Fênix nas Cinzas, Fênix Renascendo escrita por Viviane Oliveira


Capítulo 2
Capítulo 2




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Assustei-me quando a vi no dia seguinte. Aquele... Zumbi realmente era ela? Estava muito pálida e claramente mostrava olheiras de sono. Nunca a vi de aparência tão péssima, mesmo de cabelos escovados e o perfume - hipnotizante, devo acrescentar - de sempre. Pensei muito no que dizer antes de me aproximar e falar com ela. Qualquer palavra errada e acho que não sairia vivo do Kaleido Star naquele dia.

- Noite ruim? - cheguei lentamente perto dela para que não se assustasse, mas não adiantou. Olhou-me com uma expressão de espanto e, em seguida, de certa raiva. O que teria acontecido era o que eu mais desejava perguntar, mas pelo seu olhar, era melhor eu esperar um pouco mais para fazê-lo.

- Péssima. - respondeu-me friamente, o que era mais incomum ainda. Pensei em impedi-la e tentar arrancar o que não queria me dizer, mas também achei melhor não não fazer isso. Quem sabe o que aconteceria se eu o tentasse... E isso me fez refletir novamente sobre nossa relação. Por que não paro de pensar nela a todo segundo? Amor? Preocupação? Não, não é só isso... Se fosse, seria bem mais fácil de se resolver... Ou talvez não. E essas contradições só estavam me deixando mais louco ainda! Agora, com Layla naquele estado, pioraram. Confiança fragilizada e afastamento de almas seriam as palavras que mais se encaixavam na nossa situação...

O estranho foi que, ao olhar para a expressão dela uma segunda vez, percebi, através dos olhares cansados, uma determinação extremamente forte, mais perigosa do que aquela vez, na técnica fantástica. O que estaria tramando seria a segunda pergunta mais quente do dia, mas ao ouvi-la berrar meu nome tão furiosamente, para que eu andasse logo e a acompanhasse, pensei que era melhor ficar quieto pela segunda vez... E segui-la, é claro.

Não podia, de forma alguma, deixar meu pai tomar conta do que eu deveria decidir. Se fosse preciso, eu me transformaria em duas, mas não largaria o Kaleido por nada desse mundo. Yuri devia estar confuso pelas minhas atitudes, mas conversas paralelas não resolveriam meu problema naquele momento, muito menos quando eu estava tão determinada a ir fazer o que eu mesma havia me sugerido naquela manhã, ao acordar. Se me demorei 15 minutos em casa para me arrumar, tomar banho e comer qualquer coisa, foi muito. Fui direto ao Kaleido Star falar com Kalos. E Yuri tinha de ir junto como testemunha. Sorte que ele já estava no Kaleido aquela hora da manhã, caso contrário, eu preferia ter a tal conversa com Kalos sozinha, a esperar mais tempo.

Bati na porta e esperei a autorização para entrar no seu escritório, como sempre. Ao me aproximar de Kalos, porém, percebi uma energia negativa naquele escritório. Não, não era magia... Era desconfiança e preocupação. Kalos não parecia estar de bom humor e o motivo eu descobriria logo a seguir.

- Kalos, eu vim aqui para... - comecei meu discurso, mas fui interrompida apenas com um gesto de Kalos.

- EU irei direto ao assunto, Layla. Por favor, sentem-se - Kalos mostrou as famosas cadeiras na frente de sua mesa e nos sentamos. Se eu já estava preocupada, imagino como Yuri não estava, já que não tinha ciência nem do por quê estava ali. Kalos prosseguiu friamente.

- Layla, seu pai acabou de me ligar. Suponho que o motivo pelo qual está aqui seja o mesmo do dele, não é?

Hesitei. Meu pai ligou para Kalos... Provavelmente para se certificar que eu não estava ali, enquanto já deveria estar em algum set de filmagens acertando outros detalhes, os quais ele não mencionara. Será que ele sabe dos meus planos? Minha determinação estava oscilando e tanto Yuri quanto Kalos perceberam, já que o olhar é a parte mais fácil de se decifrar de minha pessoa. Resolvi me adiantar, para resolver logo a situação.

