A Emboscada escrita por Lana


Capítulo 15
Cap.14 - Olhos cinzentos desesperadamente aflitos.


Notas iniciais do capítulo

Oi
Como de praxe, quem manda recomendação ganha capítulo dedicado. Dessa vez, a dedicatória vai pra Luna - ou Anna (Quadrilha ♥ haha') - porque eu adorei a recomendação! *-*
O capítulo está bem tenso, mas eu torço para agrada-los. Perdoem se houver erros ortográficos.
Boa Leitura



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Capítulo 14

“ Olhos cinzentos desesperadamente aflitos.”


Um jardim cheio de árvores baixas e crisântemos congelados se abria à sua frente. O vento soprava forte, tão audível que Annabeth soube que ali seria o lugar perfeito para se esconder de Kurt e esperar até que viessem busca-la. De alguma maneira, ela sabia que estavam à sua procura, e cedo ou tarde, Percy apareceria ali e tudo ficaria bem novamente.

Não por enquanto.

A filha de Atena entendia dos planos magicamente planejados pertencentes as criaturas gregas, mas do mundo mortal, infelizmente não tinha tido tempo de se inteirar. Ela deveria saber que os humanos não precisam de um motivo especial para buscar o poder, pois sua própria prepotência lhes diziam que seriam capazes disso, envoltos por um egoísmo exacerbado dividindo espaço com a pura maldade.

Até então ela não se deu conta, mas o sofrimento alheio satisfaz a alma de alguns mortais inescrupulosos, e aquele ser entendia bem disso. Ele aproximou-se sorrateiramente da garota, com as mãos escondidas nos bolsos e um gorro surrado por sobre a cabeça.

– Olá. – ele disse com um tom forçadamente amigável.

Annabeth pousou a mão em sua faca de bronze celestial no mesmo instante, por puro instinto. Antes de responder ela olhou para ele e analisou suas feições: rosto longínquo, olhos castanho-avermelhados e barba por fazer. Seriam alguém comum, mas a semideusa notou o nervosismo exalando dele através do tilintar dos dentes. E ainda havia a corrente em seu pescoço com o símbolo da Ku Klux Klan.¹

Annabeth lembrou-se de vê-lo um dia antes quando caminhava exaustivamente até a entrada da pousada. Naquele momento em específico, ela estava cansada demais para temer o sorriso sádico que tal mortal lhe lançava.

Como os detalhes denotavam o perigo crescente, uma corrente de vento gélido foi o suficiente para que Annie estremecesse diante do rapaz mal encarado.

– O frio é rotineiro por aqui. Imagino que esteja só de passagem. – Ele tentou puxar assunto. Annie apertou ainda mais a mão sobre a adaga e virou-se pra voltar à pousada. Com apenas um sussurro espalhado contra o vento, começou a andar.

– Preciso ir. – Foi o que disse. Antes que desse o próximo passo, sentiu uma mão apertar fortemente seu braço e outra tapando sua boca. Ela sacou a adaga, todavia, não conseguiu fazer qualquer movimento, pois já estava imobilizada.

– Não tente nada garota, será muito pior. Nós só vamos nos divertir um pouco. – ele disse com a boca muitíssimo perto dela, de modo que mesmo que houvesse outra pessoa ali, somente Annabeth escutaria.

O pânico assaltara Annie. Seu corpo paralisou com a tensão invocada pelo mortal que no exato momento lhe causava arrepios de pavor. A adaga encontrava-se suspensa em uma das mãos enquanto ela era arrastada pelas imediações do local, até pararem diante de uma pequena tapera na entrada de um dos bosques da montanha de Highlands.

Ela nunca imaginou a hipótese de passar por algo sequer parecido, e apenas pensar no que poderia acontecer lhe fazia chorar silenciosamente. Ela percebeu as intenções daquela criatura vil.

Adentraram o local e sem demora, o homem trancou a porta. Annabeth ainda tomou impulso e correu na tentativa de escapar tomando as chaves de sua mão, mas agora ela não tinha nem sua faca para se defender, já que a mesma havia caído sobre a neve pelo caminho. Quase que sem esforço, o mortal a interceptou e jogou-a em cima de um acolchoado, encostado na parede.

Com o medo a correr por suas veias, ela mais uma vez levantou-se para usar alguma das técnicas de luta que aprendera no acampamento, pois como boa filha de Atena, ela não desistiria fácil. Mas o mortal somente a empurrou contra a parede fazendo-a bater a cabeça e ensaiar uma concussão. Em seguida, investiu todo o seu peso contra ela.

O terror era perceptível em seus olhos, e a garganta de Annabeth parecia estar travada, impedindo-a de emitir qualquer som que não fosse o choro. A essa altura, ela suplicava aos deuses por ajuda, assustada demais para manter-se racional como sempre fora em todos os momentos.

Ele agarrou os braços da garota com tamanha força que a fez se contorcer de dor, e pôs-se a amarrá-los junto à pequenos ganchos acoplados na parede de alvenaria. Recobrando parcialmente os sentidos, Annabeth começou a debater-se incessantemente tentando acertá-lo ou ao menos se soltar das cordas que lhe prendiam os braços. Acertou um chute na perna de seu atual sequestrador, mas nada que o fizesse parar.

