tenho que ir buscar alguém para ajudar você.

– Você me entendeu. Quero dizer ir... Embora. Como o Fin e o Sverige. - Ele fez força para sentar-se direito e tombou para a frente.

– Danmark! - segurei-o antes que ele caisse de cara no chão. - Você está semi-inconsciente, idiota? Não se esforce!

– Não... quero que você me deixe, Norge. - ele ofegou.

Senti um nó se formar na minha garganta.

– Não seja idiota. - passei os braços ao redor dele - Eu não vou a lugar nenhum.

Eu o abracei naquele instante em que não havia ninguém para nos ver. Ele também envolveu-me com seus braços fortes e feridos, enterrou o rosto no meu peito e, por uns breves segundos que mais ninguém testemunhou, ele apoiou-se em mim. Pela primeira vez em anos era como o período em que éramos livres, em que ele me tratava como a um igual e não como um rei trata o seu subordinado. Naquele momento, pensei que tínhamos atingido o fundo do poço e que agora só nos restava subir novamente. Pensei que poderia finalmente ter de volta o Dinamarca bobo alegre de sempre apenas mantendo a minha promessa de não ir embora.

E, por muito tempo, eu não fui. Eu estava enfraquecido e não era capaz de viver por mim mesmo. Eu não podia viver sem Dinamarca em muitos sentidos. E meu povo começou a ficar insatisfeito com isso. Ele foi ficando mais e mais opressivo com o tempo e logo eu não passava de uma província sob as ordens do grande Rei da Escandinávia. Ao contrário do que eu pensava, Dinamarca não voltou a ser o que era antes. Pelo contrário: Depois da fuga, ele ficou ainda mais rígido e autoritário. Ele não era mais o Dinamarca do nosso período viking. Ele deixou que seu lado selvagem e violento tomasse conta de si e logo se tornou um déspota que nunca ouvia o que eu tinha a dizer. Não demoraria para que eu fosse completamente oprimido.

– O povo está farto disto. - disse meu chefe - O líder sueco está nos pressionando por uma aliança. Estamos indo embora.

Eu seria livre, enfim. Eu poderia simplesmente ir embora e me libertar, protegido pela aliança que Suécia oferecia. Eu nunca mais teria de obedecer as ordens de Dinamarca, nunca mais teria que submeter-me a ele. Eu não ficaria mais perto dele. Era o melhor para o meu povo, era o que meus líderes decidiram.

Depois de muito planejamento, aconteceu.

– O Sverige... está aqui... O que ele faz aqui? Então.... É verdade, Norge?

Norge. Não Nor. Meu nome inteiro. Quis pedir a ele que não olhasse para mim daquela maneira. Eu tinha certeza de que ele já sabia da minha partida iminente. Ele certamente já desconfiava ou, no mínimo, os líderes dele já teriam notado. Já teriam alertado-o. Naquele momento, notei, pelo choque em seus olhos azuis claros como gelo, que ele recusava-se a acreditar naquilo. Ainda que tivesse sido avisado a respeito do que eu estava fazendo por suas costas, ele não tinha aceitado duvidar de mim. Senti o já familiar nó na garganta se fazer presente.

– Ele veio me buscar. - disse eu em tom gélido - Estou indo embora, Danmark.

Ele me encarou, ainda sem compreender o que as minhas palavras queriam dizer. Seu rosto ficou inexpressivo como o meu costuma ser enquanto ele se esforçava para digerir o significado daquelas curtas frases. Depois de vários segundos do mais torturante silêncio, a compreensão se espalha pelo seu rosto. Primeiro, o choque. Depois, a aceitação. E então... A traição. Os seus olhos estavam cheios de um sentimento profundo e palpável e ele não precisou falar para eu saber o que ele estava pensando: Deslealdade. Perfídia. Eu era um hipócrita infiel. Vê-lo olhar para mim daquela forma quase me fez vacilar, mas eu não o fiz. Se tem algo em que era bom, esse algo era permanecer firme e impassível, não importa o quão destruído esteja por dentro.

– Você vai embora? Depois de tudo o que aconteceu... Você vai embora?

– Não tornarei a me submeter a você, bror.

Eu o encarei com firmeza nos olhos. Minha coluna estava ereta. Minha expressão estava vazia. Nada em minha aparência refletia a tempestade que se passa dentro de mim. "Impeça-me", é o que imploro em pensamento, "Não me deixe ir. Em nome de tudo o que lhe é sagrado, por tudo o que você ama, não me deixe ir embora. Eu só preciso de uma desculpa para ficar. É a única coisa que peço. Dê a mim a justificativa que preciso para não sair do seu lado." Mas ele não compreendeu. Ele só enxergava o que está bem diante dos seus olhos e meus sentimentos estavam firmemente trancados dentro de mim para que ninguém os visse. Ele jamais saberia, ele não me compreenderia a menos que eu dissesse em voz alta, soletrasse e ilustrasse tudo em detalhes. Era algo que eu não podia fazer.

