Destino escrita por flavia_belacqua


Capítulo 11
Capítulo 11




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Capítulo dedicado à joseuzumaki, Andi, warick, Looh, Gui_Lion, Thaís Peverell, Maylaila Black, mia_kcullen, Sakura, Ana Black Salvatore, Lilá Brown, Paulinha_eyva, brunadanih e Bárbara Cristina, que comentara. Valeu!

Em relação à enquete, decidi que Ron e Hermione não vão voltar. Mas me surpreendi com a quantidade de sugestões e opiniões, e agradeço sinceramente a todas elas. Obrigada!


Ainda estão enterrados debaixo da cama

Desaparecidos, generais de pijama

Estão bem guardados no fundo do armário

Seqüestradores e seqüestrados

Ainda vão todos voltar e vão voltar todos juntos

Ainda vão todos voltar para assombrar o mundo”

Titãs - KGB

            Harry pela primeira vez em muito, muito tempo, acordou no dormitório dos garotos do sétimo ano. Ele olhou o teto familiar, ouviu as respirações pesadas e roncos dos outros garotos, o cheiro de grama que o vento trazia pela janela aberta. Apreciou o contato macio do travesseiro contra a nuca, o peso confortável do cobertor.  E sorriu. Verdadeiramente, ele exibiu os dentes para o vazio, sorrindo de alegria genuína. O sentimento brotou nele como uma erva-daninha, e ele sentiu como se pudesse cantar. Simplesmente porque ele acordou em uma cama confortável, prestes a ter um primeiro dia de aula. Porque ele tinha começado a fazer amizade com pessoas que ele amava, porque ele ia ter uma oportunidade de fazer tudo de novo. Mesmo que não desse certo, mesmo que tudo falhasse, ele estava feliz por existir. Por estar vivo.

Levantou-se e percebeu que era cedo demais para que os outros garotos já estivessem acordados. Tomou um banho lento, observando a água tingida de sangue que escorreu do ferimento à faca cair pelo ralo. Aparentemente, a faca que Belatrix usara era envenenada, e não havia nada que Madame Pomfrey pudesse fazer. Ia ter que sarar na lentidão do modo trouxa, prolongando o sofrimento. Mas Harry não se importou e desceu para o Salão Comunal depois de refazer o curativo e vestir a primeira roupa que alcançou. Lily já estava lá, terminando um ensaio de Trato das Criaturas Mágicas de última hora. O rapaz sentou-se ao lado dela, observando enquanto ela franzia a testa de frustação, tentando escrever no pergaminho.

- Ah, eu desisto! Não consigo achar essas coisas em livro nenhum! O Professor Kettleburn devia ter pelo menos dito aonde consultar!, disse largando a pena com violência na mesa, espalhando tinta em todo lugar.

- Wow, calma aí. Sobre o que é o trabalho?

- Acromântulas. Bichos imprestáveis e horríveis! Para que alguém ia querer criar uma aranha gigante e fatal?, explodiu, deixando o temperamento levar a melhor, fazendo Harry rir.

- Alguém está estressada logo pela manhã, uhn? Posso ver? Talvez eu possa ajudar., perguntou de bom-humor, e a menina estendeu o pergaminho de cara fechada. Harry acenou com a varinha em cima dele, retirando os respingos de tinta molhada. O garoto leu a redação, e foi sua vez de franzir a testa.

- Credo Lily, de onde você tirou que o tamanho máximo é dois metros e meio? E que eles comem pequenos animais?, disse, surpreso. A garota bufou e mostrou um livro-texto à sua frente com algumas passagens marcadas.

- Eles deviam verificar a bibliografia que passam para os alunos, não?, comentou com meio sorriso.

- Na verdade... o professor não passou esse livro. A redação devia ser baseada no que ele falou em aula e, bem, eu não estava lá, então tive que improvisar com esse livro do século passado., Lílian falou, mas pareceu constrangida demais só por ter matado aula.

- Hum, e o que a senhorita estava fazendo enquanto devia estar na classe, srta. Evans?

- Isso não vem ao caso! Acontece que James tinha um tempo livre antes da aula e acabamos em uma sala vazia e... isso não é da sua conta!, disse rápido, corando progressivamente. Harry ficou dividido entre o nojo e a diversão, rindo alto. Ela tentou bater nele, e ele segurou seus pulsos com uma das mãos, impedindo-a. Fez cócegas na menina, que chutava e gritava, tentando se soltar, rindo loucamente. Quando ele finalmente desistiu e a soltou, ambos estavam ofegantes e corados, às gargalhadas.

- Só porque você é adorável, srta. Evans, vou lhe ajudar a cobrir seus crimes.

- Eu sabia que você não resistiria ao meu charme., disse jogando os cabelos ruivos por cima do ombro, e os dois riram novamente. Harry pegou a pena e escreveu o texto com facilidade, entregando-o para que ela passasse a limpo alguns minutos depois.

