Destino escrita por flavia_belacqua


Capítulo 5
Capítulo 5




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Capítulo dedicado à Gui_Lion, Maylaila Blak e Looh, que comentaram.

“Nobody said it was easy

(ninguém disse que seria fácil)

No one ever said it would be this hard

(ninguém jamais disse que seria tão difícil)

Oh take me back to the start

(Oh, leve-me de volta ao começo)”

Coldplay - The Scientist (tradução livre)


Naquela noite Harry estava jantando no Salão Principal pela segunda vez desde que chegara ao passado. Ele observou os colegas sentados ao seu redor. A maioria estava morta em seu tempo, ou estaria em breve. Doeu-lhe pensar assim sobre Lupin também, mas ele sabia que era uma possibilidade bem grande. Já Rabicho... um prazer selvagem passou por ele enquanto pensava em em tirar a vida do rato. Se assustou com a violência de seus pensamentos, e olhou para o menino desajeitado que comia com rapidez diante de si. Não pensou, não quero matá-lo. Ele ainda não fez tudo isso. Não traiu seus pais. Ou será que já? Lembrava-se de ter ouvido Remus comentar que foi no sétimo ano de Hogwarts que Peter começara a traição. Decidiu ficar de olho no garoto. Se conseguisse impedi-lo? O que aconteceria? Pela primeira vez desde que chegara nesse mundo inexistente no seu próprio, cogitou a possibilidade de mudar tudo. Alterar o passado de forma a alterar o futuro. Acabar com o mal antes mesmo de começar. Apesar da tentação, Harry hesitou. Ele fora alertado por Hermione no terceiro ano sobre os perigos da viagem no tempo. Bruxos que acabaram com suas próprias existências, que causaram consequências inimagináveis. Mesmo assim, nós fizemos. Nós voltamos e salvamos a vida de Sirius e a de Bicuço. Harry sabia a proporção do que estava pensando em fazer. A Guerra contra Voldemort alterou permanentemente aspectos fundamentais da sociedade em que vivia, e sabe se lá o que aconteceria se pequenas coisas fossem mudadas. Percebeu com um aperto no peito que se seus pais não tivessem morrido naquele 31 de outubro, Voldemort não teria sido parado durantes todos os anos até seu quarto ano. Quantas pessoas morreriam nesse período de tempo? Harry olhou sofregamente para o casal conversando em sua frente, e soube que teria que sacrificá-los em nome das centenas de pessoas sem rosto que morreriam naqueles 13 anos de paz. Entendeu a ironia do que pensara quando conversara com Dumbledore. “, Como pedir que ele carregasse o peso de saber o destino cruel de pessoas que ele conhecia e gostava sem lhe permitir alterá-lo? Era pedir demais a qualquer um.” Lembrou Harry, e quase sentiu vontade de rir. Quis poupar o professor, sem se dar conta de que aquele fardo lhe cabia. Além disso, que outras consequências inesperadas aquilo traria? Então lhe ocorreu uma coisa. Todas as consequências negativas que poderiam ocorrer eram por causa da Guerra. Se ele a terminasse aqui em 1977, tudo poderia ser evitado. Mas como? Ele só sabia onde estavam as Horcruxes em seu próprio tempo e tinha o meio para destruí-las somente lá, também. A taça de Lufa-Lufa provavelmente estava no cofre, o diário na Mansão Malfoy, o anel na casa dos Grant, o medalhão ainda na caverna, Nagini provavelmente já era uma. O problema principal era a sexta Horcrux, que ele nunca descobrira. Definitivamente, algo a se considerar. As possibilidades eram infinitas e... Teve os pensamentos interrompidos por James.

– Ainda pensando nos testes, Novato?, ele perguntou de bom-humor.

– Não, não. Acho que não fui tão ruim., respondeu com um ligeiro sorriso.

– Jura? Quantos minutos você aguentou no joguinho do Lewis antes de ser atingido, dois? – perguntou Sirius malicioso, claramente querendo provocar.

– Não me lembro de você ter ido muito melhor, Sirius. Acho que deixou a pena cair, não foi? – defendeu-o Lupin, dando um meio sorriso.

Sirius fechou a cara, mas refez a pergunta a Harry.

– Na verdade, não fui atingido nem deixei a pena cair., Harry se permitiu retrucar para o padrinho.

– Sério? Como? – Lily perguntou, abrindo-lhe um grande sorriso.

– Acertei o professor Lewis. Não acho que ele ficou muito feliz comigo.

– Harry!, a menina disse escandalizada.

– Eu deveria ficar parado lá deixando ele me atacar, Lily? Eu não ia aguentar muito tempo naquele ritmo... Fiz a única coisa que me passou pela cabeça. – Harry respondeu quase se desculpando.

– Pensando assim... Bem, só temos que esperar os resultados.

– Ah, duvido que você leve uma nota baixa. Ninguém explica as regras, então teoricamente não era proibido. Mas afinal, quantos minutos foram?. – James se pronunciou. Ele olhava para Harry atentamente. Não criticando, nem elogiando. Avaliando.

