Revirando O Tempo escrita por Fernanda Alves


Capítulo 1
ACIDENTE




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Escola de magia e bruxaria de Hogwarts – 22 de dezembro de 1976

Lily Evans estava sentada tranquilamente numa poltrona do Salão Comunal da Grifinória lendo um livro de Agatha Christie, uma de suas escritoras trouxas favoritas. Ela acordara cedo porque havia dormido mal aquela noite, pensando que naquela manhã todos embarcariam na estação de King’s Cross para passar o Natal com suas famílias, enquanto ela ficaria ali pelo segundo ano consecutivo; tudo culpa daquele gordo rabugento do Válter Dursley, que só fez tornar sua relação com sua irmã Petúnia ainda pior, o que a entristecia. Ela sentia falta de seus pais, e de seu antigo bom relacionamento com sua irmã, antes dela descobrir ser uma bruxa. Porém, a vida de ninguém era perfeita, e a dela ainda menos, tudo por causa de um certo indivíduo irritante chamado ...

- Potter! – Lily bufou irritada, olhando com desprezo para o garoto sorridente a sua frente, que havia tomado seu livro de suas mãos.

- Bom dia, meu lírio! Vai ficar aqui de novo neste Natal? 

- É Evans pra você, Potter! E sim, eu vou, mas não te devo satisfação nenhuma! Agora me devolva meu livro e me deixe em paz! – Ela respondeu, tentando recuperar o livro de suas mãos grandes, que se desviavam das dela com um sorriso irritante nos lábios. Mas quando ele parou para observá-la melhor, seu sorriso automaticamente se fechou e ela conseguiu recuperar seu livro.

- Você está triste, não está?

Ela tentou fingir indignação enquanto encarava o garoto de cabelos negros desgrenhados e olhos castanho-esverdeados por trás dos óculos redondos, tentando não imaginar o quanto ela devia estar parecendo horrível para ele reparar dessa forma.

- Quem é você para me dizer o que estou sentindo, Potter? Sua mãe não te ensinou a não se intrometer na vida alheia?!

Ele suspirou, visivelmente magoado. Lily já se condenara muitas vezes por ser tão cruel com James Potter, porém, ele era tão irritante que se ela desse alguma brecha e fosse legal com ele, ele abusava até demais. James suspirou.

- Lily, você não precisa ficar o tempo todo na defensiva comigo, eu só vim aqui me despedir de você, te desejar boas festas e saber como você está, mas você nunca fala comigo a não ser gritando! Eu sei que você está chateada, e sei que você nunca vai me contar o porquê, mas saiba que eu quero muito saber e tentar te ajudar de alguma forma. Eu sei que o quesito família é complicado pra muita gente, veja o Almofadinhas, por exemplo, e se você tivesse me falado antes eu poderia ter convidado você para passar o natal conosco, assim como eu fiz com ele. Saiba que todo mundo sempre tem uma rota de escape, e que eu estou aqui me oferecendo para ser a sua também.

Lily ficou chocada. James “Idiota-Galinha” Potter tinha sentimentos afinal, e pelo jeito ele também realmente se importava com os sentimentos dela. E bem que ela andava precisando mesmo de um ombro para chorar ultimamente. Além de toda a história com sua família, ela não havia superado totalmente o seu afastamento de Severo, e Alice, Marlene e Dorcas eram grandes amigas, porém, não do tipo em que você pode simplesmente se abrir e contar tudo. Elas não entendiam.

Então, sem pretender, sem entender, ela simplesmente se jogou nos braços do maroto e o abraçou, colocando naquele abraço todos os demais abraços que ela já precisara e não havia dado, guardando para si todos os sentimentos ruins ao invés disso.

James não acreditava que finalmente tinha conseguido amolecer os sentimentos daquela ruiva de ferro, e que estava inalando de perto o cheiro adocicado daqueles cabelos vermelhos, quando foram interrompidos por um pigarro e uma voz bem conhecida:

- Estou atrapalhando o casal?

- Sirius! – Repreendeu Remo, cutucando o amigo.

- O que foi? Estou é feliz por saber que o Pontas finalmente conseguiu amolecer o coração do “lírio” dele.

Lily se afastou no mesmo instante de James Potter, que encarava seu melhor amigo com um brilho assassino nos olhos.

- Muito obrigado, Almofadinhas – Disse ele, sarcasticamente.

- Sempre as ordens – Sirius sorriu, caminhando até eles, com Remo em seu encalço.

- Bom dia, Lily. – Disse Remo.

- Bom dia, Remo – Lily respondeu, apontando em seguida para o maroto logo a sua frente – E você não saia por aí insinuando besteiras, Black! Eu simplesmente estava agradecendo James por uma gentileza que ele me fez agora a pouco, mas isso não quer dizer que eu seja o “lírio” de ninguém!

Sirius riu daquele jeito que parece uma latida de cachorro e olhou para o melhor amigo.

- Pois é, acho que não foi dessa vez que ela caiu de amores por você, Pontas.

James suspirou, mas logo depois abriu novamente seu típico sorriso maroto.

