Absinthe escrita por Moira Kingsley


Capítulo 5
Capítulo 5


Notas iniciais do capítulo

Olá! Tive falta de inspiração hoje, por isso demorei um pouquinho a postar... Mas, está aí, tomara que gostem!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/240581/chapter/5

No menor espaço apreciável de tempo, as mãos da divindade de pé suaram. Ártemis tinha que tirar os olhos de Apolo. Pelo menos, tirar da mira de seu abdômen digno de ser esculpido. De uma forma forte, seu corpo ficou em chamas. Começou uma briga interna, mandando aquela Ártemis barulhenta parar de gritar o quanto o deus era sarado, forte e belo.

– Eu soube do real motivo da briga com Ares. – Forçou o olhar para seus olhos brilhantes com muito esforço e tentou soar despreocupada.

– Ah... – Apolo coçou a nuca, um pouco sem graça.

– Vim aqui para cuidar dos seus ferimentos. – Continuou a deusa, mirando a cabeça um pouco para cima a fim de indicar os cortes ainda não devidamente atendidos.

– Não se preocupe. Eu posso...

– É, sei. Você pode se cuidar sozinho porque é o deus da medicina e blá, blá, blá... – Interrompeu tentando quebrar o gelo. Aproximou- se lentamente, e sentou ao seu lado, ficando de frente para ele e de costas para a porta.

Era grande. Ao contrário do que a maioria poderia suspeitar, o quarto de Apolo não era dourado. Era um típico quarto de homem. Cheiro de madeira, móveis da cor de cascas de castanha. Paredes entre o verde e alaranjado, com pequenas lâmpadas, naquele momento apagadas, separadas e suspensas nas paredes, em fileira. Não pareciam fluorescentes e isso a fez lembrar que somente as estrelas clareavam o recinto, concedendo um clima íntimo demais. Isso fez com que Ártemis tivesse a vontade de correr e ligar as luzes.

Parecia que a aproximação era estranha para os dois há tantos anos separados. Apolo remexeu-se inquieto na cama. Ártemis olhou pela última vez em seus olhos antes de pescar um pedaço de papel úmido da pequena caixa ao seu lado. Pegou com delicadeza seu braço, onde tinha uma linha de sangue antigo e escorrido até seu cotovelo. Apolo olhou para o outro lado, em direção à janela. Mirava a alva cortina de tecido leve sendo levada e puxada pelo vento sereno. Queria poder ver o céu. Mas desejava milhares de vezes mais olhar nos olhos de Ártemis e só a vê-la como sua irmã.

Aquilo parecia sua sina. O amor sempre o daria as costas. O faria sofrer e implorar de joelhos por míseros dele. Mas no fim, seria jogado fora. Tantas mulheres ele dormiu pensando na deusa ao seu lado. Chegava a ser doentio. Entorpecia e o fazia corromper-se. Um amor trágico e impossível. Sempre selado a sete chaves. Fechou o punho no formato de uma bola por isso. Ártemis sentiu seus músculos do braço se contraírem. Estava os tocando e aquilo a fez tremer. Seria um erro estar ali? Fora puxada só pela culpa de tê-lo interpretado mal? Ou era mais que isso? Ela não conseguia decidir. Ou melhor, não queria. Tinha medo do que seus pensamentos e teorias iriam levar. “Concentra na ferida, Ártemis. Na ferida!”

– Não quer saber o que ele disse de você? – Ártemis pegou uma atadura e enrolou em seus bíceps. Apolo ainda olhava para a janela.

– Se me disser, é provável que eu decepe o que Ares tem de mais valioso. Então, em consideração a Afrodite, não fale. – Apolo riu baixinho.

– Obrigada. – Ártemis o olhou e ele virou para ver seu rosto. Ele estava com um ligeiro e atraente rubor. Apolo sabia como era difícil para ela pronunciar tal palavra. Principalmente para ele, o homem que estragou sua chance de ter uma família de verdade. Sabia que era por sua causa dela ter feito aquele estúpido juramento. – Deixe-me limpar isso aqui. – Ártemis se levantou e botou seus joelhos na cama para ficar da altura da cabeça de Apolo. Sua mão tocou-lhe a bochecha levantando a cabeça do deus com leveza e a deusa passou o lenço de sua pequena mão no corte ao lado de sua negra sobrancelha esquerda que jorrava um pouco de icor.

Com o toque e a imprevista proximidade, o perfume das flores silvestres que tanto sentia falta pareceu entrar e incendiar seus pulmões. Podia ver os lábios róseos tão perto, e tão longe ao mesmo tempo. Teve que conter-se fechando os olhos com força. Vendo isso, Ártemis temeu que estivesse o machucando. Afinal, não era nenhuma florzinha. Sabia que tinha mãos pesadas de guerreira.

– Estou fazendo muito forte? – Ártemis assoprou a ferida lentamente.

Por Zeus! Assim, ela não estava ajudando. Apolo tinha feito de tudo para se controlar. Entretanto, aquele ato, tão inocente para ela, fez com que a fera despertasse. A tensão aumentava dentro dele. O frio assopro não poderia acabar com as faíscas que o deixavam louco. Abruptamente, alcançou a mão que estava segurando tão docilmente sua bochecha. Apolo abria as órbitas elétricas, embriagado pelo desejo preso há tanto tempo. Depositou ali, um beijo.

