Bianca acordou subitamente.

Estava toda ensopada de suor, com os cabelos molhados e o corpo tremendo. Isso se devia a culpa dos pesadelos que estava tendo desde que dormira, um após o outro. E todos apontavam para o mesmo assunto: Damon.

Ela tentou clarear a cabeça, mas estava difícil. Olhando para os lados, ela percebeu que todos estavam dormindo. Desmond roncava em sua poltrona e havia uma poça de baba abaixo de sua camisa.

Bianca amaldiçoou-se por não estar com o celular no bolso. Queria muito uma foto deste momento. Mas todos os telefones foram confiscados, por motivo de segurança.

Então ela viu seu pai. Ele dormia suavemente (ao contrário do Babão ali do lado), mas parecia estar tendo seus próprios sonhos.

Quando ia olhar para ver se Jason estava bem (ou babando como Dez), ela viu que ele não estava mais ali.

Apavorada, ela se perguntou onde Jason estaria, quando descobriu que o avião possuía andares. Ele deveria estar explorando alguns.

Ela tentou se acalmar, mas não conseguia. Então, resolveu ir até o banheiro.

Viu que dava para tomar banho dentro do avião, então ela tomou um demorado banho e depois trocou de roupa. Olhou em seu relógio, mas ficou frustrada. Havia dormido apenas duas horas.

Tentando não pensar nas dezesseis horas seguintes, ela começou a explorar a grande aeronave.

Onde eles estavam era o Térreo da aeronave, contendo que ela possuía um subsolo e dois andares superiores.

Ela perguntou a uma comissária de bordo o que eram aqueles andares e ela explicou que o subsolo servia de compartimento de bagagens e garagem. Já os dois andares superiores, o primeiro era alimentação e o segundo, diversão.

Ela sorriu diante da cena. A Ordem dos Assassinos projetou um avião tão confortável para adultos quando proveitoso para adolescentes irritados e que não gostam de ficar presos em um avião, como ela mesma.

Ela perguntou também se havia visto Jason e a comissária respondeu que ele estava no segundo andar.

Bianca se dirigiu até lá, por um elevador panorâmico. Ele dava vista para o interior do avião e para o exterior também.

Ela viu os arredores de uma Ilha do Pacífico, aonde sobrevoavam.

Quando o elevador se abriu, ela viu que estava em uma grande sala de jogos e televisão.

Não possuíam internet, pois não poderiam se dar ao luxo de serem rastreados, mas haviam fliperamas, salas de televisão com filmes e videogames.

Ela viu Jason encostado em uma poltrona, mas ele não havia ligado coisa alguma. Estava com uma expressão confusa e calculista.

Respirando fundo, ela foi até ele. Não queria que ele sofresse ainda mais e cada dia que passava ela se culpava pelo sofrimento do namorado.

– Ei – Ela sorriu. – Também não consegue dormir?

Jason encontrou seu olhar, mas o sorriso não chegava aos seus olhos.

Ele não disse nada, apenas estendeu a mão para Bianca e ela sentou-se do seu lado, com os braços ao seu redor.

Ficaram assim por um tempo, até que Bianca não aguentou mais o silêncio.

– Jason... O que há de errado?

Ele beijou seus cabelos.

– Ah, Bianca... – Ele sufocou um soluço. – Eu... Não há nada de errado comigo. Mas eu estou com medo.

Bianca ficava feliz por ele admitir isso para ela. Jason não era de se abrir com ninguém, principalmente se fosse algo tão íntimo assim.

– Ei. – Ela segurou sua mão. – E quem não está? Essa viagem é uma via de mão única. Não há volta.

– Eu sei. Mas eu estou com medo, porque posso falhar com vocês.

– Como você falharia conosco, Jason? É claro que não!

Ele enterrou o rosto em seus cabelos. Bianca sentiu que ele tremia ligeiramente.

– Nunca... Nunca fui bom em decifrar nada. Nem joguinhos de mímica. Como posso conseguir decifrar esses Novos Códex?

Ela se surpreendeu. Não sabia que ele estava tão preocupado assim. Queria muito poder ajudar, mas não sabia como.

– Jason... Não seja tão duro consigo mesmo. É claro que você vai conseguir, você foi destinado a fazer isso. Não se culpe, você nunca falhou ou falhará conosco. E quando chegar a hora, eu vou estar do seu lado. Não precisa ficar se martirizando.