- Kalos... Antes, diga-me sobre o que foi que vocês conversaram, por favor.

- Conversamos sobre isso - ele levantou um papel que já tinha em mãos antes mesmo de Yuri e eu entrarmos em seu escritório. Meu contrato com o Kaleido Star, renovado ano passado para os próximos três anos - Ele sabia que viria para cá, por isso me pediu para falar com você. Disse que você fará dois novos filmes, que concordou em fazê-los e que, claro, sairia do Kaleido Star.

- Mas que história é essa? Layla, você tem uma peça nova a fazer aqui! - Yuri finalmente disse alguma coisa, e não foi de total vão. Funcionou para que eu complementasse a minha idéia.

- É justamente por isso que eu estou aqui, Yuri. Kalos, eu continuarei no Kaleido Star, não se preocupe. Jamais faltaria com o que já concordei em fazer, especialmente com você.

Eu disse as últimas palavras com mais receio do que determinação. O que aconteceria quando descobrissem que eu não havia feito filme algum, apenas para continuar no Kaleido Star? Puro capricho? Talvez... E talvez, receberia mais críticas do que elogios e meu pai ficaria tão furioso que eu não poderia suportar... Mas até o momento, não ligava.

- Então, você não concordou em sair daqui? - Kalos perguntou a mim. Ao meu ver, ele não demonstrou, mas qualquer um veria que estava mais aliviado com a minha afirmação anterior. No entanto, as únicas palavras que ecoavam na minha cabeça eram "descobrir" e "encrencada". Suspirei e balancei a cabeça negativamente, como se concordasse com a pergunta de Kalos e tentasse esquecer as vozes na minha cabeça. Kalos apenas relaxou um pouco na cadeira e fez um sinal para que pudéssemos ir. Foi a minha vez de relaxar, ao perceber que ao menos Kalos não me perguntaria nada demais sobre essa história.

Segui minha rotina de treinos ao longo do dia como sempre, fingindo que nada acontecia e muito menos dando satisfações a qualquer um que ouvira boatos sobre meus filmes, inclusive Yuri. Garanto que, pelos olhares que ele me deu ao longo do dia, não estava nada satisfeito, mas, como sempre, respeitava minhas decisões... E também meu espaço.

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Conforme os dias passavam, eu a via cada vez com menos freqüência. Apesar de sempre estar presente nos treinos diários, parecia não se sentir sua presença. Nunca esteve tão distante, não só de mim, mas como de todos no Kaleido. Parecia estar ali - e ao mesmo tempo, não estar - por puro receio de que algo aconteceria. Claramente se percebia que ela estava vivendo contra o tempo, tentando driblar os diretores dos filmes e, é claro, o pai. O desgaste era tanto que eu podia jurar ver um ar de desistência nas suas, agora, poucas expressões que eu via.

Na semana seguinte, não a vi mais do que dois dias, em um tempo restrito de alguns minutos. Quando a vi pela terceira vez, extremamente acabada, com uma expressão de quem tentava suportar uma imensa e inerte responsabilidade, e um olhar mais sofrido ainda, não aguentei. "Afinal, eu sou ou não seu parceiro?!?", eu me perguntava. Mas algo me impedia. Não sei por quê, mas impedia-me de tentar arrancar os problemas dela e devolver soluções. Maldito receio! Dane-se! Não importava nossa relação agora. Layla estava com problemas, e o que eu melhor podia fazer agora era ajudá-la. Ela podia até me matar se isso a ajudasse, mas eu não a deixaria sofrer mais. Qualquer coisa do que vê-la naquele estado lamentável.

Ela estava em seu camarim, arrumando suas coisas, para partir mais uma vez. Bati na porta e ela me deu permissão para entrar. Já não estava mais com sua roupa de treino. Estava com seu famoso conjunto preto, fazendo rápido a maquiagem, como se alguém fosse pegá-la ali a qualquer instante. Expressão abatida, como se não comesse ou dormisse direito há dias. Acho que nunca havia reparado tanto nela quanto agora.

