Capítulo 5

“Estratégica mudança de alvo"

Somente quando conheceu Ares, Kurt se deu conta que seu antigo plano estava fadado ao fracasso.

Ele nunca conseguiria, por suas próprias mãos, controlar sequer um semideus e fazer dele um objeto de tortura para os deuses. Além disso, Ares lhe explicou que os olimpianos não eram tão sensíveis à ponto de se comover com o sofrimento de um de seus fiéis herois, mesmo lhes sendo gratos por todo o serviço prestado.

Foi nesse instante que o mortal percebeu que a parceria com Ares era vital se ele quisesse realmente se vingar, e não uma mera escolha como ele pensou que seria no momento em que se deparou com as órbitas de fogo que substituíam a íris do deus da guerra.

- Eu ainda não entendi o motivo pelo qual você quer se envolver nisso. Por que você trairia o Olimpo para ajudar-me em minha vingança? – Kurt perguntou seriamente desconfiado, suspeitando que fosse esta, uma armadilha.

- Oras, isso não vem ao caso Kurt. – Ares respondeu com um ar estranhamente divertido. Ele queria dar o assunto por encerrado, mas o olhar inquisidor que o mortal lhe direcionava fez com que o deus desistisse dessa ideia. Tentando encontrar as palavras certas, Ares pontuou.

- Digamos que eu goste de um pouco de agitação, entende. E também há outra coisa: desafiar um deus não é uma coisa muito inteligente, e Percy Jackson não se cansa de fazer isso. Foi aí que eu pensei “Por que não ajudar Kurt se sua armadilha cai justamente sobre quem eu pretendo me vingar?”

A tentativa de Ares em convencer com esse discurso surtiu o efeito esperado pelo deus, era isso que o próprio pensara. Kurt notou que, além dos motivos citados por Ares, havia alguma outra coisa que por algum motivo ele não mencionou, e pelo jeito não diria tão cedo. Por hora, ele apenas ficaria atento ás atitudes do olimpiano, tentando encontrar algum indício que denuncie o que ele esconde.

- Vamos voltar ao plano Kurt. Como eu havia dito, não é muito inteligente você atacar de imediato os seus alvos. É complicado reconhecer isso, mas eles acabariam com você antes que você piscasse os olhos pela segunda vez. Você precisa primeiro de uma isca, e então eles virão sem que tu precises fazer nenhum esforço. – Ares disse empolgado, mostrando a um Kurt pensativo o que fazer.

- Mas eu não quero envolver os outros nisso. A intenção é fazer os Três Grandes sentirem o que eu senti ao perder minha filha. – o mortal disse rangendo os dentes, à medida que se recordava da morte de Alliz, cinco anos antes. – ela agora teria 13 anos, e nada disso seria planejado se ainda estivesse aqui. Atena não fez nada pra proteger a própria filha da vaidade dos deuses! – ele exclamou irado.

- Chegou exatamente onde eu queria. A tão justa Atena – Ares fez aspas com os dedos – sequer levantou a voz para ir contra ao ataque de Alliz quando o mesmo foi proposto por Hades. Ela te avisou que a menina corria perigo, não foi? Mas não fez nada para ajudar.

- Ela veio até mim e aconselhou levar minha filha o mais rápido possível a um tal acampamento, mas eu lhe disse que isso estava fora de questão. Eu não iria me separar dela. E então, Atena simplesmente deu de ombros e disse que isso teria consequências e que ela não poderia fazer nada a respeito. Ela sabia do ataque que me fez um criminoso perante o mundo mortal e não fez NADA. – Kurt estava realmente exaltado. Ares parecia sentir fogos de artifício explodindo dentro de si.

Com um breve sorriso, ele murmurou.

- Por isso, o que acha de usarmos a filha de Atena, aquela que você viu em Montauk ontem, como isca para atrair os outros? Ela é namorada do filho de Poseidon, melhor amiga de Thalia – a caçadora, filha de Zeus -, e como se fosse a irmã mais velha do filho de Hades, Nico. Eles com certeza viriam desesperados, assim que descobrissem o rapto de Annabeth.

- É... pode ser que dê certo. – Kurt disse um pouco ressabiado com tal plano, mas Ares foi irredutível.

- Vai dar certo seu idiota! Lembre-se que eu posso arranjar alguns monstros para nos auxiliarem. Só tem uma coisa que eu devo ressaltar: eu não posso agir diretamente na execução, ou os olimpianos descobririam que sou eu que lhe ajudo, e isso seria muito ruim pra você. – Ares disse com o dedo indicador apontado para Kurt.

- Como os monstros vão me obedecer?

- Parece que seu ódio cegou sua inteligência Kurt. Eu cuidarei para que você seja o mestre deles. A garota é a arquiteta oficial do olimpo, uma vez que a morada dos deuses foi completamente destruída na guerra contra Cronos, há dois meses atrás. Você irá raptá-la quando Annabeth for supervisionar as obras, ainda essa semana. Não perderemos tempo.

- Bem, não adianta eu questionar nada, não é? Você já planejou tudo. Acho que seu plano é a nossa melhor chance.

- Um bom guerreiro deve ser, antes de tudo, um estrategista ousado meu caro. Atena vai pirar quando descobrir que sua filha preferida foi sequestrada, e ela mesma irá instalar o caos no Olimpo. E eu, vou assistir tudo de camarote. – um sorriso maligno brincou nos lábios do deus. As órbitas fumegavam e pareciam cada vez maiores à medida que Ares planejava a emboscada de Kurt.

O mortal apenas assentiu. Do modo de Ares ou não, ele daria o troco pela morte de Alliz.

Ares virou-se ainda sorrindo.No fim, a vingança seria dele, e não do próprio pai da garota. Se ao menos Kurt soubesse o real motivo da morte de Alliz, talvez seu ódio não fosse tão destrutivo. Atena tentou avisá-lo que a semideusa corria perigo, e o melhor lugar para ela era o Acampamento Meio-sangue, todavia, Kurt não quis ouvir e então o que dizia a profecia se concretizou.

Alliz era a criança proibida, que pereceu pela omissão de um mortal.