“Acromântula é uma aranha gigante e monstruosa coberta de pelos negros e grossos pelo corpo, pinças perigosas e afiadas e pernas que podem chegar até quatro metros e meio. Os primeiros espécimes foram encontrados na floresta tropical da ilha de Bornéu, aonde se acredita que teve origem. As pinças produzem um estalo alto, que serve tanto para comunicação quanto assustar a presa. Possuem linguagem própria mas são capazes de aprender outros meios de comunicação, como a língua humana.

A fêmea da espécie atinge um tamanho maior do que o macho e é capaz de botar cem ovos brancos ou transparentes e grandes por vez. Os filhotes demoram em média de seis a oito semanas para saírem dos ovos, cuja comercialização é proibida e punida severamente.

Acromântulas são carnívoras, preferem presas grandes e são extremamente organizadas, mas apesar disso possuem forte senso de responsabilidade e hierarquia familiar bem definida. São muito leais, e por isso acredita-se que estas criaturas foram criadas pelos bruxos com a intenção de que guardassem seus tesouros, como grande parte dos animais criados pelos bruxos. A espécie é indomável e muito perigosa tanto para humanos quanto não-humanos, e cada vez mais rara, embora alguns espécimes possam ser encontrados na Europa e América do Sul.”

- Uau Harry, não sabia que era especialista em Criaturas Mágicas.

- Não sou, mas já tive alguns encontros desagradáveis com acromântulas. Não são exatamente gentis.

Há essa altura, as outras pessoas do dormitório já começavam a acordar. Remus, o mais responsável dos Marotos, já estava de pé e sentou-se ao lado dos dois quando Harry disse a frase.

- Sério? Como diabos você foi se encontrar com uma acromântula?

- Eu e meu amigo Ron estávamos nos esgueirando na Floresta da Academia uma vez, e nos perdemos completamente. Lembramos que o guarda-caça tinha dito que se nos metessemos em apuros no meio da mata era para “seguir as aranhas”. Depois daquele dia, nunca mais confiei nele.- disse rindo – Achamos umas aranhas andando em fila, e começamos a segui-las. Acabou que no fim estávamos em uma caverna correndo de aranhas gigantes e carnívoras que tentavam nos comer. Acho que Ronald nunca se recuperou completamente.

Os três riram alto da história, mas Remus sentiu que havia algo errado com aquilo. Que tipo de guarda-caça previne os alunos para “seguir as aranhas” ao invés de dizer “não vá a Floresta”, ou coisas assim? Lupin sabia que o garoto não contara toda a verdade, mas optou por não se envolver. Ele mesmo tinha segredos demais para julgar alguém por mantê-los, e além disso, não estava disposto a arriscar a recém-feita amizade com Harry Granger por uma bobagem. Desde antes do sequestro, Remus o achava intrigante. Por ser um lobisomem, muitos de seus sentidos foram alterados, melhorando sua percepção das coisas ao seu redor. Combinado com sua inteligência acima da média, Lupin era uma pessoa excepcional, e reparara em muitas coisas sobre Harry que os outros não percebiam. Como ele demorava um segundo a mais do que o normal para responder um chamado, como ele se encolhia ligeiramente quando alguém chegava perto demais, como procurava nunca estar no centro das atenções. Ele inicialmente atribuiu isso à uma auto-estima baixa ou infância difícil, mas também notou que Harry agia o tempo todo como se estivesse sendo observado. O garoto sempre media as palavras quando falava com estranhos, como se cada frase pudesse ser publicada no jornal do dia seguinte. Como ele tinha um senso de auto-importância, como se estivesse acostumado a ser criticado, mas com certeza da razão. No todo, ele era um interessante objeto de estudo. Lupin refletiu sobre isso no caminho para o café da manhã, acompanhado de seus amigos.

            Todos os Marotos, Lily, Alice e Harry estavam sentados na mesa da Grifinória, conversando amenidades e atualizando Harry sobre os assuntos que estavam estudando. Estavam todos tomando quase as mesmas matérias, com algumas exceções aqui e ali. A primeira aula era poções, de modo que se dirigiram as masmorras. O professor Slugorn era tolerante, e todos andaram vagarosamente, quase passeando. Já na classe, o professor pareceu interessadíssimo em Harry, adorando a oportunidade de conhecer o rapaz que escapou dos Comensais da Morte. Ele não desistiu mesmo quando Harry fracassou miseravelmente em sua poção, fazendo com que Lily se divertisse imensamente com seu insucesso, sua própria poção perfeita à sua frente.