– Oh, eu não sei bem. Pra mim pareceu uma eternidade. Lewis disse que foram vinte minutos, mas acho que ele exagerou.

– Wow, vinte minutos! Nunca vi ninguém que ficou tanto tempo. – Peter disse, a voz quase trêmula. Harry fechou as mãos em punho, mas se forçou a abrir um meio sorriso, esperando que deixassem o assunto de lado.

Atendendo às expectativas de Harry, quase ao mesmo tempo o jantar acabou, e se dirigiram ao Salão Comunal. No caminho, Lupin arrastou Sirius – protestando sem parar – e Peter para a biblioteca, para terminar um trabalho de Transfiguração. James, Lily e Harry cruzaram com um rapaz de cabelos escuros e oleosos com um nariz adunco em um corredor deserto. Harry o reconheceu imediatamente como Snape, quase pôde cortar a tensão com uma faca.

Eles tinham acabado de se cruzar, quando Harry sentiu a vibração do ar característica de um feitiço em direção a eles. Com uma sacudida do braço desembainhou a varinha do coldre por baixo da manga e ergueu um Feitiço Escudo quase sem pensar. Snape estava parado em posição de duelo, a varinha em riste.

– Arranjou mais um fã, Potter? – o rapaz riu, ácido. – Veja, ele até imita o seu cabelo...

Lily parecia ter acabado de engolir um limão, e James abriu a boca para responder, mas Harry interrompeu.

– Meu nome é Harry Granger e não, não sou o que você chama de “fã” do Potter. E você, quem é? Não vejo o por que do seu ataque gratuito.

– Severus Snape. Bem... Não é exatamente gratuito. Andar com uma sangue-ruim já é motivo suficiente para ser punido, não acha, Granger?

Parecia que James tinha tido o bastante. Ele sacou a varinha e começou a lançar maldições para Snape. Harry viu que o duelo estava ficando fora de controle, e olhou para Lílian buscando auxílio. Ela se encostara em uma parede, e não dava sinais de se mover.

Decidiu interferir. Harry se meteu entre os dois, pedindo que parassem. Ao ver seus apelos serem ignorados, ele se irritou.

– Eu disse chega! - ele ergueu o escudo mais forte que pode, e arremessou-os no ar. – Daqui a pouco os corredores vão lotar e todos nós vamos pegar detenção. Rixas tem um modo e lugar certo para serem resolvidas, e o dessa certamente não é assim.

James se levantou e foi para o lado de Lily. Ele parecia envergonhado. Snape, por outro lado, só furioso. Ele pegou novamente a varinha e parecia prestes a atacar. Harry se aproximou dele, e disse:

– Eu não guardo ressentimentos deste conflito, e espero que você também não. Mas se você abrir a boca para ofender Lílian de novo, isso não vai acabar em uma briga de corredor. 

Harry saiu, Lily e James o seguiram até o Salão Comunal em silêncio. Remus, Sirius e Peter já estavam lá, e imediatamente perceberam algo errado.

– Que aconteceu, Prongs?

– Snivellus. Pra variar. – dois meninos extraordinariamente parecidos se jogaram nas poltronas, ao mesmo tempo. – Ele começou a atacar do nada e a gente começou a duelar. Harry nos fez parar.

Quando Harry ouviu seu pai dizer seu nome pela primeira vez, o coração pulou uma batida.

– Mas por que diabos você fez isso, Granger? Você nem nos conhece e já sai se metendo em tudo! Que merda, você não sabe nada sobre Snivellus ou mesmo sobre a gente! Seu maluco, que direito você tem de... – Ele não pôde continuar, por que Lílian o interrompeu, mais furiosa ainda:

– Como você não se deu o trabalho de perguntar, foi a mim que Severus ofendeu! James podia ter pego uma detenção por muito tempo, e perdido todos os preciosos pontos que vocês ganham com Quadribol! Sirius, Harry fez o que eu não tive bom senso suficiente pra fazer, e você devia agradecê-lo por salvar a pele do seu melhor amigo! – mesmo a pose de Sirius caiu quando ela começou a falar mais e mais alto. Ele logo se recuperou, ao contrário de Harry.

A dor da perda do padrinho ainda era uma ferida aberta no peito dO Menino Que Sobreviveu. A figura mais próxima do que era um pai, a única família que tinha. Sirius significava o mundo pra ele, e ele se foi. E agora... bem, agora ele estava gritando que ele era louco. Ele viu todas aquelas pessoas que marcaram tão profundamente sua vida. Todas jovens e ignorantes, sem saber o que iria acontecer, no que iriam se tornar. Como seriam todos destruídos, de um jeito ou de outro. E ele não pode aguentar mais. Levantou-se bruscamente, e foi para o dormitório sem dizer uma palavra.

Sentado na cama, ele olhou o céu e se sentiu imensamente solitário. Sentiu a cama cedendo sob o peso de alguém sentando ao seu lado. Viu os cabelos ruivos pelo canto do olho, mas não se moveu.

– Sirius estava errado, Harry, ele fala sem pensar e...