Os gritos agora se descolavam de suas pregas vocais e saiam desesperados. O choro embargava-lhe a visão e ela mal enxergou quando o ser repugnante aproximou-se dela com os olhos desejosos. Ele segurou firmemente seu rosto tentando beijá-la, mas Annie trancou a mandíbula e pressionou os olhos resistindo ao atentado.

Ainda se debatendo contra ele, ela conseguiu afrouxar o nó de uma das mãos e tentava soltar a outra enquanto o homem explorava seu corpo com ambas as mãos. Em certo momento, Annabeth ainda gritava implorando por ajuda enquanto tinha sua blusa rasgada grosseiramente.

Tentando despi-la a qualquer custo, ele se descuidou por um momento e Annabeth conseguiu acertar um chute em sua partes íntimas fazendo-o abaixar-se de dor e dando algum tempo para que ela tentasse soltar a mão ainda presa. Antes que ele pudesse se recuperar, a porta fora escancarada - Megan e seu marido Arnold Armstrong, estavam ali.

Um onda de alívio inundou Annie. Enquanto Arnold afugentava o rapaz, Megan correu para socorrer sua irmã mais nova, levando-a para a saída do local no mesmo momento em que a polícia corria tapera adentro.

Annabeth sucumbiu ao cansaço e ao desespero e mais uma vez desmaiou diante de Megan. Os cabelos embaraçados e as roupas sujas e rasgadas não eram tão desoladores quanto a face machucada e a expressão de nojo que a garota fazia mesmo inconsciente.

– Ela precisa ir a delegacia conosco, para os procedimentos padrões de instauração do inquérito. – o delegado saiu da tapera seguido pelo rapaz que cometera o crime, que mantinha um semblante transtornado e estava devidamente algemado e escoltado.

– Mas Annabeth está desmaiada e sem condições. – Megan argumentou, calma.

– Temos amparo médico por lá, e é necessário que ela faça o exame de corpo de delito, para constar como prova nos autos. Precisamos colher o depoimento dela também. Aliás, o de vocês dois também é necessário. Vamos. – ele disse e saiu andando com os pés afundando sobre a neve densa.

Arnold carregou Annabeth até a entrada da pousada, quando a mesma pareceu recuperar-se. Os hóspedes estavam todos do lado de fora acompanhando os procedimentos da polícia no local, enquanto a garota ainda chorosa era encaminhada para a ambulância junto com Megan, enquanto seu marido seguia junto ao automóvel da polícia.


***

– O senhor tem noção da gravidade do crime que cometeu? – o delegado David Marshall perguntava a Aliston Bradford em seu gabinete, algumas horas depois de tê-lo preso em flagrante delito.

O indiciado mantinha a cabeça baixa e as mãos cruzadas em cima do abdômen. Ele brincava com os dedos como se todo aquele trâmite fosse entediante o bastante e nada interessasse a ele.

– Prefere ficar em silêncio, Sr. Bradford? Saiba que o que cometeu foi crime de estupro², ou desconhece que essa prática é extremamente repudiável na sociedade? Encontramos fragmentos de sua cútis debaixo das unhas da vítima. Você a conhecia? – ele perguntou sério.

– Não. Só a tinha visto um dia antes na pousada. Se quer saber o motivo, bem, é só olhar em volta: não é comum garotas tipicamente californianas por aqui. – ele deu de ombros.

– Então o Sr. assume ter atentado contra a liberdade sexual da senhorita Chase? – o delegado foi mais uma vez incisivo.

– Faça seu próprio julgamento. Investigue, não é esse seu trabalho? – Aliston continuou com seu tom sarcástico, com a voz quase impassível.

– Colhemos o depoimento dela e das duas testemunhas, pode ter certeza de que faremos isso e o senhor ficará preso enquanto averiguamos o crime. Pode ter certeza de que não sairá impune.





_________________________________________

¹ A Ku Klux Klan é uma organização racista dos Estados Unidos que busca o repúdio e discriminação das pessoas em detrimento de sua religião, cor, raça, opção sexual e outros. Mesmo com o enfraquecimento considerável desse movimento, ainda hoje a KKK existe e conta com cerca de três mil membros. Ainda nessa história haverá mais detalhes sobre esta prática preconceituosa.


² O Estupro – que vem do latim stuprum - é tipificado no Código Penal Brasileiro no artigo 213, com a redação: “ Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a ter conjunção carnal ou a praticar ou permitir que ele se pratique outro ato libidinoso. Pena: Reclusão de 06 (seis) a 10 (dez) anos.

Explicando melhor, com a lei 12.015/09, não é necessário que haja conjunção carnal para que se configure o crime de estupro. Quando a vítima possui idade inferior ou igual a 14 anos (não é o caso de Annabeth, claro), o crime possui uma circunstância agravante, por ser estupro de vulnerável.





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Notas finais do capítulo

É a primeira vez que escrevo algo com essa conotação, então preciso saber o que realmente acharam...
Ficou bom??
Comentem pessoal :)
Bjs



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