– Então é isso. - ele riu amarga e sarcasticamente - Eu devia ter imaginado que você não honraria suas promessas.

Desespero. Fúria. Ira. Os três se mesclaram dentro de mim num tornado violento como eu jamais lembrava de ter sentido. Justo ele me acusar de não cumprir promessas... Justo ele me acusar de ser o culpado por algo que me causava uma dor tão aguda que eu queria cair de joelhos e implorar por ajuda... Não quero assumir a minha parcela de responsabilidade. Quero negar a minha covardia, os meus pecados, tudo. Eu o culpava e a ele unicamente. Naquele instante, eu o odiava com todas as minhas forças. Ele me causava repulsa, pois doía tanto que eu só queria fazê-lo sentir um pouco da minha dor. Que ele sofresse as consequências por cometer aquela falta.

– Bom, você queria ser o Rei da Escandinávia, ja? - perguntei em tom tão cortante quanto gélido - Faça um bom proveito do seu reinado solitário.

Eu tive a satisfação de ver seu rosto se contorcer de dor apenas com as minhas palavras. Algo quebrou dentro de mim ao ver aquela expressão, mas não era nada que eu não pudesse suportar. Apenas mais cacos para amontoarem-se com a enorme pilha que eram os meus sentimentos, mais um golpe em meio a agonia. Ignorável. O rosto angustiado de Dinamarca seria a ultima visão que eu teria dele e isso me enche de amargura, pois naquele momento acreditei que eu nunca mais poderia ver o estúpido sorriso alegre e confiante que me era familiar.

Dei-lhe as costas sem hesitações e caminhei a passos firmes na direção de Suécia, ciente de que não havia mais nada a ser dito entre nós. Não olhei para trás nem mesmo uma vez, pois a paisagem atrás de mim já estava gravada para sempre em minhas retinas como lugar onde eu mais queria estar. Não queria tornar a vê-lo enquanto tivesse que deixá-lo. Eu caminhei com o queixo erguido e a postura rígida, quase de forma elegente, mesmo que estivesse sentindo o peso do mundo sobre os ombros.

Suécia lançou um olhar rápido para a casa atrás de mim, parecendo ligeiramente surpreso com a minha despedida fria. Estou ruindo por dentro, mas nem mesmo ele pode notar. Se um observador como ele não nota, eu não podia esperar que um estúpido como Dinamarca notasse. Doía. Eu continuava andando em ritmo constante, como se cada passo não custasse o esforço de arrastar o céu com os braços, como se eu não tivesse consciência dolorosa de que, a cada hora que passava, eu ficava mais longe de onde queria ficar.

Estava livre. Lágrimas desciam queimando meu rosto. Era o que meu povo queria. Minha garganta se fechou em agonia. Livre. Estava livre e seguro como há varios anos não estivera, sem mais opressões. Tempos prósperos aguardavam os noruegueses. Como nação, eu estava livre. Como humano, estava amarrado ao meu dever de nação. E não tinha o direito de exibir isso por fora, tudo acontecia em silêncio dentro de mim. Mas mesmo o mais forte de nós explode. Parei de andar. Suécia também parou, tranquilo, como se esperasse que eu fosse fazer algo como aquilo. Ele me encarou pacientemente. Eu o encarei de volta.

– Você viu, Sverige? - murmurei - Ele não moveu um dedo para me impedir. Ele acha que não precisa de mim, não é mesmo? Estúpido prepotente. Bror.... Seu idiota... - mas falar em voz baixa não foi o suficiente. Eu olhei para o céu cinzento e nublado acima de mim e berrei com todas as forças para o ar gelado: - SEU IDIOTA!

Giro a caneta entre os dedos, entediado. É apenas mais uma reunião infrutífera e desorganizada em que todos gritam uns com os outros e ninguém chega a um consenso. Varro a sala barulhenta com o olhar até dar com seu rosto, também fastiado. Ele sente-se observado e vira-se para mim. Nossos olhos se encontram. Ele sorri alegremente, como se nada no mundo o deixasse mais feliz que me encontrar ali do lado oposto da mesa, como se estivesse se divertindo infinitamente apenas por respirar o mesmo ar que eu. O sorriso familiar. Estalo a língua com impaciência e desvio o olhar sem alterar minha expressão, como se eu não estivesse pensando nele segundos antes, como se eu não me importasse.

Gostaria de poder ter a reunião para me distrair das lembranças, mas esta já virou um pandemônio sem tamanho. Suspiro, frustrado, e tento dizer a mim mesmo que lembrar daquela época é mais que doloroso: É inútil. Arrisco uma olhada pelo canto do olho para Dinamarca. Ele ainda está me observando. Gostaria que ele soubesse que, depois de todos esses anos, eu ainda estou esperando. Espero que ele venha me buscar e, desta vez, não torne a me deixar ir.


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Notas finais do capítulo

GYAHAHAHAHAA a Poteto fez isso, ela escreveu um drama! -shot- A Poteto adoraria que vocês deixassem suas opiniões a respeito, ia ajudar e muito esta novata a melhorar. Obrigada por ler! ♥