- Layla... Podemos conversar? - de primeira instância, eu estava receoso. Ainda não sabia como agir. Depois da última vez, quando a acusei de traição, hesitava mais ao perguntar coisas a ela, como se ela nunca fosse me responder sinceramente.

- Sim, Yuri. O que foi? - respondeu-me em um tom apressado, porém típico dela. Eu não sabia direito como começar, então, fui para a pergunta mais óbvia.

- Está tudo bem? Quase não a vejo mais. - Ela mal ligou quando eu falei. Apenas parou por alguns instantes e voltou a arrumar suas coisas. Insisti - Parece que você está sempre ausente, mesmo estando aqui, no Kaleido.

- Acho que é impressão sua, Yuri. Estou sempre por aqui, treinando como sempre e...

- Não, não está - a interrompi. Sua tentativa de amenizar o problema me irritou mais. Ela hesitou um milímetro, mas continuou a arrumar suas coisas. - Está parecendo uma máquina! Pode ao menos parar para me escutar?

- Não posso, estou atrasada - respondeu-me em um tom frio e indiferente. Senti que não fazia parte da vida dela, e o contrário também era verdadeiro. Não resisti e alfinetei.

- Ah sim... Atrasada. Como se você, Layla Hamilton, se atrasasse para algo. Atrasada para quê? Fugir dos diretores? Que eu saiba, você só deveria fugir apenas de alguns ladrões, enquanto estivesse em cena, em um de seus filmes... - Ela finalmente parou e olhou para mim, sem entender o por quê daquilo - ou será que está apenas fugindo do seu pai?

Hesitou mais. Pela primeira vez, eu vi temor nos olhos dela, como se um animal grotesco fosse devorá-la e ela não pudesse fazer nada a respeito. Será que considerava seu pai um bicho de sete-cabeças? Provavelmente sim, pelo que veio a seguir.

- E-eu... Não estou fugindo de ninguém! Agora saia, eu preciso terminar de ajeitar minhas coisas.

Não fiz o que ela me mandou fazer. Fiz o contrário, na realidade. Peguei uma das mãos dela e a fiz olhar para mim. Eu estava além do receio, do medo... E dos tapas, eventualmente. Ela me olhou, querendo respostas para tudo aquilo.

- Você sabe que precisa de ajuda. Quem melhor do que eu para ajudá-la?

- Quem disse que eu preciso de ajuda?! Eu estou perfeitamente bem e ninguém tem nada a ver com isso...

- Eu tenho! Estou ou não ao seu lado?! - Aquela pergunta que estava há semanas nas minhas entranhas finalmente saiu. Não sei se foi uma boa idéia libertá-la em uma hora de raiva, mas aquele momento parecia ser o certo. Ela me encarou como nunca o tinha feito, soltou seu braço de minhas mãos e me respondeu em um tom mais baixo e angustiado.

- Eu preciso ir. Até depois. - Ela não terminou de ajeitar seu camarim. Depois dessa, aparentemente, fria resposta, pegou o que já estava arrumado e foi embora.

Ah, Layla... Se ao menos eu soubesse o que se passa pela sua cabeça... Por que não confia em mim, eu já sei, não é necessário ser gênio para descobrir. Minha falta de confiança aquela vez resultou na falta de confiança que ela tem em relação a mim hoje em dia... Ciúmes ridículo! E agora?! Como vou ajudá-la, se ela não confia em mim?! Um dia, o pai dela irá encontrá-la... E eu quero que ela saiba que sempre estarei do seu lado porque... Eu realmente a amo... É... Fazia tempo que eu não refletia sobre isso, e essa falta de reflexão desandou nosso relacionamento. Tenho que recuperar essa falta... E melhor do que qualquer outra solução é ajudá-la no momento... Mas como...?


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