10 coisas que Sakura não sabia sobre Sasuke.

3 - Ele tinha caspas.

Sakura (qualquer garota na verdade) se encantava pelo rosto bonito e o corpo atlético dele, admirando cada poro e cada mácula – se é que havia. Em sonhos infantis, cada garota que colocasse os olhos em Sasuke perderia ao menos uma noite cogitando a hipótese de ser sua escolhida.

Os rapazes da vila automaticamente seriam rivais de Sasuke não apenas porque todas as garotas nutriam uma paixão platônica avassaladora, mas também por causa de sua força. Os guerreiros não se importavam com aparências, mas com a habilidade demonstrada no campo de batalha, sobretudo pela herança genética de Sasuke: o sharingan.

O que Sakura e as demais meninas nunca repararam foram nos minúsculos pontos brancos em sua camisa azul. Nem mesmo os mais poderosos rivais de Sasuke repararam e, se o fizeram, não se importaram com o fato, sem saber a peculiaridade da situação.

Mas os pontos brancos na roupa estavam todos lá, nítidos para qualquer um ver. Especialmente quando Sasuke mudou suas vestes, tingindo-as de negro, como as sombras que sorrateiramente o apartavam dos vínculos que realmente importavam.

Sasuke tinha um grave problema com caspas.

Nem sempre foi assim. Quando ele era menor, sua mãe cuidava para que o menino enxugasse seus cabelos após o banho e antes de se deitar, assim como zelava para que o filho realmente tomasse banho. Aquele fato era desconhecido à todos em Konoha, mas Uchiha Itachi guardaria aquele segredo até sua morte, embora, mais tarde, muito mais tarde, quisesse tê-lo dito à Naruto. Era o papel dos irmãos mais velhos, não? Partilhar segredos inconvenientes dos irmãos mais novos com seus amigos; Itachi teria gostado disso. Naruto mais ainda. Mas a vida não foi boa para ele ou para Sasuke; nem para Naruto.

E o que isso importava afinal?

O fato era que Uchiha Sasuke não gostava de tomar banho quando criança. Inacreditável, mas verídico. Um dia ele foi como qualquer criança e não um menino com olhos tão adultos de que conhecia a dor da perda e a solidão constante. Ele já fora apenas um garoto normal, que queria orgulhar os pais, mas que ainda assim tinha suas meninices inocentes. Mikoto zangava-se com o filho apenas naquele momento, por poucos instantes, porque seu sorriso não podia ser contido, assim como o vento não poderia ser aprisionado.

Depois do banho, Mikoto sempre sorria para Sasuke, dizendo que naquele momento o reconhecia como seu filho e Sasuke sorriria verdadeiramente, um tanto quanto constrangido é verdade, mas seria um sorriso real, despido de qualquer impureza ou maldade. Sasuke tinha tudo: seus pais, um nome e um destino.

E quanto tudo isso foi arrancado, Sasuke perdeu o chão. Antes mesmo de se entender, ele perdeu sua essência. A pureza e docilidade foram arrancadas, instaurando-se a amargura em seu peito, adoecendo o seu sorriso; o brilho em seu olhar extinto. Só restou ver a correnteza do rio, solitário, pensando em tudo o que já teve e em como gostaria que sua casa não ficasse tão vazia.

Havia um menino. Ele sempre passava sozinho e sempre lhe mostrava uma carranca; Sasuke não gostava dele. O garoto era sozinho, tão sozinho quanto ele. Doía olhá-lo porque Sasuke, de alguma forma, via-se refletido naquele olhar e ele não entendia aquilo. Por isso sempre voltava a se lembrar das coisas que perdera, para que aquela dor sempre estivesse presente, incentivando-o a cumprir seu objetivo.

Sasuke sempre lembraria da mãe quando, após os treinos, dormia com os cabelos molhados; mas não se importava mais em enxugá-los, pois não haveria uma reprimenda e um sorriso depois. As vezes o cansaço após o treino era tanto que sequer se banhava, preferia adormecer e aproveitar enquanto a fadiga se sobrepujava aos seus pesadelos que inevitavelmente ocorreriam.

Ele não era vaidoso consigo mesmo, não se importava com as finas cicatrizes muito claras que cobriam sua pele dos ferimentos causados nos treinos e batalhas. Não se preocupou com os furos em sua roupa quando Haku o atacou e nem nenhum dos ferimentos posteriores; suas cicatrizes eram seus pequenos troféus de vitória, pois cada uma delas era a superação sua sobre determinada técnica ou desafio. As cicatrizes o aproximavam do seu objetivo, eram a marca da sua força e do seu esforço.