– Não, ele estava certo Lily. Eu não conheço vocês. Nenhum de vocês. Não tenho o direito de... interferir. – A menina percebeu que havia mais por baixo dessas palavras do que ele realmente disse. Sem saber o que fazer, perguntou:

– E quem você conhece, Harry? Você tem amigos, na Academia de Londres?

– Tenho. Amigos... não sei se é a palavra certa. Parece mais do que isso. Ou talvez seja exatamente essa a palavra correta. – ele sorriu verdadeiramente pela primeira vez em algum tempo ao pensar neles.

– Como você os conheceu? – Ela parecia interessada de verdade no que Harry tinha a dizer. Ele olhou nos olhos idênticos dela e começou a falar.

– Bem, meus pais morreram quando eu tinha um ano de idade. Eu fui criado pela irmã de minha mãe e pelo marido dela. Eles são trouxas, sabe, e realmente não aceitavam a magia. Minha tia sempre teve inveja da minha mãe, e descontou isso em mim. Enfim, quando eu fiquei sabendo que era um bruxo, eu estava completamente sozinho nesse mundo novo. O primeiro amigo que eu tive foi o professor que me levou a carta da Academia. No trem da escola, eu conheci o Ron, ele sentou na cabine comigo. Ele é meu melhor amigo, mas não consegue lidar com algumas situações. E tem a Hermione. Nós não viramos amigos de cara, e Rony a detestava no começo do primeiro ano. Ela é a pessoa mais inteligente que eu já conheci, e ela estava meio que ansiosa demais para provar isso, entende?

Lily assentiu. Ela conhecia a sensação.

– Então um dia Rony disse uma coisa realmente maldosa, e fez Hermione chorar o dia inteiro no banheiro. Mas sabe-se porque cargas d’agua um trasgo conseguiu fugir de um dos prédios e foi bem para o banheiro onde ela estava. Nós não podíamos simplesmente fugir, então fomos lá ajudar... No fim, o trasgo desmaiou com uma porretada de Rony, com a minha varinha enfiada em uma narina, e todos nós perdemos pontos. - ele sorriu com a lembrança - Mas viramos amigos desde então, e ela ficou do nosso lado em todos os momentos. É engraçado, por que nos chamam de “Trio de Ouro”. Eu nunca realmente entendi o apelido, mas eu posso ver por que as pessoas gostariam de ter uma amizade como a nossa. Eles são as pessoas mais importantes pra mim e já me provaram um milhão de vezes que fariam qualquer coisa.

Lílian observou-o falar sobre os amigos e a família e sentiu o coração apertar no peito. Que tipo de família ele tinha se ele nem podia considerá-la assim? E também por um sentimento de... inveja. Era inveja daquela amizade que parecia mais forte do que qualquer coisa. As palavras dele tinham uma intensidade que ela não conseguia entender. “Já me provaram um milhão de vezes que fariam qualquer coisa”, mas o que teriam que provar? Não fazia sentido, e mais uma vez Lily percebeu que havia mais naquela história do que Harry estava disposto a contar. Sou a primeira amiga dele aqui, mas no fim das contas ele me conhece faz dois dias. Não vai derramar a história inteira da sua vida pra mim., pensou.

– Mas por que você veio pra cá? Se você tinha os dois com você na Academia de Londres?

– Não foi exatamente minha escolha, e bem, eles vão se virar bem sem mim. Eu espero. – o olhar de Harry perdeu o foco por alguns instantes, como se estivesse pensando em coisas muito além da compreensão de Lily.

– Me conte mais sobre eles. Tipo, você me contou como se conheceram, mas não como eles são.

– Deixe-me pensar. Vou começar com Ron, ok? Ele é ruivo, magro e bem alto, e ele tem um monte de irmãos. A família dele é a mais incrível que eu já conheci, mas eles não tem muito dinheiro. Ele é meio complexado por causa disso. Ele é nervoso e às vezes... bem, houve situações em que eu realmente precisava dele comigo e ele não estava. Mas no fim, sempre acaba voltando. Ele é engraçado e é o melhor estrategista que eu já vi. Pode ganhar uma partida de xadrez jogando comigo e com Hermione ao mesmo tempo de olhos fechados. Acredite, nós já tentamos. – ele riu e Lily riu junto, tentando imaginar a cena. – e a Mione... já disse que inteligente é eufemismo pra ela. Ela é quem coloca eu e Ron no lugar certo, mas de vez em quando temos que colocá-la no errado também.- Lily riu mais uma vez – Ela costumava ser muito certinha, mas nós fomos uma má influência. Agora quando ela mete uma coisa na cabeça, não tem regras que a segurem.

As perguntas de sua mãe fizeram Harry refletir sobre sua amizade com Rony e Mione. Ele se lembrou dos muitos momentos perigosos que passaram juntos, e não conseguiu se lembrar de nenhuma hesitação, nenhum receio. Todos eles identificavam a necessidade de fazer alguma coisa. Ron descobria o que tinham que fazer, Hermione como fazer. E Harry fazia.

Um organismo só, constituído por três partes diferentes. Eram coração, cérebro e alma.

Lílian percebeu que a conversa chegara ao fim, e Harry estava imerso em pensamentos. Ela se despediu e sem esperar resposta, saiu silenciosamente do quarto.



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