- Pois é, mas estamos caminhando, amigo, estamos caminhando. Pelo menos agora ela já me abraça e me chama de “James”, disso para alguns amassos falta pouco. 

Sirius riu e Remo revirou os olhos, ao mesmo tempo em que os olhos incrivelmente verdes e brilhantes de Lily se apertavam de fúria. Como ela em algum momento pôde pensar que aquele imbecil poderia ligar para os seus sentimentos?! No mínimo aquilo tudo foi só mais uma das suas ladainhas para tentar conquistá-la, só que numa nova tática.

- Vá sonhando, Potter! Eu pensei que você havia se endireitado, mas pelo jeito você continua o mesmo trasgo insensível de sempre. Pois fique sabendo que eu preferiria mil vezes “dar uns amassos” – Ela fez o sinal de aspas com os dedos - Com um trasgo montanhês, porque com certeza ele teria muito mais tato que você!

James fechou a cara e Sirius suspirou, dando um tapinha no ombro do amigo.

- É melhor você mudar de tática, amigo.

- Ou de identidade – Acrescentou Remo, fazendo Sirius rir.

Lily suspirou e mudou de assunto. Ela adorava Remo, ele era monitor e também seu amigo, o único que tinha cérebro naquele grupo. Porém, acima de tudo, ele ainda era um maroto e ela não queria ter que lidar com mais um deles no momento.  

- Onde está Pettigrew? Achei que ele não desgrudava de vocês.

- Está dormindo – Remo respondeu – Seus pais vão viajar somente na véspera e vão passar aqui para buscá-lo, pois fica no caminho de seu destino, então ele é aparentemente o único que vai viajar que continua aqui no castelo.

Lily amaldiçoou mentalmente. Passar alguns dias sozinha com Pedro Pettigrew em Hogwarts era talvez até pior do que encarar sua irmã com Válter Dursley dentro de casa. A única diferença é que na segunda, pelo menos, ela poderia rever os seus pais. Porém, um brilho dourado que saia do bolso de Sirius chamou a sua atenção.

- O que é isto, Black? – Ela perguntou, indicando o objeto com a cabeça.

- Isto? Hm, Evans, o que estava fazendo olhando para esta região? – Ele deu um sorriso malicioso e olhou na direção em que ela indicara, enquanto esta revirava os olhos – Ah, isto não é nada.

Ela levantou as sobrancelhas.

 - Tudo bem, é algo, eu só não sei se é seguro que você saiba o que é, Monitora – Ele falou a última palavra como se fosse algum tipo de insulto.  

- Prometo que não falo nada. De qualquer forma, como você vai estar levando isto para fora do castelo, o que é que seja, não oferece mais tanto perigo assim.

Ela balançou os ombros, nem se importando em mencionar o fato de que Remo também era monitor, pois acima de tudo, ele ainda era um maroto.

- Estou confiando em você hein, Evans! – Ele olhou para os amigos enquanto tirava o objeto do bolso – Eu estava querendo mesmo mostrar isto a vocês. Roubei ontem da sala da McGonagall durante a detenção.

Lily já ia reclamar quando seu queixo caiu de surpresa e admiração.

- Um Vira-Tempo! – Remo exclamou.

- Sh, fala baixo, Aluado! – Ralhou Sirius – Ninguém pode saber que eu tenho isso.

- Imagine o quanto isso pode agregar às nossas aventuras! – Exclamou um James, sonhador.

-  Podemos experimentar?

Fora Lily quem fizera esta pergunta, e todos a encararam estupefatos.

- Ora, eu já li muito sobre esses e sempre tive curiosidade em saber como era a sensação de viajar no tempo, mesmo que por apenas alguns segundinhos. Então pensei que nós poderíamos adiantar alguns segundos ou minutos, para experimentar. Somente para fins acadêmicos!

Lily acrescentou numa imitação perfeita do Professor Slughorn, quando a boca de todos se abriu de estupefação. Ninguém acreditava que Lily Evans, a garota mais certinha que Hogwarts já vira, quisesse utilizar um objeto tão perigoso como um Vira-Tempo. Porém, logo sorrisos marotos surgiram nos rostos dos garotos.

- Vamos! – Todos exclamaram, e Sirius passou o cordão do objeto entre o pescoço dos três marotos e de Lily, unindo-os.

- Lembre-se, dê somente uma volta, não queremos nenhum acidente! – Exclamou Lily.

- Tudo bem, tudo bem – Disse um Sirius apreensivo, suas mãos tremendo de excitação. – Vamos lá, um, dois, três...

Porém, uma onda de excitação particularmente forte fez com que a mão de Sirius girasse com muito mais força com que ele pretendia a ampulheta, fazendo com que o Vira-Tempo começasse a girar descontroladamente. Eles mal tiveram tempo de exclamar ou tentar parar o objeto, e já se sentiram como em uma dimensão paralela, uma sensação de aperto na boca do estômago enquanto giravam por uma espécie de nimbo, onde as imagens voavam indistinguíveis a toda velocidade ao seu redor.

Após um tempo indeterminado, eles caíram com um baque surdo no chão de pedra e se sobressaltaram com um grito sufocado vindo de alguma garganta muito perto dali.


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