Também eram prova da sua vontade de proteger.

"Meu corpo apenas se moveu". Era uma meia verdade. De fato, ele não pensou muito quando agiu, só a ideia de perder Naruto estava fixa. Sasuke já tinha perdido tudo uma vez e a vida deu uma guinada trazendo-lhe novas coisas importantes para proteger; ele não queria perder de novo.

Seu corpo se moveu sozinho.

Entretanto ainda lhe restava uma ferida aberta, que ainda sangrava e ardia; a ferida maior estava em seu peito. Doía em seu coração e aquela dor não tinha remédio se não a vingança e a consequente morte de Itachi, seu irmão.Não importava o que Kakashi dissesse, sobre ele se sentir vazio após a morte do seu irmão, não importava as coisas que teria que perder no processo; nada importava. Ele precisava fazer aquilo. Era uma promessa que fizera a si mesmo, por todas as lembranças importantes. Por todo o seu passado. Por tudo o que ele foi.

Sasuke precisava matar Itachi.

Mesmo que perdesse novamente tudo o que lhe era importante, ainda havia a es Era um pensamento contraditório. Naruto o fazia ser contraditório daquele jeito, entre querer seguir sozinho e deixar tudo para lá. Porque o mundo lhe trouxe um novo desafio e ele um dia precisaria abandonar o seu lugar no time sete, a admiração de Kakashi... E droga, talvez, quando o dia chegasse, eleaté sentisse falta dos gritos irritantes de Sakura, embora o que mais sentiria falta seria o vínculo com Naruto. Era horrível admitir isso, mas esses pequenos laços eram tão importantes que chegava a ser patético. Sasuke queria o bem deles, queria estar com eles. Porque o dois é sempre melhor que o um. O dois nunca é sozinho. Por isso que às vezes, só ás vezes, Naruto conseguia fazer com que desviasse do proposito original.

Por alguns instantes não era uma vontade de ficar mais forte para destruir seu irmão, era ficar mais forte do que Naruto. Por alguns instantes, o sonho não era matar Itachi, era ser um ninja mais forte para proteger seus amigos. Apenas alguns instantes.

Como naquele fim de outono, quando voltavam de uma missão. Era por do sol e ventava gelado, Sasuke estava considerando seriamente ignorar o banho gelado e cair na sua cama e dormir quando ele escutou a risada de Naruto, que passava o braço direito ao redor de seus ombros.

–Saia. -mandou.

–Relaxa, cascudo, só 'tou tirando as caspas do seu ombro! -disse Naruto com um sorriso enorme, saboreando o som da palavra "cascudo".

Sasuke se empertigou, ficando irritado na mesma proporção de envergonhado. Naruto ria com gosto, o braço ainda ao redor do ombro do Uchiha, por mais que Sakura estivesse adquirindo um tom intenso de raiva, o que significava uma explosão em iminência.

–Naruto...! -ameaçou ela, inchando como um sapo.

–Quê? É verdade! -disse Naruto, agora estando perto do desespero. -Ele tem caspas!

Sasuke se desvencilhou do outro, tentando ao máximo reuniu os frangalhos de sua dignidade enquanto Naruto era espancado pela colega de time, infelizmente Kakashi ainda estava ali para engrossar o coro de "Sasuke, vá tomar banho", literalmente. E foi isso o que ele fez, realmente, por mais ligeiramente emburrado que estivesse – não que admitisse isso. A parir desse momento, enquanto permaneceu em Konoha, ele parou de dormir com o cabelo molhado, passando a tomar banho após os treinos todos os dias e cuidar mais de si, fazendo as caspas eventualmente diminuírem. Kakashi aprovou a mudança e um dia qualquer bagunçou seus cabelos como um pai acaricia ao seu filho depois de sentir orgulho; Sasuke gostou disso.

Entretanto o que mais gostou foi do sorriso que Naruto lhe deu naquele mesmo dia. Foi igual ao sorriso de sua mãe; como uma ventania.

Sakura nunca reparou em nenhuma caspa.

Kakashi sempre cuidava da sua equipe.

Naruto se importava com a saúde física do rival.

Sasuke pensou que aquela memória fosse feliz.

(E depois, mesmo a achando banal, ainda sentia-se feliz em relembrá-la)