            Na aula de Transfiguração, Harry entendeu como os Marotos tinham se tornado animagos ilegais. Eram simplesmente brilhantes naquela matéria, se destacando dos demais. Mesmo Peter era talentoso para o assunto. Harry olhou-os, sorrindo, e pensou que valia a pena ter sido mandado para o passado só para ter a chance de conviver com eles um pouco. James era brincalhão e orgulhoso, quase metido. Mas tinha um excelente coração, e era extremamente justo. Sirius era irreverente e engraçado, arrogante. Era corajoso, e sua presença era inevitavelmente notada aonde quer que estivesse, com um carisma natural que poucas pessoas possuíam. Lupin era calado e introvertido, só se soltando quando estava longe de outras pessoas. Tinha um senso de humor ácido e certeiro, que fazia com que ganhasse qualquer discussão com classe. Pettigrew era nervoso e irritadiço, mas de alguma forma sempre sabia o que falar na hora certa. Vivia à sombra dos outros, mas possuía uma personalidade forte que poucos percebiam. Lílian via nas pessoas o que havia de melhor nelas, sempre, e tratava todos com amizade e consideração. Tinha uma estranha tendência a chorar facilmente, mas era igualmente inflamável. Ela ia de 8 a 80 em apenas um segundo. Alice era surpreendente também. Quem só a conhecia de vista tinha a impressão de que era simpática e sem-graça, mas convivendo com ela, Harry viu uma mulher de convicções e ideais muito bem formados para uma adolescente, mostrando uma personalidade e maturidade precoce. Por outro lado, era de risada e sorriso fácil, tornando-a muito agradável de conversar.

            Na aula de Defesa Contra As Artes das Trevas, Harry estava um pouco nervoso. O pouco que se lembrava do professor Lewis o fazia ficar inseguro, temendo e esperando aquela aula de forma contraditória. Porém, o professor não pareceu sequer notar o garoto sentado no meio das carteiras. A aula dele era bem informativa e organizada, sempre dando dicas vindas de experiências pessoais, combinando teoria a prática. Era tão boa quanto as aulas que Harry tivera no terceiro ano, mas os alunos tinham um papel muito mais passivo do que nas aulas de Lupin. Com Lewis, ele somente absorviam o conteúdo e com Lupin, davam e recebiam igualmente, com grande quantidade de interação.

            No fim da aula, porém, as coisas desandaram. Harry estava sentado entre dois corvinais, que não paravam de trocar bilhetinhos. Uma hora o professor Lewis percebeu a agitação e imediatamente culpou Harry.

            - Detenção, senhor Granger. Amanhã às 9:00, na minha sala. Estão dispensados.

            Os Marotos parabenizaram Harry por conseguir uma detenção no primeiro dia de aula, enquanto Lílian olhava torto e Alice deu-lhe um tapinha nas costas como sinal de compreensão, que poderia ter sido melhor aceito se ela não estivesse obviamente contendo o riso. O garoto virou os olhos e se preparou para enfrentar mais um professor implicante. Todos eles jantaram e conversaram, interagindo com naturalidade. Já no Salão Comunal, Harry viu todas aquelas pessoas juntas e pela primeira vez, isso não lhe trouxe nenhum sentimento negativo. Trouxe uma paz inesperada, por saber que um dia as coisas foram felizes e simples, e que um dia poderiam voltar a ser. Ou melhor, nunca deixar.

            Harry sabia que precisava traçar metas e estudar os fatos. Se ia mudar o passado, tinha que ter certeza de que não causaria consequências inesperadas. Agora, porém, ele contava com Dumbledore e McGonagall, uma ajuda que eles definitivamente não tiveram no passado. Algumas coisas só teriam que ser repetidas, mas outras... Neste tempo, Harry não tinha acesso ilimitado ao Grimnald Place, aonde o medalhão estava. Ele não era procurado, e invadir o Gringotes certamente o faria ser. Havia muitas coisas para se pensar e planejar, e Harry decidiu falar com Dumbledore no dia seguinte. Ele não sabia quanto tempo ficaria aqui, e tinha que ter certeza de que conseguiria.

            Afinal, se apenas metade das Horcruxes fosse destruída, de que adiantaria? Não mudaria em nada e somente alertaria Voldemort de que alguém sabia de seu segredo.

            - Harry?, disse James interrompendo seus pensamentos.

            - Que foi?

            - Nada... Que tal uma partida de Snap Explosivo?

            Harry se divertiu com seus ditos “amigos”, adorando a conversa e o jogo. Ele viu Pettigrew conversando normalmente, e diferentemente das outras vezes que pensava nele, sentiu tristeza. Como aquele garoto tímido de dezessete anos se tornara no catalisador mais importante da volta do pior bruxo das trevas do último século? Como se tornara um assassino frio que fazia qualquer coisa ao menor sinal de seu mestre?

            Ele subiu para o dormitório com pensamentos contraditórios turvando-lhe a mente. Porém, a paz que se instalara mais cedo e a alegria ainda se recusavam a sair, e Harry achou que no todo fora seu melhor dia desde que deixara seu próprio tempo. Ele estava tão feliz com essa oportunidade que não percebeu que a convivência era uma faca de dois gumes. Ao mesmo tempo que Harry os conhecia, não percebeu que os Marotos, Lílian e Alice também passavam a conhecê-lo, e que seria impossível não notarem desaparecimentos e missões em busca das Horcruxes.

            Mas isso não ocorreu a Harry naquele momento.  Ele se deitou e dormiu com facilidade, ainda fazendo planos para sua conversa com Dumbledore, tendo o sono embalado pelas promessas de dias melhores.


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