Ele a abraçou e a fez olhar em seus olhos.

Não precisou nenhum dos dois falar nada, para expressar o que eles estavam sentindo. Eles se beijaram, mas dessa vez, sem nenhum rancor, nenhuma pressão.

Beijaram-se como se nunca houvessem se beijado antes. Um beijo de amor, compaixão, felicidade.

Quando eles se soltaram, Bianca simplesmente sussurrou:

– Eu te amo.

Ele encostou a testa dele na dela.

– Eu te amo.

Depois de um longo abraço, Bianca deitou no colo de Jason. Estava começando a ficar com sono, e ele a pegou em seus braços e ficou acariciando seus cabelos, esperando ela dormir.

Quando não podia mais aguentar, ela enterrou o rosto em seu pescoço.

– Sabe... Eu também estou com medo.

Beijando seus cabelos, ele a segurou mais forte. Ele a esperou continuar.

Respirando fundo, Bianca disse:

– Estou com medo de falhar, Jason. Sei que recebi um treinamento, mas nunca dessa forma. Está tudo tão acelerado na minha vida, sabe? Em um minuto estava sentada no telhado do Cassino. Agora estou em um avião viajando para o outro lado do mundo!

– Ei, meu amor. Agora eu é quem digo para você não ser tão dura consigo mesma. Sabe, eu sei que está tudo tão acelerado, mas eu sei que você da conta. Você é maravilhosa, Bia. Você consegue acreditar que pode conseguir? Eu sei que você pode.

– Mesma pergunta para você, Hank – Ela riu. – Você consegue acreditar que pode conseguir? Eu sei que você pode.

Jason riu.

– Ok, então os dois podem conseguir. Feito?

– Feito!

Os dois riam por um momento, até que Bianca começou a se sentir cansada de verdade. Ela ainda não havia descansado o bastante.

Jason, percebendo o cansaço da namorada, a embalou mais uma vez em seus braços e sussurrou em seus ouvidos:

– Durma, minha linda Assassina – Ele beijou seus cabelos. – Eu vou estar bem aqui quando você acordar.

E com essas palavras, Bianca caiu profundamente no sono, mas mal ela sabia que começaria a sonhar novamente.

***

Bianca sonhou que estava em uma floresta verde. Mas era tão verde, mas tão verde, que ofuscava seus olhos.

Levando a mão a eles, para cobrir do brilho inusitado, ela viu alguém que não pretendia ver nem em sonho.

Damon estava com o mesmo visual de quando estava na porta de seu quarto, mesmo com o frio horroroso que estava fazendo naquela floresta. Ela supôs que estavam em uma floresta russa.

Sorrindo docemente para ela, ela segurou a sua mão.

– Eu espero que você morra, Bianca. – Ele disse sinceramente. – Não queria que tivesse de viver e ver o que aconteceria a você, caso sobrevivesse.

Ela percebeu que ele falava com sinceridade e sem escárnio. Pela primeira vez (desde que se encontraram), Damon soava sincero. Mas também só podia... Era sonho!

Ela tentou falar, mas percebeu que não podia. Naquele sonho, ela não possuía voz.

– Gosta de saltar? – Ele perguntou, mas dessa vez sem sorriso de escárnio. Sua voz estava séria.

***

Bianca acordou com Jason berrando ao seu lado.

Ela caiu no chão e percebeu que não conseguia ficar em pé. Ouviu os gritos de seu pai e Desmond procurando por eles.

– O que está acontecendo? – Ela gritou em meio a confusão.

Jason a empurrou quando uma máquina de fliperama se dirigia a eles para esmaga-los.

O avião estava inclinado 180° para a esquerda, e Bianca e Jason tentaram se proteger das coisas que estavam vindo até eles.

– Precisamos sair daqui! – Ele a pegou pela mão. – Vamos!

– Jason, o que está acontecendo, pelo amor de Deus? – Ela berrou.

– Estamos caindo. – Ele gritou em resposta.

O coração de Bianca congelou. Não. Não. Não.

Ela percebeu o que estava acontecendo mesmo antes de acontecer. Damon também sabia.

As palavras dele ressoaram em seus ouvidos.

Gosta de saltar?

Não. Ela não gostava. Especialmente quando estavam saltando para algo que ela queria evitar.

Para a morte.