Sem reação. Ártemis só deixou sua boca levemente aberta e ficou a fitar o que Apolo fez. Por que fez aquilo? E por que, por deuses, ela não estava possessa a ponto de agredi-lo? Não respondeu as perguntas mentais. Todavia, um turbilhão de emoções a atingiu. Passando por alguns nunca imaginados. O tempo pareceu pender pausadamente, deixando tudo em câmera lenta para que ela pensasse no que iria fazer a seguir.

– E-eu acho melhor ir... Está ficando tarde. Amanhã... Amanhã tenho que acordar cedo. Vou caçar! – Enfim as palavras saíram de sua boca trêmula. Ela se sentia arder. Seu rosto deveria estar rubro. Todavia, a mão ainda estava presa em outra firme e quente.

– Ártemis, eu...

– Boa noite, Apolo. – Falou depressa, arrancando sua mão da dele e teletranportando-se para seu próprio quarto.

Apareceu em seus aposentos, de costas para a cama. Colocou as mãos nas têmporas andando de um lado para o outro, atônita.

– Mas o que acabou de acontecer?! – Falou alto, sem acreditar nos fatos.

Caiu de vez na cama de costas, sem ao menos se trocar. Olhava para o teto como se esse fosse respondê-la. Fitou a mão direita, sentindo o calor e a eletricidade estagnada ali, sumindo. Arregalou os olhos, percebendo que estava achando aquela uma sensação maravilhosa. Não estava certo! Balançou a cabeça rapidamente, a fim de afastar o que estava sentindo.





_______________________________________________________________




Passadas leves. Arco em uma sucinta e infantil mão. A palidez guardava o ritmo brincalhão do sorriso de uma pequena deusa selvagem. Corria atrás de seu cervo sagrado. Seus cabelos descoloridos estavam presos em uma longa trança desarrumada. Batiam contra suas costas vestidas de uma camisa com dizeres divertidos de cor juvenil. Os olhos acrescentavam um olhar de criança para todo lugar. A graça da inocência a envolvia em um abraço familiar. Era sempre bom estar naquela forma. Era puro e tenro.

O sorriso de menina ilustrava o dia. As passadas eram saltos agora, pois suas pernas eram curtas. Olhava para seus pés, entretida com a cor de seu coturno de naquele dia. Azul claro. Adorava aqueles sapatos militares. Devia ter 365 pares. Eram eles ou os pés enterrados na terra.

– Onde você está? Eu vou te achar! – Cantarolou moleca, rodopiando e vociferando para os quatro ventos. Ainda estava rindo quando paralisou ao ver seu cervo ser acariciado por um deus dono de olhos pigmentados por cristais.

–Pode fazer o favor de soltar o meu cervo? – Perguntou com autoridade.

Apolo a olhou. Ela estava com aparência de criança. Odiava a ver com doze anos. Só evidenciava a perpétua castidade. Um muro protegido que não poderia jamais ultrapassar.

– Por quê? Ela gosta de mim, não vê? – Replicou ainda acariciando o animal e esboçando um sorriso perfeito.

– Ele. Veja os chifres. É macho. – Comentou apontando o chavelho. – Nem ao menos diferenciar um cervo de uma cerva consegue? Perdeu éons de existência fazendo o que, Apolo?

– Coisas mais excitantes do que as que você faz. – Disse convencido.

– É só isso que sabe fazer, certo? Depravações... Não cansa de ser assim? Você deveria crescer, sabe disso. – Falou agressiva. O deus a sua frente, olhando para baixo, pois Ártemis estava muito pequena em sua forma de criança, não pode fazer nada a não ser dar uma gargalhada sonora. Ártemis o olhou com escárnio, estreitando os olhos.

– Ah, perdoe-me, Ártemis. É que, simplesmente, não dá para te levar a sério nessa forma de menininha. – Desculpou-se tentando parar de rir, pondo uma mão na barriga. – Mesmo você sendo a garotinha mais linda que já vi. – Acrescentou.

– O que veio fazer aqui? – Perguntou sem graça pelo comentário.

– Primeiro, volte a ter sua forma normal, sim? É algo importante.

– Está bem... – Respondeu relutante. Sua áurea ficou mais intensa e, depois da fumaça prateada, uma Ártemis madura apareceu. Ficaram se olhando por dois segundos, até forçarem a observar um os pés do outro. Tinham se lembrado do ocorrido na noite passada. E o silêncio desconfortável reinou por um período até Apolo criar corajem em dizer:

– Ártemis... Dê-me uma chance? – Pediu com súplica nos olhos. Ao ver a incompreensão na face da deusa, prosseguiu. – Deixe-me ser seu amigo novamente. Tenho saudades de nossas longas conversas. Lembra-se? – Deu dois passos para perto e, ao mesmo tempo, Ártemis recuou. Isso o fez franzir o cenho em decepção. – Recebi uma proposta, hoje de manhã. – Pausou, engolindo em seco. – Uma semana. Eu e você, em Nova York.

– O quê? – Perguntou em voz grave em confusão.

– Eu quero isso. Quero, pelo menos, sua amizade. Quero você convivendo comigo de novo.

– Eu não vou passar uma semana sozinha com você. É um homem. Isso vai contra os meus votos. Além do mais... É você, Apolo. Não pense que pode chegar assim e me obrigar a sair com você por aí, fingindo sermos pessoas felizes! Quem foi que teve a insolência de ter essa ideia? – Exclamou impaciente.

– E isso importa? Eu vim aqui, implorar uma migalha de sua empatia e sou tratado dessa maneira! – Falou com amargura. – Onde está aquela mulher que conhecia? Você ainda tem um coração, Ártemis?

– Não lembra? – Perguntou friamente. – Você o destruiu.




Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Mereço reviews? *-* Sim, por favor!